quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

A ESTRADA RETA DE UM CAMINHO TORTO - Roberval Paulo

Estou na estrada reta de um caminho torto. Um sonho acordado de um dormir mais pesadelos que sonhos. Não sei onde parar a ouvir o que não se diz nem mesmo ao silêncio. O estampido rouco e estridente de um inaudível som apoderou-se do meu ser e me leva a escutar o que ninguém falou e o que nem eu mesmo disse a ninguém e nem a mim. 

Sou a curva querendo endireitar-se para reta se tornar e não mais encruzilhar-se. Assim, endireitado, vou ao norte do caminho onde habita o descortinado horizonte e dele terei notícias e ali descansarei. Não quero mais andar sem saber qual caminho seguir. O caminho eu não conheço, então me vou a disfarçar o andar e me farei autêntico quando a estrada de mim se fizer conhecida. 

Estaciono-me no lado oposto da existência a esperar pela origem do ser que ensinar-me-á a razão de estar aqui, direcionando os meus passos para a imprevisibilidade do tempo, no mistério alucinante de nada saber de mim nem tão pouco de onde vim nem para onde caminhar.

Vou ao sol que encurta os dias, alegrando-me para o futuro que me trará o inevitável. Vou ao fim para ser começo. Vou a mim para buscar o outro do eu de mim que ainda não conheço, mas sei que em mim está. Vou indo, só indo para a reta endireitar, pois que já estou cansado de tanta curva fazer, de tanto sonho querer e a lugar nenhum chegar.

Vou indo na estrada reta de um caminho torto.
Não sei se torto é o caminho ou se o meu caminhar.

Roberval Paulo

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