terça-feira, 18 de agosto de 2015

LUZ AMARGA (Diálogo do caminho) - Roberval Paulo

Caminhante 1: Vendo esta luz amarga
Luz da estrada que andamos
Me diz aí camarada
Como insistir na jornada?
Quando fazer a parada?
Quando nos realizamos?

Caminhante 2: Nós não nos realizamos
Vamos só a estradar
Cantando a canção da estrada
Sem saber onde vai dar

Caminhante 1: Então porque tanto lutamos?
Pra que tão longe avoar?

Caminhante 2: Nós não nos realizamos
Só lutamos, só lutamos...
É a verdade do vivo
Só se ir a caminhar.
Cantar quando a dor se ir
Chorar quando ela voltar
Sorrir na hora do sim
Isso quando o não deixar.

Caminhante 1: Sendo assim, me diz amigo
Quando se deve parar?
Como fazer com a estrada
Que não quer ir, quer voltar?

Caminhante 2: Não sei dizer as respostas
Das perguntas que me faz
Mas sei dizer que a vida
Não tem como andar pra trás.
Só pra frente é que se anda
Não tem como regressar
Nessa estrada que é só ida
Não há meios de voltar.

Caminhante 1: Me diz então como pode
A estrada continuar?
Se o caminho se fechou
Tá difícil de passar
Eu tento em frente seguir
Mas meu ser só quer voltar
Está cansado da luta
Aposentando a labuta
Desse vida diminuta
Quer cama pra descansar.

Descansar e não mais seguir
Nessa vida estacionar
Dar fim a todos os planos
Parar de vez, sepultar
Os sonhos que um dia eu tive
Que já parei de sonhar
Não quero a morte encontrar
Quero só saltar da vida
Antes que o trem da partida
Me parta no seu passar.

Quero está fora da vida
Quando o descanso chegar
Pela ponte que eu cruzar
Quero alcançar meu destino
Quero mais nem ser menino
Só o meu destino abraçar
Onde eu for a caminhar
Estradando o meu caminho
Que essa ponte seja enfim
O caminho da partida
Que o saltar fora da vida
Seja o meu libertar.

Caminhante 2: Eu não soube responder
Às perguntas que me fez
Mas vejo que se desfez
Das dúvidas que levantava
É que a vida está traçada
Cada um tem seu destino
É caminharmos com tino
Que saltaremos da vida
E que esse saltar nos seja
O encontro da redenção
Deus estende a sua mão
A todo que nele crê
Que o findar de todo ser
Seja o encontrar do perdão.


Roberval Paulo

INSENSÍVEL DESTINO - Roberval Paulo

Essa é a banda de chão onde meu pai se enganchou
Depois que ele ali chegou nunca mais pôde sair
Plantou ali sua sorte no seio da terra bruta
Findou seus dias de luta quando estacionou ali
Sentiu sem saber que ali era sua última parada
Não mais teria o alento de outro chão procurar
A força mística do tempo fechou pra ele suas portas
A força torta que faz tudo direito ficar

Ele arvorou nessa terra, plantou tudo que podia
Plantou seu dia, sua noite, seus filhos, sua mulher
Plantou sua sina de ser ali seu começo e fim
Fez crescer nele a ilusão de ser ali seu mister
Não mais teve um outro norte, tudo ali se resumia
Quando distante se ia, era a um légua de lá
Voltava no mesmo rastro, não se sentia seguro
No imaginário, seu muro, não podia ultrapassar

Ele tanto trabalhou, lavrou cacunda de pedra
Terra de areia lavada, terra boa de lavrar
Terra bruta, desalmada, que a enxada não cortava
Terra que até então ninguém ousava lavrar
Terra que só de olhar já se via o fim do mundo
Terra que não se indicava nem pra o inimigo morar
Terra de sol, sem aguada, sem vida, terra de terra
Terra que só tinha um fim, seu corpo ali sepultar

Meu pai levantava cedo, fazia o sinal da cruz
E caminhava pra lida tão feliz que até doía
Estava ele no dia antes do sol clarear
Isso quando tinha sol, que o céu de lá nem se via
Era um tempo de agonia, que lugar mais assombrado
Nem sol de dia, nem lua de noite, só escuridão
Uivo de fera bravia na distância de dez braças
Meu pai pronto a enfrentar, ali ele era um leão

Nunca vi tanta energia, que destino mais cruel
Tinha que beber o féu e era feliz o meu pai
Trabalhava, trabalhava, um trabalho sem retorno
Só ele via o saldo, nunca reclamou um ai
Trabalhava, se matava, suava as horas do dia
Todo o tempo só se via ele a terra labutar
De carpir a derrubada, roça de toco, queimada
Lá estava ele na foice, no facão, a augurar

Parecia num agouro a predizer seu destino
Mas era só a missão dada a um homem comum
E meu pai vestiu sua cruz, era sua, ele levava
E se fazia feliz sem ter conforto nenhum
Sua fé nunca abalou, que força descomunal
Ele era um homem de reza, de oração e de louvor
Na enxada, no sol quente, rezava a Ave Maria
Nosso Jesus, O Pai nosso, nosso Deus, nosso Senhor

Mas mesmo sabendo todos ser neste chão o seu fim
E condenando meu pai a uma morte anunciada
Meu pai nunca se entregou, nunca se desalegrou
Era a vida mais feliz que este lugar habitava
Era um mundo de alegria o olhar terno de meu pai
O pai da serenidade a perseguir a esperança
Esperança a lhe brotar no cantar de um passarinho
Jeito manso e compassivo, um sorriso de criança

Talvez se tivesse ele outras terras encontrado
Não era assim tão feliz como nesse fim de mundo
Tinha algo de encanto esse encontro inusitado
Meu pai e essa sua terra, o primeiro sem segundo
Vê um separado d’outro era inimaginável
Meu pai amava esta terra e ela o venerava
Ela até correspondia lhe dando tudo do nada
Era sentido aos olhos como um ao outro amava

Meu pai era essa terra e ela era o meu pai
Eram sim, inseparáveis, por uma força incontida
Força que não vinha dele, nem dela, força fadada
A força de uma chegada com requintes de partida
Compreendi todo o destino que este chão encerrava
Esse chão é do meu pai e do meu pai esse chão
Fez nesse chão sua sina de agora e para sempre
Aqui plantou sua história e também seu coração.

Roberval Paulo


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

CONSTRUÇÃO NATURAL - Roberval Paulo

Se não for como eu falei
É bem melhor que nem seja
É melhor nem ser bastante
Pra não ficar bem lembrado
É melhor não ser amante
É bom que seja espontâneo
É preciso ser estranho
Pra se dar a conhecer
É bom que saiba perder
Assim se aprende a ganhar
Na guerra em que for lutar

Lute por qualquer verdade
Nos becos dessa cidade
Quanta mentira escondida
Quanta gente destruída
E outras mais se perdendo
O trem da vida correndo
Nos trilhos do seu destino
A vida em desatino
Pede socorro a morrer
Não tem de não entender
Tudo vai se consumar
Mesmo que não concordar
Não é o que ninguém falou
Nem mesmo quem semeou
Ou deixou de semear
É sol em qualquer lugar
Tempestade em qualquer casa
Pra voar tem que ter asa
Mas é fácil rastejar
Eu disse, eu vou falar
Tem que ser como eu pensei
São as coisas que eu não sei
Que me fazem entender
Que a vida pra não morrer
Precisa entender a morte
Não é mais como eu falei
É como Ele escreveu
A morte que ele venceu
Não foi plantada na sorte
Tudo é como o vento norte
Tem direção natural
Existe a raíz do mal
Mesmo em meio a todo amor
O exército do desamor

É construção natural.

Roberval Paulo

sexta-feira, 6 de março de 2015

O PARTIR ANTES DO TEMPPO - Roberval Paulo

Às vezes penso que o segredo de tudo está nos porquês?
Penso e repenso até o mundo ficar tenso
Inclinado, descaído, pendido, penso...
Penso, só penso!
Mas não me atrevo a dizer.

Porque se vem, porque se vai?
Porque que vem quem nada tem?
Por que um ser se detém antes mesmo de nascer?
O porquê de se ficar tão pouco tempo aqui
O porquê de se passar tanto tempo sem medida
Na subida desta vida sem este sol merecer.

Penso também que é porque não existe um por quê?
O porquê é só um ser mais enigma que razão
Não um ser, uma equação que se vai a resolver
Que ninguém conhece a fórmula,
Que não perece, renova, sem nunca ao seu fim chegar
Qual romeiro em romaria pelo caminho sagrado
Que segue desarvorado só com o instrumento da fé
Novena que só rezando faz um milagre danado
Sem nada ser explicado, sem porque, sem paramento
Mas que segue devorando
Homens, sonhos, pensamentos
Semeando contra o vento a planta do bem virá.

Porque se vai pela estrada sem ter chegado a sua hora?
Tanta dor deixa pra trás, tanto sofrer... Oh! Tormento!
Quanta saudade a encher o existir do meu peito
Angústia que quase mata que é um tanto doer!
Que não explica, se sofre,
Que nada entende, só sente
Que não quer este presente que a vida lhe fez herdar
Quer até recomeçar, mas não tem forças... é inclemente.
O sangue de um inocente que o inevitável levou
O cálice que derramou antes do seu transbordar
Como entender o porquê da vida interrompida
Sem um motivo aparente, sem a razão se mostrar.

Penso que é por quê... Não sei dizer o porque
Talvez nem tenha porque, talvez tenha.  O que fazer?
É o mistério da vida que segue pregando peças
Não deixa aresta nem brecha para um porque indagar
Só nos resta o consolar compassivo de meu Deus!
Oh! Deus de misericórdia! Deus de bondade infinita!
Já que sofri esse golpe que não pedi pra sofrer
Dê-me forças pra viver... pra vida continuar
Cubra-me com o teu amor, com tuas bênçãos Senhor
Mostre-me o prosseguir, me guie com o seu olhar
Sou só dor, sou um ser andante que se perdeu no caminho
A força deste destino eu não queria viver
Mas se me deste é porque me conheces mais que eu
Vais saber como amparar seus filhos que estão perdidos
Senhor Deus, me dê motivos e me livre de morrer
Nos oriente a encontrar a razão de estar aqui
Eu não sei mais nem porque estou a sofrer assim
Porque os tirou de mim? Porque nos deixou tão só?
Meu Jesus! A tua benção, tua guia e proteção.
Ensine-me a não morrer, dê-me os porquês do ocorrido
Porque que me tens nascido pra suportar tanta dor?
Meu Senhor! Só o teu amor pode enfim me redimir
Ajude-me a persistir nesse caminho de morte
Dê-me um norte que preciso o teu amor encontrar
A vida continuar, nova razão existir
Meu Jesus! O teu perdão, que essa cruz que te chagou
Seja a mesma a me valer pra tua luz eu seguir.

Que eu possa um dia entender que assim é que tinha que ser
Que tudo valeu a pena e que nada foi em vão.

Amém Senhor! O teu perdão!

Roberval Paulo

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

CAMINHAR DE NUVEM - Roberval Paulo

Não sei em que dia me encontro ou em qual noite descanso. 
Tudo é como as águas de um rio que descem caudalosas e cautelosas e nada as detém. 
Sou feito o sol escondendo-se da chuva e só voltando quando esta já partiu. 
Fugir da vida não posso. 
O chão que me espreita é paciente pois tem em si a certeza que me terá um dia. 
Não fujo do encontro, só retardo o que certo é. 

Ela vejo em sonho e seus cabelos e olhos me dizem amar. 
Fecho os olhos e sua visão faz-se mais nítida. 
Estamos do lado oposto da hora. 
Não sei em qual órbita ficou guardado o nosso encontro. 
Espero pacientemente e caminho na direção contrária do medo, 
pois tenho em mim a certeza que o nosso dia chegará.

Roberval Paulo

ADORAÇÃO - Roberval Paulo

Se me perco, és o meu encontro
Se me escondo, sou o teu achado
Se me despenco, tu me tens ao colo
Se me vejo só, estais ao meu lado

Se choro, és tu o consolo
Se estou triste, me dás alegria
Se me sinto pobre, tu és meu tesouro
Se me falta luz, és tu o meu guia

Quando canto, és tu a canção
Se tenho frio, tu és o abrigo
Se me apaixono, és minha ilusão
Se estás comigo, já não há perigo

Se sou o fim, tu és o começo
Se sou o começo, és tu o meu fim
Se choras, se sofres, sou eu quem padeço
Se tens alegria, alegras a mim

Sou labirinto, tu és a saída
És flor na minha vida, sou o teu jardim
És enfim, meu oásis, sou eu, do deserto

O caminhante, ao certo, tenho a ti, tens a mim

Roberval Paulo

A RAÍZ DO IRREAL - Roberval Paulo

Na sombra do som que se instalou em meus olhos
Na luz da manhã que anunciou o crepúsculo
Na fonte cansada que transportava a vida
Surgiu sua dor
As folhas se agitaram ao tocar os teus pés
O sabiá emudeceu ao sentir o teu canto
A lua se esquivou à tua presença
E eu,
Corri em desespero pelos dias
À procura do teu encontro
Que perdi na noite passada

Na explosão bombástica que dizimou o mundo vida
Na fome que se instalou no seio morto da vida
Nas lágrimas verdes da mata em sua mortal cantiga
Me veio sua dor
As águas pararam para lhe dar passagem
O sol escureceu aos seus raios divinais
O tempo abriu as portas para que fosses ao vento
E eu,
Parti extasiado pelo abraço de Vênus
A encontrar o teu amor
Naufragado nos braços do mar “desprezo”.

Na ilusão clarividente do dia que não anoiteceu
Na fantasia interminável da noite que não amanheceu
No acordar morto do sonho que não adormeceu
Chorei sua dor
O sol se fez permanente à tua chegada
A lua se mostrou clara à tua presença alada
O céu em constelação ornou o teu existir.
E eu,
Despertando em pensamento mórbido na estrada
Abracei o teu amor nesta fria madrugada
E a manhã abriu seus raios em vida plena e abundante
A Abundância da vida no amor plenificada.


Roberval Paulo

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Que o NATAL seja somente NATAL! - Roberval Paulo

O menino Jesus nasceu. Num estábulo, uma mangedoura, em meio aos animais. Em um ambiente rústico e pobre mas carregado da energia vital do existir e da essência viva da vida na natureza. Trouxe em si a simplicidade para o mundo e a humildade das almas generosas.

O menino Jesus nasceu. Não tinha mansões, nem castelos, nem riqueza, nem tão pouco ostentação. O berço foi arquitetado ali, na hora e, astuciosamente, feito com palhas, a matéria prima disponível no ambiente e que agasalhou bem alcochoadamente aquele minúsculo corpinho cheio de divindade e o aqueceu do seu próprio calor; o calor da vida em sua total plenitude.

O menino Jesus nasceu e não trouxe consigo poder nem ouro; nem palácios, nem reis. Não trouxe ambição ou egoísmo, muito menos soberba ou preconceito. Nem inveja, nem luxo; nem maldade e nem destruição.

O menino Jesus nasceu e trouxe sim, a construção de um mundo novo.
A boa nova foi anunciada e o verbo de Deus se fez carne, para habitar a terra e salvar a humanidade tão sem rumo, cumprindo-se assim as escrituras sagradas.

O menino Deus nasceu e trouxe à humanidade, o amor perdido, esquecido e sepultado na ambição e egoísmo dos homens. Trouxe simplicidade e humildade; trouxe generosidade e os ensinamentos para uma vida reta, justa, digna e repleta de amor de uns para com os outros.

O menino Jesus, nosso Deus e Salvador, nosso ser onipotente e divino tornou-se em carne; tornou-se homem para a salvação da humanidade, sua imagem e semelhança.

E, na sua pureza de homem santo, foi perseguido. Foi julgado, condenado e crucificado, sentindo no corpo e na alma, a dor e o abandono daqueles que tanto amou e ama, feitos, por amor, à sua imagem e semelhança.

Jesus Cristo morreu pregado no lenho da cruz para a salvação do mundo.
Quanto sacrifício! O sacrifício da própria vida por aqueles que o negaram e renegaram e o abandonaram, lavando as mãos.

A vida venceu a morte, é o que nos é pregado.
Será que realmente venceu?
Como a vida venceu se continuamos a morrer todos os dias. Não estou aqui falando da morte em seu sentido literal e natural.
Estou falando da morte que sofre a sociedade todo dia.
A morte pelo desprezo, pelo descaso, pelo abandono.
A morte pela exclusão, discriminação; a morte pelos preconceitos.
A morte pela ambição e egoísmo dos que querem sempre mais, não se importando com a vida dos seus iguais.
A morte pela acumulação de riquezas que confinam no curral da miséria sociedades inteiras que mais parecem bichos largados e caminhando sem destino, aguardando a hora não programada da triste partida.
A morte protagonizada pelos artistas-vilões mor dos sistemas e organizações políticas que rezam nas suas constituições o cuidado e o zelo com a população.
A morte pela falta de amor do homem para com o homem.
A morte pela falta de amor do homem para com o seu igual, unicamente.

O menino Jesus nasceu.
É Natal! É Natal. É Natal?
É Natal e eu não sei o que fazer nem o que dizer.
É natal e tudo continua igual como se o natal já fosse antes do nascimento.

Jesus Cristo nasceu e...que ele não volte senão o matariam de novo.
Que Jesus só habite em nossos corações. Em todos os corações da humanidade e das vidas todas.
E que o natal seja...........................................................Natal. Somente Natal...



Roberval Paulo

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O PASSAR DESSA VIDA - Roberval Paulo

Nem que eu viesse a sofrer todo o fim da dor do mundo,
Não seria nada perto do que sofreu Jesus Cristo
Não seria nem a sombra do que sofreu nosso rei
Pois que todo sofrimento já lhe foi antes prescrito.

Nada lhe foi perguntado se ele assim aceitava
Já nasceu com esse propósito, Ele tinha que cumprir
Deus Pai assim ordenou. Ele, Filho, obedeceu
Carregou a sua cruz, tinha uma estrada a seguir

Estrada essa lavada na dor do seu próprio sangue
Para que fôssemos libertos do pecado original
E nós não nos atentamos p’esse tão nobre martírio
Continuamos em nós plantando a raíz do mal

E nesse inferno astral de céu para quem padece
Padecemos por querer, por não querermos amar
Tal qual amou Jesus Cristo, nosso Deus e nosso Pai
Amou tanto que morreu pra humanidade salvar

E a humanidade até hoje não entendeu esse gesto
Não quis amar, não quis paz, se arvorou a ferir
Fere o igual, a si próprio, fere o seu Salvador
E se entende soberana na ilusão do existir

Não sabe esta humanidade que aqui estamos passando
Passar é o que nos cabe... vamos a um outro ninho
E nessa passagem o ingresso pra eternidade alcançar
É o amor, a humildade que dispensar no caminho

Nem que eu viesse a sofrer toda dor... a dor do mundo
Não seria nada perto do amor de Deus por nós
Ele amou de tal maneira o mundo que enviou
O seu filho Jesus Cristo e até o matou por nós

E o matando, libertou a vida no mundo inteiro
E o fez ressuscitar, Deus vivo, subindo ao céu
E a humanidade sem rumo viu a luz do novo mundo

Mas não a quis, desprezou e vive vagando ao léu.

Roberval Paulo

PEGARAM COMO BANDEIRA A BANDEIRA DA COPA - Roberval Paulo

É lamentável, triste, horroroso e demasiadamente nojento o discurso arquitetado, ensaiado e tão bem cuidadosamente e intencionalmente propagado pelos membros da oposição ao governo federal, principalmente, pelos parlamentares do PSDB, sobre a realização da copa do mundo no Brasil e, especialmente, sobre as obras da copa.

É bem verdade que temos em nosso país a existência de inúmeros problemas. Problemas estes das mais diversas ordens: social, política, econômica e administrativa, com também problemas de ordem oportunista, leviana, desonesta e interesseira, o que não deixa de retratar a nossa diversidade e a nossa tão certa e incerta realidade desde todo sempre. Somos altamente miscigenados e diversos culturalmente, socialmente, economicamente, etnicamente e interesseiramente e, dado a essa diversidade, não encontramos ainda, em nós, o caminho ou o modelo para a unicidade, para a unidade e para a construção de um povo só.

A nossa realidade é o que somos. A realidade que vivemos foi construída por nós e vive sendo alimentada, realimentada e consolidada pelas nossas atitudes  dia após dia. É muito fácil falarmos e vermos a corrupção que assola e aleija a nossa economia e atinge o nosso povo diretamente, produzida e protagonizada pelo sistema político brasileiro, mas, olhando para dentro de nós, para a nossa casa e para a nossa comunidade, não é tão fácil assim aceitarmos que praticamos essa mesma corrupção todos os dias nas nossas relações mais próximas, e, com essas práticas, acabamos por alimentar, mesmo sem perceber, a indústria nacional da corrupção que tem nos políticos de Brasília o seu Quartel General, onde tudo começa e termina, termina e começa ao mesmo tempo, nos envolvendo a todos, do Oiapoque ao Chuí, do menor ao maior, do analfabeto ao doutor, do ladrão de galinha ao colarinho branco.

Esta é a nossa realidade e era assim antes e será depois da Copa.

Precisamos de mais investimentos em saúde e educação, em infraestrutura e em modernização do sistema atual de políticas públicas. A soberania de um povo está diretamente ligada ao seu conhecimento e ao conhecimento da sua realidade e a cidadania está diretamente relacionada ao sentimento de construção de uma nação de todos e para todos e não a esta nação de poucos para alguns.

Esta é a nossa verdade e realidade. Muito temos ainda para fazer e por fazer, mas, atribuir todas as nossas ruínas e fracassos à realização da Copa do Mundo no Brasil é no mínimo leviano, pobre, mesquinho e de muito mal gosto, pra não falar de puro e total interesse próprio e não interesse do povo.


Roberval Paulo