segunda-feira, 29 de julho de 2019

O PARTIR ANTES DO TEMPO - Roberval Paulo

Às vezes penso que o segredo de tudo está nos porquês?
Penso e repenso até o mundo ficar tenso
Inclinado, descaído, pendido, penso…
Penso, só penso!
Mas não me atrevo a dizer.
Porque se vem, porque se vai?
Porque que vem quem nada tem?
Por que um ser se detém antes mesmo de nascer?
O porquê de se ficar tão pouco tempo aqui
O porquê de se passar tanto tempo sem medida
Na subida desta vida sem este sol merecer.
Penso também que é porque não existe um por quê?
O porquê é só um ser mais enigma que razão
Não um ser, uma equação que se vai a resolver
Que ninguém conhece a fórmula,
Que não perece, renova, sem nunca ao seu fim chegar
Qual romeiro em romaria pelo caminho sagrado
Que segue desarvorado só com o instrumento da fé
Novena que só rezando faz um milagre danado
Sem nada ser explicado, sem porque, sem paramento
Mas que segue devorando
Homens, sonhos, pensamentos
Semeando contra o vento a planta do bem virá.
Porque se vai pela estrada sem ter chegado a sua hora?
Tanta dor deixa pra trás, tanto sofrer… Oh! Tormento!
Quanta saudade a encher o existir do meu peito
Angústia que quase mata que é um tanto doer!
Que não explica, se sofre,
Que nada entende, só sente
Que não quer este presente que a vida lhe fez herdar
Quer até recomeçar, mas não tem forças… é inclemente.
O sangue de um inocente que o inevitável levou
O cálice que derramou antes do seu transbordar
Como entender o porquê da vida interrompida
Sem um motivo aparente, sem a razão se mostrar.
Penso que é por quê… Não sei dizer o porque
Talvez nem tenha porque, talvez tenha. O que fazer?
É o mistério da vida que segue pregando peças
Não deixa aresta nem brecha para um porque indagar
Só nos resta o consolar compassivo de meu Deus!
Oh! Deus de misericórdia! Deus de bondade infinita!
Já que sofri esse golpe que não pedi pra sofrer
Dê-me forças pra viver… pra vida continuar
Cubra-me com o teu amor, com tuas bênçãos Senhor
Mostre-me o prosseguir, me guie com o seu olhar
Sou só dor, sou um ser andante que se perdeu no caminho
A força deste destino eu não queria viver
Mas se me deste é porque me conheces mais que eu
Vais saber como amparar seus filhos que estão perdidos
Senhor Deus, me dê motivos e me livre de morrer
Nos oriente a encontrar a razão de estar aqui
Eu não sei mais nem porque estou a sofrer assim
Porque os tirou de mim? Porque nos deixou tão só?
Meu Jesus! A tua benção, tua guia e proteção.
Ensine-me a não morrer, dê-me os porquês do ocorrido
Porque que me tens nascido pra suportar tanta dor?
Meu Senhor! Só o teu amor pode enfim me redimir
Ajude-me a persistir nesse caminho de morte
Dê-me um norte que preciso o teu amor encontrar
A vida continuar, nova razão existir
Meu Jesus! O teu perdão, que essa cruz que te chagou
Seja a mesma a me valer pra tua luz eu seguir.
Que eu possa um dia entender que assim é que tinha que ser
Que tudo valeu a pena e que nada foi em vão.
Amém Senhor! O teu perdão!
Roberval Paulo

sexta-feira, 19 de julho de 2019

IRMÃOS DE SANGUE SÃO MAIS IRMÃOS - Roberval Paulo


Gracindino era daqueles que a ninguém ofendia. Sujeito pacato, cidadão do bem. De alta estatura, esguio e curvado, rosto sulcado, de feição avermelhada e clara e cabelos levemente encaracolados e curtos. Vivia às voltas com seus vícios; o famigerado álcool, a boemia e mulheres. Como já frisado, não era de ofender a ninguém seriamente, mas tinha bastante curto o estopim e não dispensava uma boa troca de murros quando em seus momentos de embriaguez. Se algum mal cometia, era a si mesmo e, consequentemente, à família, que vivia em preocupação constante com a sua boemia.

Deixo de lado Gracindino para cuidar da descrição de Alceste, seu irmão mais velho. Não tão esguio quanto Gracindino, mas em mesma estatura e feição, filhos de mesmo pai e mesma mãe, portanto, muito parecidos. A diferença entre estes irmãos, fisicamente tão parecidos, estava na postura e comportamento. Alceste, como todo jovem, teve seus momentos de boemia e bebidas, mas por um curto espaço de tempo. Casou-se cedo, convertendo-se ao protestantismo e em pouco tempo consagrava-se Pastor. Família constituída, sendo a esposa e um casal de filhos. Uma vida centrada na oração e no cuidado ministerial com a sua igreja e seus membros, saindo do sério somente quando tinha que posicionar-se em razão das confusões criadas pelo irmão Gracindino, o que ocorria com certa frequência.

Coração é coração e sangue é mais ainda e, quando se via confrontado pelas situações protagonizadas por Gracindino, sentia na pele e na alma a dificuldade de posicionar-se contra o irmão, mesmo considerando ou atestando a sua culpabilidade. Entrava em tom conciliador buscando aparar arestas. Conversava, relevava, atenuava, mas, de repente, o sangue falava mais alto e ele modificava-se por inteiro, saindo em defesa do irmão e, por muitas vezes, indo aos finalmente, às vias de fato. Não foram poucas as vezes que o burburinho espalhava-se pela cidade de que o Pastor Alceste estava em uma confusão ou numa briga e, como era pequena a cidade, tomava grande repercussão a conversa repetida boca a boca, trazendo consequência, por vezes, até moral ao nobre e digno Pastor Alceste. Mas, por outro lado, eram muitos os que o defendiam, reconhecendo nele a força do lastro familiar, pois, no frigir dos ovos, mesmo diante das circunstâncias, saía sempre em defesa do irmão, da família. Era o sangue reclamando.

Essas ocorrências, ainda que repetidas por um longo espaço de tempo, não produzia efeitos negativos à reputação de Alceste e pasmem, nem tão pouco à de Gracindino, pois todos os conheciam e muito bem. De família íntegra, defensora dos bons modos e costumes, de comportamento reto e ético sempre, logo que passada a situação vexatória e reparados os erros, todos reconheciam a figura reta do Pastor e pai de família Alceste e de mesmo modo, a do cidadão e homem de bem Gracindino, somente um boêmio inveterado.

Para apreciação e deleite do leitor, relato aqui um episódio protagonizado por Gracindino e, como de costume, arrematado por Alceste, o irmão pastor. Numa noite, já por volta das 22h00min horas, depois de ter tomado todas e mais algumas em sua confraternização quase que rotineira, Gracindino, despedindo-se dos amigos de confraria e de cruz, deixa para trás o bar, tomando a direção de casa. Ora assoviando, ora cantando, envereda-se por um atalho tencionando encurtar o caminho, afadigado pelo peso dos tantos goles degustados. Eis que o previsível acontece; vê-se cercado, em uma curva do caminho, por um grupamento de cinco elementos que já o vigiavam a distância e agora buscam acerto de contas em homenagem a umas tapas desferidas por Gracindino há uns dias atrás em um dos integrantes do grupo. Gracindino vê-se em desvantagem, mas não arrega; era adepto e frequentador assíduo da boa troca de murros e, diga-se de passagem, era um trocador dos bons.

Estaciono aqui por um momento a narrativa para refletir e rememorar. Que tempo saudoso este, pois era assim que a maioria dos entraves e agravos resolviam-se, sem a necessidade de armas. Uns murros aqui, outros ali, umas quedas, alguns arranhões e todos iam pra suas casas com suas marcas e em paz. E no outro dia a cidade estava cheia do acontecido, sendo noticiado em todo canto e com alegria pelos repórteres amadores de plantão, diga-se, em termo popular, os fofoqueiros.

Pois bem, Gracindino não arrega e a confusão está feita. Começam os insultos, a troca de farpas, recheados de não tão nobres palavras e, enfim, as acusações. Eu lhe pego; você vai me pagar; de agora não passa; isso você não vai mais fazer e assim segue a arenga, esboçada em empurrões. Um garoto em sua bicicleta, passando pelo local, vê a contenda e corre a dar notícias do ocorrido ao irmão Alceste que, há esta hora, finalizava a pregação aos fiéis na igreja, de paletó e gravata. O garoto adentra a igreja correndo e anuncia, em alto e bom som que Gracindino está em contenda e que se encontra em desvantagem, pois são cinco contra um. Conta tudo a Alceste, quase pedindo intervenção.

Não carecia nem intervenção pedir. Digerindo a notícia rapidamente, lá estava Alceste bradando seu amém aos fiéis e deixando para trás a Bíblia, saindo em disparada ao socorro do irmão. Ao apontar na esquina, a cena vista não é amena. Lá está Gracindino engalfinhado em luta com cinco oponentes. Golpe certeiro que vai contra muitos que voltam, tal a quantidade de mãos e pés envolvidos. Cena que passaria em branco ao coração do pastor, mas que fere e atinge em cheio o coração do irmão. Não houve conversa nem ponderação e lá está Alceste e Gracindino botando pra correr não menos que cinco não simpatizantes, a custa de murros e pescoções. O pastor mais uma vez é mais irmão. Gracindino é levado para casa pelo irmão e lá, em quatro paredes, o pastor diz todas a Gracindino; ele pode e deve, mas aceitar outro agredi-lo, isso não.

Em outra ocasião, estava Gracindino em um bordel, como era o seu costume e, como sempre, aprontando das suas. Já alto pelo fogo da bebida, saca de uma arma e desfere uns tiros para cima. Foi terrível o burburinho. Uns se apertam nas portas buscando saída ao mesmo tempo, outros saltam pelas janelas. Alguns se escondem embaixo das mesas ou pelos cantos e alguém grita ao telefone: polícia! Gracindino está só no salão, arrodeado por algumas “meninas” que já o conheciam. Ele pede mais uma bebida e, sentando-se, põe em cada perna uma garota, vangloriando-se do feito.

Eis que de repente a viatura risca na entrada e saltam dois policiais dispostos a dar fim ao episódio. Da porta gritam as palavras de ordem, ou seja, a voz de prisão: “Têje” preso Gracindino. Era o soldado Camelo, acompanhado do parceiro Adnero. Gracindino, como estava, ficou. Sentado lá nos fundos do salão, uma moça em cada perna e de costas para a porta. A voz soa novamente, dita pelo soldado Camelo: “Têje” preso Gracindino!

Gracindino conhece a voz. Sentado estava, sentado ficou. Sacando da arma presa à cintura, vira o braço imediatamente e vocifera: Oh! Camelo, eu estava mesmo querendo lhe ver; “tava” doido pra lhe dar um tiro na testa. Simultaneamente à voz, o tiro é disparado e acerta o umbral da porta. Camelo e Adnero, pegos de surpresa, gritam um valha-me Deus e afastam-se correndo, deixando para trás a viatura. Neste momento, já avisado por terceiros, Alceste, o pastor, adentra o salão. Surpresa no rosto de todos; não é o local mais adequado para um pastor. Mas o irmão está lá e precisa de socorro, tudo explicado.

Gracindino mais uma vez é convencido e conduzido para casa pelo seu protetor. Ouvirá um monte com certeza e obediente ao irmão que é, nada responderá e dará descanso por um período, curto período.

Os irmãos mais uma vez roubam a cena e são notícia de primeira página no agudo boca a boca do interior e lá se vai o pastor Alceste se explicar com a cidade, com os fiéis e com os policiais destratados e amigos. Tudo resolvido. A rotina volta ao normal na pacata cidadezinha. A bocas pequenas e ao som de boas gargalhadas corre o assunto dos dias seguintes, todos aguardando a próxima de Gracindino. É quando a cidade de fato se movimenta e todos tem muito o que dizer.

Roberval Paulo

quinta-feira, 18 de julho de 2019

SIQUEIRA E TOCANTINS – Mais um capítulo - Roberval Paulo


O Tocantins está em festa e em evidência mais uma vez, protagonizando o cenário político nacional, pela posse do seu idealizador e eterno Governador Siqueira Campos no Senado Federal. O vereador eleito em Colinas do Tocantins - à época pertencente ao estado de Goiás - com votação expressiva, lá pelos idos dos anos 60, talvez não vislumbrasse, mesmo com sua mente futurista, que ao longo da sua estrada e trajetória, poderia ele protagonizar tão nobres feitos.

Deputado Federal pelo estado de Goiás, encabeçou, com tenacidade e persistência, tomando-a como sua, a emblemática luta pela separação e consequente libertação do então norte de Goiás; desejo este que esteve dominante por quase 200 anos na mente e sonhos de muitos desbravadores desta região, encontrando no velho Siqueira de guerra o seu expoente maior, o que culminou com a criação do vicejante estado do Tocantins.

Governou o estado que criou por quatro mandatos e, no limiar dos seus 90 anos, colocou-se à disposição do estado mais uma vez, lançando-se como candidato a Senador no último pleito. Afastando-se da disputa por problemas de saúde, indicou Eduardo Gomes para a vaga, assumindo a primeira suplência e emprestando seu prestígio e sua história à candidatura no decorrer da campanha.

Eduardo Gomes sagrou-se Senador e, agora, assumindo um posto de destaque no estado junto ao governador Mauro Carlesse, na Secretaria de Estado da Governadoria, abre espaço para o velho Siqueira de guerra no Senado Federal.

Pode-se muito ouvir dizer que é somente uma homenagem, um arranjo, um acordo de campanha, mas o que não se ouvirá em momento algum é que Siqueira Campos não é merecedor desta cadeira no Senado da República.

Sua história e trajetória falam por si. Seus feitos e os efeitos dos feitos o caracterizam como um dos maiores idealizadores da política nacional. Suas realizações e conquistas o credenciam a ter, cativa, a sua cadeira na história. Sua grandeza e envergadura confundem-se com a pujança e beleza da capital Palmas e com a consolidação socioeconômica deste estado, enquanto terra da livre iniciativa e da justiça social.

O Senado Federal começa a escrever hoje um novo capítulo. Basta ver as reverências dos senadores em saudação ao velho Siqueira, o seu mais novo e ilustre par.

O girassol que floriu por todo o estado do Tocantins e matizou de amarelo o verde esperançoso dos sonhos tocantinenses pela estadia de Siqueira Campos aqui, hoje é plantado na Capital Federal, colorindo as águas tranquilas do lago Paranoá, expandindo seu brilho pela esplanada da história.

No Senado, mais uma voz em defesa do Tocantins e do seu povo. Uma voz que já soa espaçada, compassada, mas ainda carregada de indissolúvel lucidez.

Sei que muito ainda contribuirá com o nosso existir e nossa consolidação.
Sei que acrescerá em muito a sua já robusta e significativa fábula de “homem público”, conferindo aqui a mais verdadeira acepção ao termo.

Sei que quase de nada sei, mas sei que a história se encarregará de nos contar esse enredo. Enredo este que nos fará refletir e dizer: valeu a pena Siqueira, pois tua alma não é pequena, em paráfrase ao genial Fernando Pessoa.

Roberval Paulo
Poeta Tocantinense


domingo, 14 de julho de 2019

VERSO LIVRE - Roberval Paulo


Verso livre
Vá de sol em sol
De vento em vento
Leve uma mensagem de amor e de sonho
De um poeta só.

De folha em folha
Molhado de sol
Vai, meu mensageiro
Transporte o meu ser
À legião dos seres encantados.


Transcendente verso
Verso de minha alma
Vá e não perca tempo
Que tempo perdido
É poesia esquecida na janela da memória
Fechada para não mais abrir
Pela ação do próprio tempo
Que não retrocede nunca.

Verso livre
Viaje pelos sete mares
Busque a estrela guia para o norte da vida
Passe pelo céu e traga a lua fria
E faça meu verso, da noite
Um doce colchão de estrelas
Pra descansar este ser
Mais vida que sonhos
Livre pelo tempo e espaço
No verso desassossegado do vento.


Roberval Paulo

MEU ESTRADAR - Roberval Paulo


                  Homenagem ao poeta Ascenso Ferreira


Abro o olho
Fecho o olho
Sonho a vida
Corro a estrada
Tô cansado
Tô com pressa
Muita pressa
De partir

Nasce o sol
Abre o caminho
Cruzo o rio
Olho a mata
Já é tarde
Já tô longe
Muito longe
De chegar

E no céu
Sigo as estrelas
Já é dia
Elas se apagam
Vou correndo
Vou na frente
Passam dias
E eu na estrada

Levantei cedo, muito cedo
Tinha nada pra fazer
E pensei na caminhada
Que devia empreender

No peito outro não há
Só o desejo de partir
E na chegada sentir
A alegria de voltar

Pedras ferem
Pés e corpo
O sol queima
A vida e a alma
Eu e Deus
Na caminhada
E tanta légua
Pra andar

Todo o tempo
Só sorria
À noite
Contava estrelas
Andava assim
Nas nuvens
Na poeira
Da estrada

Pra vencer
Só a distância
Quantos sóis
Eram passados
Corpo e alma
Encharcados
Do suor
Da caminhada

E cheguei
Não sei aonde
Só senti
Que era chegado
O final
Da caminhada
Precisava
Regressar

Pé na estrada
Ao revés
Põe-se a lua
Volta o sol
Cruzo o rio
Olho a mata
Tô cansado
Tô com pressa
Já é tarde
Já tô longe
Vou correndo
Vou na frente
Tô voltando
Trago nada
Só o desejo
De chegar.


Roberval Paulo

REFAZENDO - Roberval Paulo


Vou-me embora
Vou-me embora
Vou-me embora
Vou na frente

Vou correndo
Mais querendo
Andar bem mais devagar

Caminhando
Caminhando
Caminhando
e conspirando

A favor da existência
Contra o sol da inesistência
Que é preciso mais ainda
Muito longe caminhar

Sempre em frente, rumo ao norte
Norteando
Norteando
Norteando
e transpirando
Com DEUS e a muito suar

Esperando pela hora
Enfrentando, a ir embora
Acontecendo
Refazendo
No destempero do vento
Nas intempéries do tempo
Sem desviar da subida
Sem se empolgar com a descida
E o destino a desvendar.


Roberval Paulo

O QUERER-TE - Roberval Paulo


Gosto de querer-te
                           em mim
Gosto de ver-te
                           assim
Completamente solta
Alheia a tudo

Ao vento
         Que lhe lambe os seios
Ao sol
         Que lhe doira a pele
À lua, que te invade
                           e te cultua

À mim,
         que de tanto ver-te
Mais de amor te quero.

Roberval Paulo

A VOLTA - Roberval Paulo


                   Uma singela homenagem a Mário Quintana



Avistei ainda de longe
                  as primeiras casas
Os campos conhecidos
         chegavam-me aos olhos
Um pouco diferentes
Mas com a mesma familiaridade
Entrei na Avenida Principal
As casas pareciam cumprimentar-me
Muros sorriam
Estavam com saudades
Paredes novas e retocadas
Portas e janelas
                  de caras novas
Pisei o chão da minha rua
Eles me saudaram
Um olhar asfáltico
Entrei na casa da minha
                                     infância
Acordando minhas lembranças
                                     todas verdes
 Elas receberam-me, em festa
                                     e maduras
E com um sorriso amarelo
Reclamaram tamanha ausência

Sorri de lágrimas nos olhos
Chorei de sorriso nos lábios.


Roberval Paulo

terça-feira, 9 de julho de 2019

CORAÇÕES - Roberval Paulo


O meu coração no teu
Minha paz a tua paz
Teu amor o meu amor
Feito efeito contumaz

Minha luz a tua luz
Meu existir teu voar
Teu voar em mim reluz
Essa luz que me seduz
A luz que aviva o mar

Meu encontro, teu querer
Minha busca o teu buscar
Teu encontro, meu querer
O meu rio no teu mar

Minha sina, tua sina
Tua sina, meu pensar
Teu pensar que se destina...
Minha nuvem pequenina
Bússola do meu caminhar

Meu canto, teu acalanto
Teu canto, meu habitar
Minha habitação, a tua
Teu mundo, meu abraçar

Meu sorrir, tua alegria
Tua alegria, meu ar
Teu olhar mina poesia
Teu verso água vertia
Meu hino o teu cantar.

Roberval Paulo