sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

MENORES ABANDONADOS - Roberval Silva


Pe. Zezinho escreveu em uma linda música da sua imensurável obra, que carrega exatamente esse título: "MENORES ABANDONADOS / Alguém os abandonou / Pequenos e mal amados / O progresso não os adotou". (Pe. Zezinho).

Realmente, o progresso não os adotou. 

Renato Russo questionava, em um outro momento e situação: "Que país é este? Que país é este?”

E eu questiono até hoje, sem poder disfarçar a tristeza da impotência e a naturalidade e normalidade do mea culpa. E, revestido de uma amarga revolta, parafraseando Renato Russo, replico: Que progresso é este? Como chamar progresso um sistema que abandona crianças que ainda nem gente "adulta" é ao destino das ruas sem direção e ao acaso de tão malfadada sorte? Que modelo de sociedade construímos? 

E ainda batem no peito e mostram a cara lavada e sem culpa nem vergonha nenhuma dizendo que a onda agora e necessidade primeira é um tal desenvolvimento sustentável. Que precisamos continuar nos desenvolvendo, porém, sem agredir e sem destruir. Não sabem o que estão dizendo. Ou sabem e disfarçam a realidade nua e crua pela fantasia de um discurso e de um sistema que exclui, segrega e extingue vidas das mais diversas todos os dias. 

Quer agressão maior do que matar e aniquilar sonhos e desejos de gerações inteiras?

Quer agressão mais cruel do que continuar a deixar dormindo quem ainda nem acordou?
Como redimirmos-nos um dia por ferirmos com aço letal e fatal os sonhos coloridos de cores mil do tempo de criança e transforma-los na fatalidade clara e real do preto no branco essa geraçãozinha que continuamos cinicamente a dizer e com todas as letras que esses são o futuro do amanhã? Quanta hipocrisia. Que sociedade continuamos a reinventar e aprimorar mundo e tempo a fora. Porque, salvo as conquistas tecnológicas que atende, se manifesta e se consolida em todas as áreas, tudo dá no mesmo. Tudo tá no mesmo ou seja, a dominação dos mais fracos pelos mais fortes continua. 

Foi assim desde os primórdios e continua tudo igual. 
Aí vem os grandes estudiosos e falam de evolução da humanidade. Das conquistas, das descobertas. Dos modelos de sociedade construidos, modulados, destituidos e reconstruidos ao longo do tempo da existência humana. Das relações humanas, dos valores éticos e morais. Da revolução na indústria, do crescimento e consolidação do comércio, das relações comerciais internacionais. Do intercâmbio e interação dos governos. Da integração econômica mundial; transnacional. Da interferência e ingerência dos governos na cozinha alheia, onde não lhes dizem respeito.

Enfim, da globalização. Enfim, da maximização dos ganhos em geral por quem detém o capital, seja de onde for, seja onde for. Não importa a origem. Seja asiático ou árabe, europeu ou ocidental, lícito ou ilícito, fruto da exclusão ou da extinção do que seja, mesmo que sejam vidas, o capital é o capital e como tal é tratado em qualquer destino a que se dispuser chegar e normalmente e legalmente, é recebido com pompas e com todas as honras. 

Que bonitinho. Tudo está igual desde quando começou. Fico tão baratinado e perdido quando passo a analisar que não sei a quem atribuir culpas e responsabilidades. Acho que a todos nós mesmos, enquanto sociedade que somos. Porque desde as antigas gerações é assim; os fortes e os grandes dominam e aos mais fracos e pequenos, cabe calar e aceitar.

Na geração dos dinossauros, igual. Dos homens das cavernas, na idade da pedra, tudo igual. Na geração de Adão e Moisés, tudo igual continuou. Quando JESUS CRISTO veio ao mundo para tudo mudar, tudo continuou exatamente como estava, no mesmo. O que esperar mais? Em que ou em quem acreditar ou por qual causa lutar se a história e o passar dos anos, geração por geração, nos mostra que nada mudou. Lá no livro bíblico do Eclesiastes, este já dizia: "Que é o que foi? É o mesmo que o que há de ser: Que é o que se fez? É o mesmo que o que se há de fazer. Não há nada que seja novo debaixo do sol, e ninguém pode dizer: Eis aqui está uma coisa nova. Porque ela já a houve nos séculos que passaram antes de nós. Não há memória do que já foi, mas nem ainda haverá recordação das coisas que têm de suceder depois de nós, entre aqueles que hão de existir em tempo a elas muito posterior." Eclesiastes, cap. 1, vers. 9-11.

Ele estava certo, mesmo tão questionado em seu tempo. Realmente não há nada que aconteça que se possa dizer: Vêde, isso é novo.

Sociedades e governos, em batalhas e guerras, continuam se degladiando e vencendo o tempo e, praticando tudo do igual. 

O homem, nós, somos por nós mesmos, ambiciosos e trazemos junto à ambição o seu companheiro inseparável, o egoísmo. Aí está tudo e pronto. Com essas características que são nossas por natureza e tendo a oportunidade de desenvolvê-las, o resto que se dane. 

Não importa o outro, quero saber é de mim. Não sei quem chora nem porque chora e isso não me importa nem me diz respeito, desde que eu possa continuar a sorrir. Essa é a nossa realidade. 

Emily Bronte, grande escritora e poetisa britânica do século XVIII, autora de O MORRO DOS VENTOS UIVANTES entre outros tantos, que publicou a sua primeira obra com o nome de homem em razão da segregação feminina da época, escreveu: "Se a mais vil das criaturas me esbofeteasse, eu não lhe retribuiria a ofensa e sim pediria desculpas por tê-la provocado." (Emily Bronte)

É bonito isso, muito fácil de dizer e até de escrever, sem precisar recorrer à grande escritora. Agora, viver é que são elas. Não carregamos em nós, apesar de sermos em mesma natureza, o espírito bondoso de JESUS CRISTO, que ofereceu o outro lado do rosto quando foi esbofeteado. Estamos mais para a popular lei de Gerson do bateu levou. É a lei do toma lá da cá e o resto que vá pras cucuias.

Falta amor ao próximo, como JESUS tanto pregou e difundiu e, principalmente, amor a nós mesmos. Este foi o legado de JESUS quando veio ao mundo: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo." Mas nós, absortos e envolvidos que estamos e somos pela sobrevivência, diga-se de passagem, louca sobrevivência, não o demos ouvidos e não o entendemos e sim, o condenamos e o crucificamos.

Este mundo não pode ser abençoado se matamos aquele que dizem até hoje ser o nosso salvador. Podemos estar condenados por tempos sem fim e assim, levamos a condenar as nossas crianças.

E JESUS CRISTO, em sua infinita bondade e divina sabedoria, disse mais: "Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o reino dos céus."

Não o entendemos e não fomos capazes de o atender em seu mais doce e sublime ensinamento e, por isso, as nossas crianças andam ao léo por aí, pelas praças e becos e sinais e pontos de drogas e de prostituição das grandes cidades, tão maltrapilhas e esfarrapadas, tão esquecidas e abandonadas, tão exploradas e sacrificadas que nem crianças parecem. 

São os filhos da luz que receberam só trevas nessa sua morada terrena mas que, um dia, podem ter certeza, subirão em luz para a luz da qual originaram, enquanto que estes, os mandantes, governantes, detentores do vil metal e acumuladores de riqueza e da desgraça alheia, esses irão e terão como morada  o...

Ah! Deixa pra lá. Deixo estes ilustres às moscas e me recuso a falar sobre eles.

Que o tempo e a estrada que a tudo faz nada e morto e igual se encarregue de tudo e que nossos filhos e netos e assim por diante nos conduzam à quarta e última geração e dimensão, tão além deste mundo. Simplório mundo de carne e lama. 

E que sejam perdoados os nossos pecados, se houver perdão.

Roberval Paulo


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

DO OUTRO LADO DA VIDA - Roberval Silva


Lá não fui para saber como é e confesso que eu não tenho ideia de como é e nem sei quando é a hora da chegada ou da partida e não imagino como possa ou deva ser o mundo do lado de lá, do outro lado da vida.

Penso às vezes que nada existe daquele lado de lá onde tudo é mágico.
Onde tudo flui ao natural qual sendo as águas caudalosas do rio que desce ao mar e nem sabe existir o caminho de ao seu curso voltar.

Mas como falar de lá se lá não estive?
Como saber de lá se quem foi jamais voltou?
Penso um dia desvendar esse mistério
Penso um dia conhecer este segredo.

Mas como conhecer um caminho que não volta?
Como enfim regressar numa estrada que é só ida?
Como poder descansar num leito desconhecido que de terra é o cobertor e a alma segue vagando, sem corpo, a alma viva?

Quis fazer essa viagem e sonhei sendo levado por um anjo decadente que tinha as feições da morte e até foice carregava com sua túnica de branco tão negra que nem luzia
e ia a levar a vida para além da vida matéria.

E além do vale abissal o precipício se abria e o corpo se redimindo ao precipício chegava e a sua casa o esperava e ele nela dormia o sono eterno do nada. E a alma se rebelava e o corpo ela renegava, abandonava o que era o seu casulo de cêra e este se desmanchava no chão que a tudo comia. E a alma, nova, andava, seus pés voando no dia e a noite ela perseguia buscando a luz que foi sua quando sorria na rua da casa do seu amor.

E a alma quis regressar. Eu pensei em regressar e fui assim agarrado por dez mãos, sete cabeças e um corpo desengonçado que mais parecia um santo mais um santo desviado que louco e desesperado não me deixava voltar.

Não era maldade sua que em mim se agarrava era porque tinha visto em mim uma companhia. Do outro lado da vida solidão muita eu vi, anjos vagando sozinhos procurando por seus corpos que ficaram em outro plano dali bem distanciado, distância essa impossível de vencer só com vontade.

Consegui desvencilhar-me de mãos e pés me segurando e me mandei dali fugindo pés correndo e alma pensando pois em mim estavam juntos alma e corpo eram um só e foi minha salvação essa junção esse conjunto e percebi nesse momento ser existente dois mundos um de alma outro de corpo que se encontram aqui no seio da nossa terra na hora do nascimento e juntos seguem vida afora até chegarem juntinhos na encruzilhada da sorte, o mesmo ponto da morte, para ali se separarem e assim se desgrudarem e não mais serem um só e agora feitos em dois o que antes era um só cada um segue sozinho o seu mais novo caminho e nada sabe um do outro nem nada do que viveram, são em si seres estranhos que nem memória carregam pois foi tudo deletado no exato e real momento da inevitável separação.

Cada um no seu quadrado, o corpo deitado em terra a se fundir e se encontrar com a sua parte maior, a terra, a mãe de todos, a alimentar sabiás e laranjeiras e matas e águas e até novos sonhos e a alma no seu espaço busca o vazio do verde e vaga só e sem corpo, só espírito a vento tocada a procurar pela luz que está em qualquer lugar do universo esquecida e que é alimentada por novas almas a chegar cujo destino é vagar e vagando vai renascer em nova vida explodida fundida à vida matéria em nova missão investida.

E quem vai, de nada leva; quem fica, de nada sabe; quem volta, nada não trás, são seres virgens em começo início de um novo ciclo que vai rodar e alcançar o outro lado da vida onde tudo é o fim do fim chegando aos tropeços e ao seu começo que vai findar quando a página do velho mundo virar e quem foi de lá será ao outro lado jogado e nunca mais os dois lados vão querer se separar pois a estação da chegada é a mesma da partida e o lado de cá será o outro lado da vida.

Roberval Paulo

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

PLENITUDE DO SER - Roberval Silva


Quero o poder
de não me dobrar
ao poder do dinheiro.
Quero ter dinheiro
mais quero o poder
de ser o seu dono
e não o contrário.
Quero o poder,
            de não ser egoísta,
            de não pensar só em mim.
Quero o poder de tirar do caminho
                        o que me faz mal,
                        o que faz mal à sociedade,
                                   como um todo.
Quero o poder da igualdade,
quero partilhar;
            partilhar idéias, sonhos,
                                   desejos,
                                   vontades;
partilhar o pão
alimento da vida;
partilhar meu sangue
                                   se preciso for.
Quero ser gente; apenas gente.
Quero ser povo
            e ser esperança.                               
Quero um sono tranqüilo
nas noites frias de inverno
e um cobertor de céu
para me aquecer.
Quero uma rede
pra me embalar
e fazer no balanço
                        o balanço da vida,
pra esfriar minha mente;
            e refrescar meu corpo;
            e aliviar meu peito;
            e acalmar meus sonhos
em dias de calor.
Quero ser ponte para unir,
                                   para ligar.
Me ligar com as cidades,
                                   com os povos.
Me ligar com a terra,
                                   com o velho
                                   com o novo.
Me ligar com o mundo,
            com as dores do mundo
            com as coisas boas do mundo.
Me ligar com a vida
que é ligada à morte;
à morte do índio, da branco, do negro;
à morte do cão, do lobo, da ovelha;
à morte do justo; à morte do ímpio;
à morte igual do fraco e do forte.
E continuar a ligar;
            me ligar com você,
            me ligar comigo mesmo
e me ligar com DEUS.
E quero ser fonte,
a fonte incansável,
a correr sem parar,
                        sem se abater;
insaciável, a deslizar
            pela encosta dos montes;
            pelos vales do sol,
                        vales das sombras,
em sua corrida interminável;
levando em seu seio,
                                   apenas água,
                                   límpida água,
que lava tudo
que lava a terra
que lava o pecado
que sacia a sede,
                        a sede do mundo;
Que lava minh’alma
e a sua alma
e as nossas almas, e todas as almas
e nos faz um carinho
e nos leva daqui
a um lugar distante
mais perto dos céus
bem junto de “DEUS”.


Roberval Silva

CONEXÃO -- Roberval Silva


        
A flor
         Desabrocha pro rio
         E ele chora em seu leito
         A saudade da serra

                            O sol se derrama
                            Em lágrimas de fogo
                            Por não ver a lua  
                            Se lança na terra
                                              
                                               E a terra, corada
                                               Começo e desfecho
                                               Desfralda e descerra
                                               A bandeira da vida
        
                                                                  O homem, matéria
                                                                  Abre a porta pro espírito
                                                                  O resto é detrito
                                                                  Sem céu, sem saída


Roberval Silva

FLOR, VENTO E BEIJA-FLOR - Roberval Silva


Por amor feristes
Este meu coração
E sem mais ter razão
Me vi no vazio
E na dor da paixão
As lágrimas rolaram
E se precipitaram
Formando um rio
E olhando esse rio
Presenciei uma cena
Que me causou espanto
E muita emoção
Uma flor se abriu
Fez figa e se fechou
Pro seu beija-flor
Que a esvoaçou
E só vendo os espinhos
Ficou tão tristinho
E bem longe sumiu

E voou o beija-flor
Sem a sua flor
Se viu tão sozinho
Saiu do caminho
E se espatifou
Nas pedras do chão
E em lamentação
Pobre colibri
Ali sucumbiu
E ali ficou
Jogado às traças
Em sua desgraça
Abraçando a sorte
E o vento do norte
Passando lhe viu
E lhe indagou
Quê que foi beija-flor?
E ele respondeu:
minha flor não sorriu

Pra mim se fechou
E sem o seu olor
Meu sonho morreu
E o vento sofreu
E se apiedou
E soprando chegou
Onde a flor dormia
E disse: flor do dia
Flor da noite, flor do tempo
Eu sou o Deus vento
Levo ar a todo ser
E venho soprar a você
Que o beija-flor está sofrendo
Sem seu beijo está morrendo
É só pena o coitadinho
Não é nem beija, nem flor
Venho pedir-lhe um favor
Se abra a esse bichinho
Que só tem pra ti, carinhos

E leva a vida a adejar-te
Só te fazendo carinho
E sem ti está sozinho
Sem vida, sem razão de ser
É certo que vai morrer
Não deixe que isso aconteça
Vai me doer na cabeça
E posso não mais soprar
E sem meu sopro, o mundo
Não pode mais respirar
E tú também vais morrer
E as vidas vão se acabar
E eu vou ficar sozinho
Perdido e sem carinho
Sem movimento, então morro
Tudo em nada vai virar.
E a flor, compadecida
Viu o mal que tinha feito
Chorou muito e com efeito
Se abriu num lindo sorriso

E a última lágrima, rolando
Foi levada pelo vento
Qual gota de cristal líquido
No beija-flor foi batendo
E ele logo, renascendo
À flor um beijo ofertou
E agradeceu ao vento
Que sorrindo se afastou
E de tanta emoção
Chorava que soluçou
E soprou brisa no mundo
Nos quatro cantos caiu
O campo todo floriu
E tudo verde ficou
Flor e Beija-flor sorriram
E o vento a mim chegou
E me vendo acabrunhado
Me envolveu num doce beijo
Que minha face corou

E foi logo perguntando
O que tinha acontecido
Lhe contei, entristecido
O meu amor me deixou
E ele disse, já resolvo
Não precisa mais chorar
Antes que esse sol se vá
Teu amor eu trago aqui
E saiu a te buscar
E eu fiquei  esperando
Pensando que era o fim
E o vento me trouxe à vida
Achando minha flor perdida
Lá pelas bandas do mar
E lhe ensinando a amar
Trouxe-a de volta pra mim
E aqui estamos nós
Dois seres e uma só voz
Sorrindo, juntos enfim.


Roberval Silva

DISTÂNCIA / INDEFINIÇÃO -- Roberval Silva



DISTÂNCIA
  
Tudo é muito relativo
Tudo é todo sentimento
Tudo é graça, esplendor
Alegria, é o momento
Dor e lágrimas, é a distância
Forçando o esquecimento

  
INDEFINIÇÃO
  
Amor,
sentimento que não se define
que não se programa
simplesmente sente
Porém, sem entrega
sem se dar por inteiro
Por sermos incapazes
de tão somente AMAR!


Roberval Silva

CONTRASTES - Roberval Silva


E olha o céu
E dói o estômago
E escuta o choro
O choro da fome
E vê, vê a fome
Retratada no filho
Um ente inocente

Da fome
Sua face escaveirada
Devorando a todos
Animal e vegetal
E gente
Animal ainda humano
Inumano

E a outra face
O contraste
Desumano
Latifundiários
E governo
Seus carrões
Seu rico dinheiro
Sua sala de cores
Suas vestes de seda
Sua mesa farta
Seu vinho, champagne

Comprados
A dinheiro
O dinheiro
Da fome
O voto da fome
O trabalho da fome
A mão de obra
Da fome
Desnutrida e barata

E olha o Céu
E arrota caviar
E escuta um choro
Pra Internet usar

E olha o Céu
E dói o estômago
E escuta o choro
O choro da fome

De novo, o contraste
Um show, belas artes
Somenos à parte
Um choro abastado

E lá, o cenário
É real, é pesado
Nas lágrimas do homem
O filho enterrado

E olha o Céu
E olha-se o Céu
E água abundante
Da terra irrigada

E olha o Céu
E olha-se o Céu
E nenhuma nuvem
E nada de água

E o rico
Cada vez mais rico
E o pobre, cada vez
Mais miserável

E o sertão, cada vez
                       Mais seco
           E esquecido
E também seu povo
Principalmente seu povo
           Cada vez mais povo
                       Cada vez mais gente.

Roberval Silva

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

SER E EXISTIR - Roberval Silva


É assim, não se explica.
Nascer, viver e ser somente e nada mais.
Os dias chegam como se só vidas trouxessem
 e vão-se em noites de sonhos por terminar.

A manhã rejuvenesce; a cada manhã sou mais velho.
O vento virgem da manhã torna mais velho quem por ele passa.
É que a manhã traz vida nova ao mesmo tempo que envelhece vidas já dormidas.

Os destinos se confundem nas tantas encruzilhadas e confluências do ser e do existir.
A vida, por si só, segue em frente e não se individualiza.
Vive de si mesma e não retrocede nunca.
Vive de si mesma, descompromissada e livre e além das comprovações científicas, porque a vida vive para todo  o sempre – viva – superior a tudo e a todos.
O resto é sobra, e nada, e morte, e inexplicável.

Inexplicável também o é, a vida, mas,
porque abraçá-la com suspeitas e dúvidas,
se o que vale é viver?
É acaso o dia maior que a noite?
Será a ciência a contraprova da fé? Ou vice e versa?
Não é só pelo milagre da vida que é permitido à ciência, existir?
Como por em dúvida a sua própria existência?

A vida vem da vida e traz em seu bojo, a morte.
Dualidade existencial e essencial.
Nascer e morrer. É a lei.
Nascer, viver e morrer, eis a lei e nos basta.

E tudo o mais é especulação.
Vida que segue sem explicação.
Para todo o sempre. Amém!

E que a terra nos seja leve.


Roberval Silva

O MAIOR SONHO DO MUNDO - Roberval Silva


Queria, por pelo menos uma vez, poder nascer sem sentir a temível e tão amável, a dor afável, a dor do parto. Não eu, mas minha mãe, que de tanta dor, quase que eu não pari. E assim, depois de parido, não ser erguido, suspendido pelos pés, de ponta cabeça, para o lado, o outro lado, o lado de baixo da vida.

Contentaria a mim ser só elevado ao colo e seio de minha mãe e me embriagar, deleitando-me do sublime e purificado leite da existência, sem por ele nada pagar, que leite de mãe é dado de graça, doado só pelo dom e natureza de amar. Aí, queria poder crescer sem saber de verdura e de outros tais e iguais ingredientes ou de quem inventou que chocolate faz mal. E em frente crescendo sem nunca saber de colégio ou escola às seis da manhã.

E quando enfim chegasse o dia de ter a primeira namorada, que ela não fosse a primeira e sim aquela depois da última que sonhasse comigo o mesmo sonho que sonhei um dia com a primeira que não soube seu o meu último sonho.

E quando os meus pais perdessem a magia do amor existente que os levou ao altar, que ele se renovasse sem a doída dor da separação e que o amor dos meus pais natural e normal continuasse na família que fomos antes de matarmos o amor em nós.

E quando enfim chegasse o dia de eu me casar, que o amor dos meus pais, quando houve a união, habitasse em mim e em minha amada, que não fosse a primeira nem a última namorada e somente sim a fórmula do amor continuada no continuar premente da vida cortada e interrompida pelo sonho do amor desorbitado no amanhecer da existência eternizada.

E que os meus filhos não fossem meus e sim só meus e do meu amor e que nunca soubessem do amor que não fosse o amor do eterno e que assim amassem, e amassem sem conta o amor, aquele sem dor e então não sentissem a dor cruel da real realidade que os faz ouro meu sem tê-los propriedade.

E que o mundo tivesse um lugar mundo infantil quando enfim chegasse a melhor idade e não houvesse abandono, nem desenganos e não se sentisse a horrível sensação da inutilidade quando a página virasse e começasse a descida e que esta descida continuasse subindo sem se explicar, só indo, preservando o mistério, o segredo, o elo reverso que une dois mundos e que a partida fosse a mesma alegria de quando se é chegado, que eu não me sinta cansado e nem fraco e mirrado, me sinta viçoso, corado e formoso quando a verdade da vida visitar o meu peito, e eu, satisfeito, viajando sorrindo tal qual o mesmo menino de quando aqui chegou e partindo no amor que me trouxe à vida, viajante de nuvem, última despedida, e do lado de lá, alegria e bonança, o sim da esperança habitando o verbo amar.

Roberval Paulo

DIVAGAÇÕES! - Roberval Silva


Ando pelo mundo à procura de mim
Se não me encontro, conheço novas terras.
Passo pelos dias, tenho olhos no futuro,
Brincar de viver é tão bom que nem presta

Pelo sol vejo fogo no céu
Ignoro conceitos, regras e tudo o mais.
Não me atenho às convenções, sou prático,
Tenho medo da coragem que é minha

Pra buscar um sonho, viajo muitas léguas,
Nas asas do sonho é que se voa longe
Creio até nos contos de fada
São fantasias a dizer verdades

Pra contrariar a noite acendo as luzes
Tudo escuro, eu claro estou.
No natural das coisas, o dia amanhece,
Escuro mesmo é a justiça dos homens

No tempo de uma hora penso a vida inteira
Nos amigos, nas mulheres que amei;
Supostos amores, não passavam de paixão,
Ela sim, único amor e não morreu com o tempo.

Divagando é que se vai ao longe!
Divagando viajo no tempo!
A lua ainda nem visitei
Mas deixa pra lá. Devagar! Divagar!


Roberval Silva

REMISSÃO - Roberval Silva


A vida é essa louca rotina mesmo e um constante e interminável desafio. Sempre os mesmos sonhos; as mesmas ilusões, desilusões e limitações. A luta em prol de um ideal, a busca da felicidade; a corrida incessante do ter e do poder.

Às vezes me pergunto: por quê? Para quê? Fico sem resposta e permaneço mudo ao deparar-me com a hipocrisia da humanidade. Quanta, mais quanta vaidade. Para onde caminhamos? Mais uma vez estou mudo e passo a imaginar o porquê de tanta luta, tanta busca. Corremos atrás do que? Da sobrevivência? Do tempo perdido? Da modernidade? Do futuro? Talvez, simplesmente, contra o relógio do tempo?

Não, não sei! Recorro ao grande filósofo grego Sócrates, parafraseando-o: tudo o que sei é que de nada sei.

Mas por outro lado, deixando para o lado o lado filosófico da questão, só sei que, de um jeito ou de outro, querendo ou não, acabamos por nos encontrar com a morte. E aí, será o fim?

Vou dá uma de Sócrates outra vez: não sei. Mas porém, contudo, todavia, entretanto, talvez aí esteja o começo; o verdadeiro sentido de tudo. Mas quem saberá? Ninguém! Só DEUS é conhecedor de tamanho mistério.

Porém, uma coisa é certa. Um a um, do jeito que veio ao mundo, voltará, e nada levará consigo, como nada mais poderá fazer, nem mesmo por si.

Da terra para a terra! O espírito só a DEUS pertence e ele decide, pois o sopro de vida que nos trouxe a este mundo foi emprestado por ELE.

Então, cuidado, muito cuidado!
Não se lasque, redima-se!!!

Roberval Silva