Quando tua mão pesar sobre mim, lhe direi:
Porque tantos anos de infortúnio sobre a terra?
Porque tanta dor se o que buscamos é o prazer?
Se me ouvirá, não sei
Se tenho razão, menos sei ainda
Só acho que o que ainda sei é amar.
Quando tua voz me pedir contas do que fiz, lhe perguntarei:
Posso eu também pedir contas de ti?
Podemos conversar, só conversar sem cobranças?
Podemos nos sentar e nos falarmos como dois amigos?
Não sei se assim pode ser. Menos ainda sei se assim posso
agir.
Só acho que o que ainda sei e posso dizer é que eu amo.
Amo a vida que tenho e não sei se me pertence
Amo o ventre que me gerou e me concebeu
e
o rebento do qual sou raíz
Amo o patriarca da minha humilde existência e aos irmãos e
irmãs
de
lastro familiar que me destes
Amo as forças conhecidas da natureza, alimento indispensável
para a vida
Amo ainda as forças desconhecidas da natureza, sinais
latentes e incessantes do teu poder e glória e amor.
Quando teus olhos me olharem e eu neles perceber
um
olhar de interrogação, lhe responderei:
O que queres de mim?
O que queres que eu faça se tudo o que fiz não valeu?
Em que
Pátria nos desentendemos? Em que corpo me perdi?
Não sei se me ouvirá. Nem sei se assim posso indagar a ti
Só sei que o que ainda acho que sei é da força do amor.
Da força do amor que tudo pode e é só por ele que se vive
Da força desse amor que se justifica por si só e se
qualifica por só ser
Da força do amor transcendente, completo em si, sem
complementos, sem acessórios, sem adereços. O amor só pelo amor.
Que este sim, é infinito e não se paga imposto pra amar
Que este, o amor, é o que sinto e está no recôndito mais
fundo do meu ser
Alimenta minha alma e só por ele se vence grandes distâncias
e as agruras dos dias
E também sei que só o sinto pela tua suprema e magnânima
existência pois, só matéria e pó como sou, não seria capaz de amar sem o teu
sopro de amor infinito.
Quando teus olhos novamente me olharem e apresentarem aos
meus olhos
o
olhar da reprovação, eu... me penitenciarei
E lhe direi quanto mais do teu amor ainda resta em mim?
E lhe perguntarei o quanto ainda sou capaz de amar?
E lhe responderei que ainda procuro o que nem sei se é
possível achar
E, olhos nos olhos, chorarei
E pedirei perdão pelas minhas faltas
E pedirei perdão por duvidar de ti
E da tua bondade infinita me impregnarei e me agarrarei, me
agarrarei à tua mão para não mais soltar.
Me agarrarei à tua mão para reerguer-me e não mais voltar a
andar sozinho.
Sei que me perdoará.
Sei que não me abandonarás nunca como jamais abandonou um
filho teu.
Aí sim, a luz se acenderá e juntos, juntinhos, lado a lado,
caminharemos pela vastidão dessa estrada para não mais nos separarmos.
Dessa estrada que só se caminha, que só se caminha, sem
saber onde vai dar
Mas agora, confiante caminho e a eternidade nos espera
Pois já não ando mais sozinho e tenho o amor a me guiar.
Roberval Paulo