domingo, 27 de janeiro de 2019

O MENINO DO ESPELHO - Roberval Silva


O menino do espelho
O que vê? A sua imagem
Pra ele, desconhecida
Faz de cá uma careta
O menino, se assustando
Neste gesto simultâneo
É ele mesmo, o autor
Sem saber, inconsciente
Criador do personagem
Que muito nele se espelha
Mas que não chega a ser ele
É sua imagem, no espelho.

Ele agora dá risada
Passado o susto, o medo
Se acha até bonitinho
Não ele, o ser do espelho
Que lhe olha admirado
Leva o corpo pra esquerda
Outro gesto copiado
Êita! Risada gostosa

Um tapa, acerta o vidro
Mas que desapontamento
Sou em mim, só uma imagem
Um menino a contemplar
Outro menino que vejo
Mas não lhe posso tocar
Que bom fazer-lhe um carinho
O espelho não quer deixar
Uma cabeçada no vidro
Nossa, começo a sangrar
Ele também está sangrando
Bocas no mundo, buááá!
Ele por mim, eu por ele
Minha mãe vem consolar
Ele também tem uma mãe
Com a minha se parece
Olhe lá, já está sorrindo
Que malandro o safadinho

Vejam só, já está sumindo
Vai levando a minha mãe
Não, que a minha está aqui
Que bom que nós temos mães
Elas até se parecem
Ou melhor, são mesmo é iguais
Toda mãe é uma só
Toda mãe é a mesma mãe

Agora eu vou é dormir
Que colo bom é o de mãe
Amor-verdade é o de mãe
O espelho é que não tem mãe
Coitado, é tão sozinho
Mas tem aquele menino
O menino e a sua mãe
Que agora estão dormindo
Toda criança do mundo
No colo de minha mãe
No colo das nossas mães
Dormindo o sono dos anjos
No colo-berço do amor
Visto através do espelho
Que agora sorri, tão só.


Roberval Silva

LUZ DO INDECIFRÁVEL - Roberval Silva


Paredes de vento e concreto
Dor e prazer, agonia
Vida e morte, todo dia
Amor, paixão e desejo
A natureza do beijo
Autofágica sinergia
Florescer da anatomia
Carnes, e partes e formas
Momento, tempo presente
Cimento, sólido tear
Chão, vulcão e passamento
Rebentos, ondas geladas
Sensações desenfreadas
Química, corações e velas
Degelo, solar-lunar
Átomos das cores mais belas
O metafísico eclipse
Na geografia dos corpos
Mistério, chaves, segredos
Passíveis de desenredo
Sangue, nervos e magia
Explosão, disritmia
Possível punhal do tempo
Abismo de nostalgia
Bocas úmidas, gritos roucos
Labirinto de vontades
Revelando o inconsciente
Na luz do indecifrável.

Roberval Silva

IDENTIDADE FILOSÓFICA - Roberval Silva


A João Cabral de Melo Neto



A nossa identidade está na pedra
Na natureza da pedra
Na dureza da pedra
Na pedra que a tudo suporta e teme

A nossa certeza é a da pedra
Da pedra que por tudo passa
Da pedra que em mim abraça
Seu corpo ainda semente.

Roberval Silva

EVOLUÇÃO - Roberval Silva


Poeta das palavras
Palavras que nada dizem
Palavras que tudo dizem
Palavras que nunca passam
Palavras, só palavras
Que dizem o quer dizer
Até o que se não quer dizer
E vão de encontro a outras palavras

Palavras que cantam o sol
E a lua e tantas coisas
Cantam o amor pela vida
E a saudade de tempos passados

Contam a história dos povos
E todas as línguas são só palavras
Idiomas e dialetos de sons
Leve evolução da humanidade
Caminho das palavras que não passam
Poesia-sonho para um mundo melhor.

Roberval Silva

ESTIGMA DO NADA - Roberval Silva


Tudo vale
porque o que vale é ser
e ser todos são
senão nada seríamos

Ser nada é não ver o dia
não sentir o aroma das flores
não achar o broto da vida
no sopro do amor infinito

Tudo vale
até mesmo o sair do caminho
o desviar do destino e ter viva
a paixão do cruel despertar

A chama flamejante, esta chama
tudo vale, esta chama é um momento
o alento, o tempero, o segredo
que do nada se vai para o sonho

O sonho de que tudo vale
até mesmo o estigma do nada
o estigma de que nada se é
quando somos a razão de um tudo.

Roberval Silva

ESTRADA - Roberval Silva


Quisera eu ser a vida
A vida em tempo presente
A vida passando a limpo
A sujeira do passado
Queria até ver o estado
Vivendo a vida das gentes
Aquele tempo indecente
Nas mãos guerreiras do povo
Quisera eu ser homem novo
Não desses que em tudo crê
Daqueles que crê e não crê
Mas acredita, confia
No desenrolar dos dias
Na caminhada infinda
Seguir por esta avenida
Cheia de curvas e esquinas
Ver nos olhos da menina
Sua condição de criança
Sonhar e ter esperança
Nos olhos do criador
Na natureza e no amor
Razão de toda a existência
Sorrir e ser complacente
Construindo o seu destino
O homem se faz menino
No entardecer da jornada
Quisera eu ser a estrada
Dona de todo caminho
Da vida em desalinho
Que vê a ponte caída
Seguir na reta da vida
Salte o vão do desespero
Cair por despenhadeiros
Se aprumar na descida
E da chegada à partida
Ser vida, ser vida viva
Abandonar o cansaço
Matar um leão por dia
Não entregar-se ao fracasso
Fé em Deus e paz na guia!

Roberval Silva

ANGUSTIANTE ESPERA - Roberval Silva


À noite, navegando
sou um rio sereno
leito manso e calmo
silencioso no silêncio das tardias horas
horas mortas da vida em sono de espera.

Se unir ao mar vai esse rio
na lentidão angustiante dos dias
às vezes revolto, carregando dores, bramindo
e por vezes, calmo
soberbo e magestoso
na alegria das flores e da vida.

À noite, o sonho amanhece
e o rio de minha alma     
                  só águas levando
para muito além do
                            engenho do medo
para onde meus sonhos
um dia chegarão.

Vai meu ser e
transporte este rio, que este rio
sou eu
sem o meu existir
e leve-me em suas águas
para eu encontrar-me
na reflexão dormente do meu travesseiro
na noite do meu dia inteiro
no espaço vazio do meu ser que te espera.


Roberval Silva

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

ATIRADOR PASSIONAL - Roberval Silva


O atirador mira... mira... mira...
Aperta o gatilho
Acerta o alvo
O coração
Fere
Depois sofre por ter desferido tiro tão certeiro
Tão mortal,  fatal
Tão letal de morte viva.

Mas já foi no não segurar das emoções
A bala não volta e
A ferida está aberta
O que fazer?

Redimir-se consigo mesmo e como punição
Não mais olhar para o Sol, nem para o Céu
Nem para as Estrelas, até penitenciar – se por
completo

E jamais voltar a desferir tiro
Tão carregado
Tiro tão carregado
                        de noite e de dor.

Roberval Silva

ELA QUE NÃO CONHEÇO III - Roberval Silva


Ela chegou
Chegou e não conversou
Me abraçou
Me beijou
Me amou
Me falou do futuro
E da vida
Do outro lado do muro
Se fez dona de mim
E dormiu ao meu lado
Bem cedo, o café
Mais amor e o paraíso.

Mas depois ela partiu
Como veio, assim
Num estalo
Sem conversa
Só disse que tinha que ser assim
E deixou em mim um vazio imenso
Parece até que me levou de mim.

Roberval Silva

BREVE MOMENTO DE REFLEXÃO - Roberval Silva


Só entro na poesia quando esta sai de mim
Eu a encontro quando ela me deixa partir

Aí reflito! E ela pensa comigo
E juntos, passeamos por um campo florido
Ela agride bem o meu interior
E a resposta se vai em palavras
Palavras soltas, palavras tortas
Palavras, só palavras, sem nada a dizer

Aí, mais reflito!
O entendimento da poesia
Esta ignora-me  e me leva a voar
Povoa os meus sonhos, e medos, e segredos
Toma corpo e invade o meu mundo
Traz de volta o meu sonho no vôo de um pássaro
Percorre em segundos a larga distância do existir
E sua tinta se espalha feito sangue

Aí, ainda mais reflito!
Aí, sou poeta.

Roberval Silva

ASTRO VAGABUNDO - Roberval Silva


Como mais posso te amar
Se tenho em mim um amor
Igual ao mar de profundo

Amo por somente amar
O mistério do amor
Enquanto o mundo for mundo

Este amor é como o sol
Que mesmo anos luz distante
Aquece a bola do mundo

Viajo por este amor
Nas asas estelar do ser
Feito um astro vagabundo.

Roberval Silva

SONETO DA COMPARAÇÃO - Roberval Silva


Ele correu mais depressa que o outro
Mas na sua pressa, tropeçou e caiu
O outro, o sem pressa, passou e chegou
No meio do caminho a pedra “lhe” viu

Ele levantou, sacudiu a poeira
E se desembestou, sem rumo partiu
O outro estudou e traçou seu caminho
Ele tá perdido, o outro intuiu

E ele, na pressa, passou do destino
E ao passar a porta se fechou
O outro, prudente, alcançou a glória

Ele, cansado, sentou e chorou
O outro escreveu o seu nome na história
Ele, sem história, pela vida passou.

Roberval Silva

ENSAIO PARA A MINHA MORTE - Roberval Silva


Eu sonho a paz porque meus dias só viveram guerras.

Eu canto a vida porque meus pés só cantaram a estrada.

Eu choro os amores idos porque meus olhos não os viram chegar. E ao chegar, porque não foram vistos, partiram.

Eu sonho o tempo porque minhas horas se foram em minutos.
E meus anos se viram passar de forma supersônica.

Eu canto porque a música se fez não mais ouvir e meus discos foram-se; era uma vez discos que eu ouvia.

Eu choro noite afora porque meus dias não mais me dão lágrimas.                                                                                                    
Soluço seco
Eco de sons desafortunados
Ponta de faca.

Luminosidade inata
Fio da navalha
Letal.

Roberval Silva

REESTUDO - Roberval Silva


É sempre difícil viver
Difícil mais ainda é conviver
Sonhar, chorar, brigar, amar...
                                               é difícil de ser.
Mas, no fim, tudo se resume no nada
No nada de que nada mais posso mudar
No nada de que nada mais posso fazer
No nada de não mais poder voltar atrás
No nada onde já sou história
                                       e não posso retroceder.

Este é o tempo de fazer e a vida
                                       não anda para trás
Olhe sim, para trás, para os lados e para a frente
                Reestude o caminho
                Faça a correção de rumo
E de bússola e coração na mão
                Siga em PAZ!

Roberval Silva

DANTE - Roberval Paulo


                             Uma homenagem e alusão a Dante Alighieri

Agora já não sonho como “Dante’s”
Alma minha que ao partir, feria-me
De ver-me triste, chorava e sorria
Um louco do deserto, um viandante

Na estrela distante, quis um dia
Avistar-me a sós com o criador
E deleitar-me em teu sublime amor
E deste mundo, esquecer as agonias

E um dia pensava em ser grande
Quão pequeno este mundo me faz
Quão pequeno me sou neste sonho

De sentir-me assim o meu peito brande
Qual verdade esta busca me traz
De ver-me alegre me sou tão tristonho.

Roberval Silva

EVOLUÇÃO - Roberval Silva



Poeta das palavras
Palavras que nada dizem
Palavras que tudo dizem
Palavras que nunca passam
Palavras, só palavras
Que dizem o quer dizer
Até o que se não quer dizer
E vão de encontro a outras palavras

Palavras que cantam o sol
E a lua e tantas coisas
Cantam o amor pela vida
E a saudade de tempos passados

Contam a história dos povos
E todas as línguas são só palavras
Idiomas e dialetos de sons
Leve evolução da humanidade
Caminho das palavras que não passam
Poesia-sonho para um mundo melhor.

Roberval Silva

DOS GRANDES PRAZERES - Roberval Silva


Os grandes prazeres da vida
São tão simples
                   como beijar um filho
Comer chocolate, por exemplo
É tanto prazer
                   que de tão bom
parece pouco.
Mas ninguém dá valor
                   nem importância maior
Querem mesmo é dinheiro
mesmo que neste
                  não se sinta sabor
E sim o prazer
                   de comprar o mundo
mesmo perdendo
                            o prazer maior,
                   de comer chocolates
                   de beijar seu filho
                   de sorrir com ele
                   de sonhar com ele
                   de mostrar-lhe o mundo
                   de mostrar-lhe a vida
e nele, fazer um afago
         e dele, receber um carinho.

Roberval Silva

POESIA - Roberval Paulo


Só entro na poesia quando esta sai de mim
Eu a encontro quando ela me deixa partir

Aí reflito! E ela pensa comigo
E juntos, passeamos por um campo florido
Ela agride bem o meu interior
E a resposta se vai em palavras
Palavras soltas, palavras tortas
Palavras, só palavras, sem nada a dizer

Aí, mais reflito!
O entendimento da poesia
Esta ignora-me  e me leva a voar
Povoa os meus sonhos, e medos, e segredos
Toma corpo e invade o meu mundo
Trás de volta o meu sonho no vôo de um pássaro
Percorre em segundos a larga distância do existir
E sua tinta se espalha feito sangue

Aí, ainda mais reflito!
Aí, sou poeta.

Roberval Silva

AO MESTRE - Roberval Silva


Ah! Mestre
Quizera eu sonhar o teu saber
e neste sonho
realizar meus dias
nos dias do eterno aprender

Quizera ainda dominar
o dom primoroso
o primoroso dom de ensinar
e na janela aberta da mente humana
transportar todo o conhecer da “lida”
transmitir as ilusões perdidas
os ensinamentos necessários à vida
no aprender do caminhar.


Roberval paulo

À ESTRADA - Roberval Silva


Sou contrário à classe que desclassifica outra
Quero mais é integrar todos e juntar todos no mesmo balaio e misturar
Misturar bem e apurar o melhor de cada.

Não às discriminações
Não às abnegações do prazer e da vontade
Não e não mesmo às velhas regras                       
Feridas de morte em um passado que já não existe.

Lutas de classes, se entendam
E formem uma classe maior
ÚNICA!
Em um mundo maior, solidário
Que agregue a todos sem segregar um sequer.

Roberval Silva