quinta-feira, 2 de julho de 2020

CONTANDO ESTRELAS! - Roberval Paulo


O existir está longe de ser isso que vês
O existir é tudo e não me iludo
Do ópio imaterial
à escuridão do matagal
Da imensidão do ser
à insignificância do ter

Penso, logo existo!
Descartes descarta a carta
Na casta de um mundo real
De um pensar que se desgasta
Se não pensar, inexiste?
Descartes engasga e disfarça

Existir é ser espaço
É ser vento e ser andança
É ser o risco no passo
É ser o passo na dança

Viver é tão perigoso!
Ainda mais quando o vivente
Vivendo a vida se lança
Ao exercício de um tudo
E vestido de esperança
Se vai por aí sem rumo
Rumo ao rumo da distância
Tão distante que aproxima
A velhice da infância

Existir é contar estrelas e delas nada saber
Mas saber, inclusive, que elas nos habitam
Saber que no frigir dos ovos e da própria existência  
Somos mais estrelas que pó
Mais espaço que esfera
Mais trigo que pão de ló

Enfim, mais nuvem do que artérias
Mais espírito que matéria
Mais multidão do que só.

Roberval Paulo

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