quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

DISTÂNCIA / INDEFINIÇÃO -- Roberval Silva



DISTÂNCIA
  
Tudo é muito relativo
Tudo é todo sentimento
Tudo é graça, esplendor
Alegria, é o momento
Dor e lágrimas, é a distância
Forçando o esquecimento

  
INDEFINIÇÃO
  
Amor,
sentimento que não se define
que não se programa
simplesmente sente
Porém, sem entrega
sem se dar por inteiro
Por sermos incapazes
de tão somente AMAR!


Roberval Silva

CONTRASTES - Roberval Silva


E olha o céu
E dói o estômago
E escuta o choro
O choro da fome
E vê, vê a fome
Retratada no filho
Um ente inocente

Da fome
Sua face escaveirada
Devorando a todos
Animal e vegetal
E gente
Animal ainda humano
Inumano

E a outra face
O contraste
Desumano
Latifundiários
E governo
Seus carrões
Seu rico dinheiro
Sua sala de cores
Suas vestes de seda
Sua mesa farta
Seu vinho, champagne

Comprados
A dinheiro
O dinheiro
Da fome
O voto da fome
O trabalho da fome
A mão de obra
Da fome
Desnutrida e barata

E olha o Céu
E arrota caviar
E escuta um choro
Pra Internet usar

E olha o Céu
E dói o estômago
E escuta o choro
O choro da fome

De novo, o contraste
Um show, belas artes
Somenos à parte
Um choro abastado

E lá, o cenário
É real, é pesado
Nas lágrimas do homem
O filho enterrado

E olha o Céu
E olha-se o Céu
E água abundante
Da terra irrigada

E olha o Céu
E olha-se o Céu
E nenhuma nuvem
E nada de água

E o rico
Cada vez mais rico
E o pobre, cada vez
Mais miserável

E o sertão, cada vez
                       Mais seco
           E esquecido
E também seu povo
Principalmente seu povo
           Cada vez mais povo
                       Cada vez mais gente.

Roberval Silva

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

SER E EXISTIR - Roberval Silva


É assim, não se explica.
Nascer, viver e ser somente e nada mais.
Os dias chegam como se só vidas trouxessem
 e vão-se em noites de sonhos por terminar.

A manhã rejuvenesce; a cada manhã sou mais velho.
O vento virgem da manhã torna mais velho quem por ele passa.
É que a manhã traz vida nova ao mesmo tempo que envelhece vidas já dormidas.

Os destinos se confundem nas tantas encruzilhadas e confluências do ser e do existir.
A vida, por si só, segue em frente e não se individualiza.
Vive de si mesma e não retrocede nunca.
Vive de si mesma, descompromissada e livre e além das comprovações científicas, porque a vida vive para todo  o sempre – viva – superior a tudo e a todos.
O resto é sobra, e nada, e morte, e inexplicável.

Inexplicável também o é, a vida, mas,
porque abraçá-la com suspeitas e dúvidas,
se o que vale é viver?
É acaso o dia maior que a noite?
Será a ciência a contraprova da fé? Ou vice e versa?
Não é só pelo milagre da vida que é permitido à ciência, existir?
Como por em dúvida a sua própria existência?

A vida vem da vida e traz em seu bojo, a morte.
Dualidade existencial e essencial.
Nascer e morrer. É a lei.
Nascer, viver e morrer, eis a lei e nos basta.

E tudo o mais é especulação.
Vida que segue sem explicação.
Para todo o sempre. Amém!

E que a terra nos seja leve.


Roberval Silva

O MAIOR SONHO DO MUNDO - Roberval Silva


Queria, por pelo menos uma vez, poder nascer sem sentir a temível e tão amável, a dor afável, a dor do parto. Não eu, mas minha mãe, que de tanta dor, quase que eu não pari. E assim, depois de parido, não ser erguido, suspendido pelos pés, de ponta cabeça, para o lado, o outro lado, o lado de baixo da vida.

Contentaria a mim ser só elevado ao colo e seio de minha mãe e me embriagar, deleitando-me do sublime e purificado leite da existência, sem por ele nada pagar, que leite de mãe é dado de graça, doado só pelo dom e natureza de amar. Aí, queria poder crescer sem saber de verdura e de outros tais e iguais ingredientes ou de quem inventou que chocolate faz mal. E em frente crescendo sem nunca saber de colégio ou escola às seis da manhã.

E quando enfim chegasse o dia de ter a primeira namorada, que ela não fosse a primeira e sim aquela depois da última que sonhasse comigo o mesmo sonho que sonhei um dia com a primeira que não soube seu o meu último sonho.

E quando os meus pais perdessem a magia do amor existente que os levou ao altar, que ele se renovasse sem a doída dor da separação e que o amor dos meus pais natural e normal continuasse na família que fomos antes de matarmos o amor em nós.

E quando enfim chegasse o dia de eu me casar, que o amor dos meus pais, quando houve a união, habitasse em mim e em minha amada, que não fosse a primeira nem a última namorada e somente sim a fórmula do amor continuada no continuar premente da vida cortada e interrompida pelo sonho do amor desorbitado no amanhecer da existência eternizada.

E que os meus filhos não fossem meus e sim só meus e do meu amor e que nunca soubessem do amor que não fosse o amor do eterno e que assim amassem, e amassem sem conta o amor, aquele sem dor e então não sentissem a dor cruel da real realidade que os faz ouro meu sem tê-los propriedade.

E que o mundo tivesse um lugar mundo infantil quando enfim chegasse a melhor idade e não houvesse abandono, nem desenganos e não se sentisse a horrível sensação da inutilidade quando a página virasse e começasse a descida e que esta descida continuasse subindo sem se explicar, só indo, preservando o mistério, o segredo, o elo reverso que une dois mundos e que a partida fosse a mesma alegria de quando se é chegado, que eu não me sinta cansado e nem fraco e mirrado, me sinta viçoso, corado e formoso quando a verdade da vida visitar o meu peito, e eu, satisfeito, viajando sorrindo tal qual o mesmo menino de quando aqui chegou e partindo no amor que me trouxe à vida, viajante de nuvem, última despedida, e do lado de lá, alegria e bonança, o sim da esperança habitando o verbo amar.

Roberval Paulo

DIVAGAÇÕES! - Roberval Silva


Ando pelo mundo à procura de mim
Se não me encontro, conheço novas terras.
Passo pelos dias, tenho olhos no futuro,
Brincar de viver é tão bom que nem presta

Pelo sol vejo fogo no céu
Ignoro conceitos, regras e tudo o mais.
Não me atenho às convenções, sou prático,
Tenho medo da coragem que é minha

Pra buscar um sonho, viajo muitas léguas,
Nas asas do sonho é que se voa longe
Creio até nos contos de fada
São fantasias a dizer verdades

Pra contrariar a noite acendo as luzes
Tudo escuro, eu claro estou.
No natural das coisas, o dia amanhece,
Escuro mesmo é a justiça dos homens

No tempo de uma hora penso a vida inteira
Nos amigos, nas mulheres que amei;
Supostos amores, não passavam de paixão,
Ela sim, único amor e não morreu com o tempo.

Divagando é que se vai ao longe!
Divagando viajo no tempo!
A lua ainda nem visitei
Mas deixa pra lá. Devagar! Divagar!


Roberval Silva

REMISSÃO - Roberval Silva


A vida é essa louca rotina mesmo e um constante e interminável desafio. Sempre os mesmos sonhos; as mesmas ilusões, desilusões e limitações. A luta em prol de um ideal, a busca da felicidade; a corrida incessante do ter e do poder.

Às vezes me pergunto: por quê? Para quê? Fico sem resposta e permaneço mudo ao deparar-me com a hipocrisia da humanidade. Quanta, mais quanta vaidade. Para onde caminhamos? Mais uma vez estou mudo e passo a imaginar o porquê de tanta luta, tanta busca. Corremos atrás do que? Da sobrevivência? Do tempo perdido? Da modernidade? Do futuro? Talvez, simplesmente, contra o relógio do tempo?

Não, não sei! Recorro ao grande filósofo grego Sócrates, parafraseando-o: tudo o que sei é que de nada sei.

Mas por outro lado, deixando para o lado o lado filosófico da questão, só sei que, de um jeito ou de outro, querendo ou não, acabamos por nos encontrar com a morte. E aí, será o fim?

Vou dá uma de Sócrates outra vez: não sei. Mas porém, contudo, todavia, entretanto, talvez aí esteja o começo; o verdadeiro sentido de tudo. Mas quem saberá? Ninguém! Só DEUS é conhecedor de tamanho mistério.

Porém, uma coisa é certa. Um a um, do jeito que veio ao mundo, voltará, e nada levará consigo, como nada mais poderá fazer, nem mesmo por si.

Da terra para a terra! O espírito só a DEUS pertence e ele decide, pois o sopro de vida que nos trouxe a este mundo foi emprestado por ELE.

Então, cuidado, muito cuidado!
Não se lasque, redima-se!!!

Roberval Silva

A RETA TORTA DA VIDA - Roberval Silva


Indo
        infindo
me findo
               reto
                          na reta
                   torta
    insólita
                morta
                          apócrifa
                                       sonífera
                         efêmera
          dormindo.  


                                                    Vindo
                                       a caminho
                               moinho
                     rodando
      a vida
                levando
                             morrendo
                                             sozinho.


Roberval Silva

REMINISCÊNCIAS DE UM MORTO - Roberval Silva


Quando morri para os dias da vida
E parti na garupa da moça branca de neve
Vivi a enganação dos vivos
E ali, mortinho da silva, me vi carregado
Em ombros que eu nem conhecia

Lágrimas, muitas eu vi
De quem eu nem conhecia o pensar
E ao amigo olhei e caí a cara morta
Estava os olhos vidrados
Nos seios da viúva minha

Morri, é a quarta minha morte; não sabia morrer
Se soubesse não estaria vivo nesse corpo morto
Me vendo falsidade em olhos que tanto amei
Me rindo de bocas a quem nunca falei
Chorando a hipocrisia de vivos me querendo morto

Morri, já sinto a vida da morte
Roupa branca, mãos ao peito e suaves flores
Meu corpo deitado no caixão. A sala cheia
Amigos, parentes, desconhecidos e,
Minha Mãe
As lágrimas verdadeiras; soluça, como soluça
Sofre e mais soluça e se agarra ao morto seu
O morto que gerou em suas entranhas e não mais vive
Um corpo sem vida, que ainda vive, inanimado
Animado pelo amor de minha mãe, que jaz, mortalha viva
Parece que ela é quem morreu

Quis voltar da morte com uma mínima vida
Só para consolar-te Mãe, mas,
Estou morto e sinto o cheiro do morto que sou eu
Aquele cheiro que só velório sabe exalar
Mistura-se ao cheiro de flores mórbidas e de lutuosas velas
Velas em chama sem a chama da vida

Viver é muito perigoso, já dizia o poeta
Viver não é só perigoso; é muito mais que isso
Diz esse morto ainda quando a vida lhe vicejava
Ainda mais quando a morte se morre viva
O enterro vivo do morto que não morreu

Ser enterrado vivo mesmo quando jaz morto
Sem entender, o morto, ali, vendo a vida
É o medo visitando este corpo inerte
E perfura minhas carnes mortas com pontiagudos diamantes
E meu sangue escarlate de um róseo azulado
Escorre pelos meus dentes ausentes de vida

Meu corpo já sinto nada, matéria podre e fétida
Se decompondo, putrefacto, ossos e sangue gélidos
As carnes e vísceras rasgadas e inúteis e belas
Nos olhos e ouvidos, os vermes fazendo festa
Sinto o medo da morte que já vive em mim
A morte viva que nos vem mostrar o óbvio
Na terra o ópio, cabeça rolando e línguas e bocas
Aos urubus atônitos com seus olhos de desprezo

À terra que aceita tudo, resignado me vou
Ao pó voltar para a vida morte prosseguir
E amanhã, eu pó, possa florar uma goiabeira
E ali, em fruta, alimentar uma sabiá
Que me vem bicar os sonhos que eu não soube usar em vida

A morte morta já é mais do que a vida
Morto só se sabe sendo terra, sendo pó
E de ti, ver nascer tão doces frutos
E águas e plantações e lavouras de todo gosto
Que vão engordando a vida na estrada do matadouro

Nessa verdade, eu quis até chorar
Mais ao morto não se permite nem mesmo lágrimas
Ao morto só é dado o pó da estrada
Por onde caveiras vivas trafegam e suam e riem
E lutam e choram e sonham e tudo vivem
Sem saber que esse caminho e essa poeira impregnada
Tantas vezes percorrido, tantas vezes repisada,
É inexplicavelmente, o seu futuro e eterno lar.


Roberval Silva

NOSSA DURA REALIDADE - Roberval Silva

É como se a máxima do cada um por si se consolidasse ainda mais com a evolução dos tempos e o Deus por todos permaneça só nos sonhos dos mais humildes e menos favorecidos nesta seleta maratona da sobrevivência digna protagonizada pelo capital – celebridade em alta – e pelos governos que vêem no capital o parceiro certo e insubstituível para a desigual acumulação material e a consequente produção e manutenção do produto miséria no percentual maior da população, produzida exatamente, premeditadamente e deliberadamente, para alimentar o podre e inescrupuloso sistema que tem como combustível para o seu ambiente de luxúrias e prazeres, a fome, a dor da fome e da humilhação de pais, e mães, e filhos e filhas ainda puros, espalhados por esta imensidão de terras sem fim, de Áfricas e Américas, em quantitativos que não se conta, que mais parecem estrelas que perderam o seu brilho para o brilho maléfico de umas poucas “estrelas” egoístas que querem para si o tudo do nada, até que o nada nem pelo nada seja mais sentido.

Estrelas estas que já não habitam o céu; estrelas que habitam o inferno, se é que este existe, porém, sem demônios; um inferno só de vidas a se acabar pelo completo abandono de quem um dia pensava herdar um céu de verdade.

A nossa realidade não é de luz.
Como enxergar luz em inocentes filhos cadavéricos sugando o seio cadavérico de mãe cadavérica que jaz morta e ainda se sustenta de pé pela vida morta que trás ao seio para alimentar com a teimosa vida que tem dentro de si nas gotas mirradas do seu leite?

Como ver brilho nos olhos inocentes de milhões de crianças que em carne e osso choram a humilhação da fome e do descaso e só desejam um naco de pão e leite para fazerem a alegria dos seus desesperados e impotentes pais e para sustentarem a vida que não pediram pra ser?

Como ainda se iluminar com a deterioração da instituição família que, hoje, desprovida dos seus valores morais, espirituais, de respeito, de caráter e até mesmo de razão, caminha desordenada e desorquestrada para o ambiente “seguro” do ter, perdendo nesta terrível caminhada a razão consciente do ser?

Como enfim dizer que há luz neste mundo desigual onde impera a violência, onde se perdem as crenças, e assim recriam outras crenças mas que sempre as novas crenças são só dom de acumular riquezas e mais riquezas materiais, só materiais, e em pouquíssimas mãos em detrimento de uma enorme maioria a quem só sobram migalhas pra seus sonhos suportarem e suportam, e se suportam só com  sonhos que, com o tempo, se vão a definhar pois que sonhos não alimentam estômagos e sem estes tão necessários alimentos se vão gerações inteiras, sem sonhos, desencantar?

O mundo é desigual; o mundo é desumano. A vida é desumana mas não precisava tanto. Que todo ser existente e vivente tivesse, simplesmente, sua dignidade e sobrevivência asseguradas e que o justo fosse a diretriz primeira de governos e cidadãos e até mesmo desse capital egoísta que não tem vida própria mas que vive na pobre vida daqueles que se entendem e se pensam vivos e ricos, não sabendo estes que a riqueza de espírito e de alma é superior e esta não perecerá enquanto que a riqueza material passará e voltará ao nada de onde se originou, e aí, nada mais existirá a não ser o espírito, o espírito puro e livre das tentações materiais.

Estes herdarão a eternidade, a vida eterna e, aqueles, aqueles que nesta passagem cultivaram o ter já não mais serão, como nada mais saberão de si. Serão fadados e condenados ao fim eterno que não se sabe inferno ou se panela de ferro mas que será com certeza de tribulações sem fim. 

Roberval Paulo

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

PRA NÃO DIZER QUE EU DISSE ALGUMA COISA - Roberval Silva

Tive um sonho e sonhei que era um anjo e aquele anjo sem asas, mas que, pela força do invisível e do mistério do incerto, voava e mais voava; voava que nem sabia como era a estrada de andar. Um anjo sem asas e que de nada entendia nem mesmo porque era anjo e nem mesmo o que é ser anjo, mas que, inexplicavelmente, voava, voava e mais voava.

Abri as asas que eu não tinha e ganhei os céus. Eu era esse anjo que asas ele não tinha. Subi, subi alto e contemplei, lá de cima, o altar. Um imenso boneco redondo, nas cores azul e verde e pés e cabeça alvos como neve. Refleti sobre aquela imensidão de espaço vazio e pude perceber a distância do meu pé ao meu pensar. Aquele espação infindo a perder de vista e nada para todos os lados, e direções, e sentidos, e só aquela bolinha em azul e verde, e branco nas extremidades, vagando ao leo, sem destino, suspensa no ar e sem amarras para lhe segurar.

Não entendi o mistério e mesmo se buscasse entender, não entenderia. Aquela bolona imensa, pequena diante do vazio do espaço, mas, imensa e desorquestrada, se comparada a mim. De terra e água é seu ninho; de mato e bicho seu peito, e ainda de gente, em todo o seu sentimento e muito de tudo. Milhões e milhões e até bilhões de tudo, portanto, pesada; pesada não, pesadona, e suspensa no vazio do espaço, sem cordas e não cai. Suspensa pela massa do ar e andando ao vento pelo tempo, sem parar e sem ninguém no volante. Não consigo entender nada. Quanto mais me findo nesse propósito, menos entendo. Dizem que é uma tal de gravidade ou lei da gravidade, não sei.

Na verdade, eu nem sabia se existia essa gravidez, nua e filha, nem sei de quem, a viajar pelo espaço, sem amarras, nem cordas, totalmente suspensa, sem raiz, a andar sem destino e sem direção, na órbita de um pensar que não é atmosférico. Penso que vai à procura do Apocalipse final que, a bem de uma outra verdade, eu também não sei o que é e nem onde mora, se é que ele tem residência; ou será que seria ele mais um descamisado andarilho pelos trilhos da esperança e que ao fim só encontra um mar de terra para guardar seu corpo ínfimo e pouco que descansa, leve e morto, ao pé de um jacarandá?

Penso mesmo que essa mãe que às vezes se chama terra, viaja sonho afora é em busca do pai que perdeu. Do pai de sua gravidade gestada em um tempo inexistente e distante, feito minhas asas que um dia estiveram em mim e que ao anúncio da criação dos filhos do gênesis, povoaram o olimpo. Assim zeus se fez Deus para apadrinhar a insensatez da mitologia fora do seu tempo mas que caminhava para encontrar a porta que culminasse e se materializasse nos trilhos da obscura luz da última realidade, ou, pelo menos, que fosse uma janela e, mesmo sendo a passagem, mais estreita, poderia por ela saltar ao espaço do precipício sem fim que é a viagem sem destino e sem direção e também, sem comandante, da mãe que procura pelo pai da gravidade gestada em seu ventre, que subiu e não desceu e, que quando desceu, acabou descendo mais do que o necessário para voltar a subir e, não mais subindo, passou do destino e não mais encontrou o caminho de volta.

Assim se deu a viagem do anjo sem asas que nada de gravidez ou gravidade foi ao espaço buscar, mas que viu e se solidarizou com o choro das estrelas, lágrimas estas que diziam da estupidez exasperada daqueles seres ingnóbios que mais pareciam micróbios que cavavam sem parar o corpo daquele corpo que ainda hoje viaja mas não encontrou parada nem a estação pra estacionar, e nessa viagem sem fim leva toda a nossa vida e as nossas forças e sonhos para o espaço de um lugar que não se sabe onde é e nem se lá vai chegar mas que como todo ser que pisa os degraus do medo vai sem medo para a morte que fica na encruzilhada do canto daquela estrada que não se sabe parida ou se já foi a abortar.

Não desci do meu sonho, só acordei e, quando os olhos eu abri, estava ali, na minha frente, me olhando com aqueles olhos que eu não sei decifrar, o filho do pai que um dia partiu pra órbita da dor e deixou sozinha, a mãe, que viaja sem parar, e chora, como ela chora e suas lágrimas fizeram o mar e esse se vai a encher pois ela não para de chorar porque o pai não encontra e o filho é que aqui está e a mãe ainda nem pariu, só chora e chora e me olha junto com o pai que é seu filho e me chama, me chama e eu, que acordei agora, não sei se já é a hora de seguir não mais eu órfão ou se aqueles olhos de pai de mãe e de filho que é filho do pai da noite vai ainda permitir que o meu corpo comece essa viagem a seguir e que a cria do medo, do meu ser que desconheço me revele o segredo de não mais ter pesadelos e em paz poder dormir.


Roberval Paulo

SONHO DO ETERNO - Roberval Silva


Da vida só quero sonhos...sonhar, sonhar e sonhar
Reaprender a amar quando o sonho assim pedir
Falar quando outros calarem, assim serei entendido
Silenciar quando em mim se perder qualquer razão
Libertar a emoção se esta é razão de enlevo
Saber que eu tenho medo para não ser imprudente
Entender que os direitos são de todos neste mundo
E só quem paga os tem, isso sim é absurdo.

Não quero nem mais ter sonhos, quero mesmo é realizar
Realizar a justiça gratuita a todo vivente
Ressuscitar o amor que restou adormecido
Restabelecer a fé que move até montanhas
Dignificar o ser à luz da única verdade
Na verdade de que o justo é o caminho a seguir
Que o amor não se perdeu, só está em letargia
Guardado na hipocrisia da humanidade perdida
Ferida na ambição e egoísmo dos iguais
Iguais só na Lei Divina que em tudo faz justiça
Que permite o livre arbítrio e observa o que vai ser
E um dia vai cobrar o que a história escreveu
E no fim vai encontrar tudo que a vida perdeu
É o juízo final pra vida eterna nascer.


Roberval Silva

POEMA DO GRANDE AMOR - Roberval Silva


Quão bom seria se todos os casais tivessem
Paz!
A paz tão sonhada da mulher, do homem,
de quem ama.
A paz do amor livre,
regada em doses de compreensão e entrega.
Duas partes a formar um todo.

A taça repleta de vinho
a adocicar o paladar
no estalar da língua
e no gotejar das minas do pensamento.
Nascente inesgotável de água para a vida.

Água virgem
Véo natural do tempo
Sangue do mundo
A escorrer pela terra e para a terra
Clara e transparente como o amor.

O amor
Esse pode tudo
E é por ele que se vive
Se justifica por si só
Se qualifica por só ser
Sem acessórios, sem adereços
Sem complementos, sem endereço.

O amor só pelo amor
Completo em si
Transcendente, sem materialismos
Espírito de luz e cor
Alma e corpo em luta de amar.

Um sonhar de dois
Olhos falando segredos
Gestos dissimulados,
a dizer tudo
sem pronunciar palavra.

O amor tudo entende
Sua chama nunca apaga
Também nunca queima
Nem dói.
Dói. Mais sem doer.

É como disse o poeta:
         AMOR....    é fogo que arde sem se ver
                            é ferida que dói e não se sente
                            é um contentamento descontente
                            é dor que desatina sem doer.

Parafraseando o poeta:
         O AMOR... se auto flagela
                            se auto ajuda
                            por si só se cura

                            se vencido, é vencedor
                            se no abismo, o mesmo amor
                            pelo amor, sobe às alturas.

E enquanto não chega o imprevisível
tempo
de partir para o innevitável,
a vida segue.
Dos dois se fará um
Nesse universo de sol e mar.

A base será sempre o amor
Cumplicidade sem culpa
Realidade em cor de criança
Beijo de pétalas a bafejar o espírito
pelo espírito.
A carne queimando em desejo
Também é amor
Ardente
Na química do dois em um.
E o um só tornará em dois
Quando vencida a fronteira do desconhecido
Em busca dos jardins dos céus
Na eternidade do tempo sem horas.

É o novo tempo
A continuidade desconhecida da existência
A nova vida
Do divino amor.

Para trás, tudo
Menos o amor
Está no ser
E o ser é o espírito
E é tudo o que resta
         O espírito que é amor
         O amor que é espírito.


Roberval Silva

SE AVEXE NÃO - Roberval Silva


Se avexe não
A canção já disse um dia
Que o caminho se fechou
E chegou lá quem nem ia

Se avexe não
A saudade apertou o peito
O sol veio e já se foi
E tudo está do mesmo jeito

Pra ir nessa estrada e chegar
Seja grande ou pequeno
Lavrador ou seu doutor,
Tem mesmo é que suar

Pra esse caminho finalizar
É preciso suor, muito suor
Mas é preciso mais ainda seu doutor
Muito amor, mais de amor, tudo de amor
Vencer qualquer espécie de dor
Sinônimo do dom de amar

Se avexe não
Ter coração bom não é não se afligir
Ter força no peito não é a vida agredir
 O meu cão me ama tanto e nem sabe falar

Se avexe não
O titanic afundou, sucumbiu um império
Um filho de carpinteiro se fez em eterno
Se avexe não...imprescindível é amar.


Roberval Silva

PAISAGEM DO MEDO - Roberval Silva


Esta é minha realidade
É assim que preciso ver
Assim que preciso agir
Assim tenho que viver

Não posso fugir do medo
O meu medo é um outro ser
Um ser que está em mim
Um ser que não vou vencer

Não posso fugir do medo
O meu medo é minha sina
Sina do medo, um enredo
Que o medo a mim se destina

Vencer o medo seria
O mesmo que vencer a mim
Vencendo o medo, me venço
Serei vencido de mim

Então ao invés de vencer
Preciso o medo enfrentar
Saber c’ ele conviver
Junto a ele caminhar

Conhecer a tênue linha
Entre o medo e a coragem
Um começa, outro termina
E equilibra a paisagem.


Roberval Silva

O PARTIR ANTES DO TEMPO - Roberval Silva


Às vezes penso
Que a razão do existir
Que o chegar e partir
E o segredo de tudo, até mesmo o ir e vir
Está nos porquês?
Penso e repenso até o mundo ficar tenso
Inclinado, descaído, pendido, penso...
Penso, só penso!
Mas não me atrevo a dizer.

Porque se vem, porque se vai?
Porque que vem quem nada tem?
Por que um ser se detém antes mesmo de nascer?
O porquê de se ficar tão pouco tempo aqui
O porquê de se passar tanto tempo sem medida
Na subida desta vida sem este sol merecer.

Penso também que é porque não existe um por quê?
O porquê é só um ser mais enigma que razão
Não um ser, uma equação que se vai a resolver
Que ninguém conhece a fórmula,
Que não perece, renova, sem nunca ao seu fim chegar
Qual romeiro em romaria pelo caminho sagrado
Que segue desarvorado só com o instrumento da fé
Novena que só rezando faz um milagre danado
Sem nada ser explicado, sem porque, sem paramento
Mas que segue devorando
Homens, sonhos, pensamentos
Semeando contra o vento a planta do bem virá?

Porque se vai pela estrada sem ter chegado a sua hora?
Tanta dor deixa pra trás, tanto sofrer... Oh! Tormento!
Quanta saudade a encher o existir do meu peito
Angústia que quase mata que é um tanto doer!
Que não explica, se sofre,
Que nada entende, só sente
Que não quer este presente que a vida lhe fez herdar
Quer até recomeçar, mas não tem forças... é inclemente.
O sangue de um inocente que o inevitável levou
O cálice que derramou antes do seu transbordar
Como entender o porquê da vida interrompida
Sem um motivo aparente, sem a razão se mostrar.

Penso que é por quê... Não sei dizer o porque
Talvez nem tenha porque, talvez tenha.  O que fazer?
É o mistério da vida que segue pregando peças
Não deixa aresta nem brecha para um porque indagar
Só nos resta o consolar compassivo de meu Deus!
Oh! Deus de misericórdia! Deus de bondade infinita!
Já que sofri esse golpe que não pedi pra sofrer
Dê-me forças pra viver... pra vida continuar
Cubra-me com o teu amor, com tuas bênçãos Senhor
Mostre-me o prosseguir, me guie com o seu olhar
Sou só dor, sou um ser andante que se perdeu no caminho
A força deste destino eu não queria viver
Mas se me deste é porque me conheces mais que eu
Vais saber como amparar seus filhos que estão perdidos.
Senhor Deus, me dê motivos e me livre de morrer
Nos oriente a encontrar a razão de estar aqui
Eu não sei mais nem porque estou a sofrer assim
Porque os tirou de mim? Porque nos deixou tão só?
Meu Jesus! A tua benção, tua guia e proteção.
Ensine-me a não morrer, dê-me os porquês do ocorrido
Porque que me tens nascido pra suportar tanta dor?
Meu Senhor! Só o teu amor pode enfim me redimir
Ajude-me a persistir nesse caminho de morte
Dê-me um norte que preciso o teu amor encontrar
A vida continuar, nova razão existir
Meu Jesus! O teu perdão! Que essa cruz que te chagou!
Seja a mesma a me valer pra tua luz eu seguir.

Que eu possa um dia entender que assim é que tinha que ser
Que tudo valeu a pena e que nada foi em vão.
Amém Senhor! O teu perdão!


Roberval Silva