Houve
uma era em que mais se sentia o amor. E nesse tempo, um homem que viveu além de
tudo e de todas as coisas possíveis e impossíveis, dizia: Amai-vos uns aos
outros como eu vos amo. E disse mais: Amai ao próximo como a ti mesmo. Mas,
plantar o amor é difícil; colher, muito mais difícil se faz. Ele foi
perseguido, acusado, julgado e condenado e, foi morto. Seu pecado? – Falar e
viver o amor.
A
vida se fez diferente a partir daí. Com o seu amor infinito, libertou e salvou
todas as gerações passadas, contemporâneas e futuras pelo seu sacrifício e
sofrimento aos pés do calvário, sob o peso do lenho da cruz e pelo seu sangue,
que alimenta todos os nossos dias. O mundo se dividiu entre antes e depois dele.
A vida triunfou e venceu a morte e a fonte de água viva jorrou no seio da
humanidade.
Hoje,
depois de tanto tempo e situando-me dentro da realidade atual, pergunto a mim,
sem poder livrar-me de uma estranha sensação de descontentamento e impotência:
Nada valeu a pena? Será que tudo foi em vão? Recorro ao poeta, que em um tempo
mais recente, dizia: Tudo vale a pena se a alma não é pequena. E assim, busco
alcançar um entendimento que possa, pela força desse mesmo amor que é dele e
que habita em mim, salvar-me e libertar-me das garras sangrentas do egoísmo e
da ambição que, pela inconteste e maléfica influência do desejo negro do ter,
instalou-se em nós e nos impede de abrir as portas para as virtudes do ser. O
mundo já não canta o amor e a história continua a se fazer com sangue. No ciclo
vicioso do poder, a ambição gera seus filhos, verdadeiros pais do egoísmo. A
destruição é total e se demorarmos a acordar desse sono e sonho malditos, o
caminho é sem volta.
A
natureza, agonizando, pede socorro, sem ser ouvida. Os valores éticos e morais
foram-se, partiram para uma galáxia distante, expulsos pela nossa soberba e
cobiça e pelo nosso desprezo e desrespeito ao semelhante. Só se vê descaso
pelas questões sociais que afligem o planeta e aniquila milhões de semelhantes,
transformando-os em bichos à procura do nada, abatidos todos os dias pelo tiro
certeiro do inevitável, agindo fora do seu ciclo natural. A sociedade perece,
vítima do seu próprio desamor e leva consigo a inocência que um dia foi nossa e
que reinava nos recôncavos perdidos e esquecidos do limiar da existência. O
caos é total e parece não ter fim. Tornar-se-á eterno como eterno foi um dia, o
amor, que dorme, enfraquecido e desqualificado, no seio desumano dos humanos
que somos.
É
preciso acordar. O sinal de alerta já foi acionado e a luz das trevas só espera
o momento para reinar sozinha, negra e sem cor e desesperançada de viver. A vida, agora, ínfima e tênue, continua a
descendente escalada e, teimosa e obstinada que é, procura perenemente e
incessantemente pelo amor, para ressuscita-lo. Procura incansável, mas necessária. Só este
encontro será capaz de alterar esta realidade; vida e amor andando juntos.
Assim,
penso e ainda me sinto existir e volto a crer, depois de tantas incertezas, que
a humanidade tem jeito. Mas, depende de todos nós. Vamos dar essa mãozinha.
Vamos, todos nós, juntos, ressuscitar o amor e semeá-lo em nosso meio e seio. E
aí, cheios e repletos do amor, vamos trilhar juntos os caminhos da paz, da
compreensão, da igualdade e da vida digna e justa a todos, indiscriminadamente.
Só o amor de tudo é capaz e é, esse amor, o dom maior. Está no ser e o ser é o
espírito e é tudo o que resta. O espírito que é amor; o amor que é espírito. É
isso mesmo. Sendo assim, estamos recomeçando no caminho certo.
É
o que sempre digo.
Às
vezes é preciso falar de amor.
Roberval Silva
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