terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O MAIOR SONHO DO MUNDO

Queria por pelo menos uma vez poder nascer sem sentir a temível e tão amável, a dor afável, a dor do parto. Não eu mas, a minha mãe que, de tanta dor, quase que eu não pari. E queria ainda, depois de parido, não ser erguido, suspendido pelos pés, de ponta cabeça para o lado, o outro lado, o lado de baixo da vida.

Contentaria-me ser só elevado ao colo e seio de minha mãe e embriagar-me, deleitando-me do sublime e purificado leite da existência sem por ele nada pagar que leite de mãe é dado de graça, doado só pelo dom e natureza de amar.

Aí, queria poder crescer sem saber de verdura ou de outros tais ingredientes ou de quem inventou que chocolate faz mal. E em frente crescendo sem nunca saber de colégio ou de escola às seis da manhã.

E quando enfim chegasse o dia de ter a primeira namorada, que ela não fosse a primeira e sim aquela depois da última que sonhasse comigo o mesmo sonho que sonhei um dia com a primeira que não soube seu o meu último sonho.

E quando os meus pais perdessem a magia do amor existente que os levou ao altar, que ele se renovasse sem a doída dor da separação e que o amor de meus pais natural e normal continuasse na família que fomos antes de matarmos o amor em nós.

E quando enfim se apresentasse o dia de eu me casar, que o amor de meus pais quando houve a união habitasse em mim e em minha amada que não fosse a primeira nem a última namorada e somente sim, a forma do amor continuado no continuar premente da vida cortada e interrompida pelo sonho do amor desorbitado no acontecer da existência eternizada.

E que meus filhos não fossem meus e sim só meus e do meu amor e que nunca soubessem do amor que não fosse o amor do eterno e que assim amassem e amassem sem conta o amor aquele sem dor e então não sentissem a dor cruel da real realidade que os faz ouro meu sem tê-los propriedade.

E que o mundo tivesse um lugar mundo infantil quando chegasse a melhor idade e não houvesse abandono e nem desenganos e não se sentisse a horrível sensação da inutilidade quando a página virasse e começasse a descida e que esta descida continuasse subindo sem se explicar, só indo, preservando o mistério, o segredo, o elo reverso que une dois mundos e que a partida fosse a mesma alegria de quando é chegado, que eu não me sinta cansado e nem fraco e nem mirrado, me sinta viçoso, corado e formoso quando a verdade da vida visitar o meu peito e eu, satisfeito, viajando sorrindo tal qual o mesmo menino de quando aqui chegou e partindo no amor que me trouxe à vida, viajante de nuvem, última despedida e, do lado de lá, alegria e bonança, o sim da esperança habitando o verbo amar.

Um sonho que é só um sonho e pouco tem de real mas que, entre o bem e o mal vamos todos navegando e também vamos sonhando para amenizar as dores, as ilusões e os amores que fazem mágico o mistério do viver e mesmo assim sem saber, sem conhecer ou querer vamos vivendo e sonhando para o verbo renascer.

Roberval Paulo

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