Pe. Zezinho escreveu em uma linda
música da sua imensurável obra, que carrega exatamente esse título:
"MENORES ABANDONADOS / Alguém os abandonou / Pequenos e mal amados / O
progresso não os adotou". (Pe. Zezinho).
Realmente, o progresso não os adotou.
Renato Russo questionava, em um outro momento e situação: "Que país é
este? Que país é este?”
E eu questiono até hoje, sem poder disfarçar a tristeza da impotência e a
naturalidade e normalidade do mea culpa. E, revestido de uma amarga revolta,
parafraseando Renato Russo, replico: Que progresso é este? Como chamar
progresso um sistema que abandona crianças que ainda nem gente
"adulta" é ao destino das ruas sem direção e ao acaso de tão
malfadada sorte? Que modelo de sociedade construímos?
E ainda batem no peito e mostram a cara lavada e sem culpa nem vergonha nenhuma
dizendo que a onda agora e necessidade primeira é um tal desenvolvimento
sustentável. Que precisamos continuar nos desenvolvendo, porém, sem agredir e
sem destruir. Não sabem o que estão dizendo. Ou sabem e disfarçam a realidade
nua e crua pela fantasia de um discurso e de um sistema que exclui, segrega e
extingue vidas das mais diversas todos os dias.
Quer agressão maior do que matar e aniquilar sonhos e desejos de gerações
inteiras?
Quer agressão mais cruel do que
continuar a deixar dormindo quem ainda nem acordou?
Como redimirmos-nos um dia por
ferirmos com aço letal e fatal os sonhos coloridos de cores mil do tempo de
criança e transforma-los na fatalidade clara e real do preto no branco essa
geraçãozinha que continuamos cinicamente a dizer e com todas as letras que
esses são o futuro do amanhã? Quanta hipocrisia. Que sociedade continuamos a
reinventar e aprimorar mundo e tempo a fora. Porque, salvo as conquistas
tecnológicas que atende, se manifesta e se consolida em todas as áreas,
tudo dá no mesmo. Tudo tá no mesmo ou seja, a dominação dos mais fracos pelos
mais fortes continua.
Foi assim desde os primórdios e continua tudo igual.
Aí vem os grandes estudiosos e falam de evolução da humanidade. Das conquistas,
das descobertas. Dos modelos de sociedade construidos, modulados, destituidos e
reconstruidos ao longo do tempo da existência humana. Das relações humanas, dos
valores éticos e morais. Da revolução na indústria, do crescimento e
consolidação do comércio, das relações comerciais internacionais. Do
intercâmbio e interação dos governos. Da integração econômica mundial;
transnacional. Da interferência e ingerência dos governos na cozinha alheia,
onde não lhes dizem respeito.
Enfim, da globalização. Enfim, da maximização dos ganhos em geral por quem
detém o capital, seja de onde for, seja onde for. Não importa a origem. Seja
asiático ou árabe, europeu ou ocidental, lícito ou ilícito, fruto da exclusão
ou da extinção do que seja, mesmo que sejam vidas, o capital é o capital e como
tal é tratado em qualquer destino a que se dispuser chegar e normalmente e
legalmente, é recebido com pompas e com todas as honras.
Que bonitinho. Tudo está igual desde quando começou. Fico tão baratinado e
perdido quando passo a analisar que não sei a quem atribuir culpas e
responsabilidades. Acho que a todos nós mesmos, enquanto sociedade que somos.
Porque desde as antigas gerações é assim; os fortes e os grandes dominam e aos
mais fracos e pequenos, cabe calar e aceitar.
Na geração dos dinossauros, igual. Dos homens das cavernas, na idade da pedra,
tudo igual. Na geração de Adão e Moisés, tudo igual continuou. Quando JESUS
CRISTO veio ao mundo para tudo mudar, tudo continuou exatamente como estava, no
mesmo. O que esperar mais? Em que ou em quem acreditar ou por qual causa lutar
se a história e o passar dos anos, geração por geração, nos mostra que nada
mudou. Lá no livro bíblico do Eclesiastes, este já dizia: "Que é o que foi? É o mesmo que o
que há de ser: Que é o que se fez? É o mesmo que o que se há de fazer. Não há
nada que seja novo debaixo do sol, e ninguém pode dizer: Eis aqui está uma
coisa nova. Porque ela já a houve nos séculos que passaram antes de nós. Não há
memória do que já foi, mas nem ainda haverá recordação das coisas que têm de
suceder depois de nós, entre aqueles que hão de existir em tempo a elas muito
posterior." Eclesiastes, cap. 1, vers. 9-11.
Ele estava certo, mesmo tão questionado em seu tempo. Realmente não há
nada que aconteça que se possa dizer: Vêde, isso é novo.
Sociedades e governos, em batalhas e guerras, continuam se degladiando e
vencendo o tempo e, praticando tudo do igual.
O homem, nós, somos por nós mesmos, ambiciosos e trazemos junto à ambição o seu
companheiro inseparável, o egoísmo. Aí está tudo e pronto. Com essas
características que são nossas por natureza e tendo a oportunidade de
desenvolvê-las, o resto que se dane.
Não importa o outro, quero saber é de mim. Não sei quem chora nem porque chora
e isso não me importa nem me diz respeito, desde que eu possa continuar a
sorrir. Essa é a nossa realidade.
Emily Bronte, grande escritora e poetisa britânica do século XVIII, autora
de O MORRO DOS VENTOS UIVANTES entre outros tantos, que publicou a sua primeira
obra com o nome de homem em razão da segregação feminina da época, escreveu:
"Se a mais vil das criaturas me esbofeteasse, eu não lhe retribuiria a
ofensa e sim pediria desculpas por tê-la provocado." (Emily Bronte)
É bonito isso, muito fácil de dizer e até de escrever, sem precisar recorrer à
grande escritora. Agora, viver é que são elas. Não carregamos em nós, apesar de
sermos em mesma natureza, o espírito bondoso de JESUS CRISTO, que ofereceu o
outro lado do rosto quando foi esbofeteado. Estamos mais para a popular
lei de Gerson do bateu levou. É a lei do toma lá da cá e o resto que vá
pras cucuias.
Falta amor ao próximo, como JESUS tanto pregou e difundiu e,
principalmente, amor a nós mesmos. Este foi o legado de JESUS quando veio ao
mundo: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti
mesmo." Mas nós, absortos e envolvidos que estamos e somos pela
sobrevivência, diga-se de passagem, louca sobrevivência, não o demos ouvidos e
não o entendemos e sim, o condenamos e o crucificamos.
Este mundo não pode ser abençoado se matamos aquele que dizem até hoje ser
o nosso salvador. Podemos estar condenados por tempos sem fim e assim,
levamos a condenar as nossas crianças.
E JESUS CRISTO, em sua infinita bondade e divina sabedoria, disse mais:
"Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o reino dos céus."
Não o entendemos e não fomos capazes de o atender em seu mais doce e
sublime ensinamento e, por isso, as nossas crianças andam ao léo por aí,
pelas praças e becos e sinais e pontos de drogas e de prostituição das grandes
cidades, tão maltrapilhas e esfarrapadas, tão esquecidas e abandonadas,
tão exploradas e sacrificadas que nem crianças parecem.
São os filhos da luz que receberam só trevas nessa sua morada terrena mas
que, um dia, podem ter certeza, subirão em luz para a luz da qual originaram,
enquanto que estes, os mandantes, governantes, detentores do vil metal e
acumuladores de riqueza e da desgraça alheia, esses irão e terão como
morada o...
Ah! Deixa pra lá. Deixo estes ilustres às moscas e me recuso a falar sobre
eles.
Que o tempo e a estrada que a tudo faz nada e morto e igual se encarregue de
tudo e que nossos filhos e netos e assim por diante nos conduzam à quarta e última
geração e dimensão, tão além deste mundo. Simplório mundo de carne e lama.
E que sejam perdoados os nossos pecados, se houver perdão.
Roberval Paulo
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