sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

CAMINHAR DE NUVEM - Roberval Paulo

Não sei em que dia me encontro ou em qual noite descanso. 
Tudo é como as águas de um rio que descem caudalosas e cautelosas e nada as detém. 
Sou feito o sol escondendo-se da chuva e só voltando quando esta já partiu. 
Fugir da vida não posso. 
O chão que me espreita é paciente pois tem em si a certeza que me terá um dia. 
Não fujo do encontro, só retardo o que certo é. 

Ela vejo em sonho e seus cabelos e olhos me dizem amar. 
Fecho os olhos e sua visão faz-se mais nítida. 
Estamos do lado oposto da hora. 
Não sei em qual órbita ficou guardado o nosso encontro. 
Espero pacientemente e caminho na direção contrária do medo, 
pois tenho em mim a certeza que o nosso dia chegará.

Roberval Paulo

ADORAÇÃO - Roberval Paulo

Se me perco, és o meu encontro
Se me escondo, sou o teu achado
Se me despenco, tu me tens ao colo
Se me vejo só, estais ao meu lado

Se choro, és tu o consolo
Se estou triste, me dás alegria
Se me sinto pobre, tu és meu tesouro
Se me falta luz, és tu o meu guia

Quando canto, és tu a canção
Se tenho frio, tu és o abrigo
Se me apaixono, és minha ilusão
Se estás comigo, já não há perigo

Se sou o fim, tu és o começo
Se sou o começo, és tu o meu fim
Se choras, se sofres, sou eu quem padeço
Se tens alegria, alegras a mim

Sou labirinto, tu és a saída
És flor na minha vida, sou o teu jardim
És enfim, meu oásis, sou eu, do deserto

O caminhante, ao certo, tenho a ti, tens a mim

Roberval Paulo

A RAÍZ DO IRREAL - Roberval Paulo

Na sombra do som que se instalou em meus olhos
Na luz da manhã que anunciou o crepúsculo
Na fonte cansada que transportava a vida
Surgiu sua dor
As folhas se agitaram ao tocar os teus pés
O sabiá emudeceu ao sentir o teu canto
A lua se esquivou à tua presença
E eu,
Corri em desespero pelos dias
À procura do teu encontro
Que perdi na noite passada

Na explosão bombástica que dizimou o mundo vida
Na fome que se instalou no seio morto da vida
Nas lágrimas verdes da mata em sua mortal cantiga
Me veio sua dor
As águas pararam para lhe dar passagem
O sol escureceu aos seus raios divinais
O tempo abriu as portas para que fosses ao vento
E eu,
Parti extasiado pelo abraço de Vênus
A encontrar o teu amor
Naufragado nos braços do mar “desprezo”.

Na ilusão clarividente do dia que não anoiteceu
Na fantasia interminável da noite que não amanheceu
No acordar morto do sonho que não adormeceu
Chorei sua dor
O sol se fez permanente à tua chegada
A lua se mostrou clara à tua presença alada
O céu em constelação ornou o teu existir.
E eu,
Despertando em pensamento mórbido na estrada
Abracei o teu amor nesta fria madrugada
E a manhã abriu seus raios em vida plena e abundante
A Abundância da vida no amor plenificada.


Roberval Paulo