quinta-feira, 14 de abril de 2016

VIDA, LIVRO ABERTO,TERMINE DE LER - Roberval Paulo

Penso a vida
Tristeza não tem fim
Se ela acabar
Antes do fim

Se for completa, vida
Quero-te sempre aqui
Eternamente vida
Morte, longe de ti

Por isso vida, peço-lhe
Não me deixe ao meio
Qual romance aberto

Termine-me de ler
E a esse embargado seio
Traga o céu, leve o deserto.

Roberval Paulo

O MAL MAIOR - Roberval Paulo

A miséria não tem cor
Quando muito, se faz negra
É tão feia, que outra mais, desconheço
Ainda mais
Quando vista em olhos de criança

É um mal, dos males, o pior
O maior e por sua vez,
                                     necessário
 Arma de consolidação
                  dos grandes impérios

Espelho e manutenção
                  desse mal maior
                  (só esse é maior)


o qual chamamos  “capitalismo”.

Roberval Paulo

FILOSOFAR...ENLOUQUECER! - Roberval Paulo

         
É verdade. Ela não tem movimento próprio. Nem vida, eu acho. Mas como gosta de estar pelo caminho. Já viram? Está sempre no nosso caminho. Quando não é a própria, literalmente, é o seu nome.
         Você é uma.................no meu caminho!
         Você é uma.................no meu sapato!
         Lembrem-se, até JESUS citou-a, quando disse a Pedro: tú és..................., em ti edificarei minha igreja.
         Ela é importante, ta pensando o que! Inclusive, quando usada como arma; esteve na funda de Davi e logo após, na testa do gigante Golias, vencendo-o. Ou terá sido Davi o vencedor, e não ela? Bem, acho que os dois venceram.
         Estão vendo, ela tem história. É quase impossível esquecer-se dela. Está presente até na dor do rim. Muitas são brutas, grossas, indelicadas. Outras são lapidadas, sensíveis e gozam de maiores privilégios. Estão sempre ornamentando valiosas jóias e esculturas; decorando lindos ambientes e estruturas. Outras são as próprias jóias e esculturas, portanto, de muito valor.
         Uma coisa porém não se pode negar; são infinitas as suas utilidades, servem para tudo. Bem, sem exageros, para quase tudo.
         Mais coitada. Não tem vida própria. Não vive; vegeta, ou será pedreta, pedrita, pevita? Há! Sei lá. Está por aí, no meio de nós, com vida ou sem vida. Pêra aí, com vida ou sem vida? Deus meu, ajude-me; acho que me perdi. Raciocinem comigo sobre uma daquele inteligente. “Penso, logo existo”. Ela não pensa, então ela não existe???? Mas se penso nela e posso vê-la, e posso senti-la ― senti-la na verdadeira acepção da palavra ― ainda ontem, senti-a na cabeça numa discussão e na corrida para não senti-la por todo o corpo, não adiantou muito, pois acabei sentindo-a no dedão do pé. Também pudera; a coitada estava lá, abandonada, sozinha, perdida no meio do caminho. Eu disse pra vocês; está sempre no meio do caminho. Bem, antes de me perder, feito ela, voltemos ao raciocínio. Se posso vê-la e senti-la, isso quer dizer que ela existe, mesmo sem pensar. Ora pois, partindo desse pressuposto ou seria desse princípio? Esse português ainda me mata. Não importa; partindo dessa coisa, ou melhor, daqui mesmo, daqui pra frente, Eureka!!! Cheguei à sábia conclusão de que “pra existir não é necessário pensar.” Não, não é isso. Recapitulando. Ela existe e penso nela, mas ela não pensa nem nela, nem em mim, nem em qualquer outra coisa. Conclusão. “Penso, logo existo, mais, se não penso e outros pensam em mim a ponto de me sentirem, então existo.” Não, está tudo um tanto quanto confuso. Já dizia outro que, quando a esmola é demais, o santo desconfia, então, esse pensamento não deve estar correto, até porque a esmola não tem nada a ver com o santo nem com ela mesma. Eureka! Achei. De novo! A conclusão certa é: “penso, logo existo. Ela não pensa, mais também existe, pois eu penso por ela e sinto-a.” É, ainda ficou um tantinho quanto confuso, mais tá bom. Não vou mexer mais não, se não, daqui a pouco, eu é que não vou estar mais pensando. Nossa, agora usei não à vontade, mais, não tem nada não. Pra variar, mais nãos. Fazer o que, pra dizer não tem que usar não, senão, não é não, não é mesmo. Mais chega de nãos, vamos ao que interessa.
         Antes dessa coisa de pensar e não pensar, existir e não existir, eu estava falando sobre uma coisa. Droga,  já repeti de novo, agora, foi a vez da coisa. Tudo bem, deixa pra lá. Vamos à revelação. De quem eu estava falando? Ou melhor, do que eu estou falando? Quem adivinha? Ham! Já descobriram? O que! Sabiam o tempo todo? Eu dei muito na cara; dei bandeira né. Assim perdeu a graça. Todo o tempo falando sobre a pedra, coitada, com um ligeiro suspense, pra fazer a revelação só no final do texto e logo no começo, vocês já haviam sacado. Mais não tem nada não. Êta! Quanto não. Sai do meu caminho não, parece pedra. Não e pedra, pedra e não, desimportante. O importante é que conhecemos um pouquinho mais da vida desta já tão depedrada pedra e, deixando a modéstia ― a pedra ― de lado, um pouquinho mais de filosofia também, não é verdade? Podem confessar, eu deixo. Eu faço uma confissão. Não sei e não sei mesmo porque a pedra, ou a srª. Pedra, ou dona Pedra e, já que existe, pode até ser o bicho pedra, ou seria bicha, por se tratar do feminino? Não sei e como eu ia dizendo, não sei “de novo” porque esse trem ― coitada, é trem, é coisa, é pedra, êta português ― chamou tanto a minha atenção, fazendo-me escrever tanto. Essa coitada leva uma vida tão besta.
         Como podem ver, não fala; não escuta; não sente; não chora; não vê, quase sempre é vista; não tropeça, os outros é que tropeçam nela; não anda e, com um tremendo esforço mental, recorrendo inclusive a Descartes, concluí que ela também não pensa, mais existe. Repito. Pode uma vida mais besta?
         Bem, dentro de uma análise filosófica, eu afirmo: pode. A minha própria. Falo, escuto, sinto, choro, vejo, tropeço, ando e penso; e sofro. Vocês podem me perguntar. Nossa, como ele pode comparar uma vida humana tão ativa à vida de uma pedra? A vida de gente à vida de animal? E eu lhes responderei.
         Primeiro, pedra não é animal. Pedra é “matéria mineral dura e sólida” ― (Dicionário Aurélio). É da família dos que não pensam, mais existe, acho.
         Segundo e também pra finalizar, por ironia do destino ou não, ou por ironia da própria pedra “filosófica”, ela não sofre, ao contrário de mim, que sofro e muito, não podendo calcular a extensão nem a dimensão desse sofrimento. Mais sei que é tão grande que está me sufocando e já não consigo falar, escutar, sentir, chorar, ver, tropeçar, andar e nem mesmo, pensar. E se não mais penso, já não existo, ou existo, porém, sem pensar, tendo que esperar e me contentar com o pensamento dos outros para existir, se é que há alguém capaz de pensar em mim como eu penso na pedra. Porquanto, já privado de todas essas faculdades, não sou mais que ela. Não sou mais que uma pedra.

         Quisera eu ser como tú Pedra, que, sem vida própria, não pensa; e sem pensar, não sente; e se não sente, não sofre; e se não sofre, é mais feliz do que eu. 

Roberval Paulo

quinta-feira, 7 de abril de 2016

DESCONHECIDO - Roberval Paulo

Quando parti para os dias
Nem sabia, da noite, os seus mistérios
Se ia, sem destino, ao vento
Contando, dia a dia, a história de minha vida

Assim, quase sem querer
Sem vontade se seguir em frente, só seguindo
Sem entender o badalar das horas, só indo
Ingressava eu no ritmo louco do tempo

E este, o tempo, passando sem parar
Sem olhar para trás, sem se importar, só a seguir
E eu me vi no tempo, era eu e ele, ali
Caminhando  a estrada que só se caminha
Que só se caminha, sem saber onde vai dar

Pude perceber
Que a caminhada é pra se levar
Que as pedras são pra se tropeçar e enfim
Cair e se levantar é pra quem sabe onde quer ir
Que os caminhos tortuosos é pra quem sabe
                                               andar e quer chegar
Que a estrada colorida, florida e iluminada
                                               é pra quem veio do mar

Que o destino é pra seguir com o tempo
Sem conhecer, sem saber, sem se abater
Só a romper a larga distância do sonhar
Sorrir e chorar no desconhecido mundo
Sofrer e amar ao som do vento vagabundo
Cantar, entre flores e lágrimas, a nossa breve trajetória

De quem veio, sem saber de onde
E vive, sem saber a razão
E fala, quando ninguém responde
Mas segue, segue em frente
A buscar o que nem sabe se existe
Às vezes, alegre, outras vezes, um ser triste
Que cansado da jornada, só pensa em chegar

Aonde? Não sabe...
Por que? Desconhece...
Mas sabe que um breve fim o espera

Porque a história se faz no caminhar.

Roberval Paulo

AMBICIOSO BUSCAR - Roberval Paulo

Gostar de ver de sentir de amar em mim em ti é sonhar o ser e não poder chorar de rir de sofrer de doer como se fosse amor prazer de estar e pensar no sonhar pesadelos em novelos de enrolar sem encontrar a ponta a razão do querer sem perder sem poder ao ganhar o sol e trocar trovar troçar pelo azul dos olhos de prateado ser à distância deusa nua de lua de vestes de sonhos musa tua também minha e nossa mãe dor sentimento e mãe do mundo da vida natureza morta sofrida enlutada na cruz da espada punhal trespassando o peito perfeito sem jeito imperfeito de ver e ouvir o rugir da fera que em mim habita em nós que ser gente é imprudente no pulsar preemente das veias  teias de sangue e...que enleiam o sim da vitória discórdia na escória dos seres viventes indigentes sorridentes no realizar do nada dos dias da existência envolvidos em densas nuvens carregadas impregnadas do AMBICIOSO BUSCAR dos povos no querer alcançar degraus impossíveis galgar o mais alto e cair  flutuar no ar ao luar que voar é pensar navegar ir atrás acreditar e partir pelo mar e chegar ao fundo limite da existência inexistência fundo do olhar de quem crê conquistar o sonhado o legado e se dar se achar se doar gozar do sabor do labor de alcançar sem saber perceber desconhecer o sentido da terra da guerra morrer que viver tudo vale tudo pede tudo posso naquele que me fortalece e em frente a seguir trilhar o caminho que enobrece empobrece desconhece o porque o sentido de viver morrer vou pensar que não mais sou que sou que vou percorrer o céu tênue véu mel rosa flor escarlate amor é o fim o que vale o que fica e não passa embaça realça o findar de tudo de todo e qualquer ser que o inferno é aqui e o eterno se faz ao partir e que Deus me perdoe te perdoe nos perdoe e nos dê nos conceda a grata graça do perdão e do sorrir.

Roberval Paulo

INFINITO AMOR - Roberval Paulo

O infinito é tão grande
Que não tem fim
Como explicar o infinito?
Não se explica
Se é infinito, não tem dimensões
                   nem limites
                   nem referências
Impossível de ser medido.

Agora entendo
É por isso!
É por isso que não compreendo
               que não explico
Nem o infinito
Nem o meu amor
Também é infinito
E está dentro de mim.

Só não sei como pode
Estar em mim esse amor
É amor infinito
Infinito amor
E dentro de mim
Também sou infinito
Eu, o infinito, o amor

Infinitamente infinitos.

Roberval Paulo

ALMA-TERRA - Roberval Paulo

A carne da terra
É a terra
E a ela se vai
Toda carne
Carne-terra

O sangue da terra
É a terra
E a ela se vai
Todo sangue
Sangue-terra

A alma da terra
É a vida
E a ela se vai
Toda vida-matéria

E a alma sobe,
de terra
Para alimentá-la do espaço

Alma-terra
Vida que não morre

Luz que nunca se apaga.

Roberval Paulo

AINDA HAVERÁ - Roberval Paulo

                                  Ainda haverá sol quando a terra se perder
                                                           na imensidão das águas
                               E quando tudo, só água
                               Ainda haverá a terra
                                    como depósito para a matéria
                                          já desprovida do espírito

                                 E mesmo com a matéria
                                             corrompida
                                               enfraquecida
                                     tragada pelas entranhas da terra
Ainda haverá o espírito
a vagar pelo tempo e espaço
acima das águas

                                   aguardando o chamado final.

Roberval Paulo

CAMINHAR DAS ÁGUAS - Roberval Paulo

         
Ali, recostado naquele barranco, quebrando gravetos e cortando folhas com a ponta dos dedos, atirava-os nas águas da fonte que corria, lavando meus pés. Notei que meus pés, imersos, tinham-se tornado um obstáculo à passagem livre das águas. Fixei meus olhos pela superfície e pude perceber quantos obstáculos tinham que ser vencidos para que ela continuasse a correr. Eram tantas pedras, arbustos, desníveis do terreno e árvores obstruindo seu caminho, complementado pelas barbaridades dos homens com suas barragens, seu lixo, desmatamentos, em suas constantes tentativas insanas de parar essa corrida que, aparentemente, parecia que a qualquer momento, a fonte poderia desistir. Mas ela, teimosa e obstinada, resistia a tudo e continuava a correr, projetando-se em curvas, desvios, lagos, corredeiras e cachoeiras, só aumentando sua beleza diante dos obstáculos, transformando-os em molduras para o seu esplendor total.
        
             Olhei para os meus pés e vi que eles continuavam sendo lavados, porém, por uma água que se renovava a cada novo instante. A água lavava e se ia embora, não voltando mais, passando parte dessa tarefa a uma nova água. A água do instante seguinte, que pela primeira vez passava por aquele caminho, cumpria sua missão e continuava em frente, sendo nova e desconhecida a cada novo espaço percorrido. A água de agora já não é a água do instante passado e não será a água do instante seguinte. Ela se renova a cada instante, a cada piscar de olhos que, por sua vez, também são novos. Cada piscar de olhos é único como é único cada instante, cada minuto, cada hora, cada dia, e assim, sucessivamente. Amanhã é um outro dia, pois o dia de hoje só acontece uma vez. O próximo segundo é outro segundo, novo e desconhecido para mim como é desconhecido para a água cada novo centímetro, cada novo metro percorrido.
        
         Esse momento só acontece uma vez, só acontece agora e passa, não se importando com o que você tenha feito ou deixado de fazer. Nada pode mudar esse ciclo. Tudo só acontece uma vez, uma única vez. Só temos uma vida para este mundo.

          Portanto, resta-nos aproveitar ao máximo, com toda energia e com todas as nossas forças, cada momento da nossa vida, nos doando por inteiro, com amor intenso, nunca desistindo diante dos obstáculos apresentados. Não importa se são momentos bons ou ruins, fáceis ou difíceis; o que importa é viver e viver é agir e reagir em todas essas situações, procurando sempre tirar o máximo proveito de tudo o que nos acontece, pois, partindo do princípio de que tudo é suscetível a todos, chegamos à sábia conclusão de que o importante não é o acontecimento em si, e sim, a posição que assumimos diante deste acontecimento. Observem a água. O seu segredo consiste na capacidade de correr sempre, e, para ela, não importa os obstáculos, nem o que ficou para trás. Só importa a corrida e está na corrida a sua razão de ser; a sua própria vida.

        A água que corre é viva e semeia a vida por onde passa. A água parada é morta e mata todas as vidas ao seu redor.

        Corra então para viver, pois assim, serás motivo de estímulo para a vida, porém, nunca pare  para não correr o risco de morrer pelo comodismo e pelo desgosto daqueles que o cercam.

Roberval Paulo

segunda-feira, 4 de abril de 2016

AMOR PRA SEMPRE - Roberval Paulo

Se o tempo parar de passar
Se o rio deixar de correr
Se o trem parar de trilhar
Os caminhos dos trilhos sem fim
Se o mar deixar de subir e baixar
Se a vida deixar de nascer 
Se a morte deixar de matar
Se o homem deixar de sofrer
Se na terra o amor se acabar
Nem assim deixarei de te amar

Pode o tempo se esquecer do tempo
Pode o rio suas águas secar
Pode o trem se descarrilar
E o amor ir por além fronteiras
Pode o mar sumir terra adentro
Pode a vida se desencantar
Pode a morte pedir pra viver
Pode o homem esquecer de sonhar
Pode a terra cair do espaço
Mesmo assim hei de sempre te amar

Se o silêncio um grito bradar
Se o vazio se encher de repente
Se o diabo plantar a semente
E colher o fruto do pecado
Se o sol ao nascer for quadrado
Se o abismo sem fim for o mundo
Se Francisco se chamar Raimundo
Se o leite vermelho ficar
Se a lua desdenhar da noite

Terei forças pra ainda te amar.

Roberval Paulo

SonhaDor - Roberval Paulo

Ele diria:
Da noite,
         Prefiro os sonhos
Da lua,
         O sonhar distante
Do dia,
         O sonho da hora, “real”
Da vida,
         O sonho que é flor.

E vivendo,
         Sonhou até a morte
E sonhando,

         Morreu até o fim da vida.

Roberval Paulo

TODA VAIDADE SERÁ CASTIGADA - Roberval Paulo

Fostes no meu sonho, a ponte pra realidade
E pelos sete mares, te idealizei em mim
E em dias brancos, dourava-me de sol
Revestindo-me do branco, pureza da tua alma
Cambraia fina, levada pelo vento
Asas de gaivota a se perder pela leve bruma
De semelhante plumagem
Confundindo-se à distância
Com as prateadas estrelas
Deslizando na imensidão
Do infinito azul
Matizado pelo verde água
Das águas de chuva
A encher de paixão
As nuvens brancas de algodão.
E em horas decadentes
No dourado e cinza do crepúsculo
Encanecendo o horizonte escarlate
Rolam para o chão
Nuvens de água
Purificada
Desgaseificada, a água
Uma fábula, só desáagua.
Água virgem
Véo natural do tempo
A rolar para a terra
E pela terra
Sem cor, incolor, multicor.
Terra, só terra
Marron, preta, vermelha, roxa
Só terra
Brotando vida depois de saciada a sede
Agora, em cor de todas as cores
Abrigando vaidades sem fim
Qual fogueira de desejos
Abrandada pelas cinzas da frustração.
Vaidade, tudo vaidade
Sem limite, sem idade
Sem dimensão.
E em passar o tempo, o contratempo
Parte de mim no além
Olha o trilho, o trem já vem
Passando, levou, destronou
Descanso em terra
No undergraw, água e sal
Jóia e bijuteria
Tudo igual, irreal
De real, só o momento
Esse momento
Intenso, imenso, isento
Não mais que um segundo
Muito maior que o mundo
Que o nosso mundo
Que só existe aqui e agora.
Eras o meu sonho, e dele
Fostes a ponte pra realidade
E sobre esta ponte
Lancei todos os meus medos
E meus segredos
Li seus segredos
E os segredos da vida
A chegada, a estadia, a partida
Do menino ao idoso
Do empregado ao patrãoa
Do princípio ao fim
Do sol ao escuro total.
E nesse inferno astral
De céu para quem padece
Vem o desfecho final, fatal
Inevitável
Levando-me os anéis
E os dedos também
Começo, meio e fim
É assim
E será sempre assim
Porque assim convém
A passar o nada, o tudo
Todos enfim
A chorar e a sorrir
Triste e contente
Ninguém nasceu pra semente
O sonho é de quem o tem
É a roda do vai e vem
Amém!.
E pra eternidade, tudo, nada, não sei
Segredos que não desvendei.
Faz-se o homem pelo sonho, e morre
Faz-se o sonho pelo homem, também morre.
Fostes no meu sonho  a ponte pra realidade
Mais a realidade, tudo vaidade
Era pó
E o pó levado pelo vento
Sumiu no espaço
Virou nada
Só nada
E só

Nada.

Roberval Paulo

FLOR, VENTO E BEIJA FLOR - Roberval Paulo

Por amor feristes
Este meu coração
E sem mais ter razão
Me vi no vazio
E na dor da paixão
As lágrimas rolaram
E se precipitaram
Formando um rio
E olhando esse rio
Presenciei uma cena
Que me causou espanto
E muita emoção
Uma flor se abriu
Fez figa e se fechou
Pro seu beija-flor
Que a esvoaçou
E só vendo os espinhos
Ficou tão tristinho
E bem longe sumiu

E voou o beija-flor
Sem a sua flor
Se viu tão sozinho
Saiu do caminho
E se espatifou
Nas pedras do chão
E em lamentação
Pobre colibri
Ali sucumbiu
E ali ficou
Jogado às traças
Em sua desgraça
Abraçando a sorte
E o vento do norte
Passando lhe viu
E lhe indagou
Quê que foi beija-flor?
E ele respondeu:
minha flor não sorriu

Pra mim se fechou
E sem o seu olor
Meu sonho morreu
E o vento sofreu
E se apiedou
E soprando chegou
Onde a flor dormia
E disse: flor do dia
Flor da noite, flor do tempo
Eu sou o Deus vento
Levo ar a todo ser
E venho soprar a você
Que o beija-flor está sofrendo
Sem seu beijo está morrendo
É só pena o coitadinho
Não é nem beija, nem flor
Venho pedir-lhe um favor
Se abra a esse bichinho
Que só tem pra ti, carinhos

E leva a vida a adejar-te
Só te fazendo carinho
E sem ti está sozinho
Sem vida, sem razão de ser
É certo que vai morrer
Não deixe que isso aconteça
Vai me doer na cabeça
E posso não mais soprar
E sem meu sopro, o mundo
Não pode mais respirar
E tú também vais morrer
E as vidas vão se acabar
E eu vou ficar sozinho
Perdido e sem carinho
Sem movimento, então morro
Tudo em nada vai virar.
E a flor, compadecida
Viu o mal que tinha feito
Chorou muito e com efeito
Se abriu num lindo sorriso

E a última lágrima, rolando
Foi levada pelo vento
Qual gota de cristal líquido
No beija-flor foi batendo
E ele logo, renascendo
À flor um beijo ofertou
E agradeceu ao vento
Que sorrindo se afastou
E de tanta emoção
Chorava que soluçou
E soprou brisa no mundo
Nos quatro cantos caiu
O campo todo floriu
E tudo verde ficou
Flor e Beija-flor sorriram
E o vento a mim chegou
E me vendo acabrunhado
Me envolveu num doce beijo
Que minha face corou

E foi logo perguntando
O que tinha acontecido
Lhe contei, entristecido
O meu amor me deixou
E ele disse, já resolvo
Não precisa mais chorar
Antes que esse sol se vá
Teu amor eu trago aqui
E saiu a te buscar
E eu fiquei  esperando
Pensando que era o fim
E o vento me trouxe à vida
Achando minha flor perdida
Lá pelas bandas do mar
E lhe ensinando a amar
Trouxe-a de volta pra mim
E aqui estamos nós
Dois seres e uma só voz

Sozinhos, juntos enfim.

Roberval Paulo

ANUNCIAÇÃO - Roberval Paulo

Eu sou o elo de ligação entre tu e mim
Eu sou a comunicação entre a vida e a morte
Eu sou o sol a dourar no jardim
Eu sou em mim o tom negro da noite

Eu sou a flor do começo da vida
Eu sou a flor, uma flor para Ana
Eu sou o amor da mãe pelo filho
Eu sou a vida sempre por um fio

Eu sou Cristina, Fernanda, Maria
Eu sou o cão, amigo do homem
Eu sou toda a vida mais nem sei o meu nome
Eu sou o começo do fim que te espera

Eu sou, nem mais sei o que sou
Nem quem sou, sou de mim desconhecido
Sou andante, navegante, me sou perdido
Sou você que nem mesmo me conhece

Eu sou enfim, a moça da janela
O olhar perdido em seu mundo interior
Eu sou o rio acalentando a flor

Mas minha obra prima ainda está por vir.

Roberval Paulo

A VOLTA - Roberval Paulo

                      Uma homenagem ao poeta Mário Quintana

Avistei ainda de longe
                  as primeiras casas
Os campos conhecidos
         chegavam-me aos olhos
Um pouco diferentes
Mas com a mesma familiaridade
Entrei na Avenida Principal
As casas pareciam cumprimentar-me
Muros sorriam
Estavam com saudades
Paredes novas e retocadas
Portas e janelas
                  de caras novas
Pisei o chão da minha rua
Eles me saudaram
Um olhar asfáltico
Entrei na casa da minha
                                     infância
Acordando minhas lembranças
                                     todas verdes
 Elas receberam-me, em festa
                                     e maduras
E com um sorriso amarelo
Reclamaram tamanha ausência

Sorri de lágrimas nos olhos

Chorei de sorriso nos lábios.

Roberval Paulo

NOVELA VELHO CHICO: Maciel Melo fala de sucesso e cobranças na novela

NOVELA: Maciel Melo fala de sucesso e cobranças na novela Velho Chico 


Blog Cantigas e Cantos
Cantor desabafa sobre críticas pessoais em redes sociais
Maciel e Xangai, a dupla Egídio e Avelino / foto: Divulgação

Maciel e Xangai, a dupla Egídio e Avelino

foto: Divulgação


Nelson Rodrigues costumava dizer que um telefonema é uma janela aberta para o infinito. Que o diga o cantor e compositor Maciel Melo. Quando ele atendeu um telefonema, meses atrás, e alguém, de sotaque carioca, lhe perguntou os números dos músicos baianos Elomar e Xangai, ele não tinha ideia das mudanças que sua rotina sofreria dali em diante. A ligação era do Projac, os estúdios da TV Globo, na Zona Oeste do Rio. "Acho que foi (a cantora paraibana) Lucy Alves que passou o meu numero pra eles. Dei os telefones dos dois. Quando Xangai foi lá, mostraram uma lista com um bocado de cantadores pra fazer dupla com ele, que perguntou se meu nome estava na lista. Não estava, claro, eu nunca fui muito por lá, então não me conheciam. Me procuraram, conversamos, pediram que mandasse um vídeo, e me contrataram", conta Maciel Melo. Depois de muitos anos teve novamente uma carteira de trabalho assinada, e como ator.

Ele foi ao encontro do elenco em Delmiro Gouveia, onde se gravou o início da novela: "Cheguei lá, me passaram os personagens e me disseram que precisavam de uma música chamada A Lenda para abrir o capítulo inicial. A primeira voz da novela foi minha. Cortaram uns versos, ficou reduzida em um minuto para caber na cena", explica. O trabalho não se limitaria a cantar e compor. Teria também que atuar. A única experiência de ator que tinha até ali fora na adolescência, no colégio em Petrolina. Mas ele não titubeou em aceitar a empreitada. "É aquela coisa, o cavalo passou selado, você monta em cima e vai embora", enfatiza.

No entanto, montar naquele cavalo lhe renderia mais que pedidos de autógrafos e de selfies com fãs. As fotos de divulgação da novela, em que ele e Xangai vestem o figurino com que aparecem na primeira parte da novela, suscitou críticas nas redes sociais. O motivo foram as calças largas e os coturnos de cano longo, em que viram semelhanças com os trajes típicos dos gaúchos: "Tive que postar foto de Lampião de calças folgadas e botas feito as que eu e Xangai usamos na novela. Além do mais, aquilo ali é ficção, o personagem imaginado pelo pelos roteiristas é uma mistura de Lampião, Luiz Gonzaga, Tonico e Tinoco, os óculos são do Cego Aderaldo. Zé Limeira vestia camisa vermelha, calças amarelas, anelões. Não tem uma padrão. Mas aí a coisa foi tomando corpo, começou a agressão pessoal contra mim e Xangai. naquela de que a gente estava se vendendo e tal", desabafa.

Os ataques pessoais atingiram um ponto em que ele decidiu ligar para algumas pessoas, que, acusa, estavam querendo fazer polêmica de mesa de bar: "Na verdade, eles não gostam da Rede Globo, mas não souberam separar as coisas. É como se fossem os donos da poesia, que para eles tem que ser de um determinado lugar. Poesia não tem pátria. Porém, não ia continuar com o bate boca. Escrevi um texto e joguei direto no Facebook". Mas outros questionamentos e cobranças foram feitos.

José Teles
JC Online