quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A INCURÁVEL CURA - Roberval Paulo


Meu olhar cinzento se engasga na lonjura do nada
A noite desce amarga qual notícia trágica de jornal
Mas amada, muito amada!
É ela que me cura da cura incurável
A incurável cura de misturar metafísica e sonho
De pendular entre realidade e abstração

Tô cansado do caminho que não fiz
Aquele caminho que só pensando se chega
O ser em viagem mística e cigana
Transpondo barreiras do cosmos
Os pés cravados no verde
O verde no mar
O mar dos teus olhos
Teus olhos de mar!

A noite me conta segredos
Segredos guardados em dias que estão por vir
Meu desafio tem meu nome
Sou eu batalhando em Stalingrado
Resistindo pra nessa guerra por fim

O copo que me assiste me sorri
Entrego-me ao seu convite
Trago narcisista, quase fascista,
altruísta, insaciável
Whisky abranda até torpor
Não sou alheio à dor

Da janela a noite vai se dissipando
Reluto ao primeiro raio da manhã
Me encontro na última estação de mim
Onde desapeio sem ter chegado ao fim
A aragem me saúda no seu passar
E me diz do sol que há de brilhar mais uma vez

Dia novo, sou novo
Sou outro, mas continuo em mim
É o despertar de um quase sonho
É o real que de mim quis desistir.

Roberval Paulo