segunda-feira, 27 de junho de 2011

CAMINHOS VERMELHOS DE SONHOS AZUIS

Ali, recostado naquele barranco, quebrando gravetos e cortando folhas com a ponta dos dedos, atirava-os nas águas da fonte que corria, lavando meus pés. Notei que meus pés, imersos, tinham-se tornado um obstáculo à passagem livre das águas. Fixei meus olhos pela superfície e pude perceber quantos obstáculos tinham que ser vencidos para que ela continuasse a correr. Eram tantas pedras, arbustos, desníveis do terreno e árvores obstruindo seu caminho, complementado pelas barbaridades dos homens com suas barragens, seu lixo, desmatamentos, em suas constantes tentativas insanas de parar essa corrida que, aparentemente, parecia que a qualquer momento, a fonte poderia desistir. Mas ela, teimosa e obstinada, resistia a tudo e continuava a correr, projetando-se em curvas, desvios, lagos, corredeiras e cachoeiras, só aumentando sua beleza diante dos obstáculos, transformando-os em molduras para o seu esplendor total.

Olhei para os meus pés e vi que eles continuavam sendo lavados, porém, por uma água que se renovava a cada novo instante. A água lavava e se ia embora, não voltando mais, passando parte dessa tarefa a uma nova água. A água do instante seguinte, que pela primeira vez passava por aquele caminho, cumpria sua missão e continuava em frente, sendo nova e desconhecida a cada novo espaço percorrido. A água de agora já não é a água do instante passado e não será a água do instante seguinte. Ela se renova a cada instante, a cada piscar de olhos que, por sua vez, também são novos. Cada piscar de olhos é único como é único cada instante, cada minuto, cada hora, cada dia, e assim, sucessivamente. Amanhã é um outro dia, pois o dia de hoje só acontece uma vez. O próximo segundo é outro segundo, novo e desconhecido para mim como é desconhecido para a água cada novo centímetro, cada novo metro percorrido.

Esse momento só acontece uma vez, só acontece agora e passa, não se importando com o que você tenha feito ou deixado de fazer. Nada pode mudar esse ciclo. Tudo só acontece uma vez, uma única vez. Só temos uma vida para este mundo.

Portanto, resta-nos aproveitar ao máximo, com toda energia e com todas as nossas forças, cada momento da nossa vida, nos doando por inteiro, com amor intenso, nunca desistindo diante dos obstáculos apresentados. Não importa se são momentos bons ou ruins, fáceis ou difíceis; o que importa é viver e viver é agir e reagir em todas essas situações, procurando sempre tirar o máximo proveito de tudo o que nos acontece, pois, partindo do princípio de que tudo é suscetível a todos, chegamos à sábia conclusão de que o importante não é o acontecimento em si, e sim, a posição que assumimos diante deste acontecimento. Observem a água. O seu segredo consiste na capacidade de correr sempre, e, para ela, não importa os obstáculos, nem o que ficou para trás. Só importa a corrida e está na corrida a sua razão de ser; a sua própria vida.

A água que corre é viva e semeia a vida por onde passa. A água parada é morta e mata todas as vidas ao seu redor.

Corra então para viver, pois assim, serás motivo de estímulo para a vida, porém, nunca pare para não correr o risco de morrer pelo comodismo e pelo desgosto daqueles que o cercam.

Roberval Paulo

quarta-feira, 22 de junho de 2011

LUZ DO INDECIFRÁVEL



Paredes de vento e concreto
Dor e prazer, agonia
Vida e morte, todo dia
Amor, paixão e desejo
A natureza do beijo
Autofágica sinergia
Florescer da anatomia
Carnes e partes e formas
Momento, tempo presente
Cimento, sólido tear
Chão, vulcão e passamento
Rebentos, ondas geladas
Sensações desenfreadas
Química, corações e velas
Degelo, solar-lunar
Átomos das cores mais belas
O metafísico eclipse
Na geografia dos corpos
Mistério, chaves, segredos
Passíveis de desenredo
Sangue, nervos e magia
Explosão, disritmia
Possível punhal do tempo
Abismo de nostalgia
Bocas úmidas, gritos roucos
Labirinto de vontades
Revelando o inconsciente
Na luz do indecifrável.

Roberval Paulo

O INDIZÍVEL


“Viver é muito perigoso.”
(João Guimarães Rosa).

O mundo já não canta o amor
A experiência se faz com sangue
O pai já não chora seus filhos
A impotência o faz insensível
À noite, o sonho amanhece
E no ciclo vicioso do poder
A ambição gera filhos
Verdadeiros pais do egoísmo.

Quem quiser que invente a vida
Mas cuidado!
Muito cuidado!
Os laboratórios estão falidos
Sequiosos de entender a vida
Caminham para a morte.

Não se enganem
Clone é só uma cópia sem a essência
Retrato do original com muitas cifras a mais
A matéria prima do espírito
Não sabe a metafísica
E viver não é só perigoso
É muito mais que isso.

A vida vem da vida e a vida do nada
O nada não se vê e não se materializa
A essência da vida é certa e invisível
Invisível e não sabida
O homem só sabe o que vê.

A ciência é visível
E o invisível é maior que tudo
Diante do qual
Toda ciência perecerá.

ENSAIO PARA A MINHA MORTE


Eu sonho a paz porque meus dias só viveram
                                                                  Guerras.
Eu canto a vida porque meus pés só cantaram a
                                                                  Estrada.
Eu choro os amores idos porque meus olhos
                                                         Não os viram chegar
E ao chegar, porque não foram vistos, partiram.

Eu sonho o tempo porque minhas horas se foram em
                                                                           Minutos
E meus anos se viram passar de forma supersônica.

Eu canto porque a música se fez não mais ouvir
E meus discos foram-se;
Era uma vez discos que eu ouvia.

Eu choro noite afora porque meus dias
Não mais me dão lágrimas.
                                                                                                
Soluço seco
Eco de sons desafortunados
Ponta de faca.

Luminosidade inata
Fio da navalha
Letal.

Roberval Paulo


IVETE SANGALO E A POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Ivete grava campanha para a Polícia Rodoviária Federal
Posted: 21 Jun 2011 02:16 PM PDT

A cantora Ivete Sangalo gravou uma campanha para a Polícia Rodoviária Federal (PRF) em favor da vida e pela paz no trânsito. O pedido foi feito pela PRF para que a população ficasse atenta às estradas durante o período das festas juninas. No áudio, Ivete pede que “Nesse São João, não coloque o carro na frente dos bois. Dirija com cuidado”. Segundo informações da PRF, a tem também como objetivo sensibilizar a sociedade baiana para a importância da doação de sangue em períodos de grandes festejos populares, como o São João. Ainda de acordo com a polícia, são durante estas festas que grande parte da população precisa da doação de sangue. Em 2010, durante a Operação São João houve um aumento de 32,56% dos acidentes, 40% dos feridos e 52,38% no número de mortos, comparados com a mesma operação em 2009.

PASÁRGADA JÁ NÃO EXISTE - Uma póstuma homenagem deste simples poeta ao grande MANUEL BANDEIRA


Vou-me embora daqui                                                                   
Daqui pra um outro lugar
Aonde eu possa ter uns seis anos mais ou menos
E todos os meus problemas sejam sonhos de criança

Vou-me  embora daqui
Eu sei que há um outro lugar
Aonde eu possa viver sem tudo me incomodar
Aonde eu possa existir existindo de verdade
E possa contar estrelas sem verrugas me nascer

Vou-me embora, vou-me embora, eu sei que já vou embora
Vou porque está em mim o desejo de partir
O lugar já não existe, aqui não existe nada
Não posso mais ser tão triste, preciso me encontrar

E quando a noite chegar
Quero um sonho que amanheça
E quando o dia acordar, eu já distante daqui
Aí vou querer voltar aos seis anos mais ou menos
Aí vou querer viver sem tudo me angustiar

E vou querer existir existindo de verdade
E vou poder encontrar-me no lugar de onde eu vim
E os meus sonhos de criança vou poder recomeçar
E não vou mais ser tão triste, vou até me alegrar

Pois não encontrei Pasárgada
Pasárgada não mais existe
Não vou nem mais querer ter vontade de me matar

À noite só quero amar
À noite só quero amar
À noite só quero amar sem medo de ser feliz
É que aprendi que a vida é a realidade que há
A realidade que é minha
A realidade que é nossa
A realidade da qual
Se vence no caminhar.

Roberval Paulo

A SENSIBILIDAE DE VINÍCIUS DE MORAES - Se eu morrer antes de você...



Se eu morrer antes de você, faça-me um favor. Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria. Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo. Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles. Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus e eu ouvirei. Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver. E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase : ' Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus !' Aí, então derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxuga-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu. Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele. Você acredita nessas coisas ? Sim??? Então ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito. Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo. Eu não vou estranhar o céu . . . Sabe porque ? Porque... Ser seu amigo já é um pedaço dele !