quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

ÀS VEZES É PRECISO FALAR DE AMOR - Roberval Silva


Houve uma era em que mais se sentia o amor. E nesse tempo, um homem que viveu além de tudo e de todas as coisas possíveis e impossíveis, dizia: Amai-vos uns aos outros como eu vos amo. E disse mais: Amai ao próximo como a ti mesmo. Mas, plantar o amor é difícil; colher, muito mais difícil se faz. Ele foi perseguido, acusado, julgado e condenado e, foi morto. Seu pecado? – Falar e viver o amor.

A vida se fez diferente a partir daí. Com o seu amor infinito, libertou e salvou todas as gerações passadas, contemporâneas e futuras pelo seu sacrifício e sofrimento aos pés do calvário, sob o peso do lenho da cruz e pelo seu sangue, que alimenta todos os nossos dias. O mundo se dividiu entre antes e depois dele. A vida triunfou e venceu a morte e a fonte de água viva jorrou no seio da humanidade.

Hoje, depois de tanto tempo e situando-me dentro da realidade atual, pergunto a mim, sem poder livrar-me de uma estranha sensação de descontentamento e impotência: Nada valeu a pena? Será que tudo foi em vão? Recorro ao poeta, que em um tempo mais recente, dizia: Tudo vale a pena se a alma não é pequena. E assim, busco alcançar um entendimento que possa, pela força desse mesmo amor que é dele e que habita em mim, salvar-me e libertar-me das garras sangrentas do egoísmo e da ambição que, pela inconteste e maléfica influência do desejo negro do ter, instalou-se em nós e nos impede de abrir as portas para as virtudes do ser. O mundo já não canta o amor e a história continua a se fazer com sangue. No ciclo vicioso do poder, a ambição gera seus filhos, verdadeiros pais do egoísmo. A destruição é total e se demorarmos a acordar desse sono e sonho malditos, o caminho é sem volta.

A natureza, agonizando, pede socorro, sem ser ouvida. Os valores éticos e morais foram-se, partiram para uma galáxia distante, expulsos pela nossa soberba e cobiça e pelo nosso desprezo e desrespeito ao semelhante. Só se vê descaso pelas questões sociais que afligem o planeta e aniquila milhões de semelhantes, transformando-os em bichos à procura do nada, abatidos todos os dias pelo tiro certeiro do inevitável, agindo fora do seu ciclo natural. A sociedade perece, vítima do seu próprio desamor e leva consigo a inocência que um dia foi nossa e que reinava nos recôncavos perdidos e esquecidos do limiar da existência. O caos é total e parece não ter fim. Tornar-se-á eterno como eterno foi um dia, o amor, que dorme, enfraquecido e desqualificado, no seio desumano dos humanos que somos.

É preciso acordar. O sinal de alerta já foi acionado e a luz das trevas só espera o momento para reinar sozinha, negra e sem cor e desesperançada de viver.  A vida, agora, ínfima e tênue, continua a descendente escalada e, teimosa e obstinada que é, procura perenemente e incessantemente pelo amor, para ressuscita-lo.  Procura incansável, mas necessária. Só este encontro será capaz de alterar esta realidade; vida e amor andando juntos.

Assim, penso e ainda me sinto existir e volto a crer, depois de tantas incertezas, que a humanidade tem jeito. Mas, depende de todos nós. Vamos dar essa mãozinha. Vamos, todos nós, juntos, ressuscitar o amor e semeá-lo em nosso meio e seio. E aí, cheios e repletos do amor, vamos trilhar juntos os caminhos da paz, da compreensão, da igualdade e da vida digna e justa a todos, indiscriminadamente. Só o amor de tudo é capaz e é, esse amor, o dom maior. Está no ser e o ser é o espírito e é tudo o que resta. O espírito que é amor; o amor que é espírito. É isso mesmo. Sendo assim, estamos recomeçando no caminho certo.

É o que sempre digo.
Às vezes é preciso falar de amor.

Roberval Silva

SERTANEJO UNIVERSITÁRIO - Roberval Silva


O que é isto?
Nova nomenclatura de um estilo?
Um novo rótulo?
Qual o propósito?

Perco-me, às vezes, nessa definição e procuro encontrar fundamento não que justifique o termo, mas sim, que traga à luz condicionada dos nossos olhos tortos, a clarividência “clarividente” do alimento, no crucial momento de o deglutir.

Esta é a mais nova definição do que se intitula de "Música Sertaneja". Mas é na verdade só um chamariz, um novo atrativo; a nova mensagem extraída do mesmo texto, já velho e subjacente. Uma maneira nova de trazer o velho ou uma maneira velha de ganhar o novo. Façam a leitura que entenderem e captarem, pois, tudo dá no mesmo.

Como está escrito no Livro do Eclesiastes: >"Tudo o que acontece ou que pode acontecer já aconteceu antes. Deus faz com que uma coisa que acontece torne a acontecer (cap. 03, vers. 15)". Acredito que esta passagem não deva ter nada a ver, especificamente, com o texto que ora me proponho a escrever, mas, no mínimo, retrata que, tudo o que foi é o que é, e tudo o que é, é o que será. É assim também com a música sertaneja. Para resumir, parafraseio o poeta que já dizia: "Nada mudou".

Esta é, pura e simplesmente, mais uma "comum" estratégia de marketing; mais uma da nossa sensacional mídia e do nosso ensandecido mercado, altamente e compulsivamente consumista que consome o velho vestido de novo, mesmo sabendo a roupa nova ser a sobra do tecido envelhecido e já, outrora, consumido.

O sertanejo é o sertanejo e, na concepção musical, foi e sempre será a música cantada por uma dupla de artistas, independentemente do gênero apresentado. Numa outra concepção e talvez, a mais original e que conserva a verdadeira acepção da palavra, é a música que retrata e relata a vida do campo, do povo realmente sertanejo, seus costumes e hábitos, seus amores, suas ilusões e desilusões, seu contato com a natureza enfim, seus mais olvidados e desprezados e, ao mesmo tempo, expressivos e indiscutíveis valores e que, há muito tempo, foram relegados ao esquecimento na música cantada hoje.

Portanto, sertanejo ou sertanejo universitário, é a mesma coisa, é mais do mesmo e só isso, com a diferença de que, para se inserir e se destacar no universo do ambiente “sertanejo universitário”, é necessário que seja uma “duplinha, sem pejorar”, assim, mais ou menos esteticamente bonitinhos - essa é a rotulação das gravadoras - sem considerar estilo ou classificação, ficando as duplas menos afeiçoadas e mais velhas no título de somente sertanejo, mas, no entanto, cantando o mesmo.

Necessário ainda se faz considerar que a maioria dos ditos "sertanejo universitário" nunca passaram por uma Universidade e que o público que os curte está bem longe de ser só universitários, posto que essa música se espalha pelos rincões sem fim do nosso Brasil, distante e a perder de vista das universidades, impregnando-se na pele e nos sentimentos dos seus apreciadores, tornando-se parte integrante no processo cultural e social do País e, porque não dizer, econômico.

Só me resta a pergunta que não quer calar: E aí? Vamos de sertanejo ou sertanejo universitário? Ou os dois? Tranco-me em mim, reflito e respondo por todos nós brasileiros: Isso é o que tem que ser. Escolham e curtam, até que o sucesso “novo” canse e caia, e, consequentemente, deixando de ser novidade, diminuam as vendas, para que, como nova alternativa de faturamento e de sucesso, se crie um novo rótulo para tentar as nossas preferências e inteligência.

E nós, sábios e senhores dos nossos desejos e prazeres e meros instrumentos da sede filosófica do ser, adentraremos, natural e instintivamente, pela fonte da novação para fazer beber e alimentar os nossos sonhos velhos.

Roberval Paulo

FILHO DO VENTO - Roberval Silva


Não há o que nos espera 
que não seja o anoitecer
O anoitecer que escurece 
o sonho que não se fez
Um anoitecer de morte 
que o calor da vida esfria

Eu sou refém da poesia

Não quero ser este fim 
em mim plantado na pele
Na matéria que de terra 
é o fim e seu começo
Ser clandestino no berço, 
cada vivente em seu tempo
Sou eu o filho do vento, 
só termino com a manhã

E se a manhã começa, 
sou eu também o começo
A origem que do fim, 
foi em mim que iniciou
A Fênix, que ao morrer, 
nem sabia ser eterna
A onda que transportava 
o mar do meu desamor

Fui a roda e rodando, 
rodei o meu existir
Na direção de um verso 
que eu sabia ser reverso
O verbo que só em si 
é começo e fim eternos
Sou eu o clarão da vida. 
Sou eu o lobo de mim.


Roberval Silva

ANOITECER DE UM POETA - Roberval Silva


Ainda não me disseram quem vinha pra me alegrar.
É que eu estava triste, uma tristeza tamanha
que eu quase que nem sabia o que é ser um ser feliz.

Mesmo com a ilusão de que aqui se caminha,
de que aqui se aninha e encontra a felicidade,
mesmo sabendo a cidade ser uma nossa aliada,
andando em suas calçadas de luzes e sons perdidos

De passos quase inauditos, de gritos roucos, de dor,
da noite em seu esplendor a acolher seus incautos,
da vida em passos largos, parando na encruzilhada,
na ponte que está cortada para não mais se emendar

Do ser que foi a voar por perder a caminhada,
da fonte doce e cansada correndo sem se abater,
do canto de um padecer mais solidão que tristeza,
mais prazer que aspereza na calda de um bentevi

Te vi ali, não aqui, resposta de um sabiá:
cantar bem eu sei, sou eu, que não me encontro é com a sorte,
só caminho é para o norte, um caminho conhecido,
não de mim, de um ser antigo que habitava outro mundo

E me disse – extra pra o mundo! – cheguei e aqui sou razão,
não me fale de emoção, isso já foi, é passado,
agora o tempo é fechado, não há lugar para a dor,
todo o horror que habitava o universo do ser,
hoje vai a entardecer o que amanhã for amor.


Roberval Silva

AMORES - Roberval Silva


Eu não sei nem porque 
estou sozinho
Acho mesmo que não sei 
é me querer
Porque sei que quem me quer 
eu sempre acho
Mais não sei mesmo 
é como junto viver

Me encontro com alguém 
e desencontro
Não me prendo no perfil 
do seu amor
Logo, logo, outro amor 
já se apresenta     
E eu me perco, vou e volto 
nesse ardor

De querer o amor 
que vem depois
E não querendo perder 
o que “vêi” primeiro
E nessa ida e vinda 
eu sou maneiro
Mais acabo me entregando 
a um novo amor
Que não é nem o primeiro, 
nem o último
Perco três e de novo 
sozinho estou.


Roberval Silva

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

FILHO DO NATURAL - Roberval Silva


Sou filho do natural, 
na ilusão do existir
Sou enfim a existência 
que se finda e continua
A vida, que ao morrer, 
nem sabia ser eterna
Que de tanto caminhar, 
se despiu, já está nua
Despida está a vida 
de toda carne-matéria
Na evolução filosófica 
da entidade espiritual
Que de tanto conhecer 
se vê no início do nada
Se precipita ao prover 
o mistério sideral.

Roberval Silva

DESCULTURADO - Roberval Silva



Pensando culturalmente
Não sou eu aculturado
Sou em mim, desculturado
Numa cultura sem cura
Mas que cura dor de dente
E até quebranto com reza
Portanto, não se despreza
A cultura que é escura
E sim, encontre brancura
Na cultura de sua terra

É a cultura de um tudo
No meio de tanto nada
É a folha da enxada
Antes da folha papel
É a falácia dos mudos
Valendo mais que a história
É uma oração sem glória
Um conceito sem virtude
O teatro de gertrudes
Fecha o pano sem memória

O homem deixa o existir
No tempo e não segue em frente
Mas Deus, compassivamente
Está no tempo e não passa
Mesmo intentando seguir
O homem finda, se encerra
De terra, volta à terra
Não importa o que ele faça
Mais se merecer a graça
Não encontrará mais guerra.


Roberval Silva

DESCAMINHO - Roberval Silva

Tem hora que a estrada fecha
Tem vez que o caminho acaba
É aí que o rio enche
E não tem jeito, deságua
Deságua água no mundo
A quem quer, a quem não quer
E a estrada fechada
Em dilúvio é desmanchada
Indo ao revés do moinho
E o caminho acabado
Se vai assim desaguado
Em outro novo caminho

O caminho que se abre
A estrada que continua
Mas seu humilde passante[
Nunca mais será o mesmo
Será um outro do mesmo
Seguindo um outro caminho

E o passante, enluarado
Novo estradar aventura
Ainda mais caminhante
Ainda mais açoitado

Mas nunca mais será o mesmo
Novo caminho em começo
Endireitando-se o avesso
De um caminhar renovado.


Roberval Silva

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

CONSTRUÇÃO NATURAL - Roberval Silva

Se não for como eu falei
É bem melhor que nem seja
É melhor nem ser bastante
Pra não ficar bem lembrado
É melhor não ser amante
É bom que seja espontâneo
É preciso ser estranho
Pra se dar a conhecer.

É bom que saiba perder
Assim se aprende a ganhar
Na guerra em que for lutar
Lute por qualquer verdade
Nos becos dessa cidade
Quanta mentira escondida
Quanta gente destruída
E outras mais se perdendo.

O trem da vida correndo
Nos trilhos do seu destino
A vida em desalinho
Pede socorro a morrer
Não tem de não entender
Tudo vai se consumar
Mesmo que não concordar
Não é o que ninguém falou
Nem mesmo quem semeou
Ou deixou de semear.

É sol em qualquer lugar
Tempestade em qualquer casa
Pra voar tem que ter asa
Mas é fácil rastejar
Eu disse, eu vou falar
Tem que ser como eu pensei
São as coisas que eu não sei
Que me fazem entender
Que a vida pra não morrer
Precisa entender a morte
Não é mais como eu falei
É como Ele escreveu
A morte que Ele venceu
Não foi plantada na sorte
Tudo é como o vento norte
Tem direção natural
Existe a raíz do mal
Mesmo em meio a todo amor
O exército do desamor
É construção natural.

Roberval Silva

O FIM DO COMEÇO QUE NÃO TERMINA - Roberval Silva


Já morri muitas vezes na ingratidão de pessoas queridas e amadas.
Já chorei lágrimas que nem minhas eram pela solidariedade e pelo sentimento mágico do sofrer e amar juntos.
Substituí, pelo amor, pessoas insubstituíveis.
Perdi tantas vezes que sempre busquei em mim o caminho de ganhar.
Esqueci acontecimentos que muito me judiaram e que diziam-se inesquecíveis.

Mas, vivi!
Vivi mesmo quando só de morte se apresentava o horizonte.
Vivi mesmo quando a vida me indicava a estrada de morrer.

Fui derrubado inúmeras vezes e, pela insistência, persistência e pela necessidade enigmática da missão continuar, pus-me sempre de pé.
Suportei dores ditas insuportáveis.
Perdoei quantas vezes necessárias fossem pelo espírito do Deus humilde que habita a alma e o coração dos homens e que nos faz lembrar sempre do quanto que nada somos.

Transpus obstáculos da realidade intransponível pela alegria inconteste e extremamente prazerosa do “tudo vale a pena se a alma não é pequena”, - lema do grandioso mágico das palavras Fernando Pessoa.

Saí fortalecido pós cada derrota sofrida e em frente segui, confiante e esperançoso, por acreditar que “no fim tudo dá certo. Se não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim”, - conselho do nosso tão perspicaz Fernando Sabino.

Procurei ser sensato quando a insensatez comandava todos os meus sentidos, pela inteligência inata que nos permite, com esforço, usar a razão como guia da emoção e do instinto.

Busquei um fio de prudência que fosse, quando só de imprudência e irresponsabilidade era o meu ser povoado, pois assim me situava, posicionando-me na linha reta do meu pensar torto.

Desafiei tanto a vida que a aventura da morte de mim fugia e renegava-me, resignando-se por compreender o risco inerente, constantemente inconstante, no perigo iminente do viver desejável e indecente do mundo, mas carregando a crença inviolável na verdade e decência do “tudo posso naquele que me fortalece” – Filipenses 4:13.

Mas, contudo, todavia, entretanto e, sobretudo, vivi.

Vivi mesmo quando a vida insistia em desistir.
Vivi mesmo com a sorte a léguas de mim distante, que corria à minha frente, em seu galope ligeiro, certeiro e indiferente, sem querer minha chegada.
Vivi com a adversidade visitando o meu terreiro, me fiz ser passarinheiro quando não podia andar e caminhando ou voando, chorando ou se alegrando, construindo ou destruindo, caindo e se levantando, planejando ou improvisando, morrendo ou ressuscitando, fui vivendo e revivendo, vagando e porfiando, “pois quão bom é porfiar”- (Basílio da Gama, em o Auto da Barca do Inferno).

Enfim, sempre experimentando, e em mim revigorando a força vital do existir, a única realidade, última oportunidade, em verdade, consequente que, irremediavelmente, vai se haver com o inevitável, mal ou bem, inexplicável, intrigante, incontestável, cumprindo o oráculo santo para enfim renascer.

É o começo do fim, ou o fim do seu começo, que vai dar na eternidade, que não se sabe vida ou morte, nem rumo sul e nem norte, se indo a desnascer.

Roberval Paulo

SONHO DE SONHAR ACORDADO - Roberval Silva


Sabe o que eu queria mesmo? 
Era o prazer de um sonho, 
um sonho eu queria ter,
mas um sonho desses sonhos 
que a gente sonha e sonhando 
só pensa e se enveredar 
pelo caminho sonhado 
e pensado e perseguido, 
imbuído do desejo 
desse sonho realizar.

Mas um sonho que, sonhado, 
assim, se realizasse, 
mas não fosse tão real 
como a dura realidade, 
fosse somente verdade, 
mas não doesse, alegrasse, 
um sonho que reparasse 
os erros sem machucar

Roberval Silva

RIOMATA - Roberval Silva


A mata no rio
O rio na mata
A mata desata
O rio cascata
O rio mata
A mata se mata!

O rio abraça
A mata devassa
A mata o rio
A mesma paisagem
A mata folhagem
O rio passagem
O rio invade
A mata selvagem

O rio a mata
A mesma viagem
A mata voraz
O rio coragem
Um fio de esperança
Na sombra descansa
Mata e rio, andança
No fim da imagem
Rio e mata, tardança
“The End!” Miragem.

Roberval Silva

O FIM DO COMEÇO QUE NÃO TERMINA - Roberval Silva


Já morri muitas vezes na ingratidão de pessoas queridas e amadas.
Já chorei lágrimas que nem minhas eram pela solidariedade e pelo sentimento mágico do sofrer e amar juntos.
Substituí, pelo amor, pessoas insubstituíveis.
Perdi tantas vezes que sempre busquei em mim o caminho de ganhar.
Esqueci acontecimentos que muito me judiaram e que diziam-se inesquecíveis.

Mas, vivi!
Vivi mesmo quando só de morte se apresentava o horizonte.
Vivi mesmo quando a vida me indicava a estrada de morrer.

Fui derrubado inúmeras vezes e, pela insistência, persistência e pela necessidade enigmática da missão continuar, pus-me sempre de pé.
Suportei dores ditas insuportáveis.
Perdoei quantas vezes necessárias fossem pelo espírito do Deus humilde que habita a alma e o coração dos homens e que nos faz lembrar sempre do quanto que nada somos.

Transpus obstáculos da realidade intransponível pela alegria inconteste e extremamente prazerosa do “tudo vale a pena se a alma não é pequena”, - lema do grandioso mágico das palavras Fernando Pessoa.

Saí fortalecido pós cada derrota sofrida e em frente segui, confiante e esperançoso, por acreditar que “no fim tudo dá certo. Se não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim”, - conselho do nosso tão perspicaz Fernando Sabino.

Procurei ser sensato quando a insensatez comandava todos os meus sentidos, pela inteligência inata que nos permite, com esforço, usar a razão como guia da emoção e do instinto.

Busquei um fio de prudência que fosse, quando só de imprudência e irresponsabilidade era o meu ser povoado, pois assim me situava, posicionando-me na linha reta do meu pensar torto.

Desafiei tanto a vida que a aventura da morte de mim fugia e renegava-me, resignando-se por compreender o risco inerente, constantemente inconstante, no perigo iminente do viver desejável e indecente do mundo, mas carregando a crença inviolável na verdade e decência do “tudo posso naquele que me fortalece” – Filipenses 4:13.

Mas, contudo, todavia, entretanto e, sobretudo, vivi.

Vivi mesmo quando a vida insistia em desistir.
Vivi mesmo com a sorte a léguas de mim distante, que corria à minha frente, em seu galope ligeiro, certeiro e indiferente, sem querer minha chegada.
Vivi com a adversidade visitando o meu terreiro, me fiz ser passarinheiro quando não podia andar e caminhando ou voando, chorando ou se alegrando, construindo ou destruindo, caindo e se levantando, planejando ou improvisando, morrendo ou ressuscitando, fui vivendo e revivendo, vagando e porfiando, “pois quão bom é porfiar”- (Basílio da Gama, em o Auto da Barca do Inferno).

Enfim, sempre experimentando, e em mim revigorando a força vital do existir, a única realidade, última oportunidade, em verdade, consequente que, irremediavelmente, vai se haver com o inevitável, mal ou bem, inexplicável, intrigante, incontestável, cumprindo o oráculo santo para enfim renascer.

É o começo do fim, ou o fim do seu começo, que vai dar na eternidade, que não se sabe vida ou morte, nem rumo sul e nem norte, se indo a desnascer.

Roberval Silva

CAMINHO - Roberval Silva


Nessa estrada triste
Um sonho triste
Um homem triste
                        a caminhar...

Buscando alegria
Sonhando a poesia
DEUS do céu um dia
                        vai lhe abraçar

De tão alegre ele se viu triste
E sorriu quando devia chorar.


Roberval Silva

ATITUDE, É PRECISO TER - Roberval Silva


Eu gosto das boas atitudes
A atitude, por exemplo, de procurar dar casa a quem não possui
A atitude de dar de beber a quem tem sede
De alimentar a quem tem fome.

A atitude de levar um sorriso a quem não sabe sorrir
De levar um abraço a quem já não mais abraça
A atitude de sonhar o sol, mesmo que este não se dê aos sonhos.

Quero luz e que a luz da vida esteja em todos
Que a vida seja farta e que na linha de chegada
Possamos partir rumo ao bom
Que o bom é viver.

Gosto de atitude, das boas atitudes
E de perder
Que ganhar é muito fácil.

E que de boas atitudes
Seja o mundo repleto
Seja a vida completa
De sonhos, de amor e de paz
De sol, de luar, de cantar
Na terra onde tudo é breve.
                    
Roberval Silva

sábado, 2 de fevereiro de 2019

O MAR - Roberval Silva


O mar me faz bem, me faz muito bem.
Ele é tão grande, tão misterioso.
Da praia olho e ele me atrai.
Resisto e não vou, 
me sinto forte também.

Luta desigual, mas equilibrada.
Ele bate forte na praia e me assusta.
Solta um rugido.
Parece querer me intimidar.
Eu resisto!
Olho bem em seus olhos e o sinto triste.

Majestoso, ele vem em nova investida
e lambe meus pés.
Sinto o frescor das suas águas
e me embriago
de o ver assim tão próximo,
tão meu,
tão aos meus pés.

Roberval Silva

VELHA ANGÚSTIA - Roberval Silva


Estou só e penso em você
As paredes se abrem e os olhos se perdem
Na lonjura do infinito
A cama está fria
Estou com frio e nem o cobertor de lã me aquece
Me jogo da altura de muitos andares
Livre e solto no ar e sem asas,
O chão que me apara sangra suas dores.

Queria, só por um momento, poder não cair
Sentir o frescor da brisa no peito, em pleno voo
E a magia do voo, com asas a me levar
Ao porto seguro que não sou.

Estou só e já morri muitas vezes
Ainda penso em você
O telefone toca, uma voz soa distante
Não é você e nem atendo
Tão longe da realidade que estou
A porta se abre e só entra a noite a me fazer companhia
Me trás a amargura da vida tragada em três dedos de Whisky
Estou boiando na vida, a praia cada vez mais distante
A serenidade naufragada, causa de um só desprezo.

Na janela já é madrugada
O horizonte parece que me espera
Venero a luz
Não sei se a verei de novo
Quando no arrebol vir o sol
Não sei se ainda estarei aqui.

Na lembrança os sonhos e desejos primeiros
Menino e vida se fundiam. Uma alegria só
De emoções e amores a oferecer.
Estou partindo, finalizando a caminhada, e,
Já ouço o chamado. Sua voz é triste chamando por mim
Encurtam-se as distâncias
Não existo na tua ausência
Logo estarei ao teu lado.

Perdoa-me!
Procurar-te-ei por todas as vidas e...
Que o céu nos seja eternamente
Minimizando as dores que fomos

Perdoa-me!
Tua partida me partiu
E só pedaços do existir me deixou
Espalhados por todos os dias e vidas e mortes
À tua procura.

Recomeçar-mos-emos
Do ponto onde não paramos
Da ponte em que não passamos
Do ponto onde começamos
A ver o sol todo dia

Perdoa-me!
Começar tudo de novo
Todo dia um recomeço
No outro lado da vida
Onde a morte já não mais vive.


Roberval Silva

SONHOS E ESPERANÇAS - Roberval Silva


  Recomeçar todo dia 
     até o anoitecer
         O sol se esconde, 
             é hora de dormir
                Recuperar 
                   sonhos perdidos
                      Se embrenhar 
                          na imensidão da noite
                             O dia também é grande
                                 E as forças
                                     precisam estar renovadas.

                                                                    Todo dia 
                                                               é o mesmo dia
                                                           De um novo dia 
                                                       que surge com a manhã
                                                   Manhãs novas, 
                                               manhãs escuras
                                           Manhãs verdes 
                                      de sonhos e esperanças
                                 Manhãs azuis 
                             de palavras e começos
                         Recomeço no começo 
                   de um novo dia.


Roberval Silva

RECOMEÇO - Roberval Silva


Uma semana... 
                              um mês de chuva
       Agora... 
                   parece que o tempo firma!

As dores estão se indo.

O trem, de novo, 
                           já corre nos trilhos

O sol reaquecendo sonhos

Sinais de que estou voltando a viver.



Roberval Silva

POEMA DAS COISAS OU A LOUCURA DOS SONHOS - Roberval Silva


Ajuntei algumas palavras
e formei um arco-íris
Arco-íris de flores, não de cores
Que dizia ao mundo o colorido dos sonhos

Ajuntei os sonhos do dia
E com a noite sem sonhos misturei
E formei o corcel enluarado do verde
Que dizia os matizes das noites de luar e mar,
E a esperança me brotou dos olhos
Qual fino cristal límpido e triste
Cristalino e discípulo do orvalho da manhã

Ajuntei as coisas do meu sentido
Misturadas às coisas que só de coisas sabiam
E extraí dessas o sentido maior das coisas
Onde o Invisível e o Indizível
Se coisificam

E nesse ajuntamento das coisas com outras coisas
A realidade virou só poesia
E um ser superior e efêmero
Adâmico e Mosaico e reluzente
Levou-me pelo buraco negro iluminado
Da janela biônica da vida

Visitei castelos e reinos e princesas
Mata virgem, céu azul, água verde e dinossauros
Viajei na cultura e ruínas dos Astecas e dos Maias
Naveguei o mar vermelho entre unicórnios e centauros
Das pirâmides egípcias fiz uma ponte à Grécia Antiga
Ligada a Roma pela crença milenar do Oriente
A deusa Tétis brincava nas asas da Fênix
E Nero passeava pelo jardim do Éden
Golpeando Aquiles à espada dos Samurais.
Pela Sibéria e Esparta fui vagando vagamente
Na terra santa em comunhão vi o cordeiro
Caminhando e pregando mansamente
Em meio aos anjos entoando suas cantigas e corais

Toquei a evolução de Adão
E de outras e mais outras civilizações
Ainda mais novas e remotas de razões
Que vem desaguar em Marte
Quando neste tinha mar

Fiz uma confusão e profusão de coisas
Que coloriu o Monte Olimpo
De toda sorte de deus
E no azar da sorte, não minto,
Eu vi um deus pé de pinto
Ocupando o trono de Zeus
E de Hércules a Thor, geração por geração,
Todos telem transportados no tempo rumo ao sertão
E no calor da caatinga, sem açude, só cacimba
Seguidos por Lampião e, no encalço, os cangaceiros
Foi em Canudos que se deu e o mediador era eu
O grande encontro dos deuses
Com Antônio Conselheiro.

E a república e os deuses se organizaram em motim
E os deuses, desencarnados, se voltaram contra mim
E a vida-matéria em Canudos rolou por terra, foi o fim
Daqueles que só tinham trabalho e fé pra lutar
E eu me revoltei com os deuses e disse que eram coisas só
E eles e a república me disseram escalpelar
Feito os índios da América; a outra América distante
Salva sempre por Deus em desvarios norte-americanos.
E os deuses-coisas, vencidos, espernearam e fugiram
Tangidos pelo rugido da minha imaginação
Feridos de morte pelos raios da razão
Alvejando e aniquilando democratas e republicanos

Ajuntei meu espírito e alma que vagavam
E meu físico e minhas enervantes pernas
E minha força e toda a força dos sonhos
E saí em incorporado despertar
Acordei no chão do meu quarto, exausto,
Em meio às coisas que eu não ajuntei

Quis ajuntá-las e vi a viagem da morte
Na porta aberta do sonho da outra noite.
No espelho, Narciso se banhava e sorria
E Afrodite se despia aos meus olhos, arfante e sôfrega.

Olhei para as coisas, depois para mim
Fechei os olhos e me encolhi sob o cobertor
Quase morri sufocado de gozo e de calor
E não mais abri os olhos naquelas manhãs de outono
E lá se foram todas as coisas em enganos e desenganos
E a manhã desabrochou sonolenta e cismada, na poesia do jardim.


Roberval Silva