sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

ANOITECER DE UM POETA - Roberval Paulo

Ainda não me disseram quem vinha pra me alegrar.
É que eu estava triste, uma tristeza tamanha
que eu quase que nem sabia o que é ser um ser feliz.

Mesmo com a ilusão de que aqui se caminha,
de que aqui se aninha e encontra a felicidade,
mesmo sabendo a cidade ser uma nossa aliada,
andando em suas calçadas de luzes e sons perdidos

De passos quase inauditos, de gritos roucos, de dor,
da noite em seu esplendor a acolher seus incautos,
da vida em passos largos, parando na encruzilhada,
na ponte que está cortada para não mais se emendar

Do ser que foi a voar por perder a caminhada,
da fonte doce e cansada correndo sem se abater,
do canto de um padecer mais solidão que tristeza,
mais prazer que aspereza na calda de um bentevi

Te vi ali, não aqui, resposta de um sabiá:
cantar bem eu sei, sou eu, que não me encontro é com a sorte,
só caminho é para o norte, um caminho conhecido,
não de mim, de um ser antigo que habitava outro mundo
e me disse – extra pra o mundo! – cheguei e aqui sou razão,
não me fale de emoção, isso já foi, é passado,
agora o tempo é fechado, não há lugar para a dor,
todo o horror que habitava o universo do ser,

hoje vai a entardecer o que amanhã for amor.

Roberval Paulo

SONHO DE ACORDAR QUEM DORME - Roberval Paulo

Sabe,
eu queria o prazer de um sonho,
um sonho eu queria ter,
mas um sonho desses sonhos
que a gente sonha e sonhando
só pensa em se enveredar
pelo caminho sonhado
e pensado e perseguido,
imbuído do desejo
desse sonho realizar.

Mas um sonho que, sonhado,
assim, se realizasse,
mas não fosse tão real
como a dura realidade,
fosse somente verdade,
mas  não doesse, alegrasse,
um sonho que reparasse

os erros sem machucar.

Roberval Paulo

O FIM DO COMEÇO QUE NÃO TERMINA - Roberval Paulo

Já morri muitas vezes na ingratidão de pessoas queridas e amadas.
Já chorei lágrimas que nem minhas eram pela solidariedade e pelo sentimento mágico do sofrer e amar juntos.
Substituí, pelo amor, pessoas insubstituíveis.
Perdi tantas vezes que sempre busquei em mim o caminho de ganhar.
Esqueci acontecimentos que muito me judiaram e que diziam-se inesquecíveis.

Mas, vivi!
Vivi mesmo quando só de morte se apresentava o horizonte.
Vivi mesmo quando a vida me indicava a estrada de morrer.

Fui derrubado inúmeras vezes e, pela insistência, persistência e pela necessidade enigmática da missão continuar, pus-me sempre de pé.
Suportei dores ditas insuportáveis.
Perdoei quantas vezes necessárias fossem pelo espírito do Deus humilde que habita a alma e o coração dos homens e que nos faz lembrar sempre do quanto que nada somos.

Transpus obstáculos da realidade intransponível pela alegria inconteste e extremamente prazerosa do “tudo vale a pena se a alma não é pequena”, - lema do grandioso mágico das palavras Fernando Pessoa.

Saí fortalecido pós cada derrota sofrida e em frente segui, confiante e esperançoso, por acreditar que “no fim tudo dá certo. Se não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim”, - conselho do nosso tão perspicaz Fernando Sabino.

Procurei ser sensato quando a insensatez comandava todos os meus sentidos, pela inteligência inata que nos permite, com esforço, usar a razão como guia da emoção e do instinto.

Busquei um fio de prudência que fosse, quando só de imprudência e irresponsabilidade era o meu ser povoado, pois assim me situava, posicionando-me na linha reta do meu pensar torto.

Desafiei tanto a vida que a aventura da morte de mim fugia e renegava-me, resignando-se por compreender o risco inerente, constantemente inconstante, no perigo iminente do viver desejável e indecente do mundo, mas carregando a crença inviolável na verdade e decência do “tudo posso naquele que me fortalece” – Filipenses 4:13.

Mas, contudo, todavia, entretanto e, sobretudo, vivi.

Vivi mesmo quando a vida insistia em desistir.
Vivi mesmo com a sorte a léguas de mim distante, que corria à minha frente, em seu galope ligeiro, certeiro e indiferente, sem querer minha chegada.
Vivi com a adversidade visitando o meu terreiro, me fiz ser passarinheiro quando não podia andar e caminhando ou voando, chorando ou se alegrando, construindo ou destruindo, caindo e se levantando, planejando ou improvisando, morrendo ou ressuscitando, fui vivendo e revivendo, vagando e porfiando, “pois quão bom é porfiar”- (Basílio da Gama, em o Auto da Barca do Inferno).

Enfim, sempre experimentando, e em mim revigorando a força vital do existir, a única realidade, última oportunidade, em verdade, consequente que, irremediavelmente, vai se haver com o inevitável, mal ou bem, inexplicável, intrigante, incontestável, cumprindo o oráculo santo para enfim renascer.

É o começo do fim, ou o fim do seu começo, que vai dar na eternidade, que não se sabe vida ou morte, nem rumo sul e nem norte, se indo a desnascer.


Roberval Paulo

LEMBRANDO DO MEU PAI - Roberval Paulo


Hoje amanheci assim meio saudoso, lembrando do meu pai 
que nos deixou a muito tempo. 
Lembrei a sua presença viva no nosso meio 
e me veio tão grande tristeza que umas lágrimas teimosas e desobedientes insistiram em descer pelo meu rosto. 
É incrível quanta falta ele nos faz, mesmo depois de mais de 30 anos de sua partida. 

Ao meu pai Vicente Paulo...Saudades!!!
...Minha homenagem com este lindo poema do poeta paraibano Ronaldo Cunha. 
Receba Pai, no reino dos céus e com as bençãos de Deus, 
estas linhas de amor, de dor, de saudade e da certeza do abraço 
e da presença eterna de Deus em nossos caminhos. 

À tua presença viva em mim:

CONVERSANDO COM MEU PAI - Ronaldo Cunha

Na quietude d'aquela noite densa,
Reclamei numa saudade a presença
Do meu Pai, que há muito já morreu!...
Sorumbático e só, fiquei na sala,
Sem ouvir de ninguém uma só fala:
Todos dormiam entregues a Morfeu.

Continuei sozinho da vigília,
Contemplando a placidez da mobília,
Num silêncio quase que perfeito;
Quebrado apenas com o gemer da rede,
As pancadas do relógio na parede
E o pulsar do coração dentro do peito.

De repente, coberta com um véu,
Uma nuvem nascia lá do céu,
E na sala onde eu estava, caí...
Era algo de espanto realmente
Dissipa-se a nuvem lentamente
E vai surgindo a imagem do meu pai.

Boa noite, meu filho! E se assusta?
Tenha um pouco de calma, porque custa
Novamente voltar por este trilho:
Eu rompi os umbrais da eternidade
Para, em braços de amor e de saudade,
Conversar com você, querido filho!

Tenho assistido todos os seus passos,
Suas lutas, vitórias e fracassos,
Em ânsias que não posso mais contê-las:
Eu lhe assisto, meu filho, todo dia,
Em suas vitórias choro de alegria
E as lágrimas transformam-se em estrelas.

Tenho visto também seus sofrimentos
Suas angústias, dores e tormentos
E esperanças que foram já frustradas;
Tenho visto, meu filho, da eternidade,
O desencanto de sua mocidade
E o pranto de suas madrugadas.

Compreendo, também, sua tristeza
Ante a ânsia que traz na alma presa
De adejar cortando monte e serra;
Sua ânsia de voar, cantando notas,
Misturar seu vôo ao das gaivotas,
Que beijam os céus sem deixar a terra


Mas, ao lado dos atos de grandeza,
Você me causa, filho, também tristeza,
Em desgosto minh'alma já flutua:
Ontem, porque não estava pronta a ceia,
Pra sua mãe você fez cara feia,
Bateu a porta e foi jantar na rua.

Você não soube, meu filho, e no entanto,
Ela caiu prostrada em um pranto
Soluçando seu íntimo desgosto.
Nunca mais, meu filho, isto faça,
Pois para um filho não há maior desgraça
Que em sua mãe deixar rugas no rosto.

Nunca mais a ofenda, nem de leve!...
O seu amor a ela aos céus eleve
E escute sempre, sempre o que ela diz.
Peça a Deus para durar sua existência
E, se assim fizer de consciência,
Você, na vida, tem que ser feliz.

Conduza-se na vida com altivez,
Fazendo da probidade, da honradez,
Para você o seu forte brasão;
Aprofunde-se, meu filho, no estudo,
Fazendo da justiça o seu escudo,
E amando o povo como ao seu irmão.

Continue no trabalho a que se entrega
Sem temer obstáculo nem refrega,
Pois com a vitória sempre você vai,
E se assim fizer, querido filho,
Sua vida há de ser toda de brilho,
E honrará o nome de seu pai.

E nisso a nuvem comoventemente,
Aos poucos se junta novamente,
Envolvendo meu pai num denso véu;
E num olhar tão meigo e bem sereno,
Dirige para mim um triste aceno
E vai de novo subindo para o céu!

E eu fiquei chorando de saudade,
Alimentando aquela ansiedade,
Sem poder abrandá-la. Que castigo!
Por isso nunca mais dormi. Vivo na ânsia,
Esperando que meu pai rompa a distância,
Pra vir de novo conversar comigo

Ronaldo Cunha Lima


Fonte: Poeta Pajeuzeiro

FELICIDADE! - Roberval Paulo

Correr pra felicidade. É preciso
Estar pronto neste sonho infeliz
É preciso antes de tudo, diretriz
Saber realmente o que é felicidade
A felicidade não é plena, é amante
Nem eterna, nem constante, inverdade?
A felicidade é uma doce estrada errante
Sem sombra alguma de realidade
Que poucas vezes se chega ao seu destino
É no ancião que se vê a mocidade
É quase feito um sonho de menino
Sem nada conhecer de liberdade.

Felicidade é sempre um sorriso aberto
Sorriso solto, a franqueza no olhar
Abrir a voz, não ter medo de cantar
É no canto que se sabe o que é saudade
E saudade não se sente sem ter pranto
E o pranto te encaminha pra verdade
Desce ao peito feito um rio de acalanto
Faz o amor florescer com a amizade
Faz do sonho o caminhar do destino
Corre o mundo se esquivando da maldade
A voz bradando como o badalar do sino
Ser feliz é ter o Deus de bondade.


Roberval Paulo

O PASSAR DESSA VIDA - Roberval Paulo

Nem que eu viesse a sofrer todo o fim da dor do mundo,
Não seria nada perto do que sofreu Jesus Cristo
Não seria nem a sombra do que sofreu nosso rei
Pois que todo sofrimento já lhe foi antes prescrito.

Nada lhe foi perguntado se ele assim aceitava
Já nasceu com esse propósito, Ele tinha que cumprir
Deus Pai assim ordenou. Ele, Filho, obedeceu
Carregou a sua cruz, tinha uma estrada a seguir

Estrada essa lavada na dor do seu próprio sangue
Para que fôssemos libertos do pecado original
E nós não nos atentamos p’esse tão nobre martírio
Continuamos em nós plantando a raíz do mal

E nesse inferno astral de céu para quem padece
Padecemos por querer, por não querermos amar
Tal qual amou Jesus Cristo, nosso Deus e nosso Pai
Amou tanto que morreu pra humanidade salvar

E a humanidade até hoje não entendeu esse gesto
Não quis amar, não quis paz, se arvorou a ferir
Fere o igual, a si próprio, fere o seu Salvador
E se entende soberana na ilusão do existir

Não sabe esta humanidade que aqui estamos passando
Passar é o que nos cabe... vamos a um outro ninho
E nessa passagem o ingresso pra eternidade alcançar
É o amor, a humildade que dispensar no caminho

Nem que eu viesse a sofrer toda dor... a dor do mundo
Não seria nada perto do amor de Deus por nós
Ele amou de tal maneira o mundo que enviou
O seu filho Jesus Cristo e até o matou por nós

E o matando, libertou a vida no mundo inteiro
E o fez ressuscitar, Deus vivo, subindo ao céu
E a humanidade sem rumo viu a luz do novo mundo

Mas não a quis, desprezou e vive vagando ao léu.

Roberval Paulo