E as flores sangravam...
A casa
A porta
Tu, lá dentro!
Eu, cá fora!
Diálogo
suspeito
Olhadelas
pros lados
Inquietos
Sentíamos-nos
mal
Eu queria
entrar
Ah! Como eu
queria
Tu querias
que eu entrasse
Mas, as circunstâncias!
As
circunstâncias não permitiam
Acima de tudo
A honra
A dignidade
Nos amávamos, era certo
Desde
longínquos tempos
Tudo contra
Todos contra
O mundo
contra
Amor proibido
Coisas do
destino
Casastes com
outro
Imposição da
vida
Na vida de
outros
Muitos
felizes
Tu, infeliz
Eu, infeliz
José feliz
Teu marido
Só felicidade
Casou com
quem bem quis
A casa
A porta
Tu, de dentro
Eu, de fora
Fim de um
sonhar
— Já é hora —
digo.
Desejos
suprimidos
Palavras
entrecortadas
Destino
ingrato
— Vou-me
embora!
Tinha que ir
Não conseguia
arredar pé
Força
estranha me prendia
Misteriosa
Superior à
minha deliberação
De lá, tu
olhavas
Um que de morto
e triste
Desfilava em
teu rosto
Olhos nos
olhos
Lamentávamos
Tão mesquinha
sorte
Tão malfadado
desfecho
Precisavas
entrar
Tu tinhas que
entrar
A razão dizia
Não pegava
bem
Mulher casada
A esta hora,
na porta
De “conversê”
com homem
As más
línguas
Deus que me
livre
O pudor
Nossos
princípios
Nossos
valores
Nosso caráter
em cheque
Nossa honra
Tínhamos
honra!
E quanta
honra!
Não fosse
essa tal... já via
Mas,
precisava ser assim
Difícil
sufocar
Tão nobre
sentimento
Tão
verdadeiro amor
Tão gostoso
estar junto
— Adeus!
— Adeus!
— Preciso ir!
— Ainda é
cedo.
Frases secas
Ditas com
tanta dor
Impossível
doer tanto
Mas doía
Mais que
ferida de faca
Mais que
atropelamento de alma
Ainda mais
que ingratidão de filho
— É tarde,
bem tarde
— Ih! Preciso
entrar
— Ah, sim!
Agora eu vou
— Afazeres
domésticos, sabe como é
— Entendo, até
uma próxima
— Não deve
haver próxima
— Eu sei.
Sofrimento demais né?
— É! Não dá
pra aguentar
— Melhor não
seria a morte?
— Morrer não
mata tanto amor.
Lágrimas
De dentro e
de fora
Da porta
Da casa
— Vou-me
embora
— Tá, vai
— Não volto!
— Não volte!
— E esse
tanto amor?
— Amaremos
sempre. Distantes
— E
felicidade?
— Não a
teremos
— Eu vou então
— Vai, pelo
amor de Deus
— Adeus!
— Adeus!
Tarde demais
José chegava
Cumprimentos
Frios e
distantes
Pegos de
surpresa
Nas
confidências do amor
Difícil
disfarçar
Coração é
coração
— Como vai
José? Eu já estava de saída — digo.
— É, ele já
estava saindo. Tenho que olhar o feijão — ela diz.
José olhava-nos, estava sisudo
Já
desconfiava
Do sentimento
existente
Sim, pois
outra coisa não havia
Tínhamos
nossos valores
Traição,
nunca
Não estava em
nós
Traíamos o
próprio coração
Sofreríamos
calados
Para todo o
sempre
Sufocando à
força
De lágrimas
ocultas
Esse amor
proibido
Pela
conveniência
Contra os
interesses
Da fina flor
Da raça
humana
Mas, José também sofria
Não de amor
como nós
Da falta de
amor
Do amar sem
ser amado.
Olhares frios
O amar
demais, proibido, sem ser
O não amar,
sendo
Desencadeou
tudo
Discussão
Acusações
Explicações
Tudo fora de
controle
Coisas de
sentimento
Gritos!
Gritos de
José
Gritou comigo
— Tudo bem, vou-me
embora. Adeus!
— Adeus!
Gritou
contigo
Doeu em mim
Acusou-te do
que não fez
Feriu-me
fundo
Bem além do
sentimento de corpo
Ainda além do
sentimento de alma
Num
sentimento que eu não sabia existir
Tão distante
está deste mundo
Era o nosso
sentimento
Nosso amor
era assim
Transcendia
Ia além do
extremo
Tão maior
Tão superior
Que não era
possível em terra
Não podia ser
maculado
Acusações
levianas
Infundadas
Revestidas de
ciúme
Desprovidas
de razão.
Revidei à
ofensa que sofrestes
Sem merecer
Chamei-o às
falas
Não se
conteve
Sacou da arma
Em defesa,
atirei
Um tiro só
José, morto.
Sem
alternativas, fugi
Vida de
fugitivo é barra
Nessas
circunstâncias
Cadeia é pior
Você, ali
Desamparada
Ficastes só.
Nunca voltei
Sei que nunca
casastes
Leva flores a
José
Não por amor
Sente-se
culpada
Não tens
culpa
Não temos
culpa
Aconteceu
Lamentável,
não devia
Mas aconteceu
Pelo amor
proibido
Promovido por
aqueles
Que não se
permitem
Simplesmente
amar
Que não se
permitem
O amor só
pelo amor
Somos assim
Amamos o amor
só pelo amor
Amor
impossível
Nesse mundo
tão materialista
Amaremos
sempre
Eu sei. Tu
sabes.
Até que dure
a eternidade
Mas, pelas
circunstâncias
Separados
estamos
E assim,
haveremos de estar
Separados.
Amor tão
grande assim
Não se
permite em terra
Nessa vida de
carne
Simplória
vida de carne e lama
Haveremos de
nos encontrar em um outro mundo
Haveremos de
nos encontrar sim
— Para amor
total!
— Para amor
total!
— O amor só
pelo amor
— O amor só
pelo amor
— Assim, como
te amo!
— Assim, como
te amo!
— Adeus!
— Adeus!
Roberval Paulo
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