terça-feira, 25 de janeiro de 2011

SOLUÇÃO MUNDIAL


             
Amar é o preço do sol
Que o sol só se fez por amor
E o amor se perdeu mar adentro
Acordando os monstros da dor

Quero ser muito mais que amor
Vamos ser muito mais nesse amor
 Esse mundo sem jeito tem jeito
                                           Seja em tempo a paz, bela flor

Amar é o preço da vida
E a vida só se fez por amor
E o amor se matou pela vida
Que do fruto comeu e chorou

Quero ver bem no alto o amor
Vamos ser sempre em nós, dom de amor
Esse mundo sem jeito tem jeito
Esse mundo que grita de dor

Amar é o indulto pra guerra
E a guerra se fez, sem amor
E o amor se embebeu de sangue
Sucumbindo à feição do horror

Quero enfim deleitar-me de amor
Vamos sim, deleitar-mos no amor
Esse mundo sem jeito tem jeito
Esse mundo...depende de nós
Sejamos AMOR.

Roberval Paulo


EXCLAMAÇÃO DO AMOR INOCENTE!


Se o tempo parar de passar
Se o rio deixar de correr
Se o trem parar de trilhar
Os caminhos dos trilhos sem fim
Se o mar deixar de subir e baixar
Se a vida deixar de nascer 
Se a morte deixar de matar
Se o homem deixar de sofrer
Se na terra o amor se acabar
Nem assim deixarei de te amar!

Pode o tempo se esquecer do tempo
Pode o rio suas águas secar
Pode o trem se descarrilar
E o amor ir por além fronteiras
Pode o mar sumir terra adentro
Pode a vida se desencantar
Pode a morte pedir pra viver
Pode o homem esquecer de sonhar
Pode a terra cair do espaço
Mesmo assim hei de sempre te amar!

Se o silêncio um grito bradar
Se o vazio se encher de repente
Se o diabo plantar a semente
E colher o fruto do pecado
Se o sol ao nascer for quadrado
Se o abismo sem fim for o mundo
Se Francisco se chamar Raimundo
Se o leite vermelho ficar
Se a lua desdenhar da noite
Terei forças pra ainda te amar!

Roberval Paulo

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

SONHO PERDIDO


Queria mesmo era sonhar, 
mas o sonho se perdeu nos olhos de um amor distante 
e da distância, veio o esquecimento e no esquecimento, 
plantou-se a raíz de um amor bem próximo, 
ali, bem do lado. 

Assim se fez a descoberta e os dois 
caminharam juntos para a porta que se abria 
do outro lado do sonho distante 
que, agora, 
amparava-se na noite ao encontro 
                   dos primeiros raios da manhã. 

Roberval Paulo

sábado, 22 de janeiro de 2011

MONÓLOGO DE DOIS


MINHA HISTÓRIA DE NÓS DOIS
                                               E as flores sangravam...

A casa
A porta
Tu, lá dentro!
Eu, cá fora!
Diálogo suspeito
Olhadelas pros lados
Inquietos
Sentíamos-nos mal.

Eu queria entrar
Ah! Como eu queria
Tu querias que eu entrasse
Mas, as circunstâncias!
As circunstâncias não permitiam
Acima de tudo
A honra
A dignidade
Nos amávamos
Desde longínquos tempos
Tudo contra
Todos contra
O mundo contra
Amor proibido.

Coisas do destino
Casastes com outro
Imposição da vida
Na vida de outros
Muitos felizes
Tu, infeliz
Eu, infeliz
José feliz
Teu marido
Só felicidade
Casou com quem bem quis.

A casa
A porta
Tu, de dentro
Eu, de fora
Fim de um sonhar
– Já é hora!
Desejos suprimidos
Palavras entrecortadas
Destino ingrato
– Vou-me embora!
Tinha que ir
Não conseguia arredar pé
Força estranha me prendia
Misteriosa
Superior à minha deliberação.

De lá, tu olhavas
Um que de tristeza
Desfilava em teu rosto
Olhos nos olhos
Lamentávamos
Tão mesquinha sorte
Tão malfadado desfecho.

Precisavas entrar
Tu tinhas que entrar
A razão dizia
Não pegava bem
Mulher casada
A esta hora, na porta
De conversê com homem
As más línguas
Deus que me livre
O pudor
Nossos princípios
Nossos valores
Nosso caráter em cheque
Nossa honra
Tínhamos honra
E quanta honra
Não fosse essa tal... já via
Mas, precisava ser assim
Difícil sufocar
Tão nobre sentimento
Tão verdadeiro amor
Tão gostoso estar junto.

– Adeus!
– Adeus!
– Preciso ir
– Ainda é cedo
Frases secas
Ditas com tanta dor
Impossível doer tanto
Mas doía
Mais que ferida de faca
Mais que atropelamento de alma
Ainda mais que ingratidão de filho.

– É tarde
– Ih! Preciso entrar
– Ah, sim! Agora eu vou
– Afazeres domésticos, sabe como é
– Até uma próxima
– Não deve haver próxima
– Eu sei. Sofrimento demais
– É. Não dá pra agüentar
– Melhor não seria a morte?
–Morrer não mata tanto amor
Lágrimas
De dentro e de fora
Da porta
Da casa.

– Vou-me embora
– Tá
– Não volto
– Não volte
– E esse tanto amor?
– Amaremos sempre. Distantes
– E felicidade?
– Não a teremos
– Eu vou
– Vai, pelo amor de Deus
– Adeus!
– Adeus!

Tarde demais
José chegava
Cumprimentos
Frios e distantes
Pegos de surpresa
Nas confidências do amor
Difícil disfarçar
Coração é coração.
– Como vai José? Eu já estava de saída
– É, ele já estava saindo. Tenho que olhar o feijão.

José estava sizudo
Já desconfiava
Do sentimento existente
Sim, pois outra coisa não havia
Tínhamos nossos valores
Traição, nunca
Não estava em nós
Trairíamos o próprio coração
Sofreríamos calados
Para todo o sempre
Sufocando à força
De lágrimas ocultas
Esse amor proibido
Pela conveniência
Contra os interesses
Da fina flor
Da raça humana.

José sofria
Não de amor como nós
Da falta de amor
Do amar sem ser amado.
Olhares frios
O amar demais, proibido,
sem ser
O não amar, sendo
Desencadeou tudo
Discussão
Acusações
Explicações
Tudo fora de controle
Coisas de sentimento
Gritos!
Gritos de José
Gritou comigo
– Tudo bem. Vou-me embora
– Adeus!
Gritou contigo
Me doeu
Te acusou do que não fez
Me feriu fundo
Bem além do sentimento de corpo
Ainda além do sentimento de alma
Num sentimento que eu não sabia existir
Tão distante está deste mundo
Era o nosso sentimento
Nosso amor era assim
Transcendia
Ia além do extremo
Tão maior
Tão superior
Que não era possível em terra
Não podia ser maculado.

Acusações levianas
Infundadas
Revestidas de ciúme
Desprovidas de razão
Revidei à ofensa que sofrestes
sem merecer
Chamei-o às falas
Não se conteve
Sacou da arma
Em defesa, atirei
Um tiro só
José, morto.
Sem alternativas, fugi
Vida de fugitivo é barra
Nessas circunstâncias
Cadeia é pior
Você, ali
Desamparada
Ficastes só.

Nunca voltei
Sei que nunca casastes
Leva flores a José
Não por amor
Sente-se culpada
Não tens culpa
Não temos culpa
Aconteceu
Lamentável, não devia
Mas aconteceu
Pelo amor proibido
Promovido por aqueles
Que não se permitem
Simplesmente amar
Que não se permitem
O amor só pelo amor.

Somos assim
Amamos o amor só pelo amor
Amor impossível
Nesse mundo tão materialista
Amaremos sempre
Eu sei. Tu sabes.
Até que dure a eternidade
Mas, pelas circunstâncias
Separados estamos
E assim, haveremos de estar
Separados.
Amor tão grande assim
Não se permite em terra
Nessa vida de carne
Simplória vida de carne e lama.

Nos encontraremos em um outro mundo
– Para amor total!
– Para amor total!
– O amor só pelo amor
– O amor só pelo amor
– Assim, como te amo
– Assim, como te amo
– Adeus!
– Adeus!

Autor: Roberval Paulo

O PREÇO DA LIBERDADE – 1954/1961


Agosto. 24 de agosto de 1954. Carta testamento de Getúlio Vargas. Tento imaginar a aflição e o estado psicológico de razão ferida do Presidente ao escrever na primeira linha da sua carta testamento destinada à Nação. “Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim.” Explica todo o ocorrido, todas as situações e emoções vividas, sentidas e sofridas e finaliza: “...saio da vida para entrar na história.”

Com o suicídio de Getúlio Vargas, a nação brasileira entra em comoção. O Presidente tido como o pai dos pobres deixa de existir. O seu suicídio abre uma lacuna no poder e, por consequência, na herança política.

Os dois maiores partidos de oposição na época (PSD e UDN), costuram uma aliança para substitui-lo, tentando uma candidatura única de união nacional capaz de unir a direita e o centro, evitando assim uma outra candidatura radical no estilo getulista.

Esta aliança não se concretiza e em 10 de fevereiro de 1955, o PSD homologa o nome de Juscelino Kubitschek como candidato à Presidência da República. Negociando uma composição de base sólida mas com a aceitação popular como tinha o PTB, partido de Vargas e que apresentava João Goulart para concorrer à Presidência, o PSD e o PTB, poucos dias depois do lançamento da candidatura de Juscelino, fecham um acordo, com João Gourlat concorrendo como Vice-Presidente, tendo ainda na composição o apoio do Partido Comunista Brasileiro.

A UDN, relegada e principal rival desta coligação, tenta de todas as formas impedir a vitória de JK-Jango, inclusive usando de meios ilícitos para lograr seu intento, porém, todo o esforço foi em vão.

Juscelino se elege em 03 de outubro de 1955, com 36% dos votos válidos contra 30% do candidato da UDN, Juarez Távora, tendo ainda Ademar de Barros (PSP) com 26 % e Plínio Salgado (PRP) com 8%.

Sendo as eleições para Presidente e Vice, à época, não vinculadas, João Goulart recebe a maior votação para vice-presidente, inclusive tendo mais votos do que Juscelino e em 31 de janeiro de 1956 toma posse ao lado do seu companheiro de chapa.

Juscelino estabelece um governo desenvolvimentista, incentivando o progresso econômico do país por meio da industrialização, com o slogan “50 anos de progresso em 05 anos de governo”.

Entre as ações mais relevantes de seu governo está o plano de metas que estabelecia 31 objetivos para serem cumpridos em seu mandato, com destaque principalmente para os setores de energia e transporte, consumindo 70% do orçamento, e ainda indústrias de base, educação e alimentação. No bojo das mudanças e transformações está uma série de outras ações e programas importantes, culminando com a criação e fundação de Brasília, inaugurada em 21 de abril de 1960 – O nascimento de um dos principais símbolos arquitetônicos do mundo, idealizado sob a batuta do renomado arquiteto Oscar Niemeyer.

É sabido que esta política desenvolvimentista de Juscelino só foi possível ser incrementada graças a duas grandes realizações do Governo de Getúlio Vargas. A criação da Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ) em 1946 e a criação da Petrobras, em 1953.

Mas a sequência de desenvolvimento econômico e social do Brasil, alavancada por Getúlio Vargas e tão bem continuada e mais incrementada por Juscelino Kubistchek estava chegando ao fim. O tão necessário progresso econômico gerou suas dívidas. O capital estrangeiro que trazia riquezas ao país era o mesmo que sangrava nossas divisas com a montanha de juros cobrados pelos empréstimos concebidos pelos Estados Unidos. Com a inflação crescendo descontroladamente e a moeda brasileira em baixa, se desvalorizando, finda-se o governo de Juscelino.

Diante deste cenário anunciado, Jânio Quadros (UDN) se elege Presidente nas eleições de 1960. Com chapa independente, dentro dos moldes da época, João Goulart (PTB) é reeleito Vice-Presidente.

Com uma política econômica e externa que desagradou políticos que o apoiavam, setores das forças armadas e outros segmentos sociais, Jânio não resiste às pressões e renuncia em 25 de agosto de 1961, sete meses depois de ter tomado posse.

É bom salientar que o enfraquecimento da base de apoio do Governo de Jânio se deu, principalmente, pela adoção de uma política austera e independente que promoveu a aproximação com os países socialistas e restabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética (URSS), tendo Afonso Arinos no comando do Ministério das Relações Exteriores.

Instala-se uma crise institucional sem precedentes na nossa história republicana pois, a posse do Vice Jango não era aceita pelos ministros militares e pelas classes dominantes.

por Roberval Paulo




PARA IBRAHIMOVIC, RONALDO É O MAIOR DA HISTÓRIA



22/01/2011 - 13h13

Ibrahimovic diz que Ronaldo é o maior de todos, cobra Pato e ignora Inter de Leonardo

DE SÃO PAULO
O atacante sueco Zlatan Ibrahimovic, do Milan, disse que Ronaldo, atualmente no Corinthians, é o 'maior jogador da história', em entrevista à revista 'Forza Milan'.
"Na minha opinião, o maior jogador da história é o Ronaldo. Eu o vi ao vivo e joguei contra ele. É o mais completo, o que tem mais qualidade e estilo entre todos", opinou o atleta.
Ronaldo vai jogar duas partidas seguidas
Ibrahimovic também destacou que não se importa com a boa fase da rival Inter. Após a chegada do treinador brasileiro Leonardo, a equipe disputou cinco partidas e venceu todas. Atualmente, o Milan é o líder do Campeonato Italiano, com 41 pontos. A Internazionale, com 35 e um jogo a menos, está em 4º.
"Devemos estar focados apenas em nosso trabalho. Não estamos preocupados com outras equipes. Se continuarmos a fazer o nosso trabalho, seguiremos à frente e o campeonato terminará com o Milan em primeiro lugar", analisou.
O jogador falou que não há espaço para uma possível contratação de Balotelli, do Manchester City, pelo time milanista.
"Não há lugar para Balotelli. O Milan tem Ibrahimovic, Cassano, Robinho, Pato e Inzaghi, que está lesionado. Não precisamos de mais atacantes, mas esses são problemas do Galliani [vice-presidente de futebol do Milan] e do treinador [Maximiliano Allegri]".
Em contrapartida, o sueco elogiou o brasileiro Alexandre Pato, mas salientou que 'ele pode dar mais dentro de campo' e cobrou mais gols do atacante.
"Todo mundo sempre pode dar mais. Pato está de volta de uma lesão há dois meses e marcou apenas dois gols desde então. Pato é jovem, é um grande profissional, um grande talento", finalizou.

fonte: FOLHA.COM


CURIOSIDADES DA MPB

 Extraído do Site MUSICARIA BRASIL
 
Em 1980, Zé Ramalho compôs uma canção especialmente para Roberto Carlos gravar: Eternas ondas, que depois acabou sendo lançada por Fagner. "Fiz essa música já imaginando um arranjo grandioso e a voz de Roberto Carlos cantando", diz Zé Ramalho, que naquela letra relata um cenário de apocalipse com veladas referências políticas. "Quanto tempo temos antes de voltarem aquelas ondas/ que vieram como gotas em silêncio tão furioso / derrubando homens entre outros animais/ devastando a sede desses matagais..." Zé Ramalho estava confiante em que Roberto Carlos fosse gravar Eternas ondas, e quando mostrou a canção para Beto Ribeiro, na época um dos executivos da CBS, este também reagiu animado. "Zé, esta música é pra ele mesmo." Num domingo, em meados de 1980, Beto convidou Zé Ramalho para acompanhá-lo num passeio no iate de Roberto Carlos, que naquele dia recepcionava alguns executivos da gravadora. Embarcaram na marina da Glória e foram para Angra dos Reis. Durante o passeio, Zé Ramalho tocou ao violão algumas de suas canções, mas, orientado pelo próprio Beto Ribeiro, menos aquela que tinha feito para Roberto Carlos. Eternas ondas
foi entregue ao cantor numa fita cassete para que ele a ouvisse depois. Zé Ramalho aguardou a resposta dele com grande ansiedade. E esta veio alguns dias depois através de Beto Ribeiro. "Zé, o Roberto ouviu, gostou da música, mas se assustou com a letra. Ele achou a letra muito forte, carregada, com imagens de destruição e de um apocalipse, e por isso não vai gravá-la." Zé Ramalho ficou profundamente desapontado, mas, ao
relatar o episódio e mostrar a canção para Fagner, este não teve dúvida: "Zé, eu posso gravar esta música?". Lançada por Fagner em 1981, Eternas ondas foi um grande sucesso nacional. "

CURIOSIDADES DA MPB



Extraído do Site MUSICARIA BRASIL

 
O cantor e compositor Gonzaguinha não escondia uma certa admiração pelo cantor Agnaldo Timóteo, uma pessoa que, segundo Gonzaguinha, "sabe segurar a barra de viver o permitido e o não permitido". Na década de 70 os dois eram contratados da mesma gravadora (EMI) e acabaram tornando-se amigos.
Uma certa madrugada, no fim dos anos 70, Gonzaguinha ouviu o amigo Timóteo queixar-se de seus desencontros do relacionamento com Paulo Cesar Souza, o Paulinho (para quem Agnaldo Timóteo compôs A bolsa do posto três, sucesso de timóteo na decada de 70). O resultado da conversa foi a composição Grito de alerta, título sugerido pelo próprio Agnaldo Timóteo: "Primeiro você me alucina/ me entorta a cabeça/ e me bota na boca/ um gosto amargo de fel..." Gonzaguinha, entretanto, não deu exclusividade da gravação para o amigo, e Grito de alerta foi entregue também a cantora Maria Bethânia - fato que provocou o ciúme de Timóteo: "Eu fiquei pau da vida com o gonzaguinha porque aquela história era minha, eu deveria ter sido até parceiro dele na música. Eu falei: Puta que pariu, Gonzaguinha, então eu te conto uma história de minha cama e você dá a música para a Bethânia gravar!?"

ARAÚJO, Paulo Cesar de. Eu não sou cachorro não - 5 edição - Rio de janeiro: Record,2005 (Pág. 207)

JALAPÃO - UM PARAÍSO NO TOCANTINS

A pedra mais lapidada de Luiz Melodia

Início do conteúdo22 de janeiro de 2011 | 0h 00 - por Roberto Nascimento - O Estado de São Paulo


Do samba ao baião, passando pela Jovem Guarda, o jazz e o blues, o disco de estreia de Luiz Melodia é um giro moderníssimo pelos diversos estilos que formavam o espectro da MPB em 1973, um tratado que anunciou a liberdade total de expressão sem o confinamento de gêneros muito antes disso virar praxe entre artistas brasileiros. Pérola Negra, como foi batizado, chega amanhã às bancas em relançamento da Discoteca Estadão (por R$ 14,90).
O disco captura todos os elementos que figuraram na formação de um cantor e compositor de influência muitas vezes subestimada no contexto atual da música brasileira. A miscelânea tem origem no berço: filho de Osvaldo Melodia, mestre compositor do Estácio de Sá, assim como cantor, violeiro e boêmio dos bons, Luiz nasceu e passou sua infância no morro carioca, onde as melodias de seu Osvaldo e os cavacos que as adornavam providenciaram a trilha sonora de sua juventude. Luiz ouvia muito choro e samba, como era de esperar de um morador do morro, mas também muito Beatles, Roberto Carlos, Renato & Seus Blue Caps e The Foundations - o rock e o soul da época.
Na adolescência, embalava a noite carioca com seu grupo Os Instantâneos, que interpretava sucessos da Jovem Guarda e da Bossa Nova, não raro atacando alguns temas instrumentais para o povo dançar o twist, moda entre os jovens brancos de classe média. Sr. Osvaldo não gostava: Luiz era seu único filho homem e o pai sonhava em vê-lo formado na universidade. Mas o diploma veio da rua, e a colação aconteceu quando o poeta baiano Waly Salomão, em busca de composições para oferecer a Gal Costa, por conta de um espetáculo que produziria com a cantora, trombou com Luiz e ouviu a canção My Black. Aconselhado pelo poeta, Luiz mudou o nome da música para Pérola Negra e a ofereceu a Gal, que separada de Caetano e Gil pelo exílio procurava novas parcerias. Gal gravou a canção no disco Fa-Tal e lançou Luiz Melodia nacionalmente.
Portanto, choviam elogios sobre Luiz quando o cantor entrou no estúdio da Philips para dar o seu parecer em suas próprias canções. E o que sucedeu foi bem diferente do que esperavam. O negro do morro carioca, que curiosamente era compositor mas não sambista, abriu o disco de forma tradicionalíssima, com seu samba Eu Você e Eles acompanhado pelo regional de Canhoto, ases do choro carioca na época. O que sucede é o climão de Vale o Quanto Pesa, que lá pelas tantas vira samba soul, dá vez ao bolero Estácio Holly Estácio
( composto para uma namorada, mas que funciona ambiguamente como um samba tradicional, feito na veia de exaltação às escolas) e desemboca no empolgante funk soul de Pra Aquietar.
É uma vertiginosa sequência inicial que, não fosse o tenor aveludado de Luiz, altamente influenciado pelos trejeitos vocais do Rei Roberto, levaria o ouvinte a pensar que seu iPod está em modo shuffle. Eis a genialidade inclassificável de Pérola Negra. Como resumiria Waly Salomão: "um surto seminal dum novo canto do negro mulato cafuzo brasileiro internacional jovem".

por Roberto Nascimento - O Estado de S.Paulo