quinta-feira, 12 de março de 2020

TODA VAIDADE SERÁ CASTIGADA - Roberval Paulo


Fostes no meu sonho, a ponte pra realidade
E pelos sete mares, te idealizei em mim
E em dias brancos, dourava-me de sol
Revestindo-me do branco, pureza da tua alma
Cambraia fina, levada pelo vento
Asas de gaivota a se perder pela leve bruma
De semelhante plumagem
Confundindo-se à distância
Com as prateadas estrelas
Deslizando na imensidão
Do infinito azul
Matizado pelo verde água
Das águas de chuva
A encher de paixão
As nuvens brancas de algodão.

E em horas decadentes
No dourado e cinza do crepúsculo
Encanecendo o horizonte escarlate
Rolam para o chão
Nuvens de água
Purificada
Desgaseificada, a água
Uma fábula, só deságua.

Água virgem
Véu natural do tempo
A rolar para a terra
E pela terra
Sem cor, incolor, multicor.

Terra, só terra!
Marrom, preta, vermelha, roxa
Só terra!
Brotando vida depois de saciada a sede
Agora, em cor de todas as cores
Abrigando vaidades sem fim
Qual fogueira de desejos
Abrandada pelas cinzas da frustração.

Vaidade, tudo vaidade
Sem limite, sem idade
Sem dimensão.

E em passar o tempo, o contratempo
Parte de mim no além
Olha o trilho, o trem já vem
Passando, levou, destronou
Com ou sem guerra
Descanso em terra

No underground, água e sal
Jóia ou bijuteria
Tudo igual, irreal.

De real, só o momento
Este momento
Intenso, imenso, isento
Não mais que um segundo
Muito maior que o mundo
Que o nosso mundo
Que só existe aqui e agora.

Eras o meu sonho, e dele
Fostes a ponte pra realidade
E sobre esta ponte
Lancei todos os meus medos
E meus segredos
Li seus segredos
E os segredos da vida
A chegada, a estadia, a partida
Do menino ao idoso
Do empregado ao patrão
Do princípio ao fim
Do sol ao escuro total.

E nesse inferno astral
De céu para quem padece
Vem o desfecho final, fatal
Inevitável
Levando-me os anéis
E os dedos também
Começo, meio e fim
É assim
E será sempre assim
Porque assim convém.

A passar o nada, o tudo
Todos enfim
A chorar e a sorrir
Triste e contente
Ninguém nasceu pra semente
O sonho é de quem o tem
É a roda do vai e vem
Amém!
E pra eternidade, tudo, nada, não sei
Segredos que não desvendei
Faz-se o homem pelo sonho, e morre
Faz-se o sonho pelo homem, também morre.

Fostes no meu sonho a ponte pra realidade
Mas a realidade, tudo vaidade
Era pó
E o pó levado pelo vento
Sumiu no espaço
Virou nada
Só nada
E só
Nada.

Roberval Paulo



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