O que é isto?
Nova nomenclatura de um estilo?
Um novo rótulo?
Qual o propósito?
Perco-me, às vezes, nessa definição e
procuro encontrar fundamento não que justifique o termo, mas sim, que traga à
luz condicionada dos nossos olhos tortos, a clarividência “clarividente” do
alimento, no crucial momento de o deglutir.
Esta é a mais nova definição do que se
intitula de "Música Sertaneja". Mas é na verdade só um chamariz, um
novo atrativo; a nova mensagem extraída do mesmo texto, já velho e subjacente.
Uma maneira nova de trazer o velho ou uma maneira velha de ganhar o novo. Façam
a leitura que entenderem e captarem, pois, tudo dá no mesmo.
Como está escrito no Livro do
Eclesiastes: >"Tudo o que acontece ou que pode acontecer já aconteceu
antes. Deus faz com que uma coisa que acontece torne a acontecer (cap. 03,
vers. 15)". Acredito que esta passagem não deva ter nada a ver,
especificamente, com o texto que ora me proponho a escrever, mas, no mínimo,
retrata que, tudo o que foi é o que é, e tudo o que é, é o que será. É assim
também com a música sertaneja. Para resumir, parafraseio o poeta que já dizia:
"Nada mudou".
Esta é, pura e simplesmente, mais uma
"comum" estratégia de marketing; mais uma da nossa sensacional mídia
e do nosso ensandecido mercado, altamente e compulsivamente consumista que
consome o velho vestido de novo, mesmo sabendo a roupa nova ser a sobra do
tecido envelhecido e já, outrora, consumido.
O sertanejo é o sertanejo e, na
concepção musical, foi e sempre será a música cantada por uma dupla de
artistas, independentemente do gênero apresentado. Numa outra concepção e talvez,
a mais original e que conserva a verdadeira acepção da palavra, é a música que
retrata e relata a vida do campo, do povo realmente sertanejo, seus costumes e
hábitos, seus amores, suas ilusões e desilusões, seu contato com a natureza
enfim, seus mais olvidados e desprezados e, ao mesmo tempo, expressivos e
indiscutíveis valores e que, há muito tempo, foram relegados ao esquecimento na
música cantada hoje.
Portanto, sertanejo ou sertanejo
universitário, é a mesma coisa, é mais do mesmo e só isso, com a diferença de
que, para se inserir e se destacar no universo do ambiente “sertanejo
universitário”, é necessário que seja uma “duplinha, sem pejorar”, assim, mais
ou menos esteticamente bonitinhos - essa é a rotulação das gravadoras - sem
considerar estilo ou classificação, ficando as duplas menos afeiçoadas e mais
velhas no título de somente sertanejo mas, no entanto, cantando o mesmo.
Necessário ainda se faz considerar que
a maioria dos ditos "sertanejo universitário" nunca passaram por uma
Universidade e que o público que os curte está bem longe de ser só
universitários, posto que essa música se espalha pelos rincões sem fim do nosso
Brasil, distante e a perder de vista das universidades, impregnando-se na pele
e nos sentimentos dos seus apreciadores, tornando-se parte integrante no
processo cultural e social do País e, porque não dizer, econômico.
Só me resta a pergunta que não quer
calar: E aí? Vamos de sertanejo ou sertanejo universitário? Ou os dois?
Tranco-me em mim, reflito e respondo por todos nós brasileiros: Isso é o que
tem que ser. Escolham e curtam, até que o sucesso “novo” canse e caia e,
consequentemente, deixando de ser novidade, as vendas diminuam, para que, como
nova alternativa de faturamento e de sucesso, se crie um novo rótulo para tentar
as nossas preferências e inteligência, e nós, sábios e senhores dos nossos
desejos e prazeres e meros instrumentos da sede filosófica do ser,
adentraremos, natural e instintivamente, pela fonte da novação para fazer beber
e alimentar os nossos sonhos velhos.
Roberval Paulo