quarta-feira, 10 de junho de 2020

ESSE INFERNO DE DANTE - Roberval Paulo


Se eu for por aí
Só no espírito de andante
Seguindo a trilha estafante,
Seja ao sul ou seja ao norte
Não importa o destino.
Para seguir seu caminho
Mesmo tentando o alinho
Acautele-se com a sorte

É que o caminho se faz conforme o viajante
E o viajante faz-se conforme o seu caminho
É como que fosse um sendo a extensão do outro
É como se esse outro fosse a redenção do um

E na estrada certa ou no caminhar errante
Terás sim os teus triunfos e também terás fracassos
Terás os seus dias tristes em noites de azul mormaço
É a natureza acolhendo e forjando o seu passante

Se eu me for por aí
Só no espírito de andante
E o sol me bater no peito
E o frio me ser cortante

Serei sempre o caminhante
Indo à cata do final
Seja exposto em campo aberto
Seja em meio ao matagal

Sendo habitante de mar
Ou de uma galáxia distante
Sou uma peça do xadrez
Neste inferno de Dante

Se purgatório... terá?
Se paraíso, não sei?
Só sei e talvez nem sei
Como Sócrates revelou

Ele também se embrenhou
Nessa estrada que é só ida
Que ia saltar da vida
Ele disso já sabia
Mas outra vida, teria?
Eu só sei que nada sei!
Tanto faz, plebeu ou rei
O mesmo começo e fim

Com o agravante, enfim
De nada saber de lá
Mas vai sem pestanejar
Num adianta resistir
Ao futuro tem que ir
Sem saber o que tem lá
É bom se resignar
Aqui é tanto flagelo
No andor ou no chinelo
Vai estar na procissão
O norte é a sua missão
Arvore-se a cumpri-la
Para enfim, no fim da trilha
Descansar seu coração.

Roberval Paulo


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Poste o seu comentário aqui