quinta-feira, 27 de junho de 2019

AMOR E TEMPO - Roberval Paulo


A vida é somente um sopro
Repense o seu pensar
Renove sua atitude
Dê graça ao seu caminhar

Semeie por onde for
Carinho, amor, harmonia
Dê por graça o seu sorriso
Promoção de alegria

É tudo tão passageiro
Tudo chega sem aviso
Desfaça a cara amarrada
Libere ao mundo o seu riso

Não se perca na soberba
Não turve o seu pensamento
Seja em si um ser de amor
Só o amor vence o tempo.


Roberval Paulo

terça-feira, 25 de junho de 2019

UMA PEDRA NA RUA - Roberval Paulo


A pedra despida
De todo olhar
Ali estendida
Deitada na rua

Era só uma pedra
Sem sonhos, sem nada
Somente uma pedra
Matéria pura

A pedra de pedra
Dura mais que o dia
Fosse ela, a pedra
De mais nobre matéria
Duraria até mais
Que a matéria vida
  
É que pedra se mantém
Tal qual como começou
E até me mais parece
Que sabe mais de amor

A pedra despida
De todo e qualquer olhar
Ali me olhando
Eu a lhe olhar
Ela nada diz
E me diz tanto e tanto
Que eu até me espanto
De tanto escutar

E lá se vou eu agora
Sendo a pedra da história
Ela não procura a glória
Mas a tem sem procurar

Por simplesmente existir
Por receber sol e chuva
Por se entender como é
Sua natureza de pedra
Seu jeito, sua estranheza
Sendo pedra, ou sendo deusa
Não exprime um reclamar

Despeço-me envergonhado
Deixo a pedra ali do lado
Na rua, no campo ou canto
Para ela tanto faz

Vou ao sol que encurta os dias
De um estradar renovado
No caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no caminho
Tropecei no meu destino
A pedra me despertou
Sem nada dizer de amor
De amor fez seu legado.


Roberval Paulo

segunda-feira, 24 de junho de 2019

REFÉM DO SILÊNCIO - Roberval Paulo

É tanto pra se dizer
Que o silêncio que nada diz
a receita contradiz
e ainda se faz
mais valer

Eis que são tantas as palavras
Que estas se perdem da ordem
E em desordem dispersadas
Transcendem-se no silêncio
de vozes amordaçadas

E este, o silêncio, é mais que mil palavras
E fala por si, mesmo só
órfão de todo som

O tanto a dizer já não mais faz sentido
A desconstrução vocabular se fez
por sons e tons descodificados
em algoritmos infindos condensados
em fervente e lúdica enunciação

Os olhares feriram-se e agora
operam a auto cura
Filha dos mesmos olhares
Herdeira de outra expressão

O enigma resolveu-se
e em gozo esplêndido aquietou-se
até nova manifestação
livre e espontânea
e também imprevisível

A insígnia gravada
no coração de um estigma
Que é vivo e latente
desde que a vida fez-se vida

Em coração não se manda
Com coração não se brinca
E estamos a brincar
Desde que o pobre coração
senhor trepidante e inconstante da razão
Pulsou e morreu-se de dor
tragando a vida viva.


Roberval Paulo



sexta-feira, 21 de junho de 2019

LUZ ÚNICA - Roberval Paulo


Para Carlos Drummond de Andrade e Gabriel García Márquez – “in memoriam”.

Veias do tempo quatro ventos entrando pela janela
Arrepiando pelos, cabelos, alma e coração
Ser vivo e sentir o sol
Não tire o que é meu
Liberdade no vazio pardo dos olhos
Vazando a cadeia das teias do arrebol
Sou mais horizonte que céu
Mais loucura que conto de novela

Um homem voando no espaço
Pés e sonhos cravados na Física
Corpos no amor do filho chegando
Vida onde já não existe

Sou menino no Vietnã
Não tive querer
O sol na flor de Hiroshima
Canto que te vejo sonho
A luz única perdida nas trevas
Farol, barco, luar e muito amor
Mar e porto no tapete da sala
Eu e você

A manhã levando a noite
Sonhos que se materializam
O imaginário é real
Os deuses se foram no tempo
A morte venceu a vida
A vida em si, continua
Eu e você contra todos
Eu e você contra o mundo.

O escritório, o trabalho
A feira, o sentimento
A história, o lazer
O acontecer, a festa
O pregão, a fome
A especulação, o desemprego
A onda lambendo a favela
O sal na moça                        
                        e a moça na praia.

O tiro perdido...
A inocência na rua
O frio gelando ossos
Mesa farta, falta mesa
O amor nos tempos do cólera
Um homem vai devagar
Êta vida besta meu Deus!
Cem anos de Solidão
Drummond e García Márquez
A rotina tomando seu lugar
E agora José?
A luz apagou
Em olhos de cão azul
O veneno da madrugada
Não nos afastemos muito
Vamos de mãos dadas
Do ferro de Itabira
Um trem para Macondo
Em prosa ou poesia
Esquecer para lembrar
De sol em sol a peregrinação
E a vida mundo nem aí pra nós.

E que Deus ilumine a mente
            e o caminho dos homens,
para que eles possam construir nações,
                        verdadeiras nações
e não países – sociedades
            com sede de ouro e poder.

Roberval Paulo

A REGRA DESAFIADA - Roberval Paulo


Eu sou janela pra ver
O lado fora da vida
Eu sou a dor diluída
Para nunca mais doer
Eu sou a água a ferver
Sou o gatilho apertado
Sou o prego enferrujado
Sou ferrão de escorpião
Sou a verdade de Adão
Sou os quatro cantos do dado

Eu sou a fonte que canta
Eu sou a morte que cala
Sou a estrutura da escala
Sou morto que se levanta
Eu sou a fome na janta
Sou gume de canivete
Sou a goma do chiclete
Sou as cores do pavão
Sou o estrondo do trovão
Sou a lâmina do pivete

Eu sou a xêpa da feira
Sou o começo da vida
Sou inocência perdida
Sou pedra de baladeira
Sou a metade inteira
Sou a boca do alçapão
Sou carro na contramão
Sou a vírgula da história
Sou insensatez na glória
Sou sensatez no perdão

Sou medo na noite escura
Sou portentoso veneno
Sou desnível do terreno
Sou a santa santa e pura
Sou cravo de ferradura
Sou coceira na ferida
Sou uma onça parida
Eu sou fio da navalha
Sou o sangue na batalha
Sou cutilada doída

Eu sou cigarra vadia
Sou reta na encruzilhada
Sou golpes de navalhada
Sou a face negra do dia
Sou a treva que alumia
Sou a luz que se apagou
Sou porta que se fechou
Sou janela escancarada
Sou rasgo de cutilada
Sou o escuro que clareou

Sou o calcanhar de Aquiles
Sou a espada de Heitor
A honra de Eleanor
Dos Basílios, sou “Basilis”          
Dez livros de “Pitigrillis”
Sou o silêncio no sermão
Bomba no Afeganistão
Sou guizo de cascavel
Sou a torre de Babel
Sou empregado e patrão

Eu sou pimenta de cheiro
Sou a malagueta ardida
Eu sou chegada e partida
Sou o filho do carpinteiro
Sou o juro do doleiro
Sou o rascunho da mente
Sou o nascer da semente
Sou terça de carnaval
Eu sou o bem e o mal
O lodo e a água vertente

Sou a areia da ampulheta
Eu sou a cruz da espada
Sou bomba atômica testada
Sou a cura da maleita
Sou elixir na colheita
Sou o ataque do leão
O dente do tubarão
Sou a lembrança esquecida
Sou a larva derretida
Sou o buraco no chão

Sou labareda de fogo
Sol o sol do meio dia
Sou a dor da agonia
Sou princípio e fim do jogo
Sou pressão e desafogo
Sou a prosa e a poesia
Sou tristeza na alegria
Sou a marquise arqueada
Sou o fim da caminhada
Sou o doce raiar do dia

Eu sou lagarta de fogo
Sou a reta que se inclina
Sou os desejos da menina
Sou milagre vindo a rogo
Sou Iago, Jacó, Diogo
Sou todos e sou nenhum
Sou vôo penso de anum
Sou vento no milharal
Sou calma no vendaval
Sou a fome no jejum

Sou torto que se endireita
Sou regra desafiada
Sou lei não executada
Sou resto de coisa feita
Sou mulher que não se enfeita
Sou reza dita sem fé
Sou carro de marcha a ré
Sou a abelha e seu mel
Sou o amargor do fel
Sou enchente na maré

Eu sou a estrada sem fim
Sou o infinito que se acaba
Sou o leite da mangaba
Sou o pavio, o estopim
Sou aroma de alecrim
Sou o burro do oleiro
Sou a colher do pedreiro
Sou a praga na invernia
Sou a verve da poesia
Eu sou a cruz do madeiro.

Roberval Paulo

PORTAL DO EXISTIR - Roberval Paulo


Sou o dente da serra
Que corta impiedoso
A madeira chorosa
Sou a pedra de ardósia
Transformando a vida
No seio da rocha

Sou a seiva da vida
Coração de mato
Olhar de serpente
Sou estrela cadente
Sou olho no olho
Dente por dente

Mas não sou a agonia
Da morte anunciada
Sou a poeira da estrada
Que acolhe o passante
Sou água da vazante
Abrindo caminho
Pro núcleo da terra

Sou o claro do dia
A noite enluarada
Sou porta enguiçada
Passado e presente
O futuro das gentes
Portal do existir
Paz no meio da guerra.

Roberval Paulo



PROVERBIANDO - Roberval Paulo

De longe não dá pra se ver o perto
À distância tudo fica pequenino
No vão da noite os gatos são todos pardos
E o ancião reincorpora o seu menino

No passado o presente é o futuro
No presente passado ficou pra trás
No futuro presente e passado foram-se
Sobra o momento que é real e tão fugaz

Devagar dizem que se vai ao longe
O apressado come cru, ouço dizer,
Quem espera, no dizer, sempre alcança
Mais pra chegar onde se quer tem que correr

Diz-se do inconveniente, já vai tarde,
Do agradável, se escuta, fica mais!
Quem se gosta, quando vai, deixa saudade
Ao indesejável, quando vai, não volte mais

Deus ajuda quem parte pela madruga
Mais dormir nunca foi e nem é pecado
De quem viaja só se espera a chegada
Ao que não foi, melhor esperar sentado

Todo ser tem que carregar a cruz
A cruz que é sua ninguém leva pra você
A estrada torta tem a sua parte reta
Tudo o que sobe uma hora vai descer

Só se levanta quem se permite cair
Todas as águas vão se desaguar no mar
O caminhar de qualquer um é bem assim
Subir e descer é o seu aperfeiçoar.

Roberval Paulo

sexta-feira, 14 de junho de 2019

QUANDO ELA PASSA - Roberval Paulo


Esse andar ajustado
Essa passada matreira
Olhar de água, ribeira
Lua branca no banhado
Teu bronzear aureado
Olhar que ofusca o mar
As tranças luzindo ao ar
Tua cantiga de sereia
O mar em ondas mareia
Tecendo o teu caminhar

Teu sonho é o meu sonho
Sonhar é mais que viver
Eis que o sonho é tecer
Um realizar risonho
A ti meu amor proponho
Ser tuas asas, teu voar
Ser o teu vinho, manjar
Ser enfim teu sol, tua luz
A luz que em mim reluz
O teu ser a me habitar.


Roberval Paulo

A CAMINHO DA FEIRA - Roberval Paulo


A minha casa é o meu existir
Meu existir é a luz e a estrada a seguir
A estrada a percorrer é de nós desconhecida
Minha imagem no espelho é o meu caminhar

O nosso viver é viver e morrer
Nascer de novo é um morrer sempre
Nada permanece em semente
Dou passos pra me encontrar

Não sei em que sonho estou
A vida é sempre em frente
Pra trás não sei caminhar
Prendo-me ao caminho estreito
O amor tem tanto efeito
Que existe sem se notar

A beleza liberta e solta
Desprovida do tempo
Desgarrada do ser
O belo pelo belo e só
Penso no amor que liberta
Penso no belo que é amor
Vai-se o amor pela dor
Busquemos o amor maior

O olhar nas alturas
O pé na estrada
A faca nos dentes
Seguir a jornada

Um dia o sonho será
Só as cinzas da quarta feira
Não sei onde vou estar
Não sei nem o que virá
Não sei mesmo onde vai dar
Domingo quero ir na feira.


Roberval Paulo

quinta-feira, 13 de junho de 2019

MENSAGEM DO DIA

Cada dia 
é um ponto de partida
para uma nova vitória

Não importa
o que se perdeu ontem

O importante
é o que podemos 
conquistar hoje.

Bom dia!

(autor desconhecido)

segunda-feira, 3 de junho de 2019

POEIRA DAS ESTRELAS / POÇO SEM BEIRAS - Roberval Paulo


Por favor, não me falem de moral
Nem de sol ou de sal, nem do bem ou do mal
Não me venham querer recriar a criação
Tudo o que é, é o que sempre foi
E o que será, será, mesmo que não venha a eternidade

Não me venham deslizando em seus falsos moralismos
Não me venham destilando heresias
A humanidade não é e nunca foi diferente
A hipocrisia sempre se pôs na vanguarda dos comportamentos
E a virtude do ser, em mesma forma, nunca foi do ser
e sim das situações
Alteram-se crenças e valores, Divindades e potestades,
e o fundamento normatizador é a conveniência

Diga-me com quem andas e eu lhe direi quem és!
Diga-me o que queres e eu lhe direi qualquer coisa!
E tu já não mais serás o todo que lhe envolvia
Serás, em parte, a influência das palavras proferidas e absorvidas

Tudo se altera e se alterna, mas, inexoravelmente,
Tudo permanece igual
O homem, todavia, claro e obscuro,
Percorre a esteira da história
Sendo o lobo do próprio homem

O átomo está em mim, em ti e está no oceano
Está em tudo que vive ou morre
Está no físico ou no imaterial
No todo do qual sou parte e encarte
Sou pó de estrelas, se é que queres saber um pouco de mim

A realidade me custa tão caro que às vezes até sonho
Sonho com o mágico, o insondável, a alquimia
Em ouro quero o meu ser, minhas ações, meu existir
O ouro espiritual que fundamenta o universo
O inverso na tez do verso que o poeta sangrou

Portanto, não me venham pregar especulações
Sou elétrons, prótons e nêutrons
Sou átomo, natureza e universo
Indizível e invisível...indivisível
A força do natural que decifra pensamento

Sou fundamento da alma
A materialidade do espírito
A natureza do físico
A razão maior do ser e existir
O ser e o ter em eterno conflito
Sem compreender o porquê de estar aqui.

Roberval Paulo