sexta-feira, 14 de agosto de 2020

UMA PEDRA NA RUA - Roberval Paulo


Da série FILOSOFIAS DA PEDRA - Autor: Roberval Paulo

A pedra despida
De todo olhar
Ali estendida
Deitada na rua

Era só uma pedra
Sem sonhos, sem nada
Somente uma pedra
Matéria pura

A pedra de pedra
Dura mais que o dia
Fosse ela, a pedra
De mais nobre matéria
Duraria até mais
Que a matéria vida

A vida matéria
De pedra não é
Mas em natureza
São mais que irmãs
Pois que seus destinos
Em terra se encerram
E a terra mãe
Mais mãe do que terra
Acolhe a todos
De gente que é gente
A gente que é pedra
Mas não pedra que é gente
Pois com pedra é diferente

Pedra se mantém
Tal qual como começou
Até me parece
Que sabe mais de amor

A pedra despida
De todo e qualquer olhar
Ali me olhando
Eu a lhe olhar
Ela nada diz
E me diz tanto e tanto
Que eu até me espanto
De tanto escutar

E lá me vou eu agora
Sendo a pedra da história
Ela não procura a glória
Mas a tem sem procurar

Por simplesmente existir
Por receber sol e chuva
Por se entender como é
Sua natureza de pedra
Seu jeito, sua estranheza
Sendo pedra, ou sendo deusa
Não exprime um reclamar

Despeço-me envergonhado
Deixo a pedra ali do lado
Na rua, no campo ou canto
Para ela tanto faz

Vou ao sol que encurta os dias
De um estradar renovado
No caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no caminho
Tropecei no meu destino
A pedra me despertou
Sem nada dizer de amor
De amor fez seu legado.

Roberval Paulo

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