sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CAOS, DESOLAÇÃO!

Estou por aí, na sombra nebulosa da noite, à espera do grito, do sinal
Do chicote no açoite do braço
Do tiro perdido, sem alvo, a qualquer alvo
Ferindo o peito já ferido e maltratado, amordaçado e desolado
Esquecido no beco de uma lembrança apagada.

Sem rosto, sem página, sem a história dos dias passados
Futuro incerto, apontado como imprevisível, um tiro no escuro
O momento seguinte totalmente desconhecido.

Do presente, só o presente
sem embalagem e sem laço de fita. Só a dor da dor vivida e sentida
O sangue agitado nas veias a escorrer pelo horizonte dos olhos
Animal abatido num tiro certeiro. Animal racional
que pela irracionalidade social, irracionaliza-se, desnacionaliza-se.

E se perde o sonho, redendo-se à dura realidade
Traindo a consciência, perdendo a razão
Arquivando as consequências e o conceito de legalidade.

Pra suportar, sem opção. Só com a cabeça feita
E se faz a cabeça. Consome-se, se consumindo;
ingere-se, injeta-se, compartilhando tudo
Amizade inconsciente, risco inerente. Gotas e partículas de morte à prestação
só apressando, antecipando o que já está decidido
Escrito nos anais das sociedades
Veredicto social. Fatalidade da existência: A morte.
Afinal, todos cairão. Coragem irresponsável, covarde
Coragem em mim sem ser minha, alimentada pela hipocrisia, pelo descaso.

E eu, sem forças, me rendo, dominado, corrompido
Bicho alienado, fera acuada
Indignado e sem diginadade
Sem direitos, contado para morrer. O que fazer?

Aceito passivamente porém, revido, agrido
Matando o que em mim morreu
Roubando o que de mim foi roubado.

É o estágio da decomposição, sem recompensa, 
assediado por uma falência múltipla de sentimentos.
Incongruente, ferindo pela ferida enraízada n'alma,
plantada pela lei do sistema
Sistema posto, imposto, regado livremente sob espontânea pressão,
opressão, repressão, depressão geral
Embrutecido pela demagogia, mantido pela lei do mais forte.
Insanidade da sandice dos sádicos que, endeusados de poder, pelo poder
acreditam na vida só aqui.

Ledo engano. O processo está sendo montado, a sentença será proclamada
Réo, diante do juíz, sem advogado de defesa, só acusações
O direito à defesa prescrito, findo no último dia de vida aqui.

Agora é tarde, muito tarde. O martelo será batido
Condenado! A revelia, sem recurso
A pena será cumprida, eternamente
E todos os anos irracionalizados, desnacionalizados sobre a terra
será nada frente ao que virá,
posto que tudo debaixo do sol passa.

Aqui é só o prenúncio, o prefácio do livro do tempo para a vida eterna
onde um só dia equivalerá aos cem anos aqui passados
Onde a dor e o gozo serão eternos
Resultados do balanço sobre os atos
Aqui praticados.

Roberval Paulo

Um comentário:

  1. Como eu fico encantada diante dos teus textos, das tuas poesias. Fico igual a uma criança diante de uma caixa de bombons.

    Roberval você, além de excelente escritor é um poeta de mão cheia. Se fosse jornalista, seria dos bons. Seu estilo, sua linguagem é como a galera diz: Show d+!!!

    Parabéns !!!

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