quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

VIDA DE CHÃO OU DE CÃO?


No chão da sala, o tapete                         
Sua função, cobrir o chão
Cobrindo o chão, o tapete
Enfeita todo o salão.

Mais ali, pisoteado
Por pés tão sujos de chão
Do chão da estrada batida
Do chão asfáltico. Do chão
Pisado por tudo e todos
Suja-se todo o tapete
De toda espécie de chão
Que por sua própria sorte
Protege esse mesmo chão
Que lhe machuca, lhe mancha
Tirando sua beleza
Descolorindo sua cor
Sangrando seu coração.

De sangue negro, pisado
Poça de sangue, artesão
Traços da arte, na linha
Pintura em ponta de mão
Se vê assim, degradado
De seu propósito, privado
Inerte, esfarrapado
Sem cor, sem brilho, sem luz
Morrendo, tão maltratado
Por pés tão cheios de chão
Já sem destaque, o tapete
Beleza? Só se vê chão.

E o tapete, num gemido
Um grito rouco, sofrido
Ouvido de pé em pé.

Nada mais sou, senão chão
Porque me tens, estendido
A enfeitar o salão?
Se o chão dos sapatos, em tempo
Me faz em pó, pó de chão
Bom mesmo é estar no Japão
Onde sapato não tem vez
Dentro de casa, pés no chão
Ou melhor, em meu coração
De sangue limpo e tão puro
Rebrilha ao brilho da luz
Resto do mundo? Avestruz!
Sujo e impuro de escuro.

Concluo, porque me usar?
Pra me transformar em chão?
Melhor deixar como está
Na sala, só mesmo o chão
Crucificar-me à parede
Pra sentir meu coração

Roberval Paulo



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