Queria
eu nunca me despedir
Queria
só sair e ir em frente
Sem
olhar para trás
Sair
despercebido
E
quando se percebesse indo
Já
estivesse distante
Longe
dos olhos tristes
De
quem ficou para trás
De
quem ficou só
E
só, me fez mais sozinho
Quase um abandonado
Esquecido numa curva do caminho
Um retirante sem pátria e sem chão
Sem lugar nessa imensidão de céu e mar
Tão só que mais pareço um zumbi
Vagando sem sol e na sombra
De uma lembrança que dói na alma e nos ossos
Minha alma chora
Meu peito arde
Minha cor se faz mortificada
Desbotada em tom de apagada e triste
Queria eu nunca me despedir
Despeço-me como se eu que fosse
Olho mãe e irmãos, todos mortalhas vivas
A dor que não se descreve tão absurda que é
Olhos fitos no nada a contemplar o além
Olho mais uma vez e o retrovisor é só sangue
A vida alegre que eras agora disforme e
inerte
O seu vivo e feliz sorriso ainda vive em mim
A sua voz dizendo me amar
Meu irmão e pai, você me dizia sempre
E eu te amo demais, não dá pra aguentar.
Mãe e irmãos
A vida nos deixou na encruzilhada
O partir antes do tempo não se explica
É um nó na equação do existir
Como seguir se não encontro o caminho?
Como ir em frente se só de abismo fez-se o
horizonte?
Mas... acho que sim
Acho que no fim do túnel ainda existe a luz
E é só por essa luz que insisto em caminhar
A luz da vida que mesmo apagada brilha
A luz da vida que há de brilhar eternamente
Mesmo quando a vida, estagiando, fez-se morte
Uma estrela a mais no céu
Um ser doce a adocicar a eternidade
Uma luz nova em novo alvorecer
Pintando de luz e cores o seu novo despertar
O despertar do eterno em vida de luz e flores
Tempo sem horas e sem dores, de prazer e
pleno de amor
Mãe e irmãos, resignemo-nos
Pelo acreditar e pela fé no Criador
Pelo fardo nos dado e tragado
Pelo cálice derramado mais sorvido
Pela dor que trespassou em um tanto doer
Que indolor se tornou e agora fermenta e
fomenta
O nosso amor que não morre
E que nas chagas de Cristo Jesus
Chaga essa dor e a faz em amor
Descanse em paz meu amor
Descanse junto ao Criador
E na vastidão do universo
Na retórica do tempo inverso
Olhe por nós
Por nós que ainda não tragamos de todo
A sua partida
Por nós que ainda vamos a carregar a cruz
A cruz que em nós se agigantou
Com a passagem da sua terrena vida
Mas que nessa triste despedida
Fez-se na cruz do próprio Salvador
A cruz de Cristo que alinha
Que simboliza e orienta a vida
Resignemo-nos todos
E façamos deste evento sem explicação
A razão para ainda mais nos amarmos
A razão para mais acreditarmos
No Deus que deu sabedoria a Salomão
No Deus que a Lázaro tornou a vida
E que agora nos trouxe à provação
Fez-nos em pedaços para edificarmo-nos
Edificar-nos-emos todos e em tempo
Com união, amor e Deus no coração.
Roberval Paulo
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