segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

SE AVEXE NÃO - Roberval Silva


Se avexe não
A canção já disse um dia
Que o caminho se fechou
E chegou lá quem nem ia

Se avexe não
A saudade apertou o peito
O sol veio e já se foi
E tudo está do mesmo jeito

Pra ir nessa estrada e chegar
Seja grande ou pequeno
Lavrador ou seu doutor,
Tem mesmo é que suar

Pra esse caminho finalizar
É preciso suor, muito suor
Mas é preciso mais ainda seu doutor
Muito amor, mais de amor, tudo de amor
Vencer qualquer espécie de dor
Sinônimo do dom de amar

Se avexe não
Ter coração bom não é não se afligir
Ter força no peito não é a vida agredir
 O meu cão me ama tanto e nem sabe falar

Se avexe não
O titanic afundou, sucumbiu um império
Um filho de carpinteiro se fez em eterno
Se avexe não...imprescindível é amar.


Roberval Silva

PAISAGEM DO MEDO - Roberval Silva


Esta é minha realidade
É assim que preciso ver
Assim que preciso agir
Assim tenho que viver

Não posso fugir do medo
O meu medo é um outro ser
Um ser que está em mim
Um ser que não vou vencer

Não posso fugir do medo
O meu medo é minha sina
Sina do medo, um enredo
Que o medo a mim se destina

Vencer o medo seria
O mesmo que vencer a mim
Vencendo o medo, me venço
Serei vencido de mim

Então ao invés de vencer
Preciso o medo enfrentar
Saber c’ ele conviver
Junto a ele caminhar

Conhecer a tênue linha
Entre o medo e a coragem
Um começa, outro termina
E equilibra a paisagem.


Roberval Silva

O PARTIR ANTES DO TEMPO - Roberval Silva


Às vezes penso
Que a razão do existir
Que o chegar e partir
E o segredo de tudo, até mesmo o ir e vir
Está nos porquês?
Penso e repenso até o mundo ficar tenso
Inclinado, descaído, pendido, penso...
Penso, só penso!
Mas não me atrevo a dizer.

Porque se vem, porque se vai?
Porque que vem quem nada tem?
Por que um ser se detém antes mesmo de nascer?
O porquê de se ficar tão pouco tempo aqui
O porquê de se passar tanto tempo sem medida
Na subida desta vida sem este sol merecer.

Penso também que é porque não existe um por quê?
O porquê é só um ser mais enigma que razão
Não um ser, uma equação que se vai a resolver
Que ninguém conhece a fórmula,
Que não perece, renova, sem nunca ao seu fim chegar
Qual romeiro em romaria pelo caminho sagrado
Que segue desarvorado só com o instrumento da fé
Novena que só rezando faz um milagre danado
Sem nada ser explicado, sem porque, sem paramento
Mas que segue devorando
Homens, sonhos, pensamentos
Semeando contra o vento a planta do bem virá?

Porque se vai pela estrada sem ter chegado a sua hora?
Tanta dor deixa pra trás, tanto sofrer... Oh! Tormento!
Quanta saudade a encher o existir do meu peito
Angústia que quase mata que é um tanto doer!
Que não explica, se sofre,
Que nada entende, só sente
Que não quer este presente que a vida lhe fez herdar
Quer até recomeçar, mas não tem forças... é inclemente.
O sangue de um inocente que o inevitável levou
O cálice que derramou antes do seu transbordar
Como entender o porquê da vida interrompida
Sem um motivo aparente, sem a razão se mostrar.

Penso que é por quê... Não sei dizer o porque
Talvez nem tenha porque, talvez tenha.  O que fazer?
É o mistério da vida que segue pregando peças
Não deixa aresta nem brecha para um porque indagar
Só nos resta o consolar compassivo de meu Deus!
Oh! Deus de misericórdia! Deus de bondade infinita!
Já que sofri esse golpe que não pedi pra sofrer
Dê-me forças pra viver... pra vida continuar
Cubra-me com o teu amor, com tuas bênçãos Senhor
Mostre-me o prosseguir, me guie com o seu olhar
Sou só dor, sou um ser andante que se perdeu no caminho
A força deste destino eu não queria viver
Mas se me deste é porque me conheces mais que eu
Vais saber como amparar seus filhos que estão perdidos.
Senhor Deus, me dê motivos e me livre de morrer
Nos oriente a encontrar a razão de estar aqui
Eu não sei mais nem porque estou a sofrer assim
Porque os tirou de mim? Porque nos deixou tão só?
Meu Jesus! A tua benção, tua guia e proteção.
Ensine-me a não morrer, dê-me os porquês do ocorrido
Porque que me tens nascido pra suportar tanta dor?
Meu Senhor! Só o teu amor pode enfim me redimir
Ajude-me a persistir nesse caminho de morte
Dê-me um norte que preciso o teu amor encontrar
A vida continuar, nova razão existir
Meu Jesus! O teu perdão! Que essa cruz que te chagou!
Seja a mesma a me valer pra tua luz eu seguir.

Que eu possa um dia entender que assim é que tinha que ser
Que tudo valeu a pena e que nada foi em vão.
Amém Senhor! O teu perdão!


Roberval Silva

sábado, 9 de fevereiro de 2019

JOVENS - Roberval Silva


Nosso direito de sonhar
É nossa razão de viver...

Rebeldes mas não sem causa
Na decadência do ter
À busca de um bem maior
Os neurônios a ferver
Não queremos só favores
Vamos a amadurecer
Ter garantias, direitos
Muitas fronteiras romper
Nosso direito de sonhar
É nossa razão de viver!

Preservar nossa inocência
Em paz sempre amanhecer
Fadas e papai noel
Presentes no nosso ser
Não agridam nossos sonhos
Não digam, vão se... arder
Saibam que os anos jovens
É que nos fazem crescer
Nosso direito de sonhar
É nossa razão de viver!

A nossa inconsequência
É da idade, a saber
Nossa santa ignorância
Não tem que sempre ceder
Mas no mínimo repreendam
Com respeito e vão ver
Que chamamos a atenção
Mais é só pra convencer
Nosso direito de sonhar
É nossa razão de viver!

Não queremos ter razão
Queremos só desdizer
O que foi sacramentado
Antes mesmo do nascer
De que o jovem é problema
Que nós não temos querer
Que nós não temos verdade
Não vamos emudecer
Nosso direito de sonhar
É nossa razão de viver!

Quando digo aos meus pais
Eu não pedi pra nascer
Não é só a rebeldia
Que impregnam o meu ser
È o não ser entendido
É o não nos compreender
É não nos dar atenção
E assim nos desconhecer
Nosso direito de sonhar
É nossa razão de viver!


Roberval Silva

O FIM DO MUNDO - Roberval Silva


O som ensurdecedor do trovão ressoou na imensidão azul do céu plúmbeo de medo. E o relâmpago, em raio eletrizante e cintilante, escorreu deslizante na abóbada em mistério anunciada, se perdendo no negro azulado da distância. A atmosfera cerrou as portas e o céu abriu suas comportas, inundando impetuosamente a noite em torrentes de terror e desespero. Escuridão era o que havia. Escuridão de uma noite sem luz e sem lua. De estrelas ausentes, apagadas no imaginar do escuro e de sonhos preocupados na inocente perspectiva de ver ali o mundo acabar.

A profecia se cumpria sem preparo e sem cerimônia. O fim chegava desavisado e não mais havia tempo nem mesmo pra falar de amor. Gritos se ouviam em todas as direções. Gritos de desespero e de impotência frente ao fenomenal evento. Uma desordem geral ordenou no mesmo ambiente e espaço todos os seres, revelando uma harmonia inexistente nos tempos da normalidade. Homens e mulheres se juntavam a leões e outros mais bichos, sem se incomodarem. Crianças escalavam dragões e serpentes, na inocência incomum de ambos, sem perigo algum. O ondular das ondas feria o espaço vazio com sua lâmina líquida e aterrorizante, vencendo quaisquer obstáculos, seja de gente, bicho ou outra qualquer natureza, se arremessando ferozmente sobre tudo, devorando sonhos, pensamentos, vidas e histórias, sendo história viajante em viagem de céu. Volumoso corpo aguacento, vivo e adjacente, num surdo rumor de riso e raiva, subindo vertiginosamente pela estrada aberta e larga que só se estreita nos limites dos céus. A natureza fechou seus olhos e se entregou, caindo por terra que nem terra mais é, levantando desta todos os filhos da luz ou trevas, levados igualmente e impiedosamente ao destino da viagem última. Consumado está o que não mais se pode remediar. O que foi é o que é e o que é pode ser o que não será.

O surpreendente de tudo, de todo este imensionável evento é que, mesmo no fim, a vida não acabava. A vida, quando chega ao fim, ainda é, em si, um ser existente. Ela se renova, transfigura-se e habita galáxias desconhecidas da terra a tão largos anos luz distantes, pelo espaço de um instante. E galáxias e outras mais galáxias se encheram de vida. Da vida que a terra renegou por não mais suportar. Se encheram da vida que não mais podiam aqui continuar, mas, que não estavam prontas, aperfeiçoadas para ao destino final e último chegar. E assim, vão por aí, habitando galáxias e mais galáxias até atingirem o último estágio da existência. Morrendo e recomeçando, em nova vida inserida, desconhecida de todos a nova vida investida, mas que é o caminhar lento, cortante e necessário para o aperfeiçoamento total enquanto ser, enquanto ser existente vindos do amor maior, vindos do seio do seu criador, por amor, e que se desvirtuaram por pouco quererem entender do amor que os trouxe à existência e então, penalizados estão, sentenciados a habitarem, de vida em vida, o desconhecido, até se conhecerem e se entenderem enquanto seres de amor que são, e, assim, alcançarem, pelo dom do amor, pelo dom do saber amar, o reino prometido lá no seio daquele que um dia por aqui caminhou e plantou com todas as letras e com o adubo da verdade, a razão da sua vinda e sacrifício. Lá no seio daquele que, se dirigindo a todos, indistintamente e indiscriminadamente, disse em tom de sabedoria e de santificação, a verdade maior: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao pai senão por mim”.


Roberval Silva

LUA DOS AMANTES - Roberval Silva


                                              O novo quando vem...

Uma cantiga de vento enrubesceu os amantes
E na moldura viajante dos olhos
A noite vinha lá do fim do mundo

A lua se escondia na brancura da nuvem
E na sonoridade da alma
Um silêncio se ouvia
Um silêncio de fazer cantar os mudos

O som do amor se encarnou por toda a luz
E todas as bocas disseram o provar de corpos em êxtase

Um uivo abafou a imensidão da distância
E o prazer aquiesceu a alma enamorada

Os desejos ardem, convulsões desenfreadas
Sensações que se revelam
Na rima solta do verso

O ar cansado desmaia
Num respirar lento e cortante
E a forma disforme se renova
No formatar novo do novo.


Roberval Silva

INSENSÍVEL DESTINO - Roberval Silva


Essa é a banda de chão onde meu pai se enganchou
Depois que ele ali chegou nunca mais pôde sair
Plantou ali sua sorte no seio da terra bruta
Findou seus dias de luta quando estacionou ali
Sentiu sem saber que ali era sua última parada
Não mais teria o alento de outro chão procurar
A força mística do tempo fechou pra ele suas portas
A força torta que faz tudo direito ficar

Ele arvorou nessa terra, plantou tudo que podia
Plantou seu dia, sua noite, seus filhos, sua mulher
Plantou sua sina de ser ali seu começo e fim
Fez crescer nele a ilusão de ser ali seu mister
Não mais teve um outro norte, tudo ali se resumia
Quando distante se ia, era umas léguas de lá
Voltava no mesmo rastro, não se sentia seguro
No imaginário, seu muro, não podia ultrapassar

Ele tanto trabalhou, lavrou cacunda de pedra
Terra de areia lavada, terra boa de lavrar
Terra bruta, desalmada, que a enxada não cortava
Terra que até então ninguém ousava lavrar
Terra que só de olhar já se via o fim do mundo
Terra que não se indicava nem pra o inimigo morar
Terra de sol, sem aguada, sem vida, terra de terra
Terra que só tinha um fim, seu corpo ali sepultar

Meu pai levantava cedo, fazia o sinal da cruz
E caminhava pra lida tão feliz que até doía
Estava ele no dia antes do sol clarear
Isso quando tinha sol, que o céu de lá nem se via
Era um tempo de agonia, que lugar mais assombrado
Nem sol de dia, nem lua de noite, só escuridão
Uivo de fera bravia na distância de dez braças
Meu pai pronto a enfrentar, ali ele era um leão

Nunca vi tanta energia, que destino mais cruel
Tinha que beber o féu e era feliz o meu pai
Trabalhava, trabalhava, um trabalho sem retorno
Só ele via o soldo, nunca reclamou um ai
Trabalhava, se matava, suava as horas do dia
Todo o tempo só se via ele a terra labutar
De carpir a derrubada, roça de toco, queimada
Lá estava ele na foice, no facão, a augurar

Parecia num agouro a predizer seu destino
Mas era só a missão dada a um homem comum
E meu pai vestiu sua cruz, era sua, ele levava
E se fazia feliz sem ter conforto nenhum
Sua fé nunca abalou, que força descomunal
Ele era um homem de reza, de oração e de louvor
Na enxada, no sol quente, rezava a Ave Maria
Nosso Jesus, O Pai nosso, nosso Deus, nosso Senhor

Mas mesmo sabendo todos ser neste chão o seu fim
E condenando meu pai a uma morte anunciada
Meu pai nunca se entregou, nunca se desalegrou
Era a vida mais feliz que este lugar habitava
Era um mundo de alegria o olhar terno de meu pai
O pai da serenidade a perseguir a esperança
Esperança a lhe brotar no cantar de um passarinho
Jeito manso e compassivo, um sorriso de criança

Talvez se tivesse ele outras terras encontrado
Não era assim tão feliz como nesse fim de mundo
Tinha algo de encanto esse encontro inusitado
Meu pai e essa sua terra, o primeiro sem segundo
Vê um separado d’outro era inimaginável
Meu pai amava esta terra e ela o venerava
Ela até correspondia lhe dando tudo do nada
Era sentido aos olhos como um ao outro amava

Meu pai era essa terra e ela era o meu pai
Eram sim, inseparáveis, por uma força incontida
Força que não vinha dele, nem dela, força fadada
A força de uma chegada com requintes de partida
Compreendi todo o destino que este chão encerrava
Esse chão é do meu pai e do meu pai esse chão
Fez nesse chão sua sina de agora e para sempre
Aqui plantou sua história e também seu coração.


Roberval Silva

CONSTATAÇÃO - Roberval Silva


           O sistema político no nosso Brasil, desde os primórdios, é o meio e o caminho mais fácil para o enriquecimento ilícito dos seus praticantes. 
            Infelizmente, isso é uma herança cultural e, tantos outros, que ao longo do tempo, criticaram o sistema; ao chegar lá, fizeram tudo do igual, fizeram o mais do mesmo. 
        Confesso que sou um pouco descrente com uma alteração desta realidade. As discussões a respeito do tema que se tornam públicas quase sempre são instrumentalizadas para a promoção pessoal dos seus protagonistas. Que pena! Queria acreditar que é diferente. 
      Mas, mesmo na descrença, é preciso acreditar. Vamos acreditar, pois ainda existe, tenham certeza, uma centelha de esperança em nossos rostos e corações tão surrados pelas decepções.  

Roberval Silva                                         

ENCONTRO - Roberval Silva


Eu ainda pensei em desistir
Quando as forças quiseram me deixar
E acuado e sofrido percebi
Que desistir era o fim antecipar
Era o fim chegando antes da hora
Era o fim sem existir o recomeço
Sei que a vida detém os seus tropeços
E o momento oportuno é agora
De lançar todos os meus medos fora
E a vida de frente enfrentar

Eu que quase não soube reagir
Quando os dias quiseram se findar
E o caminho que eu não queria ir
Se abria à minha frente feito o mar
Revirei minha história de mil horas
Refazer o caminho não tem preço
Renascer pela fé é um direito
É entender que existe um Deus lá fora
Que é vivo e presente, aqui e agora
E o seu sonho ele faz realizar

Nosso Deus anda solto por aí
Procurando sua casa de morar
Ele bate, não deixe ele partir
Abra a porta que ele vai entrar
Entrará na tua vida sem demora
Cuidará seu espírito com apreço
Sai ar sujo e entra o ar fresco
Nosso Deus em sua vida agora mora
Ceiará com você destino a fora
E sozinho jamais te deixará

Encontrei as razões pra prosseguir
Quando vi e senti Deus me abraçar
Ele disse, filho, vai, estou aqui
E eu fui a andar bem devagar
Toda dor de mim se foi embora
Seu amor em mim eu reconheço
Se sua vida estiver do lado avesso
Creia e busque esse nosso Deus agora
Ele é sim e chegará em nova aurora
Esse Deus que é vivo e sabe amar.


Roberval Silva

ESPERANÇA - Roberval Silva

Tudo passa
Todos passam
A vida passa
E nós ficamos

Ficamos a esperar
Que a vida passe e nos leve
Que o sonho passe e carregue
A nossa esperança vã

Que dizem nunca morrer
Que dizem sim, vai chegar
E o vento chega e descansa
No sol da virgem manhã
A nossa desesperança

Mas ainda assim ela vive
A esperança imortal se faz
Nós somos tão pequeninos
Nós precisamos ser mais
Desesperar não é luz
Desesperar não é paz
Então vamos a esperar
A nossa desesperança
Outra vez se esperançar.


Roberval Silva

É ASSIM! - Roberval Silva


Não estamos aqui sozinhos
Temos os nossos familiares, amigos
Temos com eles todos os problemas
Mas sempre temos neles o nosso consolo
O nosso conforto, a nossa grata satisfação
Pois temos a certeza
De que estamos antenados
Com uma força maior, superior a tudo e a todos
E é essa força que nos segura
Nos une e nos prepara
Pra enfrentarmos todas as situações
Boas ou ruins, fáceis ou difíceis,
Alegres ou tristes, de razão ou emoção.

E é essa força suprema
Essa força poderosa
Que explica toda a nossa existência
Todo o nosso existir
Essa força que é Deus
O amor que é de Deus
O suportar que é de Deus
A razão maior do seu amor por nós
Que nos entregou, nos enviou
Seu próprio Filho, Seu Filho amado
Para morrer por nós
E nos libertar
De todos os nossos pecados
Seu Filho Jesus Cristo!

E desde então
O mundo já não foi o mesmo
O mundo já não é o mesmo
Pois fomos transformados e salvos
Salvos e libertos
Pelo amor de Deus
Por Jesus Cristo
Seu Único Filho
Pelo seu sangue
Seu sangue na cruz
Derramado por nós
Pelo perdão dos nossos pecados
E a vida segue
E o amor existe
E o amor se renova
No amor de Cristo
Que nos salvou
Que é o caminho
A verdade e a vida
O alfa e o ômega
O princípio e o fim.
Salve Jesus Cristo!
Amém Jesus!


Roberval Silva

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

ÀS VEZES É PRECISO FALAR DE AMOR - Roberval Silva


Houve uma era em que mais se sentia o amor. E nesse tempo, um homem que viveu além de tudo e de todas as coisas possíveis e impossíveis, dizia: Amai-vos uns aos outros como eu vos amo. E disse mais: Amai ao próximo como a ti mesmo. Mas, plantar o amor é difícil; colher, muito mais difícil se faz. Ele foi perseguido, acusado, julgado e condenado e, foi morto. Seu pecado? – Falar e viver o amor.

A vida se fez diferente a partir daí. Com o seu amor infinito, libertou e salvou todas as gerações passadas, contemporâneas e futuras pelo seu sacrifício e sofrimento aos pés do calvário, sob o peso do lenho da cruz e pelo seu sangue, que alimenta todos os nossos dias. O mundo se dividiu entre antes e depois dele. A vida triunfou e venceu a morte e a fonte de água viva jorrou no seio da humanidade.

Hoje, depois de tanto tempo e situando-me dentro da realidade atual, pergunto a mim, sem poder livrar-me de uma estranha sensação de descontentamento e impotência: Nada valeu a pena? Será que tudo foi em vão? Recorro ao poeta, que em um tempo mais recente, dizia: Tudo vale a pena se a alma não é pequena. E assim, busco alcançar um entendimento que possa, pela força desse mesmo amor que é dele e que habita em mim, salvar-me e libertar-me das garras sangrentas do egoísmo e da ambição que, pela inconteste e maléfica influência do desejo negro do ter, instalou-se em nós e nos impede de abrir as portas para as virtudes do ser. O mundo já não canta o amor e a história continua a se fazer com sangue. No ciclo vicioso do poder, a ambição gera seus filhos, verdadeiros pais do egoísmo. A destruição é total e se demorarmos a acordar desse sono e sonho malditos, o caminho é sem volta.

A natureza, agonizando, pede socorro, sem ser ouvida. Os valores éticos e morais foram-se, partiram para uma galáxia distante, expulsos pela nossa soberba e cobiça e pelo nosso desprezo e desrespeito ao semelhante. Só se vê descaso pelas questões sociais que afligem o planeta e aniquila milhões de semelhantes, transformando-os em bichos à procura do nada, abatidos todos os dias pelo tiro certeiro do inevitável, agindo fora do seu ciclo natural. A sociedade perece, vítima do seu próprio desamor e leva consigo a inocência que um dia foi nossa e que reinava nos recôncavos perdidos e esquecidos do limiar da existência. O caos é total e parece não ter fim. Tornar-se-á eterno como eterno foi um dia, o amor, que dorme, enfraquecido e desqualificado, no seio desumano dos humanos que somos.

É preciso acordar. O sinal de alerta já foi acionado e a luz das trevas só espera o momento para reinar sozinha, negra e sem cor e desesperançada de viver.  A vida, agora, ínfima e tênue, continua a descendente escalada e, teimosa e obstinada que é, procura perenemente e incessantemente pelo amor, para ressuscita-lo.  Procura incansável, mas necessária. Só este encontro será capaz de alterar esta realidade; vida e amor andando juntos.

Assim, penso e ainda me sinto existir e volto a crer, depois de tantas incertezas, que a humanidade tem jeito. Mas, depende de todos nós. Vamos dar essa mãozinha. Vamos, todos nós, juntos, ressuscitar o amor e semeá-lo em nosso meio e seio. E aí, cheios e repletos do amor, vamos trilhar juntos os caminhos da paz, da compreensão, da igualdade e da vida digna e justa a todos, indiscriminadamente. Só o amor de tudo é capaz e é, esse amor, o dom maior. Está no ser e o ser é o espírito e é tudo o que resta. O espírito que é amor; o amor que é espírito. É isso mesmo. Sendo assim, estamos recomeçando no caminho certo.

É o que sempre digo.
Às vezes é preciso falar de amor.

Roberval Silva

SERTANEJO UNIVERSITÁRIO - Roberval Silva


O que é isto?
Nova nomenclatura de um estilo?
Um novo rótulo?
Qual o propósito?

Perco-me, às vezes, nessa definição e procuro encontrar fundamento não que justifique o termo, mas sim, que traga à luz condicionada dos nossos olhos tortos, a clarividência “clarividente” do alimento, no crucial momento de o deglutir.

Esta é a mais nova definição do que se intitula de "Música Sertaneja". Mas é na verdade só um chamariz, um novo atrativo; a nova mensagem extraída do mesmo texto, já velho e subjacente. Uma maneira nova de trazer o velho ou uma maneira velha de ganhar o novo. Façam a leitura que entenderem e captarem, pois, tudo dá no mesmo.

Como está escrito no Livro do Eclesiastes: >"Tudo o que acontece ou que pode acontecer já aconteceu antes. Deus faz com que uma coisa que acontece torne a acontecer (cap. 03, vers. 15)". Acredito que esta passagem não deva ter nada a ver, especificamente, com o texto que ora me proponho a escrever, mas, no mínimo, retrata que, tudo o que foi é o que é, e tudo o que é, é o que será. É assim também com a música sertaneja. Para resumir, parafraseio o poeta que já dizia: "Nada mudou".

Esta é, pura e simplesmente, mais uma "comum" estratégia de marketing; mais uma da nossa sensacional mídia e do nosso ensandecido mercado, altamente e compulsivamente consumista que consome o velho vestido de novo, mesmo sabendo a roupa nova ser a sobra do tecido envelhecido e já, outrora, consumido.

O sertanejo é o sertanejo e, na concepção musical, foi e sempre será a música cantada por uma dupla de artistas, independentemente do gênero apresentado. Numa outra concepção e talvez, a mais original e que conserva a verdadeira acepção da palavra, é a música que retrata e relata a vida do campo, do povo realmente sertanejo, seus costumes e hábitos, seus amores, suas ilusões e desilusões, seu contato com a natureza enfim, seus mais olvidados e desprezados e, ao mesmo tempo, expressivos e indiscutíveis valores e que, há muito tempo, foram relegados ao esquecimento na música cantada hoje.

Portanto, sertanejo ou sertanejo universitário, é a mesma coisa, é mais do mesmo e só isso, com a diferença de que, para se inserir e se destacar no universo do ambiente “sertanejo universitário”, é necessário que seja uma “duplinha, sem pejorar”, assim, mais ou menos esteticamente bonitinhos - essa é a rotulação das gravadoras - sem considerar estilo ou classificação, ficando as duplas menos afeiçoadas e mais velhas no título de somente sertanejo, mas, no entanto, cantando o mesmo.

Necessário ainda se faz considerar que a maioria dos ditos "sertanejo universitário" nunca passaram por uma Universidade e que o público que os curte está bem longe de ser só universitários, posto que essa música se espalha pelos rincões sem fim do nosso Brasil, distante e a perder de vista das universidades, impregnando-se na pele e nos sentimentos dos seus apreciadores, tornando-se parte integrante no processo cultural e social do País e, porque não dizer, econômico.

Só me resta a pergunta que não quer calar: E aí? Vamos de sertanejo ou sertanejo universitário? Ou os dois? Tranco-me em mim, reflito e respondo por todos nós brasileiros: Isso é o que tem que ser. Escolham e curtam, até que o sucesso “novo” canse e caia, e, consequentemente, deixando de ser novidade, diminuam as vendas, para que, como nova alternativa de faturamento e de sucesso, se crie um novo rótulo para tentar as nossas preferências e inteligência.

E nós, sábios e senhores dos nossos desejos e prazeres e meros instrumentos da sede filosófica do ser, adentraremos, natural e instintivamente, pela fonte da novação para fazer beber e alimentar os nossos sonhos velhos.

Roberval Paulo

FILHO DO VENTO - Roberval Silva


Não há o que nos espera 
que não seja o anoitecer
O anoitecer que escurece 
o sonho que não se fez
Um anoitecer de morte 
que o calor da vida esfria

Eu sou refém da poesia

Não quero ser este fim 
em mim plantado na pele
Na matéria que de terra 
é o fim e seu começo
Ser clandestino no berço, 
cada vivente em seu tempo
Sou eu o filho do vento, 
só termino com a manhã

E se a manhã começa, 
sou eu também o começo
A origem que do fim, 
foi em mim que iniciou
A Fênix, que ao morrer, 
nem sabia ser eterna
A onda que transportava 
o mar do meu desamor

Fui a roda e rodando, 
rodei o meu existir
Na direção de um verso 
que eu sabia ser reverso
O verbo que só em si 
é começo e fim eternos
Sou eu o clarão da vida. 
Sou eu o lobo de mim.


Roberval Silva

ANOITECER DE UM POETA - Roberval Silva


Ainda não me disseram quem vinha pra me alegrar.
É que eu estava triste, uma tristeza tamanha
que eu quase que nem sabia o que é ser um ser feliz.

Mesmo com a ilusão de que aqui se caminha,
de que aqui se aninha e encontra a felicidade,
mesmo sabendo a cidade ser uma nossa aliada,
andando em suas calçadas de luzes e sons perdidos

De passos quase inauditos, de gritos roucos, de dor,
da noite em seu esplendor a acolher seus incautos,
da vida em passos largos, parando na encruzilhada,
na ponte que está cortada para não mais se emendar

Do ser que foi a voar por perder a caminhada,
da fonte doce e cansada correndo sem se abater,
do canto de um padecer mais solidão que tristeza,
mais prazer que aspereza na calda de um bentevi

Te vi ali, não aqui, resposta de um sabiá:
cantar bem eu sei, sou eu, que não me encontro é com a sorte,
só caminho é para o norte, um caminho conhecido,
não de mim, de um ser antigo que habitava outro mundo

E me disse – extra pra o mundo! – cheguei e aqui sou razão,
não me fale de emoção, isso já foi, é passado,
agora o tempo é fechado, não há lugar para a dor,
todo o horror que habitava o universo do ser,
hoje vai a entardecer o que amanhã for amor.


Roberval Silva

AMORES - Roberval Silva


Eu não sei nem porque 
estou sozinho
Acho mesmo que não sei 
é me querer
Porque sei que quem me quer 
eu sempre acho
Mais não sei mesmo 
é como junto viver

Me encontro com alguém 
e desencontro
Não me prendo no perfil 
do seu amor
Logo, logo, outro amor 
já se apresenta     
E eu me perco, vou e volto 
nesse ardor

De querer o amor 
que vem depois
E não querendo perder 
o que “vêi” primeiro
E nessa ida e vinda 
eu sou maneiro
Mais acabo me entregando 
a um novo amor
Que não é nem o primeiro, 
nem o último
Perco três e de novo 
sozinho estou.


Roberval Silva

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

FILHO DO NATURAL - Roberval Silva


Sou filho do natural, 
na ilusão do existir
Sou enfim a existência 
que se finda e continua
A vida, que ao morrer, 
nem sabia ser eterna
Que de tanto caminhar, 
se despiu, já está nua
Despida está a vida 
de toda carne-matéria
Na evolução filosófica 
da entidade espiritual
Que de tanto conhecer 
se vê no início do nada
Se precipita ao prover 
o mistério sideral.

Roberval Silva

DESCULTURADO - Roberval Silva



Pensando culturalmente
Não sou eu aculturado
Sou em mim, desculturado
Numa cultura sem cura
Mas que cura dor de dente
E até quebranto com reza
Portanto, não se despreza
A cultura que é escura
E sim, encontre brancura
Na cultura de sua terra

É a cultura de um tudo
No meio de tanto nada
É a folha da enxada
Antes da folha papel
É a falácia dos mudos
Valendo mais que a história
É uma oração sem glória
Um conceito sem virtude
O teatro de gertrudes
Fecha o pano sem memória

O homem deixa o existir
No tempo e não segue em frente
Mas Deus, compassivamente
Está no tempo e não passa
Mesmo intentando seguir
O homem finda, se encerra
De terra, volta à terra
Não importa o que ele faça
Mais se merecer a graça
Não encontrará mais guerra.


Roberval Silva

DESCAMINHO - Roberval Silva

Tem hora que a estrada fecha
Tem vez que o caminho acaba
É aí que o rio enche
E não tem jeito, deságua
Deságua água no mundo
A quem quer, a quem não quer
E a estrada fechada
Em dilúvio é desmanchada
Indo ao revés do moinho
E o caminho acabado
Se vai assim desaguado
Em outro novo caminho

O caminho que se abre
A estrada que continua
Mas seu humilde passante[
Nunca mais será o mesmo
Será um outro do mesmo
Seguindo um outro caminho

E o passante, enluarado
Novo estradar aventura
Ainda mais caminhante
Ainda mais açoitado

Mas nunca mais será o mesmo
Novo caminho em começo
Endireitando-se o avesso
De um caminhar renovado.


Roberval Silva