O
SISTEMA POLÍTICO E A EVOLUÇÃO DO TER
Sucesso não é só ter dinheiro.
Dinheiro é importante e necessário porque o mundo é capitalista e precisa-se
dele para viver. Porém, sucesso, não é só ter dinheiro.
Ter sucesso é estar em paz consigo e
não perder a essência do natural, a autenticidade e os valores familiares,
éticos e morais. Se harmonizar com o mundo, coisas e pessoas, situando-se
passivo e serenamente no ambiente no qual está inserido.
Ter sucesso é poder levantar-se todo
dia com a consciência em paz e, à noite, voltar para o aconchego do seu lar ainda
em paz e poder dormir o sono dos justos.
Ter sucesso é compreender o contexto e
a conjuntura da qual participa, ter voz ativa e consciência coletiva para
discernir e assimilar que a estrutura é de todos e todos dela dependem, buscando,
inteligentemente, o ponto de equilíbrio necessário à sobrevivência de todos.
Precisamos nos mexer. Não sei como mas
precisamos lutar contra o poder do ter em detrimento do ser. O dinheiro virou a
verdade absoluta das coisas e tudo pode por ele. Tudo é permitido desde que o
objetivo seja angariar e ganhar mais e mais. Acostumamo-nos a isso e
fermentamos em nós a insensatez, a indiferença e impotência diante da situação.
Ressalto sempre que o dinheiro é
importante e é necessário tê-lo, pois é com ele que compramos a nossa casa, o
nosso carro, a faculdade do nosso filho. É ele, o dinheiro, que nos permite
desfrutar de tanta coisa boa que a vida oferece, satisfazendo e massageando o
nosso ego e vaidade. O que refuto é que o TER não pode sobrepor-se ao SER.
Observem quanto caótica é a nossa
realidade. Não existe, em nosso país, nenhum outro segmento que, num intervalo
de tempo tão curto, promova mais o enriquecimento ilícito de pessoas do que o
sistema político. E não tem, para isso, uma explicação lógica, pois, somando-se
todas as rendas e subsídios percebidos oficialmente, revela-se uma discrepância
e incompatibilidade enormes em relação ao patrimônio adquirido.
Mas todos consideram normal e isso
mostra o quanto somos acomodados e alheios à nossa realidade e o quanto nos
corrompemos também.
A realidade é cara e se apresenta aos
nossos olhos para ser comprada todos os dias na sua forma mais dura e cruel.
Ø
Meninos
abandonados e unidos nos sinais de trânsito das grandes cidades ou nos pátios
tortos das praças mortas, tão pequenos e maltrapilhos que nem gente parece,
tendo sacos de cola como alimento e roubando, roubando o que a sociedade lhes
roubou: a dignidade, a inclusão, a família.
Ø
O
tráfico aliciando crianças e jovens, homens e mulheres e matando
inescrupulosamente quem não aderir ou se calar ao seu poderio.
Ø
As
nossas meninas, a cada dia, mais novas, expostas e jogadas nos campos de
prostituição, vendendo o corpo e a alma, vendendo os seus sonhos de menina e
perdendo a sua aura de anjo.
Ø
As
famílias enclausuradas pelas cercas físicas e cercas do medo, assustadas e
angustiadas por aqueles que o estado não acolheu e que a evolução lhes negou
oportunidades.
Ø
Pais
de família começando a roubar, atirados ao submundo pela necessidade,
desnorteados entre a fome e a necessidade de comer, entre a dignidade e o
descaso.
Ø
As
cidades inchando-se dia após dia de sonhadores em busca de dias melhores e que
se transformarão, num futuro bem próximo, em um novo bando de miseráveis que arribaram
do campo, do interior, tangidos pela miséria e pela fome e que agora engrossam
as estatísticas da miséria e da exclusão nos leitos aflitos e imundos das
formidáveis favelas.
Enquanto isso, o outro lado do mundo
se movimenta; a outra face da moeda mostra a sua cara sinistra. Seus jatinhos e
carrões, mansões e paraísos fiscais, piscinas e restaurantes, bebidas e...
mulheres meninas. E estas, usadas e descartadas, já não mais vivem, vegetam,
relegadas à impureza e ao assalto da sua alma e do seu corpo. Esta é a nossa
realidade e nós entendemos tudo isso como normal.
Vejam o nosso congresso nacional, que
mistura! Lá tem representantes de todos os segmentos que se dizem organizados
do nosso país. Só não tem, de verdade, representantes do povo, do povão mesmo,
da massa. Defendem somente os seus próprios interesses e não os interesses do
povo.
Coitados de nós. Somos pobres e fracos,
alienados e subordinados, interesseiros e imediatistas, sem consciência social e
hipócritas. Que o silêncio, a impotência, a parcimônia, a insensatez, o
imediatismo, o comodismo, a omissão e a degradação humana falem por todos nós.
Sentar-nos-emos na esfera do tempo e
que o cortejo das horas nos leve ao outro lado do sonho, onde a realidade já
foi subjugada e a vida, sozinha e única e despida de toda podre matéria, viva,
esplêndida e celestialmente, para todo o sempre.
Amém!
Roberval Paulo