segunda-feira, 7 de julho de 2014

PEGARAM COMO BANDEIRA A BANDEIRA DA COPA - Roberval Paulo

É lamentável, triste, horroroso e demasiadamente nojento o discurso arquitetado, ensaiado e tão bem cuidadosamente e intencionalmente propagado pelos membros da oposição ao governo federal, principalmente, pelos parlamentares do PSDB, sobre a realização da copa do mundo no Brasil e, especialmente, sobre as obras da copa.

É bem verdade que temos em nosso país a existência de inúmeros problemas. Problemas estes das mais diversas ordens: social, política, econômica e administrativa, com também problemas de ordem oportunista, leviana, desonesta e interesseira, o que não deixa de retratar a nossa diversidade e a nossa tão certa e incerta realidade desde todo sempre. Somos altamente miscigenados e diversos culturalmente, socialmente, economicamente, etnicamente e interesseiramente e, dado a essa diversidade, não encontramos ainda, em nós, o caminho ou o modelo para a unicidade, para a unidade e para a construção de um povo só.

A nossa realidade é o que somos. A realidade que vivemos foi construída por nós e vive sendo alimentada, realimentada e consolidada pelas nossas atitudes  dia após dia. É muito fácil falarmos e vermos a corrupção que assola e aleija a nossa economia e atinge o nosso povo diretamente, produzida e protagonizada pelo sistema político brasileiro, mas, olhando para dentro de nós, para a nossa casa e para a nossa comunidade, não é tão fácil assim aceitarmos que praticamos essa mesma corrupção todos os dias nas nossas relações mais próximas, e, com essas práticas, acabamos por alimentar, mesmo sem perceber, a indústria nacional da corrupção que tem nos políticos de Brasília o seu Quartel General, onde tudo começa e termina, termina e começa ao mesmo tempo, nos envolvendo a todos, do Oiapoque ao Chuí, do menor ao maior, do analfabeto ao doutor, do ladrão de galinha ao colarinho branco.

Esta é a nossa realidade e era assim antes e será depois da Copa.

Precisamos de mais investimentos em saúde e educação, em infraestrutura e em modernização do sistema atual de políticas públicas. A soberania de um povo está diretamente ligada ao seu conhecimento e ao conhecimento da sua realidade e a cidadania está diretamente relacionada ao sentimento de construção de uma nação de todos e para todos e não a esta nação de poucos para alguns.

Esta é a nossa verdade e realidade. Muito temos ainda para fazer e por fazer, mas, atribuir todas as nossas ruínas e fracassos à realização da Copa do Mundo no Brasil é no mínimo leviano, pobre, mesquinho e de muito mal gosto, pra não falar de puro e total interesse próprio e não interesse do povo.


Roberval Paulo

A Seleção está aí: A SELEÇÃO BRASILEIRA! - Roberval Paulo

A seleção está aí. A seleção brasileira está aí. Com alguma ou outra preferência ou referência com relação a este ou àquele jogador, este “grupo” dos convocados agrada à maioria. E esse é o termo correto; um grupo em sinônimo e sintonia de equipe, tão bem preparado e elaborado pelo pai Felipão de todos. Felipão mais uma vez, em sua coerência, mantendo uma base por ele criada, trabalhada, estruturada e tão bem blindada por ele mesmo, tornando-a assim meio imune às interferências ou ingerências de tantos que não por maldade, mais por pura paixão, acabam por opinar sobre a seleção de forma negativa, sem poder evitar diversas manifestações por parte da imprensa e da comunidade esportiva, leia-se aí toda a nossa sociedade que tal qual Felipão ou qualquer outro técnico, conhece muito bem e com particularidades, cada um dos nossos jogadores.

Vejam o caso do goleiro Júlio César que, por não estar já a algum tempo defendendo uma grande equipe de um centro referencial do futebol, sofreu duras críticas de parte da imprensa esportiva; críticas essas que foram reproduzidas pela população à sua maneira, ou seja, de reafirmar o que já foi afirmado, porém, sem se fundamentar e que começaram por trazer algum desconforto para o atleta e uma desconfiança para uma grande maioria que não fazem as suas próprias análises e só se apropriam da análise da imprensa ou de quem divulgou ou propagou, já dando esta análise como certa e causando dano à seleção, mas que, no momento oportuno, foi muito bem atalhada pelo Felipão, que na sua sensibilidade estulta, assumiu a responsabilidade pela convocação, dizendo ser o jogador de sua total confiança, trazendo para si toda a carga de peso e de energia negativa que estava com o jogador, aliviando-o para o trabalho com segurança e fora dos holofotes.

Aconteceu algo semelhante na convocação e formação do grupo para a Copa de 2002, com todo o noticiário esportivo e, por reprodução, toda a população, pela paixão, pedindo a convocação de Romário e Felipão, na sua coerência e responsabilidade profissional, não cedeu, assumindo o risco, porém, um risco calculado, pois tinha números em mãos que lhe mostravam de forma muito contundente que a convocação pedida, repito, pela paixão, não traria benefícios à Seleção e ao grupo e sim, poderia trazer prejuízos. Esse é o Felipão, passível de erros como todo mortal, mas muito firme nas suas posições, tendo como parâmetro os resultados do trabalho realizado, de onde extrai suas mais convincentes convicções.

Acredito nesta Seleção. Acredito na Seleção Brasileira que carrega tão apaixonadamente os sonhos de toda a torcida brasileira. Felipão foi a melhor escolha naquele momento de tanta desconfiança com os nossos atletas, e, juntamente com Parreira, formou-se aí a dupla vitoriosa das nossas duas últimas conquistas, portanto, uma dupla bem experiente e a mais experiente que poderíamos encontrar neste estágio do nosso futebol. Uma escolha muito bem acertada pelo Presidente Marins, da CBF.

A seleção está aí. Se não temos atacantes como em outras ocasiões, temos Fred no melhor momento de sua carreira, e temos... Neymar, o nosso grande astro e uma das maiores revelações do futebol brasileiro dos últimos anos, já  consolidado, já acontecendo, já realidade. Temos um dos melhores sistemas defensivos já dispostos na seleção, basta olharmos os números da nossa defesa. Se não temos aquele homem da ligação, da inteligência, da bola longa, o cérebro que tínhamos em outras formações, temos um conjunto de passe, mobilidade, de velocidade que nos enche de confiança e  faz nossa paixão de torcedor aflorar em tom de crença e de esperança. Se o nosso goleiro não é hoje de uma grande equipe europeia, não é motivo de desconfiança ou de aflição; é só verificarmos os seus números na seleção, os seus resultados e atuações, para termos o orgulho de dizer: ele é o nosso goleiro, o nosso goleiro titular e nele confiamos.

A seleção está aí. A seleção brasileira está aí. Podemos perder a copa, mas está aí um conjunto muito forte e é o melhor que temos. Podemos ganhar, pois, da mesma maneira, é um conjunto forte e é o que temos de melhor. Por isso, seja qual for a observação que façamos, esse grupo carrega a nossa esperança, a nossa paixão, a nossa total emoção, o nosso amor pelo futebol, pois somos o povo mais amante e apaixonado por futebol no mundo, mas também precisa carregar a nossa esperança, a nossa confiança, o nosso acreditar na vitória, a nossa fé e crença de que a vitória da seleção brasileira se converta na vitória do povo, na vitória de uma nação inteira, uma nação de chuteiras que, mesmo sofrida com tantos problemas sociais e econômicos que assolam e amargam a nossa vida, nunca perdeu a coragem de lutar, de vencer, de sonhar e mais sonhar com o alcance de dias melhores e de uma existência mais justa.

Uma nação e um povo que, mesmo vivendo na adversidade, encontra motivo para exprimir tanta, mais tanta alegria que transformou, nós, os brasileiros, no povo mais feliz do mundo. Povo esse que mesmo diante de tanta dor e sofrimento causados por esta desigualdade terrível produzida pelo descaso, pelo egoísmo e ambição dos nossos iguais, pela má distribuição da renda e pelos privilégios produzidos pelo poder constituído e instrumentalizado que desinstrumentaliza o existir da nossa maioria, nunca desiste e nunca desistiu de acreditar que o melhor está ainda por vir. É questão de acreditar. E eu sou brasileiro, nós somos brasileiros e acreditamos, pois brasileiro não desiste nunca.

A seleção brasileira está aí e com ela, mesmo nas tantas diferenças e indiferenças, nas tantas alegrias e lamentos, nas tantas cores do sofrimento, está o nosso acreditar, pois brasileiro é assim: não desiste nunca. Vamos então de verde e amarelo colorir os sonhos de todos nós, de todos nós brasileiros que de tanto sonhar e amar, de tanto sofrer e esperar, de tanto sorrir e acreditar, construímos a nossa nação Brasil. Construímos o nosso orgulho  de ser brasileiro.

A seleção brasileira está aí, ela é nossa e nela acreditamos como acreditamos nos dias melhores que estão por vir. Salve o povo brasileiro, nossa Pátria tão amada e idolatrada, salve, salve. É Brasil, é gol, é seleção, é o grito na garganta refletindo a nossa emoção. Refletindo o nosso existir, o nosso ser, a nossa razão de sermos Brasiiiiillll! De sermos BRASILEIROOOOSS!

Roberval Paulo

CANÇÃO DO INEVITÁVEL - Roberval Paulo

A morte é sempre chorada, mesmo sendo inevitável
É tão irremediável que se sente inesperada
Não é por ninguém esperada, é talvez inconveniente
Chega e se vai num repente, na insensatez de uma flecha

Não sei se falsa ou honesta, nem tão pouco inconsequente
É feito água vertente brotando da pedra bruta
Não é estúpida, é astuta
Só chega quando é chamada
Um chamado inconsciente que a mão humana não entende.

A morte não é demente... é lúcida, é despachada
É sutil tal qual o nada, é razão da existência
É um nó na inteligência que vê nela uma equação
Que se vai a resolver mais a fórmula não norteia (clareia)
É refém da dor alheia, ninguém sabe a solução.

A morte não é estação que vem no seu tempo e passa
A morte é viva e inata, é bela e nasceu com a vida
É imune à dor da partida, sabe ser esta um presente
Vem do passado ao futuro para ser somente história.

Não é fracasso nem glória, é simplesmente verdade
Não sabe credo ou idade, só que é preciso agir
Não tem de não querer ir, tem mesmo é que viajar
Percorrer a velha estrada que é nova em cada partida
Curar de vez a ferida que a vida sempre chagou
Com amor ou desamor, tem hora, é despedida.



Roberval Paulo

NÃO SOU MAIS UM SÓ - Roberval Paulo

Há muito deixei de ser eu
Quer dizer, não deixei de ser eu.
É que há muito, não sou mais um só.
Sinto que sou tantos que nem me conhecer conheço. 
É tanta identidade
Que eu me desindentifico.
Às vezes fica é esquisito eu não saber como vou
É a situação que faz eu ser quem eu mesmo sou.

Mas eu não sei quem eu sou antes da circunstância não.
É na verdade a situação que me mostra quem eu sou.
Então não posso saber de onde vim pra onde vou.
Se nem mesmo me conhecer eu conheço,
Não sei como devo agir, tão pouco como reagir quando me ponho a pensar.
Mas é a situação chegar e a mim se apresentar que eu, instantaneamente,
Assim, assim de repente, é meio inconscientemente, lá do subconsciente,
Que eu respondo sem pensar, sem nenhum planejamento,
Incorporo um eu de mim que neste instante sou eu, se apresentando a mim.

E sou eu mesmo, é verdade, sou eu tal como me sou
Desconhecido de mim, mas sendo eu, eu autêntico,
Incorporado em mim, que de mim nunca saiu
Só se apresenta na hora em que eu preciso ser
E ao mesmo tempo viver o eu do outro de mim,
Que ainda está em mim e de mim não desistiu.

Roberval Paulo

terça-feira, 17 de junho de 2014

ANOITECER DE UM POETA - Roberval Paulo

Ainda não me disseram quem vinha pra me alegrar.
É que eu estava triste, uma tristeza tamanha
que eu quase que nem sabia o que é ser um ser feliz.

Mesmo com a ilusão de que aqui se caminha,
de que aqui se aninha e encontra a felicidade,
mesmo sabendo a cidade ser uma nossa aliada,
andando em suas calçadas de luzes e sons perdidos

De passos quase inauditos, de gritos roucos, de dor,
da noite em seu esplendor a acolher seus incautos,
da vida em passos largos, parando na encruzilhada,
na ponte que está cortada para não mais se emendar

Do ser que foi a voar por perder a caminhada,
da fonte doce e cansada correndo sem se abater,
do canto de um padecer mais solidão que tristeza,
mais prazer que aspereza na calda de um bentevi

Te vi ali, não aqui, resposta de um sabiá:
cantar bem eu sei, sou eu, que não me encontro é com a sorte,
só caminho é para o norte, um caminho conhecido,
não de mim, de um ser antigo que habitava outro mundo
e me disse – extra pra o mundo! – cheguei e aqui sou razão,
não me fale de emoção, isso já foi, é passado,
agora o tempo é fechado, não há lugar para a dor,
todo o horror que habitava o universo do ser,

hoje vai a entardecer o que amanhã for amor.

Roberval Paulo

O FIM DO MUNDO - Roberval Paulo

O som ensurdecedor do trovão ressoou na imensidão azul do céu plúmbeo de medo. E o relâmpago, em raio eletrizante e cintilante, escorreu deslizante na abóbada em mistério anunciada, se perdendo no negro azulado da distância. A atmosfera cerrou as portas e o céu abriu suas comportas, inundando impetuosamente a noite em torrentes de terror e desespero. Escuridão era o que havia. Escuridão de uma noite sem luz e sem lua. De estrelas ausentes, apagadas no imaginar do escuro e de sonhos preocupados na inocente perspectiva de ver ali o mundo acabar.

A profecia se cumpria sem preparo e sem cerimônia. O fim chegava desavisado e não mais havia tempo nem mesmo para falar de amor. Gritos se ouviam em todas as direções. Gritos de desespero e de impotência frente ao fenomenal evento. Uma desordem geral ordenou no mesmo ambiente e espaço todos os seres, revelando uma harmonia inexistente nos tempos da normalidade. Homens e mulheres se juntavam a leões e outros mais bichos, sem se incomodarem. Crianças escalavam dragões e serpentes, na inocência incomum de ambos, sem perigo algum. O ondular das ondas feria o espaço vazio com sua lâmina líquida e aterrorizante, vencendo quaisquer obstáculos, seja de gente, bicho ou outra qualquer natureza, se arremessando ferozmente sobre tudo, devorando sonhos, pensamentos, vidas e histórias, sendo história viajante em viagem de céu. Volumoso corpo aguacento, vivo e adjacente, num surdo rumor de riso e raiva, subindo vertiginosamente pela estrada aberta e larga que só se estreita nos limites dos céus. A natureza fechou seus olhos e se entregou, caindo por terra que nem terra mais era, levantando desta todos os filhos da luz ou trevas, levados igualmente e impiedosamente ao destino da viagem última. Consumado está o que não mais se pode remediar. O que foi é o que é e o que é pode ser o que não será.


O surpreendente de tudo, de todo este imensionável evento é que, mesmo no fim, a vida não acabava. A vida, quando chega ao fim, ainda é, em si, um ser existente. Ela se renova, transfigura-se e habita galáxias desconhecidas da terra a tão largos anos luz distantes, pelo espaço de um instante. E galáxias e outras mais galáxias se encheram de vida. Da vida que a terra renegou por não mais suportar. Se encheram da vida que não mais podiam aqui continuar, mas, que não estavam prontas, aperfeiçoadas para ao destino final e último chegar. E assim, vão por aí, habitando galáxias e mais galáxias até atingirem o último estágio da existência. 

Morrendo e recomeçando, em nova vida inserida, desconhecida de todos a nova vida investida, mas que é o caminhar lento, cortante e necessário para o aperfeiçoamento total enquanto ser, enquanto ser existente vindos do amor maior, vindos do seio do seu criador, por amor, e que se desvirtuaram por pouco quererem entender do amor que os trouxe à existência e então, penalizados estão, sentenciados a habitarem, de vida em vida, o desconhecido, até se conhecerem e se entenderem enquanto seres de amor que são, e, assim, alcançarem, pelo dom do amor, pelo dom do saber amar, o reino prometido lá no seio daquele que um dia por aqui caminhou e plantou com todas as letras e com o adubo da verdade, a razão da sua vinda e sacrifício. 

Lá no seio daquele que, se dirigindo a todos, indistintamente e indiscriminadamente, disse em tom de sabedoria e de santificação, a verdade maior: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao pai senão por mim”.

Roberval Paulo

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O FIM DO MUNDO - Roberval Paulo

O som ensurdecedor do trovão ressoou na imensidão azul do céu plúmbeo de medo. E o relâmpago, em raio eletrizante e cintilante, escorreu deslizante na abóbada em mistério anunciada, se perdendo no negro azulado da distância. A atmosfera cerrou as portas e o céu abriu suas comportas, inundando impetuosamente a noite em torrentes de terror e desespero. Escuridão era o que havia. Escuridão de uma noite sem luz e sem lua. De estrelas ausentes, apagadas no imaginar do escuro e de sonhos preocupados na inocente perspectiva de ver ali o mundo acabar.

A profecia se cumpria sem preparo e sem cerimônia. O fim chegava desavisado e não mais havia tempo nem mesmo pra falar de amor. Gritos se ouviam em todas as direções. Gritos de desespero e de impotência frente ao fenomenal evento. Uma desordem geral ordenou no mesmo ambiente e espaço todos os seres, revelando uma harmonia inexistente nos tempos da normalidade. Homens e mulheres se juntavam a leões e outros mais bichos, sem se incomodarem. Crianças escalavam dragões e serpentes, na inocência incomum de ambos, sem perigo algum. O ondular das ondas feria o espaço vazio com sua lâmina líquida e aterrorizante, vencendo quaisquer obstáculos, seja de gente, bicho ou outra qualquer natureza, se arremessando ferozmente sobre tudo, devorando sonhos, pensamentos, vidas e histórias, sendo história viajante em viagem de céu. Volumoso corpo aguacento, vivo e adjacente, num surdo rumor de riso e raiva, subindo vertiginosamente pela estrada aberta e larga que só se estreita nos limites dos céus. A natureza fechou seus olhos e se entregou, caindo por terra que nem terra mais é, levantando desta todos os filhos da luz ou trevas, levados igualmente e impiedosamente ao destino da viagem última. Consumado está o que não mais se pode remediar. O que foi é o que é e o que é pode ser o que não será.


O surpreendente de tudo, de todo este imensionável evento é que, mesmo no fim, a vida não acabava. A vida, quando chega ao fim, ainda é, em si, um ser existente. Ela se renova, transfigura-se e habita galáxias desconhecidas da terra a tão largos anos luz distantes, pelo espaço de um instante. E galáxias e outras mais galáxias se encheram de vida. Da vida que a terra renegou por não mais suportar. Se encheram da vida que não mais podiam aqui continuar, mas, que não estavam prontas, aperfeiçoadas para ao destino final e último chegar. E assim, vão por aí, habitando galáxias e mais galáxias até atingirem o último estágio da existência. 

Morrendo e recomeçando, em nova vida inserida, desconhecida de todos a nova vida investida, mas que é o caminhar lento, cortante e necessário para o aperfeiçoamento total enquanto ser, enquanto ser existente vindos do amor maior, vindos do seio do seu criador, por amor, e que se desvirtuaram por pouco quererem entender do amor que os trouxe à existência e então, penalizados estão, sentenciados a habitarem, de vida em vida, o desconhecido, até se conhecerem e se entenderem enquanto seres de amor que são, e, assim, alcançarem, pelo dom do amor, pelo dom do saber amar, o reino prometido lá no seio daquele que um dia por aqui caminhou e plantou com todas as letras e com o adubo da verdade, a razão da sua vinda e sacrifício. 

Lá no seio daquele que, se dirigindo a todos, indistintamente e indiscriminadamente, disse em tom de sabedoria e de santificação, a verdade maior: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao pai senão por mim”.

Roberval Paulo

CONSTRUÇÃO NATURAL - Roberval Paulo

Se não for como eu falei
É bem melhor que nem seja
É melhor nem ser bastante
Pra não ficar bem lembrado
É melhor não ser amante
É bom que seja espontâneo
É preciso ser estranho
Pra se dar a conhecer
É bom que saiba perder
Assim se aprende a ganhar
Na guerra em que for lutar
Lute por qualquer verdade
Nos becos dessa cidade
Quanta mentira escondida
Quanta gente destruída
E outras mais se perdendo
O trem da vida correndo
Nos trilhos do seu destino
A vida em desatino
Pede socorro a morrer
Não tem de não entender
Tudo vai se consumar
Mesmo que não concordar
Não é o que ninguém falou
Nem mesmo quem semeou
Ou deixou de semear
É sol em qualquer lugar
Tempestade em qualquer casa
Pra voar tem que ter asa
Mas é fácil rastejar
Eu disse, eu vou falar
Tem que ser como eu pensei
São as coisas que eu não sei
Que me fazem entender
Que a vida pra não morrer
Precisa entender a morte
Não é mais como eu falei
É como Ele escreveu
A morte que ele venceu
Não foi plantada na sorte
Tudo é como o vento norte
Tem direção natural
Existe a raíz do mal
Mesmo em meio a todo amor
O exército do desamor

É construção natural.

Roberval Paulo

MEMÓRIAS! - Roberval Paulo

Eu hoje ainda me lembro
Da minha bela cidade
Minha doce mocidade
Dos dias que eu fui feliz
Trago em minha lembrança
Um gosto de primavera
No tempo que o tempo era
O tempo que eu sempre quis

Estava sempre a brincar
Corria pelos quintais
No gosto dos laranjais
Sentia o gosto da vida
As tardes todas de festa
Nas águas lá da ribeira
“Passarin” de atiradeira
Uma alegria perdida

Nesse tempo eu não sabia
O que era labutar
Se ia só a brincar
Todas as horas do dia
Nadava, como eu sorria
Sem responsabilidade
A fazenda era a cidade
Onde meu sonho “avoava”
Meu grito denunciava
A minha felicidade

Eram gritos de verdade
Mentira não existia
A natureza sorria
Não tinha ali nem maldade
Hoje só resta saudade
Daquele olhar inocente
O tempo ficou demente
O mundo mostrou sua dor
Feriu de morte o amor
No germinar da semente

Eu que nem imaginava
Existir um padecer
Só alegria e prazer
Meu viver anunciava
A mata virgem cantava
Respondia eu do terreiro
Nesse canto derradeiro
Eu me perdia feliz
Pra o mundo pedia biz
Que tempo manso e ordeiro!

Hoje esse tempo medonho
Saudade é só o que resta
Os dias cantavam festa
Hoje é só tribulação
Se foram sonhos de flores
A alma respira guerra
Na boca o gosto de terra
De sangue no coração

Hoje eu sou qual esteio
Que segura a cumieira
Peso de mil aroeiras
Nas costas de um só cristão
Não quero mais ser lembrança
Quero esse passado agora
Voltar no tempo, na história

Revisitar meu sertão. 

Roberval Paulo

JOGO DO DADO - Roberval Paulo

Cada momento vivido
É mais um diminuído
Porque quem anda pra frente
Vai acabar no passado
Quem faz o jogo do dado
Seis chances tem pra morrer
Ou mesmo para viver
É só o dado jogar
E a vida continuar
Na direção do futuro
E se esse não encontrar
É que o futuro é passado
Probalidade do dado
Na estatística da vida
Vida vivida e sofrida
Estrada de amor e guerra
Sobe serra e desce serra
Caminhos de céu e mar
A luz de toda a existência
A vida que a morte encerra
A carne alimenta a terra

E o espírito se lança ao ar.

Roberval Paulo

INEXPLICANDO O EXPLICÁVEL! - Roberval Paulo

Na busca do inexplicável
Eu fui distante da terra
Viajei por entre serras
Ganhei o espaço infinito
Viajei por entre mitos
No monte Olimpo de Zeus
Vi que Zeus não era Deus
Quer dizer, era um deus
Mas não um Deus! O meu Deus!
E sim um deus que é finito


Esse deus que é mortal
Não é um Deus de verdade
O Deus da imortalidade
Não vai pra morte perder
Esses deuses, vou dizer
São relatos da história
Romperam com a aurora
Num tempo antes de mim
Hoje é passado, enfim
Na morte se foram embora


O nosso Deus de verdade
Este é onisciente
Ele é passado e presente
É futuro e eternidade
O nosso Deus de bondade
É também onipotente
Nosso Deus é diligente
Está em todo lugar
É a natureza, o mar

É a raíz e a semente.

Roberval Paulo

DESCULTUADO - Roberval Paulo

Pensando culturalmente
Não sou eu aculturado
Sou em mim, desculturado
Numa cultura sem cura
Mais que cura dor de dente
E até quebranto com reza
Portanto, não se despreza
A cultura que é escura
E sim, encontre brancura
Na cultura de sua terra


É a cultura de um tudo
No meio de tanto nada
É a folha da enxada
Antes da folha papel
É a falácia dos mudos
Valendo mais que a história
É uma oração sem glória
Um conceito sem virtude
O teatro de gertrudes
Fecha o pano sem memória

O homem deixa o existir
No tempo e não segue em frente
Mais Deus, compassivamente
Está no tempo e não passa
Mesmo intentando seguir
O homem finda, se encerra
De terra, volta à terra
Não importa o que ele faça
Mais se merecer a graça

Não encontrará mais guerra.

Roberval Paulo

AMOR! O SIMPLES...


A base da vida é o simples. É o que te acompanha pela vida toda. E você, na sua displicência com o simples, alterado e seduzido pelo valor superficial do material, se enraiga de egoísmo, de ambição e de outros tantos valores que terminam por te fazer menos gente que outro qualquer animal, não irracional, mas insensível.

É a insensibilidade degenerativa que nos ataca, nos transformando em seres dissociados de valores como caridade ou solidariedade, se estes valores nos despe de qualquer valor material que seja.

Vamos acordar desse superficialismo e sensacionalismo, desse materialismo e imediatismo...vamos acordar desse reumatismo que enfraquece nossa alma e nobreza e nos faz tão pobres que parece que só de insensibilidade e insensatez somos nós feitos.


Vamos acordar desse sonho material e entender que a solução de tudo está na mais simples e singela das palavras. Aquela palavrinha que, só por ela, fica tudo explicado: AMOR.

Roberval Paulo

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

PRA NÃO DIZER QUE EU DISSE ALGUMA COISA - Roberval Paulo

Tive um sonho e sonhei que era um anjo e aquele anjo sem asas, mas que, pela força do invisível e do mistério do incerto, voava e mais voava; voava que nem sabia como era a estrada de andar.. Um anjo sem asas e que de nada entendia nem mesmo porque era anjo e nem mesmo o que é ser anjo mas que, inexplicavelmente, voava, voava e mais voava..

Abri as asas que eu não tinha e ganhei os céus. Eu era esse anjo que asas ele não tinha. Subi, subi alto e contemplei, lá de cima, o altar. Um imenso boneco redondo, nas cores azul e verde e pés e cabeça alvos como neve. Refleti sobre aquela imensidão de espaço vazio e pude perceber a distância do meu pé ao meu pensar. Aquele espação infindo a perder de vista e nada para todos os lados, e direções, e sentidos, e só aquela bolinha em azul e verde, e branco nas extremidades, vagando ao léo, sem destino, suspensa no ar e sem amarras para lhe segurar.

Não entendi o mistério e mesmo se buscasse entender, não entenderia. Aquela bolona imensa, pequena diante do vazio do espaço, mas, imensa e desorquestrada...se comparada a mim. De terra e água é seu ninho; de mato e bicho seu peito, e ainda de gente, em todo o seu sentimento e muito de tudo. Milhões e milhões e até bilhões de tudo, portanto, pesada; pesada não, pesadona, e suspensa no vazio do espaço, sem cordas e não cai. Suspensa pela massa do ar e andando ao vento pelo tempo, sem parar e sem ninguém no volante. Não consigo entender nada. Quanto mais me findo nesse propósito, menos entendo. Dizem que é uma tal de gravidade ou lei da gravidade, não sei.

Na verdade, eu nem sabia se existia essa gravidez, nua e filha, nem sei de quem, a viajar pelo espaço, sem amarras, nem cordas, totalmente suspensa, sem raiz, a andar sem destino e sem direção, na órbita de um pensar que não é atmosférico. Penso que vai à procura do Apocalipse final que, a bem de uma outra verdade, eu também não sei o que é e nem onde mora, se é que ele tem residência; ou será que seria ele mais um descamisado andarilho pelos trilhos da esperança e que ao fim só encontra um mar de terra para guardar seu corpo ínfimo e pouco que descansa, leve e morto, ao pé de um jacarandá?


Penso mesmo que essa mãe que às vezes se chama terra, viaja sonho afora é em busca do pai que perdeu. Do pai de sua gravidade gestada em um tempo inexistente e distante, feito minhas asas que um dia estiveram em mim e que ao anúncio da criação dos filhos do gênesis, povoaram o olimpo. Assim zeus se fez Deus para apadrinhar a insensatez da mitologia fora do seu tempo mas que caminhava para encontrar a porta que culminasse e se materializasse nos trilhos da obscura luz da última realidade, ou, pelo menos, que fosse uma janela e, mesmo sendo a passagem, mais estreita, poderia por ela saltar ao espaço do precipício sem fim que é a viagem sem destino e sem direção e também, sem comandante, da mãe que procura pelo pai da gravidade gestada em seu ventre, que subiu e não desceu e, que quando desceu, acabou descendo mais do que o necessário para voltar a subir e, não mais subindo, passou do destino e não mais encontrou o caminho de volta. 

Assim se deu a viagem do anjo sem asas que nada de gravidez ou gravidade foi ao espaço buscar, mas que viu e se solidarizou com o choro das estrelas, lágrimas estas que diziam da estupidez exasperada daqueles seres ingnóbios que mais pareciam micróbios que cavavam sem parar o corpo daquele corpo que ainda hoje viaja mas não encontrou parada nem a estação pra estacionar, e nessa viagem sem fim leva toda a nossa vida e as nossas forças e sonhos para o espaço de um lugar que não se sabe onde é e nem se lá vai chegar mas que como todo ser que pisa os degraus do medo vai sem medo para a morte que fica na encruzilhada do canto daquela estrada que não se sabe parida ou se já foi a abortar.

Não desci do meu sonho, só acordei e, quando os olhos eu abri, estava ali, na minha frente, me olhando com aqueles olhos que eu não sei decifrar, o filho do pai que um dia partiu pra órbita da dor e deixou sozinha, a mãe, que viaja sem parar, e chora, como ela chora e suas lágrimas fizeram o mar e esse se vai a encher pois ela não para de chorar porque o pai não encontra e o filho é que aqui está e a mãe ainda nem pariu, só chora e chora e me olha junto com o pai que é seu filho e me chama, me chama e eu, que acordei agora, não sei se já é a hora de seguir não mais eu órfão ou se aqueles olhos de pai de mãe e de filho que é filho do pai da noite vai ainda permitir que o meu corpo comece essa viagem a seguir e que a cria do medo, do meu ser que desconheço me revele o segredo de não mais ter pesadelos e em paz poder dormir.

Roberval Paulo

LUA DOS AMANTES > O novo quando vem - Roberval Paulo

Uma cantiga de vento enrubesceu os amantes
E na moldura viajante dos olhos
A noite vinha lá do fim do mundo

A lua se escondia na brancura da nuvem
E na sonoridade da alma
Um silêncio se ouvia
Um silêncio de fazer cantar os mudos

O som do amor se encarnou por toda a luz
E todas as bocas disseram o provar de corpos em êxtase

Um uivo abafou a imensidão da distância
E o prazer aqueceu a alma enamorada

Os desejos ardem, convulsões desenfreadas
Sensações que se revelam
Na rima solta do verso

O ar cansado desmaia
Num respirar lento e cortante
E a forma disforme se renova

No formatar novo do novo.

Roberval Paulo