segunda-feira, 14 de novembro de 2011

MINHA CIDADE! MINHA VIDA!

Minha singela homenagem à minha doce e menina cidade: ARAGUAÇU! - 
Parabéns pelos seus 53 anos...

Sou eu, de Araguaçu, na ausência ou presente
Mas inexplicavelmente, não nasci em Araguaçu
Sou de uma família de onze irmãos, todos Araguaçuenses
Só eu, curiosamente, fui nascer distantemente
Em um lugar que não é meu.
Mas leitor, não sou farsante
Nem tão pouco retirante
Foi mesmo assim, desse jeito
Que toda a história se deu

Minha naturalidade é de São Miguel do Araguaia, estado de Goiás
Mas não venham me dar uma vaia
Por não ser do meu lugar
Araguaçu foi Goiás, hoje é Tocantins
É dali que sou pois é dali que eu sinto ser
É ali, em Araguaçu, onde plantei o meu sonhar

Ali andei os meus passos primeiros
Ali cresci e me criei e ali tive os meus primeiros sonhos,
As primeiras ilusões e desilusões
Até o primeiro amor que se foi na marcha do tempo
Era paixão, eu acho, senão, não teria se ido
Pois o amor não vai com o tempo mesmo quando sopra o vento
O amor permanece atento mesmo quando esquecido.

Mais ali me identifico; sou autenticado em Araguaçu
Plantei na rua vinte e um todos os meus sonhos
Que não foram comigo
Não sei ser de outro lugar que não o meu chão
E o meu chão, o meu chão é aquele que eu sinto que é meu
Então, minha Araguaçu!
Sou tão teu quanto tu és minha
És minha quanto me sou teu
Crescemos juntos e assim foi por muitos e muitos anos...
Quanto dos teus caminhos e becos; dos teus córregos e rios e fontes
Teus quintais e varandas e frutos; laranjeiras, mangueiras, goiabeiras,
Deus nos acuda!  
E praças e esquinas e meninas; e bola e futebol e sonhos e sonhos...
Quanto dos teus caminhos conheço eu?
Eu menino em seu universo
Querendo e aprendendo a tão sonhada ordem e progresso
Neste pequenino pedacinho de Brasil que é todo meu.

Em pequeno te vi tão grande e meiga e graciosa
E tu eras tão pequena. Mas, na tua generosidade,
Me esperava para crescer contigo
E o tempo se encarregou de nos fazer assim, como somos
Eu, homem, recordando sonhos de outrora
E tu, cidade frondosa, cuidando os teus frutos
Carregando-me por teus caminhos
Trazendo-me ao meu começo.

Oh! Minha linda e diviníssima Araguaçu!
Afastei-me de ti; o vento me levou
Aquele vento do moderno que nos faz distante de tudo que amamos
Aquele vento que nos leva a trilhar caminhos outros que não os nossos
O vento da verdade e ao qual se apega para sobreviver
O vento do Divino que nos ensina: somos seres de raíz
Mas a rama se vai, e sobe e desce montanhas,
E cria e abandona cidades
Faz e desfaz caminhos
E cruza rios e torna a cruzá-los
E sonha o trem dos destinos
Embarca no trem da vida à procura do que nunca perdeu
Galopa o corcel das noites e dorme em águas já passadas
Se alegra com tão pouco e chora... chora...
Chora com o muito que a necessária viagem jamais trará

Só tu, oh! Minha musa inspiradora
Só tu, oh! Minha linda Araguaçu, não me deixou
Para ir em busca do que não é teu
Tu sabes o teu destino e sábia e magestosa que és
Cresce e se desenvolve pela música do vento
Não o perseguindo. E, consciente e saudosa
Espera pelo filho ingrato que a abandonou
Que a abandonou ao sonho do nada
Que a abandonou por não conhecer-te, mãe sublime que és
Que a abandonou pelo engano do mundo e, quanto engano.
Mas tu não o desprezas, qual mãe zelosa
Tu não me desprezas. A mãe não despreza o filho, mesmo o ingrato
Chorastes na minha ausência e tuas lágrimas te banharam em cores
Nas ruas do teu corpo, meu pranto, ainda distante, corria alargando os                                                                                                             caminhos
Minha saudade te coroava de flores e meus sonhos
Faziam crescer e fortalecer as tuas edificações
Mesmo longe, estava contigo, pois só tu não me abandonastes
E meus olhos, do outro lado do universo, chorava por ti
E minhas lágrimas, vazando o véu do infinito, encontravam o teu chão
E escorria pelas tuas casas, colorindo-te
Não só a ti, mais a tua gente.
Coloria-te inteira e aos teus jardins e campos;
Tuas pastagens e animais; teus rios e sonhos
Tuas flores e pardais; teus quintais e varandas
E ainda o teu povo, tão meu e eu não mais conheço

Oh! Minha menina e sonhadora Araguaçu!
Podes o peixe deixar o rio?
Podes o mar se largar da terra e cair pelo espaço a fora?
Podes assim o dia se desprender da noite e ser só dia?
Podes o filho perder seu cordão umbilical antes do nascimento?
Podes ainda oh! Araguaçu, a rama ir sem a raíz? Eu fui
Eu precisava ir
Mas como ir sem levar-te?
Mas como levar-te se tu não se dá às viagens?
Hoje reconheço que não podias ir comigo
Não querias te perder igual a mim
O teu desejo era um só. Querias-me junto a ti.
E, no teu silêncio, aconselhou-me a não partir, mas,
O filho não obedece a mãe e se vai... se vai pela vida
E sofre e chora, e tropeça e cai, e se levanta
E cai muitas e muitas vezes e mais se levanta
Pois ao longe, escuta a tua voz dizendo vem
É a mãe que não se cansa de chamar inclemente pelo ingrato filho.

Oh! Araguaçu!
O tempo passou e os nossos sonhos foram distância em muitos anos
Mas um dia, cansado da estrada e de terras alheias
Aprumei meus sentidos na linha do horizonte e ouvi tua voz
Que ainda chamava por mim
E a tua voz vi trêmula e chorava a ingratidão
Do filho que cresceu em teu ventre
Chorei sozinho e distante, e, minhas lágrimas,
Formaram o rio que volta à nascente;
O rio que me trouxe ao meu passado e à minha raíz
Estou de volta oh! minha vida. Estou de volta minha doce e terna mãe
Voltei minha querida. Voltei a ti minha inebriável Araguaçu
Minha cidade e meu mundo; minha estrada e minha luz
Meu sonho agora real; meu começo e fim eternos
Teu abraço caloroso me acolhe e me sinto tão aquecido que parece que sou                                                                                          só prazer e enlevo
Teu colchão macio descansa meus errantes sonhos que vagaram por tempo          e lugar
Só encontrando consolo em ti
A ti voltei, de onde não devia ter saído. Não escutei, em conselhos, o silêncio de mãe.

Oh! Araguaçu
Tuas esquinas, minhas irmãs. Tuas noites, minha namorada
Teus rios, meus sonhos. Tuas casas, meu sono
Teus campos, meus olhos. Tuas montanhas e planícies, minha viagem
Teus jardins e dias, minha valsa. Tuas flores e passarinhos e tuas cantigas
e sertões, meu ninho e meu acalanto.

Por isso oh! minha Araguaçu! Rogo e peço ao meu Deus
Guardai e protegei a todos nós meu Senhor
E aos teus campos e sonhos e vozes com todo amor
A ti e a todos os seus de todo o coração
E elevo a voz à nossa Santa Padroeira
Do início à vez derradeira
Nossa Senhora da Imaculada Conceição
Rogai por nós Santa Mãe de Deus
Ave Maria cheia de graça o Senhor é convosco e bendita sois vós entre as                                  mulheres
E bendito é o fruto do teu ventre...
Esta é e será oh! Araguaçu
A nossa terna e eterna, primeira e última canção.

Oh! Minha Araguaçu!
Oh! Minha querida e cidade e amada Araguaçu!
Como posso viver sem ti? Como pude viver sem ti?
Aqui estou e não arredo pé. Não mais
Aqui estou e aqui fico para o inevitável
Juntos assim, somos nós, depois de tamanha ausência
Juntos assim, seremos, depois de tanta distância e estrada e sofrer
Juntos assim, eu e ti
Um amor que não se perdeu; um sonho que não morreu
Vidas que se vão eternamente
Começo e fim dos sonhos eternos
Eternos como nós que de tanto sonharmos ainda nem nascemos
Estamos só começando oh! minha Araguaçu
O caminho dos nossos próprios sonhos
Que de tanto perambularmos em sonhos alheios
Tornamos à origem do nosso interior
Interiozando e juntando, mais uma vez, nossas vidas
Em prazeres e alegrias e sensações desenfreadas de amar e de sorrir
Enquanto o trem veloz do destino, ordeiro e cruel, manso e perverso
Descarrila em sua jornada rumo ao incerto, assoviando a música do tempo
Cuidando e levando todos os nossos sonhos
À humanidade já desumanizada.

Oh! Minha doce e terna enamorada e iluminada ARAGUAÇU!
Não devia ter me afastado de ti.

Roberval Paulo

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