sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A FILOSOFIA E A ARTE DE TUDO SER - Roberval Paulo


         É verdade. Ela não tem movimento próprio. Nem vida, eu acho. Mas como gosta de estar pelo caminho. Já viram. Está sempre no nosso caminho. Quando não é a própria, literalmente, é o seu nome.
         Você é uma.................no meu caminho!
         Você é uma.................no meu sapato!
         Lembrem-se, até JESUS citou-a quando disse a Pedro: tu és..................., em ti edificarei minha igreja.
         Ela é importante, tá pensando o que! Inclusive, quando usada como arma. Esteve na funda de Davi e logo após, na testa do gigante Golias, vencendo-o. Ou terá sido Davi o vencedor, e não ela? Bem, acho que os dois venceram.
         Estão vendo, ela tem história. É quase impossível esquecer-se dela. Está presente até na dor do rim. Muitas são brutas, grossas, indelicadas. Outras são lapidadas, sensíveis e gozam de maiores privilégios. Estão sempre ornamentando valiosas jóias e esculturas; decorando lindos ambientes e estruturas. Outras são as próprias jóias e esculturas, portanto, de muito valor.
         Uma coisa, porém, não se pode negar; são infinitas as suas utilidades, serve para tudo. Bem, sem exageros, para quase tudo.
         Mas coitada. Não tem vida própria. Não vive; vegeta, ou será pedreta, pedrita, pevita? Há! Sei lá. Está por aí, no meio de nós, com vida ou sem vida. Pera aí, com vida ou sem vida? Deus meu, ajude-me; acho que me perdi. Raciocinem comigo sobre uma daquele inteligente. “Penso, logo existo”. Ela não pensa, então ela não existe???? Mas se penso nela e posso vê-la; e posso senti-la ― senti-la na mais verdadeira acepção da palavra ― ainda ontem, senti-a na cabeça numa discussão e, na corrida, para não senti-la por todo o corpo, não adiantou muito, pois acabei sentindo-a no dedão do pé. Também pudera; a coitada estava lá, abandonada, sozinha, perdida no meio do caminho. Eu disse pra vocês; ela está sempre no meio do caminho, como reportou o poeta. Aquele, o Carlos lá de Itabira. Bem, antes de me perder feito ela, voltemos ao raciocínio. Se posso vê-la e senti-la, isso quer dizer que ela existe, mesmo sem pensar. Ora pois, partindo desse pressuposto ou seria desse princípio? Esse português ainda me mata. Não importa; partindo dessa coisa, ou melhor, daqui mesmo, daqui pra frente, eureka!!! Cheguei à impensável conclusão de que “pra existir não é necessário pensar.” Não, não é isso. Recapitulando. Ela existe e penso nela, mas ela não pensa nem nela, nem em mim, nem em qualquer outra coisa. Conclusão. “Penso, logo existo, mas, se não penso e outros pensam em mim a ponto de me sentirem, então existo.” Não, está tudo um tanto quanto confuso. Já dizia outro que, quando a esmola é demais, o santo desconfia, então, esse pensamento não deve estar correto, até porque a esmola não tem nada a ver com o santo nem com ela mesma. Eureka! Achei. De novo! A conclusão certa é: “penso, logo existo. Ela não pensa, mas também existe, pois eu penso por ela e sinto-a.” É, ainda ficou um tantinho quanto confuso, mas tá bom. Não vou mexer mais não, senão, daqui a pouco, eu é que não vou estar mais pensando. Nossa, agora usei não à vontade, mas, não tem nada não. Pra variar, mais nãos. Fazer o que, pra dizer não tem que usar não, senão, não é não, não é mesmo. Mas chega de nãos, vamos ao que interessa ou... desinteressa, sei lá.
         Antes dessa coisa de pensar e não pensar, existir e não existir, eu estava falando sobre uma coisa. Droga, já repeti de novo, agora foi a vez da coisa. Tudo bem, deixa pra lá. Vamos à revelação. De quem eu estava falando? Ou melhor, do que eu estou falando? Quem adivinha? Ham! Já descobriram? O que! Sabiam o tempo todo? Eu dei muito na cara; dei bandeira né? Assim perdeu a graça. Todo o tempo falando sobre a pedra, coitada, com um ligeiro suspense, pra fazer a revelação só no final do texto e logo no começo, vocês já haviam sacado. Mas não tem nada não. Êta! Quanto não. Sai do meu caminho não, parece pedra. Não e pedra, pedra e não, desimportante. O importante é que conhecemos um pouquinho mais da vida desta já tão depedrada pedra, e, deixando a modéstia ― a pedra ― de lado, um pouquinho mais de filosofia também, não é verdade? Podem confessar, eu deixo. Eu faço uma confissão. Não sei e não sei mesmo porque a pedra, ou a srª. Pedra, ou dona Pedra e, já que existe, pode até ser o bicho pedra, ou seria bicha, por se tratar do feminino? Não sei e como eu ia dizendo, não sei “de novo” porque esse trem ― coitada, é trem, é coisa, é pedra, êta português ― chamou tanto a minha atenção, fazendo-me escrever tanto. Essa coitada leva uma vida tão besta.
         Como podem ver, não fala; não escuta; não sente; não chora; não vê, quase sempre é vista; não tropeça, os outros é que tropeçam nela; não anda, e, com um tremendo esforço mental, recorrendo inclusive ao grande filósofo francês Descartes, concluí que ela também não pensa, mas existe. Repito. Pode uma vida mais besta?
         Bem, dentro de uma análise filosófica, eu afirmo: pode. A minha própria. Falo, escuto, sinto, choro, vejo, tropeço, ando e penso; e sofro. Vocês podem me perguntar. Nossa, como ele pode comparar uma vida humana tão ativa à vida de uma pedra? A vida de gente à vida de animal? E eu lhes responderei.
         Primeiro, pedra não é animal. Pedra é “matéria mineral dura e sólida” ― (Dicionário Aurélio). É da família dos que não pensam, mais existe, acho.
         Segundo e também para finalizar, por ironia do destino ou não, ou por ironia da própria pedra “filosófica”, ela não sofre, ao contrário de mim, que sofro e muito, não podendo calcular a extensão nem a dimensão desse sofrimento. Mas sei que é tão grande que está me sufocando e já não consigo falar, escutar, sentir, chorar, ver, tropeçar, andar e nem mesmo pensar. E se não mais penso, já não existo, ou existo, porém, sem pensar, tendo que esperar e me contentar com o pensamento dos outros para existir, se é que há alguém capaz de pensar em mim como eu penso na pedra. Porquanto, já privado de todas essas faculdades, não sou mais que ela. Não sou mais que uma pedra.
         Quisera eu ser como tu Pedra, que, sem vida própria, não pensa; e sem pensar, não sente; e se não sente, não sofre; e se não sofre, é mais feliz do que eu.

Roberval Paulo

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