quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

CRENÇA! - Roberval Paulo

A folha da palmeira roça o meu rosto
E me diz palavras de vento
E lá distante, bem antes do advento
O coqueiro já era na beira do mar

As baleias e o seu canto chamando o amor
O apito do trem e a vida a passar
No norte da vida o sino a tocar
E os trilhos sem fim de um andar agnóstico

O existir é maior que a razão
E o natural é mais que qualquer plano
A ciência é o limiar de todo engano
E o amor não é fogo que arde sem se ver
É, antes de ser fogo, a própria chama
Que inflama, reclama e se porta feito dor
Mas é em mesmo tempo a cura indolor
Que faz a mãe amar o filho ingrato
Esquecendo de infarto e de súbito impacto
A dor maior, a dor sem cor
A dor de amor, a dor do parto

A ciência não é cura, é realmente infarto
A natureza é que leva a vida adiante
O homem traça a estrada errante
E se faz perdido entre a multidão
E eu o esteio do seio de Abraão
Que culpa tenho eu, eu não fiz a vida!
É que o pastor agora é a ovelha perdida
Se perdeu do rebanho e está sozinho.
O errar do homem é o seu existir
Que orgulho em ir sem saber pra onde ir
E se dizer senhor do seu destino?

Ora pois, que destino! Qual destino?
Como enfim a roda explicar?
A bola do mundo no espaço a girar
E eu rodando com meus pensamentos
Minha cabeça na bandeja do tempo
E eu avesso à cronologia
Mato um leão todo santo dia
E sou réu confesso do santo no altar
O bom da vida é saber esperar
Mas firmar o passo tão logo nasce o dia.

Roberval Paulo

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