domingo, 12 de março de 2023

RETORNO AO BLOG

Hoje, depois de uma longa ausência, retorno com as publicações aqui no blog. 

Por questões de cunho pessoal, ficamos inativos por longo período e a partir de hoje, retornaremos com as atividades normais do blog. 

Novas matérias com temas diversos; poesias e crônicas de criação do autor ou de outros escritores e poetas e matérias tratando ou opinando sobre temas atuais, seja na área política, esportiva, econômica, social etc.

O compromisso é o mesmo de outrora, trazendo sempre conteúdo informativo e de primeira linha para a leitura e deleite dos nossos leitores.

Recomeçando hoje as atividades do Blog Roberval Paulo, com as energias renovadas, baterias recarregadas, a cabeça pensando e a mão rabiscando o papel dos nossos dias, da nossa vida e do nosso destino.

Um grande salve e abraços aos nossos leitores e a todos aqueles que queiram degustar os nossos conteúdos, comentar, opinar e fazer parte da nossa comunidade.

Por aqui estaremos sempre à disposição para ideias, sugestões e para tudo o que for necessário para que a comunicação e a informação flua e caminhe segura nas teias do profissionalismo e da verdade.

Um forte abraço a todos e o meu especial agradecimento a todos.

Roberval Paulo


terça-feira, 28 de setembro de 2021

A POESIA - Roberval Paulo

 A poesia é tudo belo

Não fosse bela a poesia
Seria belo o poema
Da noite no dia a dia
A treva se irradiando
Em luz na mais longa via
Via de destino torto
Que se endireita arredia
Que se endireita entortando
Alinhavando a poesia

A poesia é feito chama
Que aquece a bola do dia
Que embola o frio da noite
E acende a luz da magia
Respinga estrelas no céu
Faz luzir quem não luzia
Faz da cinza um fogaréu
Brilha a lua ao meio dia
Vai por aí feito vida
Findando onde principia


Roberval Paulo

SEMPRE SE MORRE AMANHÃ - Roberval Paulo

 

SEMPRE SE MORRE AMANHÃ - Roberval Paulo


A vida tem dessas coisas                                           
Dessas coisas que não se entende
Porque da vida, porque da morte
Porquê disso, porquê daquilo
Por quê? Por que? Porque?

É tanta coisa pra se saber
que até é melhor não saber
Se sabendo ou não sabendo
Vamos indo a morrer
é tudo que eu sei

Sei que nasce o sol todo dia
A noite é da lua, Ave Maria!
Mas amanhã vou-me embora
Sempre se morre amanhã

Aquele passarinho que canta
Porquê? Há! Não sei
O gato pulou
O canto cessou
Porquê?
Não me perguntem

Não sei... Não sei... Não sei...
Quem saberá?
A terra suspensa no ar
No espaço, sem cordas
não cai

A força da gravidade
A falta de gravidade
Também não tem cordas
Mas, e daí? Estou ficando é maluco
Porquê se fica maluco?
Também não sei

Não sei... Não sei... Não sei...
O homem ganha a vida
A vende depois para a morte
Nada era antes
Do nada à vida

Ganhou um nome
E agora? Agora ele tem um nome
E depois? Ele morre

Não vou dizer o porque
Simplesmente por não saber

O céu é azul
Azul é a cor do infinito
DEUS mora no infinito
Pensei que lá fosse o céu

Se é... Se não é...
Não sei... Mais sei...
Que amanhã vou-me embora
Sempre se morre amanhã

É que a vida tem dessas coisas
Dessas coisas que não se entende
Um pobre... Um rico... Um homem...
Um morre, outro morre, o outro também morre

É tanta coisa pra se saber
Que até é melhor não saber
Mas amanhã vou-me embora
E nada levarei comigo

O sol, o pássaro, o homem
A terra, a lua, o universo
A vida em prosa e verso
O vento, o tempo sem fim

Porque? Porquê? Pra quê?
Não sei, nem quero saber
Sempre se morre amanhã.


Roberval Paulo

Blog Roberval Paulo: MUNDO HIDRÁULICO, HIDRÁULICO MUNDO, SE EU ME CHAMA...

Blog Roberval Paulo: MUNDO HIDRÁULICO, HIDRÁULICO MUNDO, SE EU ME CHAMA...:   'Aqui no sertão se fala é nóis vai, só que quando eu falo nóis vai, nóis vai mermo, num tem conversa nem enrola. Lá os doutor da tecno...

MUNDO HIDRÁULICO, HIDRÁULICO MUNDO, SE EU ME CHAMASSE RAIMUNDO - Roberval Paulo

 

'Aqui no sertão se fala é nóis vai, só que quando eu falo nóis vai, nóis vai mermo, num tem conversa nem enrola. Lá os doutor da tecnologia fala nós vamos e a gente fica esperando e eles num sai do lugar".
Analisando o ambiente tecnológico no qual estamos inseridos, rodeados e amparados por um exército de máquinas e aparelhos em detrimento das ações manuais de coração e de humanização tão necessárias à disseminação do amor, recorro a uma “oração” – com o perdão da palavra – que ouvi em um passado não muito distante, lá no interior do meu lugar, dita por um senhor simples, do povo, semianalfabeto, mas de sabedoria a botar no bolso os letrados do imediatismo operado e praticado nos dias atuais.
Em conversa com este senhor, falava-lhe da tecnologia da informação objetivando integra-lo a este ambiente, mas utilizando um vocabulário que fosse por ele alcançado, abrindo mão dos termos americanizados que tomaram de arroubo a nossa cultura e a nossa fala, tornando-se nossos, buscando assim, na minha ingenuidade altruísta, faze-lo melhor e mais facilmente entender o que lhe estava dizendo.
Eis que o sábio senhor me surpreende ao olhar-me dentro dos olhos e dizer-me: “Seu Roberval, estudei muito pouco, só fui na escola pur causa das peia de mãe e foi pouco tempo pois o trabaio num deixava, então aprendi pouco na escola, mas a vida que levei e levo até hoje me ensinou tudo que sei. E esse tudo que sei é tão pouco que as veiz eu penso que num sei é de nada, porque esse negócio de tecnologia eu num alcanço nem dô nutícia.
Aqui no sertão se fala é nóis vai, só que quando eu falo nóis vai, nóis vai mermo, num tem conversa nem enrola. Lá os doutor da tecnologia fala nós vamos e a gente fica esperando e eles num sai do lugar.
Aqui ó, eu vou na cidade, vendo uns 03 ou 05 gado, uns saco de arroz e de farinha e o homi me paga na hora sem vê nada. Mais depois ele vai lá em casa buscar no dia que ele quiser porque ele sabe que é dele, ele comprou e num dá negócio errado ninhum.
Lá na tecnologia os doutor assina documento, o banco assina, cartório assina tamém e vem umas tar de testemunha e fiador pra fiar o que num tem e mermo com esse tanto de trem dá tudo errado. Num paga, dá briga, entra adevogado e o trem fede mais num paga.
Aqui vou na venda de seu Dudim e pego uns trem e ele anota, até umas pinga e cerveja quando tô mei virado das venta. Lá tem é uma caderneta de anotar o que nóis compra, pra lembrar né, senão nem anotava. Meus menino vai lá e pega, minha muié pega e todo mundo lá de casa. Chegando o fim do mês, vendo uns trem lá do sítio, vou na venda e pago tudo e vou pegando tudo que quero de novo e num dá encrenca.
Lá os doutor vai na loja e compra num tar de crediário, cartão, cheque, sei lá o que mais, é tanto jeito de comprar que num sei e depois a loja cobra, o juro corre, quem vendeu briga, quem comprou briga e num paga e dá tudo pra trás.
O pulítico vai na televisão e fala que vai fazer e acontecer, que luta pelo povo e que vai fazer pra nóis o mió, o que for bom. Depois só vê no jornal é disvio, roubo, uma tar de corrupção, o fiio desse comprou fazenda, o fii do outro um carrão grande e caro, já vem outro com dinheiro até nas cueca, onde já se viu? Eles mamando direto e o povo só chupando sem sair nada. Tá tudo de mudado seu Roberval, esse mundo tá trapaiado demais, num sei nem mais o que dizer, tá tudo fora do êxo.
Tem um tar de zap zap nos celular de correr dedo fuxicando mais que língua de sogra. Mais num é da minha sogra não, que minha sogra é muié boa, é da sogra de outros aí. É tanto fuxico nesse zap que só vê muié brigando cum marido, gente largando, famia se acabando e por aí vai. O povo perdeu o tino, tá sem rumo.
A televisão só mostra coisa ruim, é assalto, morte, traição, fome e a miséria cresceno. Umas igreja aí que salvava o povo agora só vê pedindo dinheiro e o povo dano e eu num sei pra onde que vai esse tanto.
O que digo e que boto fé é que quase num sei de nada, mais no mei dos que sabe muito o errado tá correndo solto e num tem quem pegue nem chegue perto..
Aqui nesse fim de mundo onde Deus ainda mora as coisa é diferente. Aqui nóis se baseia é na palavra. É o que nóis tem que mais vale é a palavra. Se o cabra der pra trás no que ele garantiu, tá desmoralizado e o homi desmoralizado perde o valor e a confiança. É um sujeito sem vergonha e tem que viver de cabeça baixa, num dá não.
Esse mundo de hoje tá muito inteligente pra nóis aqui do sertão entender. Pra num incumpridar mais a conversa, esse trem de tecnologia eu num sei pra onde vai nem corretivo dô. Pra mim, aqui com meus botão, esse mundo tá é hidráulico mesmo seu Roberval. Esse mundo tá hidráulico demais, é isso que penso e tiro ciência.”
Boquiaberto fiquei e boquiaberto ainda estou. Recebi uma aula de civilidade e de cidadania. Confesso que me senti envergonhado com tudo que escutei de seu Raimundo. Mas botando fé e tirando ciência – termos do vocabulário de seu Raimundo – ele, que diz quase de nada saber, sabe muito mais do que muitos de nós. Sabe muito mais do que eu e, na sua sabedoria interiorana e sertaneja, fez-me compreender que a honra e a dignidade e ainda a moral são atributos Divinos herdados por nós e por nós devem ser cultivados e mantidos, assegurados, sejam quais forem as situações vivenciadas e enfrentadas.
Enfim, trazendo para o nosso viver a nobre vivência de seu Raimundo, replico: sejam quais forem as circunstâncias, não se corrompas e, em ti, não serás corrompido. Esta foi a lição que recebi de seu Raimundo e busco leva-la para a vida toda.
Roberval Paulo

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

PEDRO QUEROSENE - Roberval Paulo

Foto: Arthur to

Aliança do Tocantins, cidade cravada no centro-sul do estado do Tocantins, porém bem mais povoada e influenciada pelo povo da banda do norte/nordeste, carrega em suas ruas e calçadas todos os jeitos e gostos das gentes de lá. Cortada bem ao meio pela BR 153, na altura do quilômetro 646, com pouco mais de cinco mil habitantes, é quase a “Cidadezinha qualquer” de Carlos Drummond de Andrade, com tudo indo bem devagar. Povoado formado quando do rasgo rodoviário aberto no coração e veia central do Brasil, nas obras da BR 153 do governo Juscelino Kubitschek, atraindo um grande número de migrantes vindos principalmente do Maranhão à busca de novos ares. Cidade comum de gente comum, em sua maioria de sertanejos, dito aqui na mais nobre acepção da palavra. Pessoas estas de hábitos e costumes simples como os seus lugares.

Cidade de tantos e quantos, como também cidade do senhor Pedro Querosene, alcunha que recebeu quando de um tombo com direito a banho de querosene em razão de excesso no gole. Cidadão forjado em homem no labutar simples da roça, à custa de foice e enxada, de ordem e suor, de disciplina e responsabilidade, valores estes encrustados no existir das gentes do sertão. Acometido da perda de visão em razão de glaucoma que não perdoa nem olhos mais abastados do capitalismo, não se dobrou a enfermidade, mantendo sua independência e locomoção por tudo quanto é canto sozinho e com alegria.

Pois sim, traçando um perfil do senhor Pedro Querosene: homem esguio, estatura mediana, moreno claro, cabelos encaracolados e curtos, rosto sulcado de feição sofrida, enfim, o típico “caboclo do sertão e excluído da república” como bem definiu Euclides da Cunha em Os Sertões. No mesmo tempo que expõe a rudeza e simplicidade no falar, carrega em si o dicionário e vocabulário do anedotário sertanejo, exprimindo uma sagacidade e alegria que contagia quem se dispõe um pouco a compartilhar de sua companhia. Melhor do que caracteriza-lo e enche-lo de adjetivos é contar um episódio deste emblemático cidadão.

Certa feita, lá pelas tantas da tarde, já com sintomas de noite, datando-se por meados do ano de 2015, estava eu a refrescar-me com uma gelada no bar do Raimundo de Gregório, no Jardim Aliança, quando ouço o pisar e falar de Pedro Querosene, cego e sozinho, atravessando a rua, indo como que teleguiado em direção ao bar onde eu estava absorto no aguerrido exercício de copo.

Resmungando alto e tocando seu bastão à frente para guiar os seus passos, deu de esbarrar no veículo estacionado defronte ao bar. Compadecendo-me da situação, a ele me dirigi com o intuito de ajuda-lo na tarefa empreendida rumo ao balcão. Dava mostras de que alguma já havia ingerido e me pegou de conversa como se de longo me conhecesse, numa amizade e liberdade existentes só nas almas de todo desarmadas.

Contou-me alguns infortúnios; dentre estes, o drama da perda da visão, porém sem se lamuriar, quase que agradecendo, pois, graças a este infortúnio, como ele mesmo disse, – “consegui o meu aposento”. Falou-me dos dias de roçado, estendendo-me as mãos calejadas e o quanto já trabalhou pela – “dignidade do Brasil” – palavras dele.

Disse-me do casamento, dos filhos, da separação e da atual mulher, razão ainda dos seus rompantes e levantes de homem, porém sem conseguir disfarçar uma preocupação com o comportamento desta que muito gosta de sair por aí e é amante também de uma boa cangibrina. Ao referir-se a ela, veio-lhe de súbito uma raiva evidenciando o quanto dela tem ciúme, lançando a ela alguns adjetivos que me furto aqui revelar. Varamos a noite no assunto passional, regado a goles e gargalhadas e no resmungar característico de Pedro. Despedimos-nos refeitos e com glórias do labutar inglório e Pedro partiu.

Lamentavelmente Pedro Querosene não está mais entre nós e suas alegres e soltas palavras não mais ressoarão aos nossos ouvidos a não ser pela memória. Mas, no plano que estiver, estará reluzindo o seu doce existir.

Roberval Paulo

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

REFLEXÕES SOBRE A DOR DA PERDA! - Roberval Paulo


Eu continuo sem entender a perda.

Porque se perde e qual é a razão de tanto sofrer?

A dor aguda que se sente torna-se quase insuportável.

É insuportável, de fato, e só se suporta para não morrer, apesar de que morto por dentro já está.

 

É dor que não cicatriza e se faz mais aberta a cada lembrança.

Chaga o corpo e a alma, o peito e o coração.

Chaga por completo o seu todo espírito e a sua existência.

 

Queria, por pelo menos um dia, ser o Senhor do meu ser e do meu querer.

Queria poder entender para curar-me e não mais me perder na dor.

 

Mas quem sou eu para poder não sofrer?

Jesus Cristo tragou o cálice amargo da sua missão e suportou.

Quase se entregou! Chegou a suplicar e reclamou.

Mas suportou para que se cumprisse o que tinha que ser cumprido.

Suportou para a salvação da vida.

Suportou para não mais morrer e sim partir para a vida eterna.

A ressurreição se fez real para todos e para todo o sempre.

Então, morrendo, nasce-se para a vida eterna.

 

Mas então se morrer é nascer para a vida eterna, porque ainda dói tanto?

Queria eu ser sabedor desse mistério.

Talvez assim não sofresse, ou pelo menos, não sofresse tanto.

Talvez aí se compreendesse o sentido maior das coisas.

Talvez aí se entendesse o sentido maior de tudo.

 

Mas não, não sabemos.

Não é nos dado saber e nem mesmo entender tantos porquês?

 

Porque se vem? Porque se vai?

Porque se morre antes mesmo de nascer?

Porque se vai quem podia aqui ficar?

Porque que vem quem não podia morrer?

 

Ah Deus meu, socorra-me! Socorra-me!

Faça-me, por TEU amor, o TEU amor encontrar

Faça-me ver o sentido de a cada dia mais crer?

Faça-me acreditar que a vida tem que seguir,

E na estrada tens que ir sem nunca estacionar.

 

A não ser quando o existir não mais habitar meu peito

Aí poderei dormir e minha alma descansar

Livre do peso matéria que despurifica o ser

E não o deixa entender que a vida... é só semear.

 

Meu eu, despurificado, continua sem saber

Sem entender o perder e sozinho continuar

Mas meu eu, puro, espírito, não me deixa desistir

Quando a matéria ruir, meu corpo há de seguir

Corpo luz, alma e espírito, leve e livre, a flutuar.

 

Aí saberei do amor, das perdas, dos desencontros

Das lutas que já travei, das dúvidas do meu pensar

Das dores e dos horrores, das contas que já são contos.

Ganharei todas as perdas, verei meus entes voltar.

Não mais seguirei sofrendo, pois que encontrei a vida

E junto a todos os meus pela terra prometida

Terei toda a eternidade para o meu DEUS contemplar.

Roberval Paulo

terça-feira, 27 de outubro de 2020

A RODA DA VIDA - Roberval Paulo

Hoje, mais um dia como outro qualquer. Mais um dia de árdua luta à espera do fim de semana que se aproxima para descanso, depois de uma semana como todas. De trabalho e cansaço, de realizações e sonhos, de buscas e encontros, enfim, da batalha incansável que é a vida, que é o viver.

A rotina reclama sempre o seu lugar e lá vamos nós no comando dessa nave que não para. Chega a sexta tão ansiosamente esperada, junto com os preparativos para o tão aguardado e merecido descanso. O acordar um pouco mais tarde, uma ligação dos amigos, o tão gratificante e contagiante e empolgante futebol. Umas cervejas, churrasco, conversas que vão e que vem e sorrisos que não se conta. 

 

O parque. Ah! O parque! O filho correndo solto e sendo admirado. O momento que não devia acabar; devia durar mais que o sentimento. A mulher de tantas lutas e o seu tão nobre amor, sempre dispondo, doando, amando. A alegria se faz tão doce que até parece que todo o mundo é seu.

 

A vida segue o seu curso e as visitas, a família e todos os agregados desse universo de amor traz deleite e repouso ao coração. A mãe, o pai e a benção do amor maior que te faz suspirar e de fato saber quem és.

 

O domingo de missa, de culto, de Deus. De reunião em comunidade, de louvação, de comoção, de comunhão. De entrega, agradecimentos e de pedidos para os seus, para a vida, para o amigo com problemas, para a justiça imperar. Para o governo em desgoverno, para a mãe ter mais saúde, para a promoção chegar e a vida ser melhor.

 

A alma está lavada, o coração tá quase puro e o tão desejado fim de semana já dá mostras de cansaço, suspira em breve adeus e caminha para o fim. O sono está se aproximando e lentamente e em ritmo de dormência vai assumindo o comando, preparando-te para a segunda feira que logo acenderá no horizonte e tudo recomeça outra vez.

 

É a roda viva da vida que tão vivo e mágico faz o nosso existir. Mais disposição, mais correria; é quase um mais de tudo no enfrentamento da sobrevivência. O trabalho, a feira, a escola e os dias brancos que cansam, mas que é bom. Compromissos e obrigações, aspirações e suor e o penoso e doce ansiar pra que a sexta chegue logo. 

 

É o mais do mesmo sempre, mas tudo é tão novo e diferente que nos dá até a impressão de que a rotina "desrotinou-se" e agora opera a seara da novidade, fazendo novo e alentador o que já é demasiadamente velho. Demasiadamente velho, mas novo no giro que a roda dá. A roda viva que gira girando o nosso existir, gira desejos e sonhos e nos faz esperançar. Faz o moço ficar velho para depois remoçar.

 

Roberval Paulo

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

JORNAL DO TOCANTINS - CRÔNICAS & CAUSOS: A NOITE QUE NÃO ERA PRA FANTASMA

Jornal do Tocantins
CRÔNICAS & CAUSOS

A noite que não era pra fantasma

“Como já era noite, o ambiente mal iluminado e regado a cheiro de álcool e fumaça estava lotado.”

31/08/2020 – 06:11

Roberval Paulo - Poeta

Era por volta das dez horas da noite e um vento rarefeito e cortante rasgava o nevoeiro de um céu pouco estrelado, incógnito e embaciado por espessas nuvens, trazendo um aspecto quase que fantasmagórico à paisagem. Pessoas conversavam e sorriam nas portas da principal rua da pequena cidade, alheias às intempéries e transmutações do tempo. Crianças brincavam e corriam descalças e desnudas no sobe e desce da rua enladeirada, iluminada por parcas e opacas lâmpadas, penduradas em postes de madeira roliça e mal talhada, dispostos uns dos outros à distância de formar sombra entre uma e outra, emprestando ao cenário um visual ainda mais desolador e meio que mal assombrado, mas que em nada incomodava ou amedrontava os seus moradores, que em total tranquilidade e paz, regozijavam-se em doces e sonoras gargalhadas, espalhados pelas portas e janelas nas tradicionais e enriquecedoras noites do povoado.

Lá no final desta rua principal, depois de subidas e descidas e de uma curva acentuada para a esquerda que engolia na sua volta toda a visão da cidade, abria-se uma rua secundária. Rua estreita, em blocos de pedras dispostos à mão, com piso altamente irregular, acentuando a irregularidade a quanto mais se avançava pela rua, parece que no claro intento a desacelerar o ânimo e a marcha do transeunte, levando-o, quase que obrigado, a promover parada na única bodega da localidade.

Era um prédio caiado à moda das outras edificações do povoado. Paredes embolsadas em barro e cal e parte com adobes à mostra, dispondo de duas largas e desfiguradas portas a facilitar a entrada. Salão retangular, balcão ao lado e à direita de quem entra a vigiar a saída e mesas e cadeiras espalhadas sem forma. Atrás do balcão uma prateleira de madeira feita a mão e pregada à parede, onde se via quase todo o estoque de mercadorias da bodega: algumas dúzias de garrafas e aguardentes em infusões de todos os gostos, de ervas medicamentosas às de curar mal olhado, segundo a ciência popular; secos e molhados em geral, biscoitos sortidos de sal e doce, fumo de rolo e outras tantas quinquilharias de consumo urgente da freguesia. O balcão decorado pela doceira carrossel, repleta de balas, chicletes e pirulitos; a tradicional balança de pratos e um calhamaço de papel de embrulho descansando sob uma pedra rústica e disforme que ali servia de peso, intimidando a ação forte do vento, que, arrepiante, soprava. Completando o cenário, sacas de cereais espalhadas, em grande quantia, para venda a granel.

No espaço compreendido entre o balcão e a prateleira estava sempre Zé de Nicanor, o proprietário da bodega, a atender a freguesia do mercado, como também os amantes das noites de bar. Como já era noite, o ambiente mal iluminado e regado a cheiro de álcool e fumaça estava lotado. Uns contavam piadas, outros reclamavam; uns lamuriavam-se pela incompreensão da mulher enquanto que um outro, tirado a poeta, dizia da ingratidão do mundo com a existência humana, de modo que ali todos se davam ao momento e se esqueciam da batalha do dia a dia pela sobrevivência e seus consequentes agregados.

Na mesa ao lado do balcão por onde o público obrigatoriamente trafegava ao adentrar o bar estavam Biliu de Bastião e Chico de Martinha em conversação que não vencia. Entre um e outro gole, ânimos já alterados, cada qual mais valente e atrevido, lançavam as mais absurdas propostas e desafios de toda sorte, buscando um sobrepor-se à matreirice do outro, no que atraía a atenção total de todos para a mesa, arrancando gargalhadas a fio e estimulando algumas apostas.

Num repente, Biliu de Bastião, sentindo-se acuado e acossado pelo amigo, desafia Chico de Martinha e em alto e bom som grita.
— Você num tem coragem não cabra, você tem mermo é muita gabolice ora.
Chico, sentindo-se ofendido, não se dá por vencido e retruca:
— Mair num tô dizendo mermo. Pelo que sei frouxo aqui é você. Fique sabendo que eu até mei primo de Lampião sou viu e só num fui pro cangaço com ele porque mãe num deixou.

A plateia grita e aplaude. A essa altura, os presentes da bodega deixam por um tempo suas lamúrias e queixas e formam um círculo em volta dos contendores, manifestando-se em coro a cada nova investida dos tais.
— Ara sô, olha o que diz o mequetrefe. Quer ver que tu num tem coragem? Aposto cem conto de réis que tu num tem — Diz Biliu.
— Aposta que vem é aposta que vai, tá valendo então. Manda aí macho — Responde Chico.
— Pois tá, tu é de coragem mermo é? Então bom. Quero ver você ir agora no cemitério e catar uma cruz da catacumba e trazer aqui ó. É cem contos de réis a aposta. Tu num diz que é de coragem — Desafia Biliu.
Chico dá uma boa gargalhada e diz — Pensei que era desafio de coragem rapaz, isso aí é café pequeno pra mim —Torna a gargalhar e completa — Põe o dinheiro da aposta na mão aí de Zé Lagoa que eu já tô saindo e já já tô aqui de volta todo de cruz nas costas — Faz um gesto de mugango e o sinal da cruz simultâneos à finalização da frase e sai a passo ligeiro rumo ao cemitério sob os olhares da plateia estupefata e em tenebroso silêncio.

Lembrando que a esta altura, o relógio já batia pra mais de onze horas, aproximando-se da meia noite, hora do mistério noturno. Eis que com a saída de Chico rumo ao cemitério à cata da cruz, objeto da terrível aposta, deixando para trás todos os presentes apreensivos e ao mesmo tempo eufóricos, o volume das apostas só aumenta e o conversê toma corpo com todos falando ao mesmo tempo e apostando. Entre um grito e outro de crença ou descrença na volta de Chico com a cruz, Biliu disfarça daqui e dali e sorrateiramente deixa o local sem ser percebido.

Tomando a passos largos o caminho de casa e entrando em ponta de pé para não ser visto, lança mão de um enorme lençol branco e pega imediatamente um atalho rumo ao cemitério, arquitetando pregar uma peça no corajoso Chico que a esta altura devia estar às voltas de realizar seu assombroso encontro com a cruz. Cobrindo-se com o lençol e ajustando dois furos para descobrir os olhos, põe-se de prontidão na porta do cemitério e, oculto pela noite escura, fica o fantasma à espreita e espera do amigo, intentando dar-lhe um susto e ganhar a aposta. Ali, com mais medo que espera, o tempo parece não passar.

Eis que em meio à penumbra, surge no corredor central do cemitério o amigo ombreando uma cruz pra lá de pesada, em total tranquilidade. Ao deixa-lo aproximar-se bem, Biliu fantasma levanta-se e emite aquele grito de fantasma, acreditando na carreira certa de Chico. Qual o quê!

Chico, corajoso que nem mãe em defesa da cria, ao invés de correr, investe sobre o fantasma com toda a ira da noite e de suas vidas passadas. O fantasma, surpreendido, sai de carreira com lençol e tudo. Chico quebra no joelho o braço da cruz e dá no lombo do fantasma ao mesmo tempo em que grita.
— Eita que hoje fantasma apanha mais num perdo meus cem. Fantasma hoje mostra se tem sangue ou se voa — E lapiada que come nas costas do fantasma, que, não aguentando mais, grita para o valente.
— Chico, sou eu, Biliu, seu amigo. Num me bata mais não. Já tô de costas quente.
Chico escuta mais num escuta e peia que desce no costado de Biliu e segue ainda a dizer:
— Ara sô, uma coisa que num sei dizer é se fantasma fala. Biliu é lá da famia dos fantasma? Biliu é vivo, vivim da silva e tá lá na bodega pra me pagar a aposta. Tome e tome que é pra num querer me fantasmar mais — E peia que canta no espinhaço de Biliu.
Biliu num aguenta mais e se entrega. Desvestindo-se do lençol, apresenta a cara apanhada a Chico. Este o olha espantado, com piedade safada nos olhos.
— Uai, num é que é Biliu mermo. Porque num disse logo homi, tinha livrado deu quebrar a cruz do defunto.

Biliu agora sente o medo da noite e sai numa carreira sem fim. Chico junta os pedaços dá cruz e logo chega à venda, onde todos estão em conversa de que este não volta mais. Ao enxergarem Chico e a cruz, surpresa nos olhos de todos. Uns gritam, outros recebem apostas, outros pagam. Uns fazem o sinal da cruz e outros deixam o ambiente assustados. Chico recebe a aposta que estava nas mãos de Zé Lagoa e pede mais uma pra tirar a inhaca do cemitério. A noite é de comemoração e o medo ficou para trás.

De Biliu não se sabe e ninguém viu. Dizem que ainda deve estar por aí, vagando feito fantasma, a curar as marcas cravadas nas costas e na alma. O dia amanhece e a procura por Biliu norteia os sorrisos em todos as cantos da cidade.

Roberval Paulo




sexta-feira, 14 de agosto de 2020

UMA PEDRA NA RUA - Roberval Paulo


Da série FILOSOFIAS DA PEDRA - Autor: Roberval Paulo

A pedra despida
De todo olhar
Ali estendida
Deitada na rua

Era só uma pedra
Sem sonhos, sem nada
Somente uma pedra
Matéria pura

A pedra de pedra
Dura mais que o dia
Fosse ela, a pedra
De mais nobre matéria
Duraria até mais
Que a matéria vida

A vida matéria
De pedra não é
Mas em natureza
São mais que irmãs
Pois que seus destinos
Em terra se encerram
E a terra mãe
Mais mãe do que terra
Acolhe a todos
De gente que é gente
A gente que é pedra
Mas não pedra que é gente
Pois com pedra é diferente

Pedra se mantém
Tal qual como começou
Até me parece
Que sabe mais de amor

A pedra despida
De todo e qualquer olhar
Ali me olhando
Eu a lhe olhar
Ela nada diz
E me diz tanto e tanto
Que eu até me espanto
De tanto escutar

E lá me vou eu agora
Sendo a pedra da história
Ela não procura a glória
Mas a tem sem procurar

Por simplesmente existir
Por receber sol e chuva
Por se entender como é
Sua natureza de pedra
Seu jeito, sua estranheza
Sendo pedra, ou sendo deusa
Não exprime um reclamar

Despeço-me envergonhado
Deixo a pedra ali do lado
Na rua, no campo ou canto
Para ela tanto faz

Vou ao sol que encurta os dias
De um estradar renovado
No caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no caminho
Tropecei no meu destino
A pedra me despertou
Sem nada dizer de amor
De amor fez seu legado.

Roberval Paulo

terça-feira, 11 de agosto de 2020

VOCÊ AQUI! - Roberval Paulo


É você aqui!
Você está aqui comigo
O teu sonho está em minha realidade
Sinto o teu cheiro e o ar que entra pela janela
traz o seu respirar

A sua imagem me chega pela estrela que reluz a vida
O meu amor te alcança e nos diz do amor que é nosso
A noite fria suaviza o roçar do seu rosto
A dor na alma me revela a tua ausência

Sinto você e você não está aqui!
Não entendo o sentir da tua presença
Fecho os olhos e você povoa os meus sonhos.
E, quando me sinto acordar,
a manhã é você em meu olhar triste

Mas o tempo... Ah! Esse tempo
É sempre chegado o tempo do tempo se findar
Tudo no tempo tem o seu próprio tempo
E esse é o tempo do tempo se ir, se acabar.

Seja um dia ou um mês, uma hora ou uma vida
De repente o tempo se vai, no tempo a partir
E quando ele se for, você já será passado
E quando você passar, eu deixarei de existir.

Roberval Paulo

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

MARCAS DE LUZ - Roberval Paulo


São marcas de luz o que o tempo me deu.
Como hoje penso é reflexo desse andar
Como pondero antes de agir e de me posicionar!
Quanta paciência carrego em meu ser.

O ferreiro segue moldando a peça.
A forja é o instrumento e a força um complemento.
O fogo é o próprio alimento que molda o molde pensado.

O ferreiro, a forja e o fogo são elementos do seu caminhar.
Elementos por demais importantes nos dias da sua estrada,
mas pouca atenção lhes damos, pois queremos ser bem mais. 


Mas não, não somos! Definitivamente não somos!
Somos somente a peça; a peça menor de toda uma engrenagem.
Uma engrenagem maior e superior.
Engrenagem essa que se intitula vida

Lutar pela vida é razão e a essa luta vamos com todas as nossas forças.
Ora triunfando e ora despedaçando o nosso existir que é o nosso coração.

Lutar pela vida é bom e, inexoravelmente, espelha o fundamento fundado no SACRAMENTO.
Um sacramento diáfano, resiliente; transluzente e comprazente da nossa 
NOBRE MISSÃO.

Mas lutar contra a vida é tolice, é estultice.
É estupidez pra não dizer burrice;
é quimera e solidão.

A vida é superior e maior, muito maior.
A vida é tudo e é senhora de si.
A vida é o ferreiro, a forja, o fogo.
E você, ah meu Deus, quem é você? 
Quem você pensa que há de ser?

Você é simplesmente e também, singularmente,
a peça viva e importante, mas também, simploriamente,
a peça nobre e comum, tal como pobre e inconstante;
a peça menor no tabuleiro desse jogo.

Roberval Paulo

NOVO PROGRAMA DE VIDA - Roberval Paulo


É necessário! É urgente! Precisamos nos mexer! 
É preciso incutir mesmo no meio da gente a solidariedade. 
Não a solidariedade de mídia, da mídia, da televisão. 
Aquela que mais mostra e se pré-paga do que beneficia. 
Aquela que muito vende e quase nada se compra. 
Que comercializa os produtos pobreza e miséria e não se solidariza com estes.

É urgente uma nova postura; um novo conceito social. 
É de urgência urgentíssima o estabelecimento e estruturação de 
                                                                                  um novo programa de vida. 
Um novo programa de vida que conceitue a sociedade como um todo, digna de um tratamento igualitário pelos governos e por esta mesma sociedade.

Um novo programa de vida que nos faça dar a nós mesmos, 
o respeito que merecemos e que tanto almejamos e necessitamos.

Um novo norte, novo horizonte, novo caminho.
Uma nova visão e uma nova postura.
Um novo ainda mais novo do que o novo que envelheceu em nós.
Um novo que amanheça a paz, a justiça, a solidariedade e a dignidade.

O novo que nos foi apresentado pela boa nova de Cristo, e que nós, 
envelhecidos de novo em velhos e novos conceitos 
e seduzidos pela força do material, 
fomos espiritualmente a envelhecer.

O novo que nos traga de novo
o amor ao próximo e a Deus sobre todas as coisas

O novo
que possa se renovar
a cada manhã
no amor de Cristo!

Roberval Paulo