É
como se a máxima do cada um por si consolidasse-se ainda mais com a evolução
dos tempos e o Deus por todos permaneça só no sonhar surreal dos mais humildes
e menos favorecidos nesta seleta maratona da sobrevivência digna protagonizada
pelo capital – celebridade em alta – e pelos governos que vêem no capital o
parceiro certo e insubstituível para a desigual acumulação material e a
consequente produção e manutenção do produto miséria no percentual maior da
população, produzida exatamente, premeditadamente e deliberadamente para
alimentar o podre e inescrupuloso sistema que tem como combustível para o seu
ambiente de luxúrias e prazeres, a fome, a dor da fome e da humilhação de pais,
e mães, e filhos e filhas ainda puros, espalhados por esta imensidão de terras
sem fim de Áfricas e Américas, em quantitativos que não se conta, que mais
parecem estrelas que perderam o seu brilho para o brilho maléfico de umas
poucas “estrelas” egoístas que querem para si o tudo do nada, até que o nada
nem pelo nada seja mais sentido. Até que o nada nem pelo nada seja mais
divisível.
“Estrelas”
estas que já não habitam o céu; estrelas que habitam o inferno, se é que este
existe, porém, sem demônios; um inferno só de vidas a se acabar pelo completo
abandono de quem um dia pensava herdar um céu de verdade.
A
nossa realidade não é de luz.
Como
enxergar luz em inocentes filhos cadavéricos sugando o seio cadavérico de mãe
cadavérica que jaz morta e ainda se sustenta de pé pela vida morta que trás ao
seio para alimentar com a teimosa vida que tem dentro de si nas gotas mirradas
do seu leite?
Como
ver brilho nos olhos inocentes de milhões de crianças que em carne e osso
choram a humilhação da fome e do descaso e só desejam um naco de pão e leite
para fazerem a alegria dos seus desesperados e impotentes pais e para
sustentarem a vida que não pediram pra ser?
Como
ainda se iluminar com a deterioração da instituição família que, hoje,
desprovida dos seus valores morais, espirituais, de respeito, de caráter e até
mesmo de razão, caminha desordenada e desorquestrada para o ambiente “seguro”
do ter, perdendo nesta terrível caminhada a razão consciente do ser?
Como
enfim dizer que há luz neste mundo desigual onde impera a violência, onde se
perdem as crenças e assim recriam outras crenças mais que sempre as novas
crenças são só dons de acumular riquezas e mais riquezas materiais, só
materiais, e em pouquíssimas mãos em detrimento de uma enorme maioria a quem só
sobram migalhas pra seus sonhos suportarem e suportam; e se suportam só com sonhos
que com o tempo se vão a definhar, pois que sonhos não alimentam estômagos e
sem estes tão necessários alimentos se vão gerações inteiras, sem sonhos,
desencantar?
O
mundo é desigual; o mundo é desumano. A vida é desumana, mas não precisava
tanto. Que todo ser existente e vivente tivesse, simplesmente, sua dignidade e
sobrevivência asseguradas e que o justo fosse a diretriz primeira de governos e
cidadãos e até mesmo desse capital egoísta que não tem vida própria, mas que
vive na pobre vida daqueles que se entendem e se pensam vivos e ricos, não
sabendo estes que a riqueza de espírito e de alma é superior e esta não
perecerá, enquanto que a riqueza material passará e voltará ao nada de onde se
originou, e aí, nada mais existirá a não ser o espírito, o espírito puro e
livre das tentações materiais.
Estes,
os humildes de alma e de coração, herdarão a eternidade, a vida eterna e,
aqueles, aqueles que nesta passagem cultivaram o ter já não mais serão, como
nada mais saberão de si. Serão fadados e condenados ao fim eterno que não se
sabe inferno ou se panela de ferro, mas que será com certeza de tribulações sem
fim.
Roberval
Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Poste o seu comentário aqui