terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

CRÔNICA DO TEMPO - Roberval Paulo

Esta crônica está publicada no Jornal do Tocantins MAGAZINE
CRÔNICAS & CAUSOS, Edição 18/02/2020   

“Tenho a história inacabada, quanto espinho espalhado, os que já foram pisados e outros mais que aguardam por meus pés que nem meus são.”
18/02/2020 – 07:40 - Roberval Paulo - Poeta


Controlar o tempo; queria que este não passasse; devia este momento durar mais que um dia. Mas, não estou preso a ele, pois o mesmo não me pertence. Só as coisas que nos pertencem nos prendem. Pelo menos é assim que deveria ser.

Controlar o tempo! Podia este parar para esperar minha vida que não consegue acompanhá-lo. Se ele parasse, eu o alcançaria e descansaríamos um pouco, sentados numa pedra, levando intuitiva conversa, para depois, descansados e realimentados de brisa e de paz, prosseguirmos a viagem que muito dura. Mas, esse tempo não me houve. Queria controlar o tempo e só seguir pela minha vontade que controlaria e guiaria os meus passos e não pela vontade de outrem. O Céu que me espera não sei se existe e, se fantasias são verdades, nem sei como acreditar em mim.

Controlar o tempo! Controlar o tempo que me fechou a porta e nem adeus me disse, nem se despediu. Se eu tivesse o dom e o poder de governar o tempo um dia sequer, fecharia esta porta e guardaria a chave em lugar que só eu soubesse, abrindo-a só quando o dia, por sua vontade, decidisse se encher da manhã que teria entrada franca em minha vida, com a permissão deste
mesmo dia.

Ah! Controle do tempo! Porque não vens aqui ensinar-me como se faz com esse tempo que só sabe andar? Que caminha, caminha, caminha sem saber para onde, sem saber por onde, sem haver direção no seu caminhar. Escuta-me senhor do tempo! Só você e unicamente você poderá me ajudar. Mostre-me o caminho que leva ao sol e ensine-me o segredo de não me queimar. Leve-me pela estrada do norte, na rota do sul e do bem caminhar. Que eu cruze rios sem me afogar. Que atravesse montanhas sem de lá despencar. E que, ao cair, que eu me levante e encontre forças para continuar e que todas as barreiras e os obstáculos e as curvas da estrada com suas ladeiras eu consiga vencer pela persistência do muito esforçar.

E escuta senhor do tempo, eu não posso parar. Eu não posso parar pois eu sei que ainda tenho muitas flores para colher, muitos sonhos para perder, tanta conta para contar. Tenho a história inacabada, quanto espinho espalhado, os que já foram pisados e outros mais que aguardam por meus pés que nem meus são. E senhor do tempo me diga se é eterno o caminhar? Se encharcando a camisa, suando-se de baixo em cima, correndo mais que a notícia, quase qual bala que mata, mais que um golpe de faca lambendo o vácuo do medo, pode-se uma dia dizer, vou parar pra descansar?

Controlar o tempo! Ah! Quem me dera eu soubesse desvendar este segredo; quisera eu não ter medo de sorrir, de ser feliz, e na passagem da vida amar mesmo, sem medida, compartilhar os meus sonhos com quem quisesse sonhar, semear por onde eu fosse, muito amor, muito sorriso, muita paz que eu preciso tornar o mundo melhor. Deveras, levar alegria a todas as gentes e a mim, a todos nós e a ti que me lê e nem me conhece, mas, que como eu, padece do não entender a existência, a razão do ser, das crenças, as dores e os sacrifícios que a mestra vida nos cobra sem explicação alguma, mas no tempo e na estrada vamos nós a cavalgar.

A caminhar, a sonhar, nos labirintos da sorte, construindo e conquistando, montando um cavalo alado, eu e você, lado a lado, destino do fraco e do forte, procurando a própria morte por onde o vento levar.

Roberval Paulo

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