terça-feira, 30 de novembro de 2010

PAZ AO RIO E PAZ AO POVO TAMBÉM

A pomba branca da paz alçou o seu vôo e sobrevoou toda a baía de guanabara, na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro e, nos morros da insônia e do desassossego, foi atingida e ferida de morte por balas perdidas e destinadas especificamente para inibir a paz e esta, chorando a insensatez da humanidade desordenada e sem direção, deixou-se abater e caiu por terra em sono profundo para não mais levantar.

Foi-se embora a paz, tragada e morta pela ambição e egoísmo dos seres humanos. Pela maldade e insanidade dos modelos econômicos vomitados pelas estruturas do poder que, podres e corruptas, segregam e excluem a grande maioria dos seus iguais.

E assim, o caos se instalou e a bandeira negra da dor e do terror espalhou sua legião de seres ante-socializados pela hipocrisia viva e cruel dos homens, pelos becos e labirintos e vãos dos morros e favelas à caça do sangue que de suas entranhas foi retirado à custa de ações massacrantes e perversas contra as massas, arquitetadas pela minoria privilegiada e inescrupulosa e, o conglomerado da miséria humana encheu, encheu que explodiu, fazendo jorrar dos morros para o asfalto a desesperança, o descaso, o medo da existência e a dor aguda da impotência, desencadeando o confronto geral dos que nada tem aos que tudo ganham.

A guerra foi inevitável e o sangue de culpados e inocentes se igualaram na dor das famílias destruidas e a batalha sangrenta teve início quando a descrença venceu o amor e, no rito do cada um por si, na junção da conveniência, venceu o desentendimento total pela selvagem e necessária sobrevivência.

O caminho inverso está sendo feito. Tudo que vai um dia volta, transformado e transfigurado. O que foi levado e semeado pelo desamor da sociedade para com ela mesma retorna agora em ódio e ação contrária à sua própria dor que sangra com o sabor do sangue imprevisível e inevitável.

Não há mais outro caminho. Não tem mais outro jeito que não o enfrentamento dos poderes.
O poder oficial, instituído, legítimo, legalizado menos que irracional e guiado pelos interesses dos seus mandatários e o poder paralelo, também instituído e legitimado pela lei da sobrevivência, alimentado pelas feridas enraízadas n'alma, causadas pelas ações ineficazes e cínicas do poder oficial; ilegal mas não menos poder enquanto poder de interesses.

Que vença a paz, se isso for possível e que cause o mínimo necessário de dor.
A dor impossível e revolta que ataca nosso peito a cada novo menino garoto tragado pelo crime.
A cada nova menina moça pintada pelas cores intrigantes e revoltantes da ascendente e desfigurada prostituição.
A cada pai de família com o peito trespassado pela faca da realidade da vida do filho morto.
A cada mãe com alma e coração sangrando pelos filhos fulminados, alimentados e decaídos pelo indestrutível e periculoso tráfico.
A cada novo ser esperançoso dessa tão desesperançada sociedade, descrente e desencaminhada como sedenta e perseguidora voraz da paz tão sonhada e almejada.

Que vença a paz se isso for possível.
Que vença a paz se isso for possível.
Que vença a paz! Que vença a paz!

Enfim, que vença e reine a paz, consumindo, amenizando, suavizando e cicatrizando todas as dores que somos enquanto sociedade em "desevolução", retrocedendo, à procura do seu início.

Roberval Paulo

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CAOS, DESOLAÇÃO!

Estou por aí, na sombra nebulosa da noite, à espera do grito, do sinal
Do chicote no açoite do braço
Do tiro perdido, sem alvo, a qualquer alvo
Ferindo o peito já ferido e maltratado, amordaçado e desolado
Esquecido no beco de uma lembrança apagada.

Sem rosto, sem página, sem a história dos dias passados
Futuro incerto, apontado como imprevisível, um tiro no escuro
O momento seguinte totalmente desconhecido.

Do presente, só o presente
sem embalagem e sem laço de fita. Só a dor da dor vivida e sentida
O sangue agitado nas veias a escorrer pelo horizonte dos olhos
Animal abatido num tiro certeiro. Animal racional
que pela irracionalidade social, irracionaliza-se, desnacionaliza-se.

E se perde o sonho, redendo-se à dura realidade
Traindo a consciência, perdendo a razão
Arquivando as consequências e o conceito de legalidade.

Pra suportar, sem opção. Só com a cabeça feita
E se faz a cabeça. Consome-se, se consumindo;
ingere-se, injeta-se, compartilhando tudo
Amizade inconsciente, risco inerente. Gotas e partículas de morte à prestação
só apressando, antecipando o que já está decidido
Escrito nos anais das sociedades
Veredicto social. Fatalidade da existência: A morte.
Afinal, todos cairão. Coragem irresponsável, covarde
Coragem em mim sem ser minha, alimentada pela hipocrisia, pelo descaso.

E eu, sem forças, me rendo, dominado, corrompido
Bicho alienado, fera acuada
Indignado e sem diginadade
Sem direitos, contado para morrer. O que fazer?

Aceito passivamente porém, revido, agrido
Matando o que em mim morreu
Roubando o que de mim foi roubado.

É o estágio da decomposição, sem recompensa, 
assediado por uma falência múltipla de sentimentos.
Incongruente, ferindo pela ferida enraízada n'alma,
plantada pela lei do sistema
Sistema posto, imposto, regado livremente sob espontânea pressão,
opressão, repressão, depressão geral
Embrutecido pela demagogia, mantido pela lei do mais forte.
Insanidade da sandice dos sádicos que, endeusados de poder, pelo poder
acreditam na vida só aqui.

Ledo engano. O processo está sendo montado, a sentença será proclamada
Réo, diante do juíz, sem advogado de defesa, só acusações
O direito à defesa prescrito, findo no último dia de vida aqui.

Agora é tarde, muito tarde. O martelo será batido
Condenado! A revelia, sem recurso
A pena será cumprida, eternamente
E todos os anos irracionalizados, desnacionalizados sobre a terra
será nada frente ao que virá,
posto que tudo debaixo do sol passa.

Aqui é só o prenúncio, o prefácio do livro do tempo para a vida eterna
onde um só dia equivalerá aos cem anos aqui passados
Onde a dor e o gozo serão eternos
Resultados do balanço sobre os atos
Aqui praticados.

Roberval Paulo

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ELEIÇÃO PRESIDENCIAL 2010 – A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO

Quando assisti ao filme Teoria da Conspiração pela primeira vez, confesso que não entendi nada; não entendi bulhufas nenhuma. Assisti pela segunda vez e aí a coisa foi diferente; entendi menos ainda. Fiquei intrigado com o modelo americano de contar e mostrar suas tantas facetas e modelos de operetas, contrárias e inversas à ideia original. É tudo o que realmente acontece mas que é negado a todos saber. Teoria da Conspiração, na verdade, é tudo o que eles gostariam que você não soubesse. É uma teoria de um grupo de pessoas, devidamente organizada, aos seus moldes, manipulando um evento ou uma série de eventos para obter um determinado resultado e que, com certeza, seja favorável aos envolvidos.
Bem, do filme em si, confesso que pouco entendi ou entendi nada.
Agora, do que aconteceu nessa nossa campanha presidencial de 2010 eu entendi tudo.
Dessa teoria da conspiração nacional, tudo se sabe. É só analisar com carinho e muito, mas muito critério.

Vejamos:

O Serra é o representante legítimo das oligarquias que tanto mal fizeram à nossa Nação. É o verdadeiro representante de uma oligarquia que é o PSDB e seu grupinho de amigos influentes. É um grupo de intelectuais “políticos”, bem inteligentes, é bom que se diga que, com um discurso falso e a apropriação de projetos que não lhes pertencem, inclusive do plano real, conseguiram seduzir e enganar o povo com a eleição de FHC. Com a montagem e manutenção de uma gigante estrutura de poder, auxiliada pelo DEM, conseguiram a reeleição e governaram esse país por 08 anos. E queriam que o seu projeto de governo, elitista e altamente conservador, durasse mais e acreditaram e investiram fortemente nisso.

Porém, deram com os burros n´agua.

Não contavam com o preparo, repreparo e sagacidade e nem com o conhecimento profundo do Brasil, de todas as suas regiões e do seu povo, pelo cidadão LULA. Não podiam crer que um torneiro mecânico teria a capacidade de desbancar toda uma estrutura montada, articulada e arquitetada nos mínimos e cruéis detalhes. Não podiam e não queriam acreditar que um homem da base, das massas, do meio do povo, pudesse adquirir conhecimentos, e habilidades, e assumir compromissos com a Nação que a nossa direita raivosa e elitista jamais foi capaz em toda a sua vã existência, enquanto estrutura política encarregada de dirigir os destinos de um povo.

O resultado está aí. Dilma Roussef, presidente da República Federativa do Brasil. A primeira mulher presidente da nossa república. Ação e feito do presidente e cidadão LULA da Silva, o maior de todos os seres mortais deste país.

O único Presidente que soube entender e assimilar, com senso de justiça e muita, mas muita sensibilidade e, acima de tudo, responsabilidade, a soberania do povo e que o povo é o contribuinte e o destinatário, em potencial, dos recursos e investimentos públicos e, como nunca antes visto na história do Brasil, deixa o governo, pós 08 anos de mandato, com 83% de aprovação popular.

Deixa o governo para, em vida, entrar para a história. Torna-se uma das maiores lideranças políticas do novo mundo. Aquele mundo que, aos poucos, vai encorpando e encarnando em si, o espírito da solidariedade mundial. O verdadeiro espírito de amor ao próximo, tão esquecido pelas corporações e instituições capitalistas do velho mundo.

Contrário às Teorias da Conspiração Americanas, a nossa Teoria da Conspiração tupiniquim foi bem entendida e, referendada as suas intenções pelo povo, foi a mesma desbaratada e derrotada de maneira inquestionável e singular.

Um Brasil novo está sendo construído e consolidado no seio de um governo espelhado e inspirado nas esperanças e sonhos de uma nação inteira que, por sofrerem na carne a dor e humilhação da opressão, renasceram, de forma heróica e o brado retumbante, em busca do sol da liberdade.

E, gigante pela própria natureza, assimilou, em verdade, que um filho teu jamais foge à luta e nem teme, quem te adora, a própria morte.

Por isso, és: Terra adorada, entre outras mil, és tu, BRASIL, ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, BRASIL!

E se o assunto é teoria da conspiração, mande para nós, Nação Brasileira que, aqui, entendemos tudo e resolvemos, abrindo trilhas sólidas e confiáveis para um futuro próspero e sem medo.

Roberval Paulo

terça-feira, 23 de novembro de 2010

FERBIS, DE VENTO E DE SOL

Quando Ferbis nasceu, era de sonho e morte o seu passado; passado este, dele desconhecido, que ficou guardado antes do seu nascimento. E Ferbis seguiu adiante, sendo morto e vivo a cada instante, por desconhecer a  sua origem; sem saber se teve começo.

Às vezes pensava que partira do meio, sem começar e morria no começo do pensamento, sem chegar ao fim. Reassumia a vida ao beslicar-se, pois sentia dor, prova irrefutável de vida. Sabia-se assim, vivo, mesmo sem ter começado.

Quando Ferbis nasceu, o tempo muito cruel foi com esse seu destino que conheço como a mim que, mesmo sendo assim, fez-nos tristes e feridos de lúgrubes pensamentos e Ferbis, que de ferro e brasa era o seu corpo e vida, se despiu das honrosas vestes que cobriam suas vergonhas, deixando-as descobertas e expostas aos alheios e curiosos olhos.

E Ferbis viu que era bom, como boa é a exposição e contemplou a si próprio, feliz por não se entender.

Roberval Paulo - FERBIS, DE VENTO E DE SOL, do livro FERBIS, UM SER EM EVOLUÇÃO.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

DO OUTRO LADO DA VIDA

Não fui lá para saber como é e confesso que eu não tenho ideia de como
é e nem sei quando é a hora da chegada ou da partida e não imagino como possa ou deva ser
o mundo do lado de lá, do outro lado da vida.

Penso às vezes que nada existe daquele lado de lá onde tudo é mágico.
Onde tudo flui ao natural qual sendo as águas caudalosas do rio que desce ao mar e nem sabe existir o caminho de ao seu curso voltar.

Mas como falar de lá se lá não estive? Como saber de lá se quem foi jamais voltou?
Penso um dia desvendar esse mistério
Penso um dia conhecer este segredo.

Mas como conhecer um caminho que não volta?
Como enfim regressar numa estrada que é só ida?
Como poder descansar num leito desconhecido que de terra é o cobertor e a alma segue vagando,
sem corpo, a alma viva?

Quis fazer essa viagem e sonhei sendo levado por um anjo decadente que tinha as feições da morte e até foice carregava com sua túnica de branco tão negra que nem luzia
e ia a levar a vida para além da vida matéria.

E além do vale abissal o precipício se abria e o corpo se redimindo ao precipício chegava e a sua casa o esperava e ele nela dormia o sono eterno do nada. E a alma se rebelava e o corpo ela renegava, abandonava o que era o seu casulo de cêra e este se desmanchava no chão que a tudo comia. E a alma, nova, andava, seus pés voando no dia e a noite ela perseguia buscando a luz que foi sua quando sorria na rua da casa do seu amor.

E a alma quis regressar. Eu pensei em regressar e fui assim agarrado por dez mãos, sete cabeças e um corpo desengonçado que mais parecia um santo mais um santo desviado que louco e desesperado não me deixava voltar.

Não era maldade sua que em mim se agarrava era porque tinha visto em mim uma companhia. Do outro lado da vida solidão muita eu vi, anjos vagando sozinhos procurando por seus corpos que ficaram em outro plano dali bem distanciado, distância essa impossível de vencer só com vontade.

Consegui desvencilhar-me de mãos e pés me segurando e me mandei dali fugindo pés correndo e alma pensando pois em mim estavam juntos alma e corpo eram um só e foi minha salvação essa junção esse conjunto e percebi nesse momento ser existente dois mundos um de alma outro de corpo que se encontram aqui no seio da nossa terra na hora do nascimento e juntos seguem vida afora até chegarem juntinhos na encruzilhada da sorte, o mesmo ponto da morte, para ali se separarem e assim se desgrudarem e não mais serem um só e agora feitos em dois o que antes era um só cada um segue sozinho o seu mais novo caminho e nada sabe um do outro nem nada do que viveram, são em si seres estranhos que nem memória carregam pois foi tudo deletado no exato e real momento da inevitável separação.

Cada um no seu quadrado, o corpo deitado em terra a se fundir e se encontrar com a sua parte maior, a terra, a mãe de todos, a alimentar sabiás e laranjeiras e matas e águas e até novos sonhos e a alma no seu espaço busca o vazio do verde e vaga só e sem corpo, só espírito a vento tocada a procurar pela luz que está em qualquer lugar do universo esquecida e que é alimentada por novas almas a chegar cujo destino é vagar e vagando vai renascer em nova vida explodida fundida à vida matéria em nova missão investida.

E quem vai, de nada leva, quem fica, de nada sabe, quem volta, nada não trás, são seres virgens em começo início de um novo ciclo que vai rodar e alcançar o outro lado da vida onde tudo é o fim do fim chegando aos tropeços e ao seu começo que vai findar quando a página do velho mundo virar e quem foi de lá será ao outro lado jogado e nunca mais os dois lados vão querer se separar pois a estação da chegada é a mesma da partida e o lado de cá será o outro lado da vida.

Roberval Paulo

terça-feira, 16 de novembro de 2010

MENORES ABANDONADOS

Pe. Zezinho escreveu em uma linda música da sua imensurável obra, que carrega exatamente esse título: "MENORES ABANDONADOS / Alguem os abandonou / Pequenos e mal amados / O progresso não os adotou". (Pe. Zezinho).

Realmente, o progresso não os adotou.

Renato Russo questionava: "Que país é este? Que país é este?

E eu questiono até hoje, sem poder disfarçar a tristeza da impotência e a naturalidade e normalidade do mea culpa. E, revestido de uma amarga revolta, replico: Que progresso é este? Como chamar progresso um sistema que abandona crianças que ainda nem gente "adulta" é ao destino das ruas sem direção e ao acaso de tão malfadada sorte? Que modelo de sociedade construimos.

E ainda batem no peito e mostram a cara lavada e sem culpa nem vergonha nenhuma dizendo que a onda agora e necessidade primeira é um tal desenvolvimento sustentável. Que precisamos continuar nos desenvolvendo porém sem agredir e sem destruir. Não sabem o que estão dizendo. Ou sabem e disfarçam a realidade nua e crua pela fantasia de um discurso e de um sistema que exclui, segrega e extingue vidas das mais diversas todos os dias.

Quer agressão maior do que matar e aniquilar sonhos e desejos de gerações inteiras? Quer agressão mais cruel do que continuar a deixar dormindo quem ainda nem acordou? Como redimirmos-nos um dia por ferirmos com aço letal e fatal os sonhos coloridos de cores mil do tempo de criança e transforma-los na fatalidade clara e real do preto no branco essa geraçãozinha que continuamos cinicamente a dizer e com todas as letras que esses são o futuro do amanhã? Quanta hipocrisia. Que sociedade continuamos a reinventar e aprimorar mundo e tempo a fora. Porque, salvo as conquistas tecnológicas que atende, se manifesta e se consolida em todas as áreas, tudo dá no mesmo. Tudo tá no mesmo ou seja, a dominação dos mais fracos pelos mais fortes continua.

Foi assim desde os primórdios e continua tudo igual.
Aí vem os grandes estudiosos e falam de evolução da humanidade. Das conquistas, das descobertas. Dos modelos de sociedade construidos, modulados, destituidos e reconstruidos ao longo do tempo da existência humana. Das relações humanas, dos valores éticos e morais. Da revolução na indústria, do crescimento e consolidação do comércio, das relações comerciais internacionais. Do intercâmbio e interação dos governos. Da integração econômica mundial; transnacional. Da interferência e ingerência dos governos na cozinha alheia, onde não lhes dizem respeito.

Enfim, da globalização. Enfim, da maximização dos ganhos em geral por quem detém o capital, seja de onde for, seja onde for. Não importa a origem. Seja asiático ou árabe, europeu ou ocidental, lícito ou ilícito, fruto da exclusão ou da extinção do que seja, mesmo que sejam vidas, o capital é o capital e como tal é tratado em qualquer destino a que se dispuser chegar e normalmente e legalmente, é recebido com pompas e com todas as honras.

Que bonitinho. Tudo está igual desde quando começou. Fico tão baratinado e perdido quando passo a analisar que não sei a quem atribuir culpas e responsabilidades. Acho que a todos nós mesmos, enquanto sociedade que somos. Porque desde as antigas gerações é assim; os fortes e os grandes dominam e aos mais fracos e pequenos, cabe calar e aceitar.

Na geração dos dinossauros, igual. Dos homens das cavernas, na idade da pedra, tudo igual. Na geração de Adão e Moisés, tudo igual continuou. Quando JESUS CRISTO veio ao mundo para tudo mudar, tudo continuou exatamente como estava, no mesmo. O que esperar mais? Em que ou em quem acreditar ou por qual causa lutar se a história e o passar dos anos, geração por geração, nos mostra que nada mudou. Lá no livro bíblico do Eclesiastes, este já dizia: "Que é o que foi? É o mesmo que o que há de ser: Que é o que se fez? É o mesmo que o que se há de fazer. Não há nada que seja novo debaixo do sol, e ninguém pode dizer: Eis aqui está uma coisa nova. Porque ela já a houve nos séculos que passaram antes de nós. Não há memória do que já foi, mas nem ainda haverá recordação das coisas que têm de suceder depois de nós, entre aqueles que hão de existir em tempo a elas muito posterior." Eclesiastes, cap. 1, vers. 9-11.

Ele estava certo, mesmo tão questionado em seu tempo. Realmente não há nada que aconteça que se possa dizer: Vêde, isso é novo.

Sociedades e governos, em batalhas e guerras, continuam se degladiando e vencendo o tempo e, praticando tudo do igual.

O homem, nós, somos por nós mesmos, ambiciosos e trazemos junto à ambição o seu companheiro inseparável, o egoísmo. Aí está tudo e pronto. Com essas características que são nossas por natureza e tendo a oportunidade de desenvolvê-las, o resto que se dane.

Não importa o outro, quero saber é de mim. Não sei quem chora nem porque chora e isso não me importa nem me diz respeito, desde que eu possa continuar a sorrir. Essa é a nossa realidade.

Emily Bronte, grande escritora e poetisa britânica do século XVIII, autora de O MORRO DOS VENTOS UIVANTES entre outros tantos, que publicou a sua primeira obra com o nome de homem em razão da segregação feminina da época, escreveu: "Se a mais vil das criaturas me esbofeteasse, eu não lhe retribuiria a ofensa e sim pediria desculpas por tê-la provocado." (Emily Bronte)

É bonito isso, muito fácil de dizer e até de escrever, sem precisar recorrer à grande escritora. Agora, viver é que são elas. Não carregamos em nós, apesar de sermos em mesma natureza, o espírito bondoso de JESUS CRISTO, que ofereceu o outro lado do rosto quando foi esbofeteado. Estamos mais para a popular lei de Gerson do bateu levou. É a lei do toma lá da cá e o resto que vá pras cucuias.

Falta amor ao próximo, como JESUS tanto pregou e difundiu e, principalmente, amor a nós mesmos. Este foi o legado de JESUS quando veio ao mundo: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo." Mas nós, absortos e envolvidos que estamos e somos pela sobrevivência, diga-se de passagem, louca sobrevivência, não o demos ouvidos e não o entendemos e sim, o condenamos e o crucificamos.

Este mundo não pode ser abençoado se matamos aquele que dizem até hoje ser o nosso salvador. Podemos estar condenados por tempos sem fim e assim, levamos a condenar as nossas crianças.

E JESUS CRISTO, em sua infinita bondade e divina sabedoria, disse mais: "Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o reino dos céus."

Não o entendemos e não fomos capazes de o atender em seu mais doce e sublime ensinamento e, por isso, as nossas crianças andam ao léo por aí, pelas praças e becos e sinais e pontos de drogas e de prostituição das grandes cidades, tão maltrapilhas e esfarrapadas, tão esquecidas e abandonadas, tão exploradas e sacrificadas que nem crianças parecem.

São os filhos da luz que receberam só trevas nessa sua morada terrena mas que, um dia, podem ter certeza, subirão em luz para a luz da qual originaram, enquanto que estes, os mandantes, governantes, detentores do vil metal e acumuladores de riqueza e da desgraça alheia, esses irão e terão como morada  o...

Ah! Deixa pra lá. Deixo estes ilustres às moscas e me recuso a falar sobre eles.

Que o tempo e a estrada que a tudo faz nada e morto e igual se encarregue de tudo e que nossos filhos e netos e assim por diante nos conduzam à quarta e última geração e dimensão, tão além deste mundo. Simplório mundo de carne e lama.

E que sejam perdoados os nossos pecados, se houver perdão.

Roberval Paulo

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

OLHOS NOS OLHOS

Quando tua mão pesar sobre mim, lhe direi:
Porque tantos anos de infortúnio sobre a terra?
Porque tanta dor se o que buscamos é o prazer?
Se me ouvirá, não sei
Se tenho razão, menos sei ainda
Só acho que o que ainda sei é amar.

Quando tua voz me pedir contas do que fiz, lhe perguntarei:
Posso eu também pedir contas de ti?
Podemos conversar, só conversar sem cobranças?
Podemos nos sentar e nos falarmos como dois amigos?
Não sei se assim pode ser. Menos ainda sei se assim posso agir.
Só acho que o que ainda sei e posso dizer é que eu amo.

Amo a vida que tenho e não sei se me pertence
Amo o ventre que me gerou e me concebeu
                                            e o rebento do qual sou raiz
Amo o patriarca da minha humilde existência e aos irmãos e irmãs
                                            de lastro familiar que me destes
Amo as forças conhecidas da natureza, alimento indispensável para a vida
Amo ainda as forças desconhecidas da natureza, sinais latentes e incessantes do teu
poder e glória e amor.

Quando teus olhos me olharem e eu neles perceber
                                             um olhar de interrogação, lhe responderei:
O que queres de mim?
O que queres que eu faça se tudo o que fiz não valeu?
Em que Pátria nos desentendemos? Em que corpo me perdi?
Não sei se me ouvirá. Nem sei se assim posso indagar a ti
Só sei que o que ainda acho que sei é da força do amor.

Da força do amor que tudo pode e é só por ele que se vive
Da força desse amor que se justifica por si só e se qualifica por só ser
Da força do amor transcendente, completo em si, sem complementos, sem acessórios,
sem adereços. O amor só pelo amor.
Que este sim, é infinito e não se paga imposto para amar
Que este, o amor, é o que sinto e está no recôndito mais fundo do meu ser
Alimenta minha alma e só por ele se vence grandes distâncias e as agruras dos dias

E também sei que só o sinto pela tua suprema e magnânima existência e presença, pois,
só matéria e pó como sou, não seria capaz de amar sem o teu sopro de amor infinito.

Quando teus olhos novamente me olharem e apresentarem aos meus olhos
                                                                                         o olhar da reprovação, eu...
me penitenciarei
E lhe indagarei quanto mais do teu amor ainda resta em mim?
E lhe perguntarei o quanto ainda sou capaz de amar?
E lhe responderei que ainda procuro o que nem sei se é possível achar
E, olhos nos olhos, chorarei
E pedirei perdão pelas minhas faltas
E pedirei perdão por duvidar de ti
E da tua bondade infinita me impregnarei e me agarrarei, me agarrarei à tua mão para
não mais soltar.
Me agarrarei à tua mão para reerguer-me e não mais voltar a ser sozinho.

Sei que me perdoará
Sei que não me abandonarás nunca como jamais abandonou um filho teu.
Aí sim, a luz se acenderá e juntos, juntinhos, lado a lado, caminharemos pela vastidão
dessa estrada para não mais nos separarmos.
Dessa estrada que só se caminha, que só se caminha, sem saber onde vai dar
Mas agora, confiante caminho e a eternidade nos espera
Pois já não ando mais sozinho e tenho o amor a me guiar.

Roberval Paulo

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

SERTANEJO UNIVERSITÁRIO?

O que é isto?
Nova nomenclatura de um estilo?
Um novo rótulo?
Qual o propósito?

Perco-me, às vezes, nessa definição e procuro encontrar fundamento não que justifique o termo, mas sim, que traga à luz condicionada dos nossos olhos tortos, a clarividência “clarividente” do alimento, no crucial momento de o deglutir.

Esta é a mais nova definição do que se intitula de "Música Sertaneja". Mas é na verdade só um chamariz, um novo atrativo; a nova mensagem extraída do mesmo texto, já velho e subjacente. Uma maneira nova de trazer o velho ou uma maneira velha de ganhar o novo, façam a leitura que entenderem e captarem, pois, tudo dá no mesmo.

Como está escrito no Livro do Eclesiastes: >"Tudo o que acontece ou que pode acontecer já aconteceu antes. Deus faz com que uma coisa que acontece torne a acontecer (cap. 03, vers. 15)". Acredito que esta passagem não deva ter nada a ver, especificamente, com o texto que ora me proponho a escrever, mas, no mínimo, retrata que, tudo o que foi é o que é, e tudo o que é, é o que será. É assim também com a música sertaneja. Para resumir, parafraseio o poeta que já dizia: "Nada mudou".

Esta é, pura e simplesmente, mais uma "comum" estratégia de marketing; mais uma da nossa sensacional mídia e do nosso ensandecido mercado, altamente e compulsivamente consumista que consome o velho vestido de novo, mesmo sabendo a roupa nova ser a sobra do tecido envelhecido e já, outrora, consumido.

O sertanejo é o sertanejo e, na concepção musical, foi e sempre será a música cantada por uma dupla de artistas, independente do gênero apresentado. Numa outra concepção e talvez, a mais original e que conserva a verdadeira acepção da palavra, é a música que retrata e relata a vida do campo, do povo realmente sertanejo, seus costumes e hábitos, seus amores, suas ilusões e desilusões, seu contato com a natureza enfim, seus mais olvidados e desprezados e, ao mesmo tempo, expressivos e indiscutíveis valores e que, a muito tempo, foram relegados ao esquecimento na música cantada hoje.

Portanto, sertanejo ou sertanejo universitário, é a mesma coisa, é mais do mesmo e só isso, com a diferença de que, para se inserir e se destacar no universo do ambiente “sertanejo universitário”, é necessário que seja uma “duplinha, sem pejorar”, assim, mais ou menos esteticamente bonitinhos - essa é a rotulação das gravadoras - sem considerar estilo ou classificação, ficando as duplas menos afeiçoadas e mais velhas no título de somente sertanejo mas, no entanto, cantando o mesmo.

Necessário ainda se faz considerar que a maioria dos ditos "sertanejo universitário" nunca passaram por uma Universidade e que o público que os curte está bem longe de ser só universitários, posto que essa música se espalha pelos rincões sem fim do nosso Brasil, distante e a perder de vista das universidades, impregnando-se na pele e nos sentimentos dos seus apreciadores, tornando-se parte integrante no processo cultural e social do País e, porque não dizer, econômico.

Só me resta a pergunta que não quer calar: E aí? Vamos de sertanejo ou sertanejo universitário? Ou os dois? Tranco-me em mim, reflito e respondo por todos nós brasileiros: Isso é o que tem que ser. Escolham e curtam, até que o sucesso “novo” canse e caia e, consequentemente, deixando de ser novidade, as vendas diminuam, para que, como nova alternativa de faturamento e de sucesso, se crie um novo rótulo para tentar as nossas preferências e inteligência, e nós, sábios e senhores dos nossos desejos e prazeres e meros instrumentos da sede filosófica do ser, adentraremos, natural e instintivamente, pela fonte da novação para fazer beber e alimentar os nossos sonhos velhos.

Roberval Paulo

DA GERAL

Leia e reflita...que o tempo está passando...

DA GERAL me faz pensar em tudo. Em tudo o que penso e não realizo, juntamente com tudo o que realizo. Isso me leva a crer que o Universo tem jeito, pois nele existem as coisas alcançáveis e inalcansáveis, possíveis e impossíveis, visíveis e invisíveis...

DA GERAL me leva ainda a pensar em tudo o que deveria eu estar fazendo agora de mais importante, além de escrever ao acaso do nada e ao encontro do tudo, estas palavras soltas e tortas, a um destino incerto, mas provável.

Palavras ao tempo e ao vento que, despretenciosas e extintas de outros interesses que não o verde azulado da distância, contrastando com o crepúsculo rubro e róseo de um sentimento cinzento, vem desfolhar seus sonhos nas águas que levam tudo e todos a qualquer lugar que desconheço, no caminhar obscuro das almas curtidas de sol e de sonhos, ao destino da viagem última; começo de um recomeço que não tem dia e nem hora para chegar mas, que chega quando se menos espera.

Às vezes, por tanto esperar e, assim, DA GERAL me faz pensar e entender e compreender que o nada é maior que o sonho e o tudo é a ilusão inalcansável dos sonhadores que, por sonharem, venceram grandes distâncias e, pela mistificação do sonho e a indecifrável caminhada do não sonhar, chegaram ao encontro do vazio existente na inexistência do fim que começa quando já não há mais começo; na relatividade perene do tênue absoluto que não se toca nem se vê, mas se sente no mistério do desconhecido fim que, só começa e recomeça, mas nunca apaga nem acaba.

"A chama de luz que ilumina todas as almas. O sopro de vida que existe no vento que passa por nós tão só, tão único, que nem parece carregar a vida, e, DA GERAL, sentado e absorto em mim, vejo a continuidade do dia se perder no começo da noite que é só o preâmbulo para o próximo dia que vai nascer com a manhã e, assisto a tudo, passivamente, sem saber até quando vou continuar aqui, NA GERAL".

Roberval Paulo

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Blog Roberval Paulo: CAMINHOS DO SOL

Blog Roberval Paulo: CAMINHOS DO SOL: "Ali, recostado naquele barranco, quebrando gravetos e cortando folhas com a ponta dos dedos, atirava-os nas águas da fonte que corria, lavan..."

CAMINHOS DO SOL

Ali, recostado naquele barranco, quebrando gravetos e cortando folhas com a ponta dos dedos, atirava-os nas águas da fonte que corria, lavando meus pés. Notei que meus pés, imersos, tinham-se tornado um obstáculo à passagem livre das águas. Fixei meus olhos pela superfície e pude perceber quantos obstáculos tinham que ser vencidos para que ela continuasse a correr.

Eram tantas pedras, arbustos, desníveis do terreno e árvores obstruindo seu caminho, complementado pelas barbaridades dos homens com suas barragens, seu lixo, desmatamentos, em suas constantes tentativas insanas de parar essa corrida que, aparentemente, parecia que a qualquer momento, a fonte poderia desistir. Mas ela, teimosa e obstinada, resistia a tudo e continuava a correr, projetando-se em curvas, desvios, lagos, corredeiras e cachoeiras, só aumentando sua beleza diante dos obstáculos, transformando-os em molduras para o seu esplendor total.

Olhei para os meus pés e vi que eles continuavam sendo lavados, porém, por uma água que se renovava a cada novo instante. A água lavava e se ia embora, não voltando mais, passando parte dessa tarefa a uma nova água. A água do instante seguinte, que pela primeira vez passava por aquele caminho, cumpria sua missão e continuava em frente, sendo nova e desconhecida a cada novo espaço percorrido. A água de agora já não é a água do instante passado e não será a água do instante seguinte. Ela se renova a cada instante, a cada piscar de olhos que, por sua vez, também são novos. Cada piscar de olhos é único como é único cada instante, cada minuto, cada hora, cada dia, e assim, sucessivamente. Amanhã é um outro dia, pois o dia de hoje só acontece uma vez. O próximo segundo é outro segundo, novo e desconhecido para mim como é desconhecido para a água cada novo centímetro, cada novo metro percorrido.

Esse momento só acontece uma vez, só acontece agora e passa, não se importando com o que você tenha feito ou deixado de fazer. Nada pode mudar esse ciclo. Tudo só acontece uma vez, uma única vez. Só temos uma vida para este mundo.

Portanto, resta-nos aproveitar ao máximo, com toda energia e com todas as nossas forças, cada momento da nossa vida, nos doando por inteiro, com amor intenso, nunca desistindo diante dos obstáculos apresentados. Não importa se são momentos bons ou ruins, fáceis ou difíceis; o que importa é viver e viver é agir e reagir em todas essas situações, procurando sempre tirar o máximo proveito de tudo o que nos acontece, pois, partindo do princípio de que tudo é suscetível a todos, chegamos à sábia conclusão de que o importante não é o acontecimento em si, e sim, a posição que assumimos diante deste acontecimento.

Observem a água. O seu segredo consiste na capacidade de correr sempre, e, para ela, não importa os obstáculos, nem o que ficou para trás. Só importa a corrida e está na corrida a sua razão de ser; a sua própria vida.

A água que corre é viva e semeia a vida por onde passa. A água parada é morta e mata todas as vidas ao seu redor.

Corra então para viver, pois assim, serás motivo de estímulo para a vida, porém, nunca pare para não correr o risco de morrer pelo comodismo e pelo desgosto daqueles que o cercam.

Roberval Paulo













segunda-feira, 8 de novembro de 2010

DA GERAL

DA GERAL, observo a vida passar por mim na direção do desconhecido e me posiciono como se fosse um imã para que a vida possa em mim grudar e não mais fugir.

E assim me encho e me recheio de vida, seguindo com ela a estrada da luz à procura da morte que, viva, me pede perdão e se esgueirando feito cachorro vadio, grita por socorro ao se entender morta.

Eu, vivo, observo tudo em silêncio e não posso disfarçar uma lágrima clara e fria que escorre pela minha face ao compreender que o grande segredo da existência é o que inexiste e a porta de saída para a próxima vida é o encontro com ela: a mãe que a todos acolhe e a ninguém rejeita.

Meus pensamentos caminham desordenados e inquietos pelos labirintos do medo e transportam meu ser à legião de um sonhar desesperado sabendo esse desespero ser a esperança em sua mais perfeita tradução pois que a vida ainda está por aqui e, DA GERAL, ainda observo a passar por mim o cortejo fúnebre que ora vivia e que segue ao destino do fim que é, e será, nada mais, nada menos, o começo de tudo.
Roberval Paulo

PRA NÃO DIZER QUE EU NÃO DISSE NADA

Tive um sonho e sonhei que era um anjo e aquele anjo sem asas mas que, pela força do invisível e do mistério do incerto, voava e mais voava; voava que nem sabia como era a estrada de andar.. Um anjo sem asas e que de nada entendia nem mesmo porque era anjo e nem mesmo o que é ser anjo mas que, inexplicavelmente, voava, voava e mais voava..

Abri as asas que eu não tinha e ganhei os céus. Eu era esse anjo que asas ele não tinha. Subi, subi alto e contemplei, lá de cima, o altar. Um imenso boneco redondo, nas cores azul e verde e pés e cabeça alvos como neve. Refleti sobre aquela imensidão de espaço vazio e pude perceber a distância do meu pé ao meu pensar. Aquele espação infindo a perder de vista e nada para todos os lados, e direções, e sentidos, e só aquela bolinha em azul e verde, e branco nas extremidades, vagando ao léo, sem destino, suspensa no ar e sem amarras para lhe segurar.

Não entendi o mistério e mesmo se buscasse entender, não entenderia. Aquela bolona imensa, pequena diante do vazio do espaço mas, imensa e desorquestrada...se comparada a mim. De terra e água é seu ninho; de mato e bicho seu peito, e ainda de gente, em todo o seu sentimento e muito de tudo. Milhões e milhões e até bilhões de tudo, portanto, pesada; pesada não, pesadona, e suspensa no vazio do espaço, sem cordas e não cai. Suspensa pela massa do ar e andando ao vento pelo tempo, sem parar e sem ninguém no volante. Não consigo entender nada. Quanto mais me findo nesse propósito, menos entendo. Dizem que é uma tal de gravidade ou lei da gravidade, não sei. Na verdade, eu nem sabia se existia essa gravidez, nua e filha, nem sei de quem, a viajar pelo espaço, sem amarras, nem cordas, totalmente suspensa, sem raiz, a andar sem destino e sem direção, na órbita de um pensar que não é atmosférico. Penso que vai à procura do Apocalipse final que, a bem de uma outra verdade, eu também não sei o que é e nem onde mora, se é que ele tem residência; ou será que seria ele mais um descamisado andarilho pelos trilhos da esperança e que ao fim só encontra um mar de terra para guardar seu corpo ínfimo e pouco que descansa, leve e morto, ao pé de um jacarandá?

Penso mesmo que essa mãe que às vezes se chama terra, viaja sonho afora é em busca do pai que perdeu. Do pai de sua gravidade gestada em um tempo inexistente e distante, feito minhas asas que um dia estiveram em mim e que ao anúncio da criação dos filhos do gênesis, povoaram o olimpo. Assim zeus se fez Deus para apadrinhar a insensatez da mitologia fora do seu tempo mas que caminhava para encontrar a porta que culminasse e se materializasse nos trilhos da obscura luz da última realidade, ou, pelo menos, que fosse uma janela e, mesmo sendo a passagem, mais estreita, poderia por ela saltar ao espaço do precipício sem fim que é a viagem sem destino e sem direção e também, sem comandante, da mãe que procura pelo pai da gravidade gestada em seu ventre, que subiu e não desceu e, que quando desceu, acabou descendo mais do que o necessário para voltar a subir e, não mais subindo, passou do destino e não mais encontrou o caminho de volta.

Assim se deu a viagem do anjo sem asas que nada de gravidez ou gravidade foi ao espaço buscar, mas, que viu e se solidarizou com o choro das estrelas, lágrimas estas que diziam da estupidez exasperada daqueles seres ingnóbios que mais pareciam micróbios que cavavam sem parar o corpo daquele corpo que ainda hoje viaja mas não encontrou parada nem a estação pra estacionar e nessa viagem sem fim leva toda a nossa vida e as nossas forças e sonhos para o espaço de um lugar que não se sabe onde é e nem se lá vai chegar mas que como todo ser que pisa os degraus do medo vai sem medo para a morte que fica na encruzilhada do canto daquela estrada que não se sabe parida ou se já foi a abortar.

Não desci do meu sonho, só acordei e, quando os olhos eu abri, estava ali, na minha frente, me olhando com aqueles olhos que eu não sei decifrar, o filho do pai que um dia partiu pra órbita da dor e deixou sozinha, a mãe, que viaja sem parar, e chora, como ela chora e suas lágrimas fizeram o mar e esse se vai a encher pois ela não para de chorar porque o pai não encontra e o filho é que aqui está e a mãe ainda nem pariu, só chora e chora e me olha junto com o pai que é seu filho e me chama, me chama e eu, que acordei agora, não sei se já é a hora de seguir não mais eu órfão ou se aqueles olhos de pai de mãe e de filho que é filho do pai da noite vai ainda permitir que o meu corpo comece essa viagem a seguir e que a cria do medo, do meu ser que desconheço me revele o segredo de não mais ter pesadelos e em paz poder dormir.

Roberval Paulo

ÀS VEZES É PRECISO FALAR DE AMOR

Houve uma era em que mais se sentia o amor. E nesse tempo, um homem que viveu além de tudo e de todas as coisas possíveis e impossíveis, dizia: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amo." E disse mais: "Amai ao próximo como a ti mesmo." Mas, plantar o amor é difícil; colher, muito mais difícil se faz. Ele foi perseguido, acusado, julgado e condenado e, foi morto. Seu pecado? – Falar e viver o amor.

A vida se fez diferente a partir daí. Com o seu amor infinito, libertou e salvou todas as gerações passadas, contemporâneas e futuras pelo seu sacrifício e sofrimento aos pés do calvário, sob o peso do lenho da cruz e pelo seu sangue, que alimenta todos os nossos dias. O mundo se dividiu entre antes e depois dele. A vida triunfou e venceu a morte e a fonte de água viva jorrou no seio da humanidade.

Hoje, depois de tanto tempo e situando-me dentro da realidade atual, pergunto a mim, sem poder livrar-me de uma estranha sensação de descontentamento e impotência: Nada valeu a pena? Será que tudo foi em vão? Recorro ao poeta, que em um tempo mais recente, dizia: "Tudo vale a pena se a alma não é pequena."

E assim, busco alcançar um entendimento que possa, pela força desse mesmo amor que é dele e que habita em mim, salvar-me e libertar-me das garras sangrentas do egoísmo e da ambição que, pela inconteste e maléfica influência do desejo negro do ter, instalou-se em nós e nos impede de abrir as portas para as virtudes do ser. O mundo já não canta o amor e a história continua a se fazer com sangue. No ciclo vicioso do poder, a ambição gera seus filhos, verdadeiros pais do egoísmo. A destruição é total e se demorarmos a acordar desse sono e sonho malditos, o caminho é sem volta. A natureza, agonizando, pede socorro, sem ser ouvida. Os valores éticos e morais foram-se, partiram para uma galáxia distante, expulsos pela nossa soberba e cobiça e pelo nosso desprezo e desrespeito ao semelhante. Só se vê descaso pelas questões sociais que afligem o planeta e aniquila milhões de semelhantes, transformando-os em bichos à procura do nada, abatidos todos os dias pelo tiro certeiro do inevitável, agindo fora do seu ciclo natural; agindo fora do seu tempo. A sociedade perece, vítima do seu próprio desamor e leva consigo a inocência que um dia foi nossa e que reinava nos recôncavos perdidos e esquecidos do limiar da existência. O caos é total e parece não ter fim. Tornar-se-a eterno como eterno foi um dia, o amor, que dorme, enfraquecido e desqualificado, no seio desumano dos humanos que somos.

É preciso acordar. O sinal de alerta já foi acionado e a luz das trevas só espera o momento para reinar sozinha, negra e sem cor e desesperançada de viver. A vida, agora, ínfima e tênue, continua a descendente escalada e, teimosa e obstinada que é, procura perenemente e incessantemente pelo amor, para ressuscita-lo. Procura incansável mas necessária. Só esta é capaz de alterar esta realidade. Vida e amor andando juntos. Assim, penso e ainda me sinto existir e volto a crer, depois de tantas incertezas, que a humanidade tem jeito. Mas, depende de todos nós. Vamos dar essa mãozinha. Vamos, todos nós, juntos, ressuscitar o amor e semea-lo em nosso meio e seio. E aí, cheios e repletos do amor, vamos trilhar juntos o caminho da paz, da compreensão, da igualdade e da vida digna e justa a todos, indiscriminadamente. Só o amor de tudo é capaz e é, esse amor, o dom maior. Está no ser e o ser é o espírito e é tudo o que resta. O espírito que é amor; o amor que é espírito. É isso mesmo. Sendo assim, estamos recomeçando no caminho certo. É o que sempre digo. Às vezes é preciso falar de amor.

Roberval Paulo

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A BIOLOGIA NO AMBIENTE - O MISTÉRIO!

O homem é produto do meio, diz o provérbio que é quase tão antigo quanto o homem.

No entanto, a sua formação congênita, fator que orienta também a sua personalidade encontra fundamento na hereditariedade e é salutar considerar que geneticamente, a origem dos seres vivos e suas causas está diretamente relacionada com a hereditariedade e o ambiente.

Portanto, mesmo com todos os estudos e descobertas a respeito do tema, é preciso ainda avançar muito. Muito difícil se torna e, praticamente, quase impossível, até o presente momento, definir com alguma precisão, qual dos dois fatores exercem maior influência na transformação e formação do indivíduo.

Mesmo com todas as conquistas ao longo do tempo, a própria ciência não é capaz de explicar o intercâmbio entre hereditariedade e meio ambiente na formação da personalidade dos seres pois, é ainda desconhecida da ciência, dentro do aspecto filosófico, a razão maior das coisas; a razão de ser dos seres. Para decifrar esse enigma é necessário descobrir e conhecer o sentido da vida, o sentido maior da existência e essa chave ainda continua escondida e insabida.

A formação do indivíduo está ligada à sua hereditariedade como também condicionada ao meio em que este vive, sem podermos precisar qual desses fatores tem mais importância para o seu existir enquanto ser ainda em evolução. 

No mais, é tudo mistério e especulação.
Vida que segue sem explicação para todo o sempre. Amém!

E que a vida nos seja leve e que o mistério...nunca chegue ao fim.

Roberval Paulo

UMA LIÇÃO DA VIDA

Aconteceu no estacionamento de um shopping. Era domingo, tarde de domingo. Ocasião em que os shoppings estão cheios. O estacionamento nem se fala. Parece mais congestionamento da Avenida Brasil e Marginal Tietê juntas. O sol flutuava magestoso num céu claro de azul distante e já descambava para o poente, anunciando o crepúsculo com seus efeitos enfumaçados e  áureos. Na terra, outro crepúsculo. O da correria da humanidade. Formigas desesperadas, em todas as direções, sem destino certo. Correr por correr. Comer pipocas, tomar sorvetes, cervejas; beliscar, patinar, faz-se tudo. Cinema! Ah! Cinema nas tardes de domingo; nada mais romântico. Correria. Aventureiros e exploradores, sem eira nem beira, dos prazeres da vida. Do bom bate papo, do entretenimento, do descanso e do sossego. Da novidade das caras novas, do flerte. Do lazer da família em busca da paz tão sonhada do fim de semana, nessa bagunça infernal. Caos. Tudo em movimento, tudo anda ou melhor, corre. Até os seres inanimados das lojas e vitrines parecem adquirir vida.

É tanta confusão que até me perdi no texto. O que eu queria mesmo era contar um episódio que se deu no estacionamento de um shopping, numa tarde de domingo e, perdido em meio a multidão, acabei aderindo à confusão e correria dos shoppings nos fins de semana.

Bem,  vamos ao fato; agora ele acontece.
Carros passeiam entre as filas à procura de vagas, perfilados como um pelotão de soldados, não necessariamente naquela mesma ordem. Uns entrando, outros saindo, buzinando, aguardando. Foi aí que se deu o já anunciado acontecimento.

Uma camioneta último tipo caminhava inquieta e nervosa por entre seus colegas à procura de um espaço para descansar seu desingner perfeito, tão harmoniosamente disposto sobre suas quatro rodas, reluzentes e imponentes, levando em seu interior um cidadão de meia idade, não tão último tipo quanto ela, "a camioneta", mas considerado um bom partido entre as moças casaidoras.

Não muito distante dali, um pouco mais atrás, um fusquinha ano 67, desesperado e ofegante da tão longa jornada e já gasto pelas marcas do trânsito, garimpava um espaço para repousar sua  maltratada estrutura que vinha gemendo e grunhindo, mal agasalhado que estava em cima daquelas quatros rodas tão bem desfiguradas,  levando em seu lado de dentro uma senhora já na melhor idade, - aquela mais perto do outro lado - de óculos, feições gastas pelo tempo mas conservando em seu semblante aquele distante arzinho de garota levada.

Eis que de repente, a camioneta passa por um espaço em aberto, de onde acabava de sair o próprio Henry Ford. Num grito de triunfo e mais que depressa, pisa no breque, liga a seta e engrena marcha a ré e, já em movimento convexo, procurando o retrovisor para se orientar, dá de cara ou melhor, de costas com o fusquinha que, numa manobra digna de um fórmula 1, arremete-se ao espaço a pouco vago, fazendo-o seu, deixando desolada a camioneta que vislumbrara primeiro essa tão disputada e singular vaga.

O condutor da camioneta aciona o freio de mão, apeia, caminha na direção do fusquinha falando à velha senhora. Argumenta e reclama porém, elegantemente.
- Minha Senhora, a vaga era minha, eu vi primeiro. Não foi correta a sua atitude.
A senhora olha de soslaio para o cavalheiro e num ar de deboche, sentindo-se vitoriosa, arremata.
- O mundo é dos mais espertos doutor.
- Mas...
- Não tem mas nem meio mais doutor. O mundo é dos mais espertos.
O cavalheiro, elegante, parece não acreditar no que acaba de ouvir. Sem palavras para responder, perde as estribeiras. Sai da razão. Dá meia volta e entra na camioneta, nervosa. Fazendo roncar o motor, promove uma ousada manobra e projeta-se na direção do fusquinha que, descansado e desprevenido, não tem forças nem tempo para reagir. O choque foi forte. Um estrondar bombástico e o fusquinha despedaçado, partido ao meio. Um amontoado de lata e ferro retorcidos. 

A camioneta faz nova manobra e parando ao lado do fusquinha e velhinha, saindo fogo pelas ventas e com a raiva de mil siris em água fervendo, o seu condutor dispara em gritos.
- O mundo não é dos mais espertos não minha senhora. O mundo é dos que tem dinheiro.
Faz um ligeiro aceno de mão e arranca a toda velocidade, jogando para trás uma mistura de  resíduos de asfalto e óleo no olhar assombrado e espantado da pobre senhora que, incrédula, olha desesperada o monte de ferro e lata que a segundos atrás era a sua condução. Lágrimas de esperteza e ferrugem se unem num chorar tão doído que nem o arrependimento duo, de velha e fusca é capaz conter. 

Dois corações marcados pelo tempo e pelo trânsito, recebendo da vida, ainda que tarde, a lição de que, mesmo em confronto com o dinheiro, a humildade deve prevalecer, sendo a tônica para o entendimento, evitando assim o risco da humilhação.  

Roberval Paulo

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A FILOSOFIA E A ARTE DE TUDO SER

É verdade. Ela não tem movimento próprio. Nem vida, eu acho. Mas como gosta de estar pelo caminho. Já viram? Está sempre no nosso caminho. Quando não é a própria, literalmente, é o seu nome.
Você é uma.................no meu caminho!
Você é uma.................no meu sapato!
Lembrem-se, até JESUS citou-a, quando disse a Pedro: tú és..................., em ti edificarei minha igreja.

Ela é importante, ta pensando o que! Inclusive, quando usada como arma; esteve na funda de Davi e logo após, na testa do gigante Golias, vencendo-o. Ou terá sido Davi o vencedor, e não ela? Bem, acho que os dois venceram.

Estão vendo, ela tem história. É quase impossível esquecer-se dela. Está presente até na dor do rim. Muitas são brutas, grossas, indelicadas. Outras são lapidadas, sensíveis e gozam de maiores privilégios. Estão sempre ornamentando valiosas jóias e esculturas; decorando lindos ambientes e estruturas. Outras são as próprias jóias e esculturas, portanto, de muito valor.

Uma coisa porém não se pode negar; são infinitas as suas utilidades, servem para tudo. Bem, sem exageros, para quase tudo.

Mas coitada. Não tem vida própria. Não vive, vegeta, ou será pedreta, pedrita, pevita? Há! Sei lá. Está por aí, no meio de nós, com vida ou sem vida. Pera aí, com vida ou sem vida? Deus meu, ajude-me; acho que me perdi. Raciocinem comigo sobre uma daquele inteligente. “Penso, logo existo”. Ela não pensa, então ela não existe???? Mas se penso nela e posso vê-la, e posso senti-la ― senti-la na verdadeira acepção da palavra ― ainda ontem, senti-a na cabeça numa discussão e na corrida para não senti-la por todo o corpo, não adiantou muito, pois acabei sentindo-a no dedão do pé. Também pudera; a coitada estava lá, abandonada, sozinha, perdida no meio do caminho. Eu disse pra vocês; está sempre no meio do caminho.

Bem, antes de me perder, feito ela, voltemos ao raciocínio. Se posso vê-la e senti-la, isso quer dizer que ela existe, mesmo sem pensar. Ora pois, partindo desse pressuposto ou seria desse princípio? Esse português ainda me mata. Não importa; partindo dessa coisa, ou melhor, daqui mesmo, daqui pra frente, Eureka!!! Cheguei à sábia conclusão de que “pra existir não é necessário pensar.”

Não, não é isso. Recapitulando. Ela existe e penso nela, mas ela não pensa nem nela, nem em mim, nem em qualquer outra coisa. Conclusão. “Penso, logo existo, mas, se não penso e outros pensam em mim a ponto de me sentirem, então existo.” Não, está tudo um tanto quanto confuso. Já dizia outro que, quando a esmola é demais, o santo desconfia, então, esse pensamento não deve estar correto, até porque a esmola não tem nada a ver com o santo nem com ela mesma. Eureka! Achei. De novo! A conclusão certa é: “penso, logo existo. Ela não pensa mas, também existe, pois eu penso por ela e sinto-a.”

É, ainda ficou um tantinho quanto confuso, mas tá bom. Não vou mexer mais não, se não, daqui a pouco, eu é que não vou estar mais pensando. Nossa, agora usei não à vontade, mas, não tem nada não. Pra variar, mais nãos. Fazer o que, pra dizer não tem que usar não, senão, não é não, não é mesmo. Mas chega de nãos, vamos ao que interessa.

Antes dessa coisa de pensar e não pensar, existir e não existir, eu estava falando sobre uma coisa. Droga, já repeti de novo, agora, foi a vez da coisa. Tudo bem, deixa pra lá. Vamos à revelação. De quem eu estava falando? Ou melhor, do que eu estou falando? Quem adivinha? Ham! Já descobriram? O que! Sabiam o tempo todo? Eu dei muito na cara; dei bandeira né. Assim perdeu a graça. Todo o tempo falando sobre a pedra, coitada, com um ligeiro suspense, pra fazer a revelação só no final do texto e logo no começo, vocês já haviam sacado. Mas não tem nada não. Êta! Quanto não. Sai do meu caminho não, parece pedra.

Não e pedra, pedra e não, desimportante. O importante é que conhecemos um pouquinho mais da vida desta já tão depedrada pedra e, deixando a modéstia ― a pedra ― de lado, um pouquinho mais de filosofia também, não é verdade? Podem confessar, eu deixo. Eu faço uma confissão. Não sei e não sei mesmo porque a pedra, ou a srª. Pedra, ou dona Pedra e, já que existe, pode até ser o bicho pedra, ou seria bicha, por se tratar do feminino? Não sei e como eu ia dizendo, não sei “de novo” porque esse trem ― coitada, é trem, é coisa, é pedra, êta português ― chamou tanto a minha atenção, fazendo-me escrever tanto. Essa coitada leva uma vida tão besta.

Como podem ver, não fala; não escuta; não sente; não chora; não vê, quase sempre é vista; não tropeça, os outros é que tropeçam nela; não anda e, com um tremendo esforço mental, recorrendo inclusive ao grande cientista Reneé Descartes, concluí que ela também não pensa, mas existe. Repito. Pode uma vida mais besta?

Bem, dentro de uma análise filosófica, eu afirmo: pode. A minha própria. Falo, escuto, sinto, choro, vejo, tropeço, ando e penso; e sofro. Vocês podem me perguntar. Nossa, como ele pode comparar uma vida humana tão ativa à vida de uma pedra? A vida de gente à vida de animal? E eu lhes responderei.

Primeiro, pedra não é animal. Pedra é “matéria mineral dura e sólida” ― (Dicionário Aurélio). É da família dos que não pensam mas, existe, acho.

Segundo e também pra finalizar, por ironia do destino ou não, ou por ironia da própria pedra “filosófica”, ela não sofre, ao contrário de mim que sofro e muito, não podendo calcular a extensão nem a dimensão desse sofrimento. Mas sei que é tão grande que está me sufocando e já não consigo falar, escutar, sentir, chorar, ver, tropeçar, andar e nem mesmo, pensar. E se não mais penso, já não existo, ou existo, porém, sem pensar, tendo que esperar e me contentar com o pensamento dos outros para existir, se é que há alguém capaz de pensar em mim como eu penso na pedra. Porquanto, já privado de todas essas faculdades, não sou mais que ela. Não sou mais que uma pedra.

Quisera eu ser como tú Pedra que, sem vida própria, não pensa; e sem pensar, não sente; e se não sente, não sofre; e se não sofre, é mais feliz do que eu.

Roberval Paulo

O CONTRADITÓRIO

Um dia e noite que me faz sorrir e chorar mesmo que não possa fazer o sol brilhar e a lua expandir seus raios pelas pradarias e colinas que azulam a vida e o mar de seus olhos que me ferem a alma qual faca virtual em ser iluminado e não palpável venho sorrir-te e abrilhantar meus dias com os pensamentos envoltos em ti que pensar é sonhar e sonhar é ter conseguir realizar querer achar se deleitar em teus beijos mãos e corpo e horizonte viajar voar sem ter os pés ao chão mas seguro pela tua mão que me enlaça e me faz homem voltando à terra pós viagem mais alucinante de prazer e glória de ser e estar realizado solto preso em nós que somos um mais que dois três dez mil e uma forma de amar e cantar zelar cuidar que o nada floresça e seja tudo de nós em todos e ainda assim me seja fonte de lua e estrelas cachoeira de sonhos em regato de verde esperança e encantos prazeres mil folhagem espessa abrigo ninho de amor você e eu e o sol violeta de cor e beija-flor beija rosa morena açucena qual amanhecer serena paz fugaz pelo ar revirar envaidecer desaparecer e tornar transparente pungente brisa brancura açoitando o peito rasgado punhal de gelo em noite quente suar transpirar o frio sol de junho pólo sul e norte norteando o trópico do meu sentimento em cristal de fino trato frágil caído quebrado esfacelado na incompreensão do ente amado desejado mais que pura água cristalina cristalino ser banhado de lua irmã alma gêmea e um servir mais amor que senhor pedaço de mim esculpido em um dia que me faz sorrir e chorar e o sol brilhar e a lua expandir seus raios azulando nossas vidas mar e mundo de um existir mais nuvem-luz que fosco-alvorecer.

Roberval Paulo

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS - A consolidação de um processo

"Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa ao silêncio da ditadura." - da presidente eleita Dilma Roussef, em trecho do seu discurso de vitória, ao reiterar sua opinião a respeito da liberdade de imprensa.

Aproveitei as eleições e o feriado da terça e me dei umas férias também. Dias bons de expectativa e de comemorãção. Volto hoje para ainda me reportar ao assunto ELEIÇÕES.

Passaram-se as eleições e como na máxima pós-carnaval - "depois da quarta-feira tudo volta ao normal" - tudo se normalizou. Para trás as tensões e apreensões da maior e ao mesmo tempo, a pior eleição dos últimos tempos dada a importância dispensada a temas menores em detrimento da discussão de temas cruciais para o crescimento e desenvolvimento do país e do nosso povo enquanto nação de cidadãos.

Os equívocos durante o període de campanha foram muitos e a população assistia a tudo estupefata, sem poder discernir o que era verdade e o que era mentira e navegava desorientada pelo labirinto do medo recheado de promessas, propostas, acusações e ataques de toda forma e espécie, inclusive, contra o patrimônio humano; contra a moral, a diginidade e a intimidade das pessoas, envolvidas ou não no processo.

O cinismo, a hipocrisia, o sarcasmo e a crueldade de muitos, mas, que não correspondem à maioria do povo brasileiro nem ao perfil e característica do nosso povo, feriram de morte os pilares fundamentais da democracia em prol de uma aristocracia falida que ainda tem pulsando forte o seu coração negro e malévolo que persegue o poder só pelo exercício do poder sem se importar com o que se diz de povo e de gente.

A derrota lhes doeu caro e, principalmente, porque veio por aqueles que por eles são excluídos e por tantos e tantos e tantos outros que por sua situação social e econômica podiam ser deles mas que, por terem enraigado em si o verdadeiro sentimento do que é ser justiça e solidariedade, se manisfestam e se manifestam com fervor e afinco e argumentos em favor da parte baixa da pirâmide; dos menos favorecidos de oportunidades e de sonhos em um magnânimo gesto e movimento de explêndida cidadania.

No fim das contas, com a apreensão que norteava as expectativas, com a vergonha que ascendeu ao orgulho, com a revolta que alimentava a crença no futuro, com a mentira que fez ressurgir a verdade, com o medo que desenhava lá no fim do túnel a luz da esperança, valeu os desejos e sonhos, os anseios e a vontade do povo soberano.

Mesmo ferida de morte para ressurgir das cinzas, qual Fênix, prevaleceu a democracia e esta se consolidou quando em seu discurso de vitória, a presidente eleita Dilma Roussef frisou: "Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa ao silêncio das ditaduras."

Que tudo, acertos e erros nos sirva de lição para reorientar e direcionar nossos caminhos rumo à paz social que tanto sonhamos e almejamos, com direitos e deveres iguais  para todos, indistintamente.

Que a imprensa livre continue livre mas que, livre e autônoma, possa refletir e reavaliar o seu verdadeiro papel e importância frente à sociedade, enquanto veículo livre de comunicação e informação.

Que as oligarquias e aristocracias ainda existentes neste país tão diverso possam olhar para dentro de si e se auto avaliarem quanto à sua participação nesta sociedade que hoje é de todos nós brasileiros e não de um pequeno grupo de privilegiados do poder.

Que nós os cento e noventa milhões de brasileiros, a nossa nação Brasil possamos nos orgulhar do grande exemplo de democracia  e soberania do qual fomos todos nós, protagonistas.

E, parafraseando o grande estadista Lula da Silva, - "como nunca antes na história deste país" - elegemos uma mulher presidente da Repúbica Federativa do Brasil.

As eleições ficaram para trás e com ela, os ataques e agressões nocivos à república e ao povo e que tanto nos envergonharam.

A presidente eleita Dilma Roussef é agora a presidente de todos nós - o povo brasileiro - e que ela possa dar continuidade às políticas sociais e de inclusão do governo LULA que tanto bem fizeram à população e ao respeito e dignidade com a pessoa humana, antes tão desumanizada.

Que a normalidade volte a reinar em nosso meio, livre da fúria e tensão dos dias passados, trazendo ainda em seu bojo a imparcialidade e o verdadeiro papel constitucional das instituições enquanto instrumento de gestão do povo, pelo povo e para o povo.

Que o sonho nos seja real e que a realidade nos leve a dias melhores.

Roberval Paulo