segunda-feira, 17 de outubro de 2011

DESCONHECIDO - Roberval Paulo


Quando parti para os dias
Nem sabia, da noite, os seus mistérios
Se ia, sem destino, ao vento
Contando, dia a dia, a história de minha vida

Assim, quase sem querer
Sem vontade se seguir em frente, só seguindo
Sem entender o badalar das horas, só indo
Ingressava eu no ritmo louco do tempo

E este, o tempo, passando sem parar
Sem olhar para trás, sem se importar, só a seguir
E eu me vi no tempo, era eu e ele, ali
Caminhando a estrada que só se caminha
Que só se caminha, sem saber onde vai dar

Pude perceber
Que a caminhada é pra se levar
Que as pedras são pra se tropeçar e enfim
Cair e se levantar é pra quem sabe onde quer ir
Que os caminhos tortuosos é pra quem sabe
                                      andar e quer chegar
Que a estrada colorida, florida e iluminada
                                      é pra quem veio do mar

Que o destino é pra seguir com o tempo
Sem conhecer, sem saber, sem se abater
Só a romper a larga distância do sonhar
Sorrir e chorar no desconhecido mundo
Sofrer e amar ao som do vento vagabundo
Cantar, entre flores e lágrimas, a nossa breve trajetória

De quem veio, sem saber de onde
E vive, sem saber a razão
E fala, quando ninguém responde
Mas segue, segue em frente
A buscar o que nem sabe se existe
Às vezes, alegre, outras vezes, um ser triste
Que cansado da jornada, só pensa em chegar

Aonde? Não sabe...
Por que? Desconhece...
Mas sabe que um breve fim o espera
Porque a estrada se faz no caminhar.

Roberval Paulo

A ESTRADA - Roberval Paulo


 
Quisera eu ser a vida
A vida em tempo presente
A vida passando a limpo
A sujeira do passado
Queria até ver o estado
Vivendo a vida das gentes
Aquele tempo indecente
Nas mãos guerreiras do povo
Quisera eu ser homem novo
Não desses que em tudo crê
Daqueles que crê e não crê
Mas acredita, confia
No desenrolar dos dias
Na caminhada infinda
Seguir por esta avenida
Cheia de curvas e esquinas
Ver nos olhos da menina
Sua condição de criança
Sonhar e ter esperança
Nos olhos do criador
Na natureza e no amor
Razão de toda a existência
Sorrir e ser complascente
Construindo o seu destino
O homem se faz menino
No entardecer da jornada
Quisera eu ser a estrada
Dona de todo caminho
Da vida em desalinho
Que vê a ponte caída
Seguir na reta da vida
Salte o vão do desespero
Cair por despenhadeiros
Se aprumar na descida
E da chegada à partida
Ser vida, ser vida viva
Abandonar o cansaço
Matar um leão por dia
Não entregar-se ao fracasso
 Fé em Deus e paz na guia.

Roberval Paulo

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

ELE E O OUTRO - Roberval Paulo


ELE E O OUTRO
PONDERAÇÃO
As tartarugas bem mais que as lebres
 podem narrar sobre as estradas.(Kahlil Gibran)

Ele correu mais depressa que o outro
Mais na sua pressa, tropeçou e caiu
O outro, o sem pressa, passou e chegou
No meio do caminho a pedra “lhe” viu

Ele levantou, sacudiu a poeira
E se desembestou, sem rumo partiu
O outro estudou e traçou o caminho
Ele tá perdido, o outro intuiu

E ele, na pressa, passou do destino
E ao passar a porta se fechou
O outro, prudente, alcançou a glória

Ele, cansado, sentou e chorou
O outro escreveu o seu nome na história
Ele, sem história, pela vida passou.


Roberval Paulo

IDENTIDADE FILOSÓFICA - Roberval Paulo


IDENTIDADE FILOSÓFICA
Uma singela homenagem ao poeta João Cabral de Melo Neto 

A nossa identidade está na pedra
Na natureza da pedra
Na dureza da pedra
Na pedra que a tudo suporta e teme.

A nossa certeza é a da pedra
Da pedra que por tudo passa
Da pedra que em mim abraça
Seu corpo ainda semente.

Roberval Paulo

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

FUGAZ! - Roberval Paulo


Senti a vida fugir pelos vãos dos dedos
Fechei bem as mãos e agüentei firme
Abri os olhos e, surpresa
Dei de cara com a vida, que, apertada, olhava para mim.

Sorri em retribuição
Por tê-la ali tão na palma na mão

A vida tem alma, tem coração
Não fosse isso, a deixava partir
E ficava só, com a minha dor
Que não sei de onde vem
Mas que vive em mim

Tão viva que me faz pensar
Se a vida se for
Ela me deixará.

Roberval Paulo

O ATIRADOR - Roberval Paulo


O atirador mira... mira... mira...
Aperta o gatilho
Acerta o alvo
O coração.

Fere
Depois sofre por ter desferido tiro tão certeiro
Tão mortal, fatal
Tão letal de morte viva.

Mas já foi no não segurar das emoções
A bala não volta e
A ferida está aberta
O que fazer?

Redimir-se consigo mesmo e como punição
Não mais olhar para o Sol, nem para o Céu
Nem para as Estrelas, até penitenciar-se por
                                                                  completo.

E jamais voltar a desferir tiro
Tão carregado
Tiro tão carregado
                            de noite e de dor.

Roberval Paulo

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

EU E ELA! Minha eterna namorada - Roberval Paulo


Tô aqui, eu e a noite, minha silenciosa companheira, sorrindo comigo e me dizendo: Pode ir que eu te guio pelos caminhos ocultos e escuros para que os outros não vejam o teu pensar. 

E eu sigo, tranquilo e confiante, noite afora, de bar em bar, de boca em boca, de beijo em beijo, vivendo o que me é propiciado pela minha terna e envolvente companheira: a noite. 

E, no amanhecer de uma nova ordem, tudo se encerra e nos recolhemos extasiados e saciados mas, felizes, eu e ela, ao nosso leito manso e sereno e confortante para, juntos, recompormos as energias libertadas, fortalecendo-nos para a próxima jornada que se inicia ao anoitecer do próximo dia, onde os sonhos se fundem com a dura e cruel, mas, ao mesmo tempo, doce e meiga realidade...

Roberval Paulo