Vou me lembrar um dia
ainda que eu não recorde
a saga de quem eu fui
antes mesmo de existir
É porque, reeditando-me
nunca soube quem eu
ser
E ainda que seja eu
é como se
eu não fosse
E mesmo sem conhecer-me
vou querer
saber de mim
E ao som e suor dos meus passos
Encharcar-me-ei de vida
Vou querer saber porque
eu
penso que já sou outro
E quando assim me reporto
é
porque já tô perdido
E no mundo em que eu vivi
no
tempo não prometido
Eu me enganava comigo
pensando ser eu o novo
Mas não era, era um outro
que
existia em mim
Numa confusão de dúvidas
duvidando a identidade
Identificando o ser
de não
ser uma verdade
E em ser e parecer fugi de mim sem ser visto
Fugindo eu próprio me vi
Encaixando-me em mim
Não foi tão ruim assim
Era quase um dé-jà-vu
Porque fugindo de mim
Encontrei-me bem ali
Fiz o caminhar da vida
Tão doce feito pudim
Os meus passos, meu olhar
Minha casa, meu manjar
Meu corpo, meu paladar
Tinham cheiro de jasmim
Deitar-me-ei no jardim
Verei a vida passar
Eu comigo a contemplar
O eu do outro de mim
E o universo a exalar
Um aroma de alecrim.
Roberval Paulo
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