segunda-feira, 4 de abril de 2016

FLOR, VENTO E BEIJA FLOR - Roberval Paulo

Por amor feristes
Este meu coração
E sem mais ter razão
Me vi no vazio
E na dor da paixão
As lágrimas rolaram
E se precipitaram
Formando um rio
E olhando esse rio
Presenciei uma cena
Que me causou espanto
E muita emoção
Uma flor se abriu
Fez figa e se fechou
Pro seu beija-flor
Que a esvoaçou
E só vendo os espinhos
Ficou tão tristinho
E bem longe sumiu

E voou o beija-flor
Sem a sua flor
Se viu tão sozinho
Saiu do caminho
E se espatifou
Nas pedras do chão
E em lamentação
Pobre colibri
Ali sucumbiu
E ali ficou
Jogado às traças
Em sua desgraça
Abraçando a sorte
E o vento do norte
Passando lhe viu
E lhe indagou
Quê que foi beija-flor?
E ele respondeu:
minha flor não sorriu

Pra mim se fechou
E sem o seu olor
Meu sonho morreu
E o vento sofreu
E se apiedou
E soprando chegou
Onde a flor dormia
E disse: flor do dia
Flor da noite, flor do tempo
Eu sou o Deus vento
Levo ar a todo ser
E venho soprar a você
Que o beija-flor está sofrendo
Sem seu beijo está morrendo
É só pena o coitadinho
Não é nem beija, nem flor
Venho pedir-lhe um favor
Se abra a esse bichinho
Que só tem pra ti, carinhos

E leva a vida a adejar-te
Só te fazendo carinho
E sem ti está sozinho
Sem vida, sem razão de ser
É certo que vai morrer
Não deixe que isso aconteça
Vai me doer na cabeça
E posso não mais soprar
E sem meu sopro, o mundo
Não pode mais respirar
E tú também vais morrer
E as vidas vão se acabar
E eu vou ficar sozinho
Perdido e sem carinho
Sem movimento, então morro
Tudo em nada vai virar.
E a flor, compadecida
Viu o mal que tinha feito
Chorou muito e com efeito
Se abriu num lindo sorriso

E a última lágrima, rolando
Foi levada pelo vento
Qual gota de cristal líquido
No beija-flor foi batendo
E ele logo, renascendo
À flor um beijo ofertou
E agradeceu ao vento
Que sorrindo se afastou
E de tanta emoção
Chorava que soluçou
E soprou brisa no mundo
Nos quatro cantos caiu
O campo todo floriu
E tudo verde ficou
Flor e Beija-flor sorriram
E o vento a mim chegou
E me vendo acabrunhado
Me envolveu num doce beijo
Que minha face corou

E foi logo perguntando
O que tinha acontecido
Lhe contei, entristecido
O meu amor me deixou
E ele disse, já resolvo
Não precisa mais chorar
Antes que esse sol se vá
Teu amor eu trago aqui
E saiu a te buscar
E eu fiquei  esperando
Pensando que era o fim
E o vento me trouxe à vida
Achando minha flor perdida
Lá pelas bandas do mar
E lhe ensinando a amar
Trouxe-a de volta pra mim
E aqui estamos nós
Dois seres e uma só voz

Sozinhos, juntos enfim.

Roberval Paulo

ANUNCIAÇÃO - Roberval Paulo

Eu sou o elo de ligação entre tu e mim
Eu sou a comunicação entre a vida e a morte
Eu sou o sol a dourar no jardim
Eu sou em mim o tom negro da noite

Eu sou a flor do começo da vida
Eu sou a flor, uma flor para Ana
Eu sou o amor da mãe pelo filho
Eu sou a vida sempre por um fio

Eu sou Cristina, Fernanda, Maria
Eu sou o cão, amigo do homem
Eu sou toda a vida mais nem sei o meu nome
Eu sou o começo do fim que te espera

Eu sou, nem mais sei o que sou
Nem quem sou, sou de mim desconhecido
Sou andante, navegante, me sou perdido
Sou você que nem mesmo me conhece

Eu sou enfim, a moça da janela
O olhar perdido em seu mundo interior
Eu sou o rio acalentando a flor

Mas minha obra prima ainda está por vir.

Roberval Paulo

A VOLTA - Roberval Paulo

                      Uma homenagem ao poeta Mário Quintana

Avistei ainda de longe
                  as primeiras casas
Os campos conhecidos
         chegavam-me aos olhos
Um pouco diferentes
Mas com a mesma familiaridade
Entrei na Avenida Principal
As casas pareciam cumprimentar-me
Muros sorriam
Estavam com saudades
Paredes novas e retocadas
Portas e janelas
                  de caras novas
Pisei o chão da minha rua
Eles me saudaram
Um olhar asfáltico
Entrei na casa da minha
                                     infância
Acordando minhas lembranças
                                     todas verdes
 Elas receberam-me, em festa
                                     e maduras
E com um sorriso amarelo
Reclamaram tamanha ausência

Sorri de lágrimas nos olhos

Chorei de sorriso nos lábios.

Roberval Paulo

NOVELA VELHO CHICO: Maciel Melo fala de sucesso e cobranças na novela

NOVELA: Maciel Melo fala de sucesso e cobranças na novela Velho Chico 


Blog Cantigas e Cantos
Cantor desabafa sobre críticas pessoais em redes sociais
Maciel e Xangai, a dupla Egídio e Avelino / foto: Divulgação

Maciel e Xangai, a dupla Egídio e Avelino

foto: Divulgação


Nelson Rodrigues costumava dizer que um telefonema é uma janela aberta para o infinito. Que o diga o cantor e compositor Maciel Melo. Quando ele atendeu um telefonema, meses atrás, e alguém, de sotaque carioca, lhe perguntou os números dos músicos baianos Elomar e Xangai, ele não tinha ideia das mudanças que sua rotina sofreria dali em diante. A ligação era do Projac, os estúdios da TV Globo, na Zona Oeste do Rio. "Acho que foi (a cantora paraibana) Lucy Alves que passou o meu numero pra eles. Dei os telefones dos dois. Quando Xangai foi lá, mostraram uma lista com um bocado de cantadores pra fazer dupla com ele, que perguntou se meu nome estava na lista. Não estava, claro, eu nunca fui muito por lá, então não me conheciam. Me procuraram, conversamos, pediram que mandasse um vídeo, e me contrataram", conta Maciel Melo. Depois de muitos anos teve novamente uma carteira de trabalho assinada, e como ator.

Ele foi ao encontro do elenco em Delmiro Gouveia, onde se gravou o início da novela: "Cheguei lá, me passaram os personagens e me disseram que precisavam de uma música chamada A Lenda para abrir o capítulo inicial. A primeira voz da novela foi minha. Cortaram uns versos, ficou reduzida em um minuto para caber na cena", explica. O trabalho não se limitaria a cantar e compor. Teria também que atuar. A única experiência de ator que tinha até ali fora na adolescência, no colégio em Petrolina. Mas ele não titubeou em aceitar a empreitada. "É aquela coisa, o cavalo passou selado, você monta em cima e vai embora", enfatiza.

No entanto, montar naquele cavalo lhe renderia mais que pedidos de autógrafos e de selfies com fãs. As fotos de divulgação da novela, em que ele e Xangai vestem o figurino com que aparecem na primeira parte da novela, suscitou críticas nas redes sociais. O motivo foram as calças largas e os coturnos de cano longo, em que viram semelhanças com os trajes típicos dos gaúchos: "Tive que postar foto de Lampião de calças folgadas e botas feito as que eu e Xangai usamos na novela. Além do mais, aquilo ali é ficção, o personagem imaginado pelo pelos roteiristas é uma mistura de Lampião, Luiz Gonzaga, Tonico e Tinoco, os óculos são do Cego Aderaldo. Zé Limeira vestia camisa vermelha, calças amarelas, anelões. Não tem uma padrão. Mas aí a coisa foi tomando corpo, começou a agressão pessoal contra mim e Xangai. naquela de que a gente estava se vendendo e tal", desabafa.

Os ataques pessoais atingiram um ponto em que ele decidiu ligar para algumas pessoas, que, acusa, estavam querendo fazer polêmica de mesa de bar: "Na verdade, eles não gostam da Rede Globo, mas não souberam separar as coisas. É como se fossem os donos da poesia, que para eles tem que ser de um determinado lugar. Poesia não tem pátria. Porém, não ia continuar com o bate boca. Escrevi um texto e joguei direto no Facebook". Mas outros questionamentos e cobranças foram feitos.

José Teles
JC Online

quinta-feira, 31 de março de 2016

COISA BELA! - Roberval Paulo

Eu escrevo como quem sonha
Como quem sonha a coisa bela
E o sonho é de quem ama
Como a caça é do caçador

Eu sonho como quem ama
Como quem ama a coisa bela
E o amor é de quem cria
Como a criatura é do criador

Eu amo como quem cria
Como quem cria a coisa bela
E a criação é de quem escreve

De quem escreve certo por linhas tortas.
Roberval Paulo

DIFÍCIL DE SER - Roberval Paulo

É sempre difícil viver
Difícil mais ainda é conviver
Sonhar, chorar, brigar, amar...
                                               é difícil de ser.
Mas, no fim, tudo se resume no nada
No nada de que nada mais posso mudar
No nada de que nada mais posso fazer
No nada de não mais poder voltar atrás
No nada onde já sou história
                                       e não posso retroceder.

Este é o tempo de fazer e a vida
                                       não anda para trás
Olhe sim, para trás, para os lados e para a frente
                Reestude o caminho
                Faça a correção de rumo
E de bússola e coração na mão

                Siga em PAZ!

Roberval Paulo

ANGUSTIANTE ESPERA - Roberval Paulo

À noite, navegando
sou um rio sereno
leito manso e calmo
silencioso no silêncio das tardias horas
horas mortas da vida em sono de espera.

Se unir ao mar vai esse rio
na lentidão angustiante dos dias
às vezes revolto, carregando dores, bramindo
e por vezes, calmo
soberbo e magestoso
na alegria das flores e da vida.

À noite, o sonho amanhece
e o rio de minha alma   
                  só águas levando
para muito além do
                            engenho do medo
para onde meus sonhos
um dia chegarão.

Vai meu ser e
transporte este rio, que este rio
sou eu
sem o meu existir
e leve-me em suas águas
para eu encontrar-me
na reflexão dormente do meu travesseiro
na noite do meu dia inteiro

no espaço vazio do meu ser que te espera.

Roberval Paulo 

ENCONTRO - Roberval Paulo

Cansei de está a sós comigo e quero hoje
aproximar-me um pouco de ti.
Não que eu tenha me cansado de mim. Não é isso.
Ainda me amo e me amo com todo o amor
e força que tu me destes.
É que, simplesmente, senti a tua ausência no meu ser.
A culpa, com certeza, é minha. Minha mea culpa!
Minha tão grande culpa!
Este afastamento fui eu quem causei
pela minha imperfeição que não veio de ti.

Mas aqui te encontro e me encanto
pelo teu amor que é pleno e único.
Um amor que é teu e doado a todos,
indistintamente e indiscriminadamente,
somente pelo dom do amor maior.
O amor só pelo amor, que só é possível em ti.

E assim, silencio-me e no meu silêncio,
acordo minha alma que numa lágrima solitária,
repete e repete, ecoando na estrada: Te amo! Te amo!
Te amo!
Me amas! Eis a resposta.
Reina o silêncio. A paz acalenta o meu ser
Não digo mais nada. A tua luz brilha em mim.
Um claro existir rompe em soluços do meu peito
Os anjos choram e suas lágrimas deslizam pela minha face
Anunciando em meu ser o teu mais pleno e sublime AMOR!


Roberval Paulo

LEMBRANDO DO MEU PAI

Hoje amanheci assim meio saudoso, lembrando do meu pai 
que nos deixou a muito tempo. 
Lembrei a sua presença viva no nosso meio 
e me veio tão grande tristeza que umas lágrimas teimosas e desobedientes insistiram em descer pelo meu rosto. 
É incrível quanta falta ele nos faz, mesmo depois de mais de 30 anos de sua partida. 

Ao meu pai Vicente Paulo...Saudades!!!
...Minha homenagem com este lindo poema do poeta paraibano Ronaldo Cunha. 
Receba Pai, no reino dos céus e com as bençãos de Deus, 
estas linhas de amor, de dor, de saudade e da certeza do abraço 
e da presença eterna de Deus em nossos caminhos. 

À tua presença viva em mim:

CONVERSANDO COM MEU PAI - Ronaldo Cunha

Na quietude d'aquela noite densa,
Reclamei numa saudade a presença
Do meu Pai, que há muito já morreu!...
Sorumbático e só, fiquei na sala,
Sem ouvir de ninguém uma só fala:
Todos dormiam entregues a Morfeu.

Continuei sozinho da vigília,
Contemplando a placidez da mobília,
Num silêncio quase que perfeito;
Quebrado apenas com o gemer da rede,
As pancadas do relógio na parede
E o pulsar do coração dentro do peito.

De repente, coberta com um véu,
Uma nuvem nascia lá do céu,
E na sala onde eu estava, caí...
Era algo de espanto realmente
Dissipa-se a nuvem lentamente
E vai surgindo a imagem do meu pai.

Boa noite, meu filho! E se assusta?
Tenha um pouco de calma, porque custa
Novamente voltar por este trilho:
Eu rompi os umbrais da eternidade
Para, em braços de amor e de saudade,
Conversar com você, querido filho!

Tenho assistido todos os seus passos,
Suas lutas, vitórias e fracassos,
Em ânsias que não posso mais contê-las:
Eu lhe assisto, meu filho, todo dia,
Em suas vitórias choro de alegria
E as lágrimas transformam-se em estrelas.

Tenho visto também seus sofrimentos
Suas angústias, dores e tormentos
E esperanças que foram já frustradas;
Tenho visto, meu filho, da eternidade,
O desencanto de sua mocidade
E o pranto de suas madrugadas.

Compreendo, também, sua tristeza
Ante a ânsia que traz na alma presa
De adejar cortando monte e serra;
Sua ânsia de voar, cantando notas,
Misturar seu vôo ao das gaivotas,
Que beijam os céus sem deixar a terra


Mas, ao lado dos atos de grandeza,
Você me causa, filho, também tristeza,
Em desgosto minh'alma já flutua:
Ontem, porque não estava pronta a ceia,
Pra sua mãe você fez cara feia,
Bateu a porta e foi jantar na rua.

Você não soube, meu filho, e no entanto,
Ela caiu prostrada em um pranto
Soluçando seu íntimo desgosto.
Nunca mais, meu filho, isto faça,
Pois para um filho não há maior desgraça
Que em sua mãe deixar rugas no rosto.

Nunca mais a ofenda, nem de leve!...
O seu amor a ela aos céus eleve
E escute sempre, sempre o que ela diz.
Peça a Deus para durar sua existência
E, se assim fizer de consciência,
Você, na vida, tem que ser feliz.

Conduza-se na vida com altivez,
Fazendo da probidade, da honradez,
Para você o seu forte brasão;
Aprofunde-se, meu filho, no estudo,
Fazendo da justiça o seu escudo,
E amando o povo como ao seu irmão.

Continue no trabalho a que se entrega
Sem temer obstáculo nem refrega,
Pois com a vitória sempre você vai,
E se assim fizer, querido filho,
Sua vida há de ser toda de brilho,
E honrará o nome de seu pai.

E nisso a nuvem comoventemente,
Aos poucos se junta novamente,
Envolvendo meu pai num denso véu;
E num olhar tão meigo e bem sereno,
Dirige para mim um triste aceno
E vai de novo subindo para o céu!

E eu fiquei chorando de saudade,
Alimentando aquela ansiedade,
Sem poder abrandá-la. Que castigo!
Por isso nunca mais dormi. Vivo na ânsia,
Esperando que meu pai rompa a distância,
Pra vir de novo conversar comigo

Ronaldo Cunha Lima

Fonte: Poeta Pajeuzeiro


quarta-feira, 30 de março de 2016

A POESIA COMO REALIDADE ABSTRATA - Roberval Paulo

A poesia é libertação e o poeta
À força de sangue e suor, sonhos e inspiração
Se prende nas palavras
Se faz herdeiro do nada
À procura da liberdade que não vem.

A poesia o seu próprio caminho tem
É esta a estrada na direção contrária da vida
E em sentido oposto corre o poeta
Semeando palavras
Descartando sonhos e encantando serpentes
De veneno mortal
Que mais tarde lhe cravarão seus dentes.

A poesia é água vertente
Descansando nos leitos da verdade surreal
Encontrando guarida só no sonho do poeta
Que, isolado e só, recria dia a dia
Os caminhos da humanidade desumanizada.

A poesia é viagem desassossegada
Ventania cinzenta colorindo nostalgias
Em verde azul e róseo trabalha a mesma poesia
E o poeta, louco e sem cor
Desfila suas dores na amargura abstrata do nada
E sangrando seus horrores em sangue e tinta apenada
Ascende aos corações o bem do amor.

A poesia é bela e o belo é amor
E o amor se mortifica frente a realidade falida
E o poeta, triste e sozinho, se desintegra da vida
Saindo à francesa pela tangente do horror
E tanto dos seus sonhos a sonhos alheios semeou

Que fez-se sem sonhos a sua própria partida.

Roberval Paulo