segunda-feira, 24 de junho de 2019

REFÉM DO SILÊNCIO - Roberval Paulo

É tanto pra se dizer
Que o silêncio que nada diz
a receita contradiz
e ainda se faz
mais valer

Eis que são tantas as palavras
Que estas se perdem da ordem
E em desordem dispersadas
Transcendem-se no silêncio
de vozes amordaçadas

E este, o silêncio, é mais que mil palavras
E fala por si, mesmo só
órfão de todo som

O tanto a dizer já não mais faz sentido
A desconstrução vocabular se fez
por sons e tons descodificados
em algoritmos infindos condensados
em fervente e lúdica enunciação

Os olhares feriram-se e agora
operam a auto cura
Filha dos mesmos olhares
Herdeira de outra expressão

O enigma resolveu-se
e em gozo esplêndido aquietou-se
até nova manifestação
livre e espontânea
e também imprevisível

A insígnia gravada
no coração de um estigma
Que é vivo e latente
desde que a vida fez-se vida

Em coração não se manda
Com coração não se brinca
E estamos a brincar
Desde que o pobre coração
senhor trepidante e inconstante da razão
Pulsou e morreu-se de dor
tragando a vida viva.


Roberval Paulo



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