sábado, 22 de janeiro de 2011

O PREÇO DA LIBERDADE – 1954/1961


Agosto. 24 de agosto de 1954. Carta testamento de Getúlio Vargas. Tento imaginar a aflição e o estado psicológico de razão ferida do Presidente ao escrever na primeira linha da sua carta testamento destinada à Nação. “Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim.” Explica todo o ocorrido, todas as situações e emoções vividas, sentidas e sofridas e finaliza: “...saio da vida para entrar na história.”

Com o suicídio de Getúlio Vargas, a nação brasileira entra em comoção. O Presidente tido como o pai dos pobres deixa de existir. O seu suicídio abre uma lacuna no poder e, por consequência, na herança política.

Os dois maiores partidos de oposição na época (PSD e UDN), costuram uma aliança para substitui-lo, tentando uma candidatura única de união nacional capaz de unir a direita e o centro, evitando assim uma outra candidatura radical no estilo getulista.

Esta aliança não se concretiza e em 10 de fevereiro de 1955, o PSD homologa o nome de Juscelino Kubitschek como candidato à Presidência da República. Negociando uma composição de base sólida mas com a aceitação popular como tinha o PTB, partido de Vargas e que apresentava João Goulart para concorrer à Presidência, o PSD e o PTB, poucos dias depois do lançamento da candidatura de Juscelino, fecham um acordo, com João Gourlat concorrendo como Vice-Presidente, tendo ainda na composição o apoio do Partido Comunista Brasileiro.

A UDN, relegada e principal rival desta coligação, tenta de todas as formas impedir a vitória de JK-Jango, inclusive usando de meios ilícitos para lograr seu intento, porém, todo o esforço foi em vão.

Juscelino se elege em 03 de outubro de 1955, com 36% dos votos válidos contra 30% do candidato da UDN, Juarez Távora, tendo ainda Ademar de Barros (PSP) com 26 % e Plínio Salgado (PRP) com 8%.

Sendo as eleições para Presidente e Vice, à época, não vinculadas, João Goulart recebe a maior votação para vice-presidente, inclusive tendo mais votos do que Juscelino e em 31 de janeiro de 1956 toma posse ao lado do seu companheiro de chapa.

Juscelino estabelece um governo desenvolvimentista, incentivando o progresso econômico do país por meio da industrialização, com o slogan “50 anos de progresso em 05 anos de governo”.

Entre as ações mais relevantes de seu governo está o plano de metas que estabelecia 31 objetivos para serem cumpridos em seu mandato, com destaque principalmente para os setores de energia e transporte, consumindo 70% do orçamento, e ainda indústrias de base, educação e alimentação. No bojo das mudanças e transformações está uma série de outras ações e programas importantes, culminando com a criação e fundação de Brasília, inaugurada em 21 de abril de 1960 – O nascimento de um dos principais símbolos arquitetônicos do mundo, idealizado sob a batuta do renomado arquiteto Oscar Niemeyer.

É sabido que esta política desenvolvimentista de Juscelino só foi possível ser incrementada graças a duas grandes realizações do Governo de Getúlio Vargas. A criação da Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ) em 1946 e a criação da Petrobras, em 1953.

Mas a sequência de desenvolvimento econômico e social do Brasil, alavancada por Getúlio Vargas e tão bem continuada e mais incrementada por Juscelino Kubistchek estava chegando ao fim. O tão necessário progresso econômico gerou suas dívidas. O capital estrangeiro que trazia riquezas ao país era o mesmo que sangrava nossas divisas com a montanha de juros cobrados pelos empréstimos concebidos pelos Estados Unidos. Com a inflação crescendo descontroladamente e a moeda brasileira em baixa, se desvalorizando, finda-se o governo de Juscelino.

Diante deste cenário anunciado, Jânio Quadros (UDN) se elege Presidente nas eleições de 1960. Com chapa independente, dentro dos moldes da época, João Goulart (PTB) é reeleito Vice-Presidente.

Com uma política econômica e externa que desagradou políticos que o apoiavam, setores das forças armadas e outros segmentos sociais, Jânio não resiste às pressões e renuncia em 25 de agosto de 1961, sete meses depois de ter tomado posse.

É bom salientar que o enfraquecimento da base de apoio do Governo de Jânio se deu, principalmente, pela adoção de uma política austera e independente que promoveu a aproximação com os países socialistas e restabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética (URSS), tendo Afonso Arinos no comando do Ministério das Relações Exteriores.

Instala-se uma crise institucional sem precedentes na nossa história republicana pois, a posse do Vice Jango não era aceita pelos ministros militares e pelas classes dominantes.

por Roberval Paulo




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