sábado, 21 de abril de 2012

A PEDRA - Antônio Pereira (Apon)

                   Obs.: Este poema, publiquei nesta página como de autor desconhecido, com o título de Pedras no Caminho. Tive a felicidade de, através desta publicação, descobrir o autor verdadeiro, o qual me disse ter sido plagiado inúmeras vezes com este mesmo poema, reclamando com razão.                               
                   Está feita a correção querido Antônio Pereira (apon), com os devidos créditos.

O distraído nela tropeçou. 
O bruto a usou como projétil.
O empreendedor, usando-a, construiu. 
O camponês, cansado da lida, dela fez assento.
Para meninos, ela foi brinquedo. 
Drummond a poetizou. Já Davi matou Golias, 
e Michelangelo extraiu-lhe a mais bela escultura.

E em todos esses casos, a diferença não esteve na pedra, mas no homem.
Não existe "pedra" no seu caminho que você não possa aproveita-la 
                                                                para o seu próprio crescimento. 
Facebook.com/pensenisso

             Transcrevo ainda, a seguir, a forma original do poema "A PEDRA", segundo o próprio autor Antônio Pereira (apon):

                               O distraído, nela tropeçou,
                        o bruto a usou como projétil,
                        o empreendedor, usando-a construiu,
                        o campônio, cansado da lida,
                        dela fez assento.
                        Para os meninos foi brinquedo,
                        Drummond a poetizou,
                        Davi matou Golias...
                        Por fim;
                        o artista concebeu a mais bela escultura.
                        Em todos os casos,
                        a diferença não era a pedra.
                   Mas o homem.   
                                                                 (Antônio Pereira (Apon)

     
              Deste Blog: Sobre a "PEDRA", são muitos os autores que falaram sobre e, com mais propriedade, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.
         Eu também, não com a mesma propriedade dos renomados citados, andei me referindo a esta "digníssima criatura" em alguns textos. Transcrevo um a seguir:

"Identidade Filosófica" - de Roberval Paulo

A nossa identidade está na pedra
Na natureza da pedra
Na dureza da pedra
Na pedra que a tudo suporta e teme

A nossa certeza é a da pedra
Da pedra que por tudo passa
Da pedra que em mim abraça
Seu corpo ainda semente.   

                       Roberval Paulo      

O SER MULHER - no "lindo" texto de Nana Rodrigues. Mulheres, leiam...


HOMEM TEM QUE TER SACO, MULHER TEM QUE TER PEITO 

                                                                     por Nana Rodrigues


Já que dela depende tudo, e ainda tem que andar com o peito esticado, empinado, siliconado. Se der certo a culpa é da mulher, mas se não der, daí é dela também.
Quem dera ter nas costas apenas a responsabilidade de brigar com alguns outros machos atrás de uns trocados. Mas não, é necessário fazer as unhas dos pés e das mãos, 20 ao total, tirar pelos de maneira extremamente dolor, se pintar para ir pra gerra, sobre um salto desumano, e ainda assim ter que manter os pés bem fincados num chão desnivelados pelas cobranças ancestrais.
E casar e ter filhos e parir e amamentar e dar o sangue todos os meses por um mundo masculinizado.
E deixar tudo bem, tudo em ordem, tudo em paz. Ter ombro amigo. E as pernas sempre abertas. Ser eternamente jovem, eternamente durinha, mas com uma ternura que "só a mulher" sabe ter.
Ser correta, ser honesta, ser direita, fina, comprometida com os valores de uma sociedade que nem sequer foi criada por nós.
E se depois de ser filha, sua experiência for tão traumatizante que você não se ache capaz de ser mãe, tira uma forcinha do cu e tenha uma dúzia de filhos problemáticos, que mulher só serve pra parir, só serve pra isso.
E se depois de anos enclausurada num molde que não te serve e te sufoca, a carne falar mais alto, mais forte e você fizer o que não deve, não se engane, mulher não é feita de carne, só de coração.
Comigo não!

Minha mãe achava que eu era um menino, mas tirei um bom proveito disso. Sou anfíbia.Uma mulher que carrega consigo a certeza de que não é só isso. Eu não menstruo, só depilo se me der vontade e na maioria das vezes não ligo, uso salto quando eu quero e depois ainda xingo o sapato por uns dois ou três dias. Me pinto pra ficar em casa ou tirar umas fotografias. Não quero ter filhos, mas amo os meus sobrinhos como se meus fossem. Moro em duas casas, numa sou solteira e noutra sou casada. Pensem o que quiserem. Pois a minha vida é feita dos meus pensamentos,  não dos seus. Não tenho liberdade, ainda, mas ando no seu encalço. Não estou  preocupada em morrer melhor do que nasci, já que isso vai acontecer impreterívelmente. Não tenho vergonha do meu corpo, se degradando com o tempo. Não tenho vergonha do meu corpo, redondo, que poderia ser quadrado, liso, reto, oblíquo que é, e ainda assim seria um corpo. Gosto de velocidade, de carros, de andar sem calcinha, de ver jogo de futebol e revista de "home" pelado. Gosto de dar risada. E de receber também. Gosto de massagem com creme nos pés.
GOSTO DE SER HUMANA.

Não consigo fugir dos padrões pré-estabelecidos, mas volta e meia, dou uma volta neles.
E quando não consigo, choro num canto, escondida, já que mulher chora, mas não na frente dos outros pra não incomodar o mundo inteiro.
Já que mulher não pode ser fraca, mesmo sendo a fraqueza a sua maior força. 
Já que mulher, bom, mulher é aquilo que ninguém entende.

fonte: Blog Nana Rodrigues - por dentro

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O SISTEMA POLÍTICO E A EVOLUÇÃO DO TER - Roberval Paulo


Sucesso não é só ter dinheiro. Dinheiro é importante e necessário porque o mundo é capitalista e precisa-se dele para viver. Porém, sucesso, não é só ter dinheiro.
Ter sucesso é estar em paz consigo e não perder a essência do natural, a autenticidade e os valores familiares, éticos e morais. Se harmonizar com o mundo, coisas e pessoas, situando-se passivo e serenamente no ambiente no qual está inserido.
Ter sucesso é poder levantar-se todo dia com a consciência em paz e, à noite, voltar para o aconchego do seu lar ainda em paz e poder dormir o sono dos justos.
Ter sucesso é compreender o contexto e a conjuntura da qual participa, ter voz ativa e consciência coletiva para discernir e assimilar que a estrutura é de todos e todos dela dependem, buscando, inteligentemente, o ponto de equilíbrio necessário à sobrevivência de todos.
Precisamos nos mexer. Não sei como mas precisamos lutar contra o poder do ter em detrimento do ser. O dinheiro virou a verdade absoluta das coisas e tudo pode por ele. Tudo é permitido desde que o objetivo seja angariar e ganhar mais e mais. Acostumamos-nos a isso e fermentamos em nós a insensatez, a indiferença e impotência diante da situação.
Ressalto sempre que o dinheiro é importante e é necessário tê-lo, pois é com ele que compramos a nossa casa, o nosso carro, a faculdade do nosso filho. É ele, o dinheiro, que nos permite desfrutar de tanta coisa boa que a vida oferece, satisfazendo e massageando o nosso ego e vaidade. O que refuto é que o TER não pode sobrepor-se ao SER.
Observem quanto caótica é a nossa realidade. Não existe, em nosso país, nenhum outro segmento que, num intervalo de tempo tão curto, promova mais o enriquecimento ilícito de pessoas do que o sistema político. E não tem, para isso, uma explicação lógica, pois, somando-se todas as rendas e subsídios recebidos oficialmente, revela-se uma discrepância e incompatibilidade enormes em relação ao patrimônio adquirido.
Mas todos consideram normal e isso mostra o quanto somos acomodados e alheios à nossa realidade e o quanto nos corrompemos também.
A realidade é cara e se apresenta aos nossos olhos para ser comprada todos os dias na sua forma mais dura e cruel.
Ø  Meninos abandonados e unidos nos sinais de trânsito das grandes cidades ou nos pátios tortos das praças mortas, tão pequenos e maltrapilhos que nem gente parece, tendo sacos de cola como alimento e roubando, roubando o que a sociedade lhes roubou: a dignidade, a inclusão, a família.
Ø  O tráfico aliciando crianças e jovens, homens e mulheres e matando inescrupulosamente quem não aderir ou se calar ao seu poderio.
Ø  As nossas meninas, a cada dia, mais novas, expostas e jogadas nos campos de prostituição, vendendo o corpo e a alma, vendendo os seus sonhos de menina e perdendo a sua aura de anjo.
Ø  As famílias enclausuradas pelas cercas físicas e cercas do medo, assustadas e angustiadas por aqueles que o estado não acolheu e que a evolução lhes negou oportunidades.
Ø  Pais de família começando a roubar, atirados ao submundo pela necessidade, desnorteados entre a fome e a necessidade de comer, entre a dignidade e o descaso.
Ø  As cidades inchando-se dia após dia de sonhadores em busca de dias melhores e que se transformarão, num futuro bem próximo, em um novo bando de miseráveis que arribaram do campo, do interior, tangidos pela miséria e pela fome e que agora engrossam as estatísticas da miséria e da exclusão nos leitos aflitos e imundos das formidáveis favelas.
Enquanto isso, o outro lado do mundo se movimenta; a outra face da moeda mostra a sua cara sinistra. Seus jatinhos e carrões, mansões e paraísos fiscais, piscinas e restaurantes, bebidas e... mulheres meninas. E estas, usadas e descartadas, já não mais vivem, vegetam, relegadas à impureza e ao assalto da sua alma e do seu corpo. Esta é a nossa realidade e nós entendemos tudo isso como normal.
Vejam o nosso congresso nacional, que mistura! Lá tem representantes de todos os segmentos que se dizem organizados do nosso país. Só não tem, de verdade, representantes do povo, do povão mesmo, da massa. Defendem somente os seus próprios interesses e não os interesses do povo.
Coitados de nós. Somos pobres e fracos, alienados e subordinados, interesseiros e imediatistas, sem consciência social e hipócritas. Que o silêncio, a impotência, a parcimônia, a insensatez, o imediatismo, o comodismo, a omissão e a degradação humana falem por todos nós.
Sentar-mos-emos na esfera do tempo e que o cortejo das horas nos leve ao outro lado do sonho, onde a realidade já foi subjugada e a vida, sozinha e única e despida de toda podre matéria, viva, esplêndida e celestialmente, para todo o sempre.
Amém!

Roberval Paulo

REMINISCÊNCIAS PÓSTUMAS DE UM MORTO VIVO - Roberval Paulo


Quando morri para os dias da vida
E parti na garupa da moça branca de neve
Vivi a enganação dos vivos
E ali, mortinho da silva, me vi carregado
Em ombros que eu nem conhecia

Lágrimas, muitas eu vi
De quem eu nem conhecia o pensar
E ao amigo olhei e caí a cara morta
Estava os olhos vidrados
Nos seios da viúva minha

Morri, é a quarta minha morte; não sabia morrer
Se soubesse não estaria vivo nesse corpo morto
Me vendo falsidade em olhos que tanto amei
Me rindo de bocas a quem nunca falei
Chorando a hipocrisia de vivos me querendo morto

Morri, já sinto a vida da morte
Roupa branca, mãos ao peito e suaves flores
Meu corpo deitado no caixão. A sala cheia
Amigos, parentes, desconhecidos e,
Minha Mãe
As lágrimas verdadeiras; soluça, como soluça
Sofre e mais soluça e se agarra ao morto seu
O morto que gerou em suas entranhas e não mais vive
Um corpo sem vida, que ainda vive, inanimado
Animado pelo amor de minha mãe, que jaz, mortalha viva
Parece que ela é quem morreu

Quis voltar da morte com uma mínima vida
Só para consolar-te Mãe, mas,
Estou morto e sinto o cheiro do morto que sou eu
Aquele cheiro que só velório sabe exalar
Mistura-se ao cheiro de flores mórbidas e de lutuosas velas
Velas em chama sem a chama da vida

Viver é muito perigoso, já dizia o poeta
Viver não é só perigoso; é muito mais que isso
Diz esse morto ainda quando a vida lhe vicejava
Ainda mais quando a morte se morre viva
O enterro vivo do morto que não morreu

Ser enterrado vivo mesmo quando jaz morto
Sem entender, o morto, ali, vendo a vida
É o medo visitando este corpo inerte
E perfura minhas carnes mortas com pontiagudos diamantes
E meu sangue escarlate de um róseo azulado
Escorre pelos meus dentes ausentes de vida

Meu corpo já sinto nada, matéria podre e fétida
Se decompondo, putrefacto, ossos e sangue gélidos
As carnes e vísceras rasgadas e inúteis e belas
Nos olhos e ouvidos, os vermes fazendo festa
Sinto o medo da morte que já vive em mim
A morte viva que nos vem mostrar o óbvio
Na terra o ópio, cabeça rolando e línguas e bocas
Aos urubus atônitos com seus olhos de desprezo

À terra que aceita tudo, resignado me vou
Ao pó voltar para a vida morte prosseguir
E amanhã, eu pó, possa florar uma goiabeira
E ali, em fruta, alimentar uma sabiá
Que me vem bicar os sonhos que eu não soube usar em vida

A morte morta já é mais do que a vida
Morto só se sabe sendo terra, sendo pó
E de ti, ver nascer tão doces frutos
E águas e plantações e lavouras de todo gosto
Que vão engordando a vida na estrada do matadouro

Nessa verdade, eu quis até chorar
Mais ao morto não se permite nem mesmo lágrimas
Ao morto só é dado o pó da estrada
Por onde caveiras vivas trafegam e suam e riem
E lutam e choram e sonham e tudo vivem
Sem saber que esse caminho e essa poeira impregnada
Tantas vezes percorrido, tantas vezes repisada
É inexplicavelmente, o seu futuro e eterno lar;


Roberval Paulo

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Uma Homenagem ao Povo Nordestino


Preconceituoso x Nordestino

Fonte: Blog Cultura Nordestina

Preconceituoso x Nordestino
(Guibson Medeiros)

É um sujeito maldoso
gente sem educação
o tal do preconceituoso
é alma sem coração
é um cabra rancoroso
bicho mais preguiçoso
disfarçado de cidadão

Eu conheço o Nordestino
porque sou nordestinense
trabalha desde menino
na lavoura Maranhense
no sertão Pernambucano
no agreste Paraibano
e na pesca Cearense

O cabra preconceituoso
pensa que sabe demais
se acha bem grandioso
e bom em tudo que faz
más só termina sozinho
e vai seguindo o caminho
dos braços do satanás

O Nordestino é valente
um povo bem destemido
o sol que encara de frente
reflete o rosto sofrido
é calo que brota da mão
é raça de Lampião
é o dever sempre cumprido

O preconceito é um fato
daqueles que se abomina
é proclamar o maltrato
a quem já tem dura cina
e esse bicho selvagem
tem inveja é da coragem
que vem da mão Nordestina.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

EU FUGITIVO DE MIM - Roberval Paulo


Vou me lembrar ainda um dia de quem eu fui antes de existir
É porque nunca soube quem eu ser
Ainda que seja eu é como se eu não fosse
E ainda assim vou querer saber de mim

Vou querer saber porque eu penso que já sou outro
E quando assim me reporto é porque já tô perdido
E no mundo em que eu vivi no tempo não prometido
Eu me enganava comigo pensando em ser eu de novo

Mas não era, era outro que existia em mim
Numa confusão de dúvidas duvidando a identidade
Identificando o ser de não ser uma verdade
E em ser e parecer fugi sem ser visto em mim.   

Roberval Paulo       

A CASA DA SEREIA - Roberval Paulo


No fundo do mar, bem lá no fundo, no lugar encantado do mar existe casa. Casa mesmo, de verdade; casa de tijolos e telha, casa seca, com móveis, colchão macio, geladeira, fogão, churrasqueira; é, dá até pra se fazer churrasco. Tem chuveiro quente, varanda... quintal com árvores, flores e pardais.

É lá que habita a sereia do mar. Quando desencanta, é claro. E lá ela é mulher de verdade, a mulher mais linda do mundo, e com duas pernas, igual as das outras mulheres e com tudo o mais de mulher. Lá ela não tem calda de peixe não. Lá ela é mulher de verdade, de verdade mesmo e que sabe tudo de amar e de amor.

Bobo que não sou, é lá que eu quero ir; é lá que eu quero chegar. Só aguardo a aparição da sereia pra me mandar daqui e seguir com ela. Quando ela aparece, te atrai. E se te beija, você se encanta com ela e aí, não se afoga, pode ir no fundo do mar até a casa da sereia. E lá, depois do encanto, você será um homem feliz e terá do seu lado a mulher mais linda do mundo e também o seu amor. Felicidade eterna, posto que lá não se envelhece. Lá o tempo não passa, pois lá não se vê a luz do sol. Tudo debaixo do sol passa, porém, lá é diferente. Como não é iluminado; não é alcançado pela luz do sol, essa morada fica imune a ação do tempo.

Só existe uma situação em que tudo pode mudar. Não se pode perder o amor da sereia amada. É diferente da vida aqui, acima das águas e debaixo do sol. Ela precisa estar apaixonada sempre. E para isso, tu precisas lhe devotar todo o amor do mundo, amá-la todos os dias e noites, satisfazer todos os seus caprichos e desejos, dedicar  todo o seu tempo de vida  à sereia amada. Ela, realmente, precisa estar sempre apaixonada, porque senão, desfaz-se o encanto. Se ela se desencantar de você, ela se veste de sua calda de peixe e vem à praia seduzir um outro amor. E se isso acontecer, você já é passado pra ela. E como a vida no fundo do mar; a vida de casa de sereia é imune a ação do tempo pela ausência da luz do sol, isso quer dizer que lá o passado não existe, e, consequentemente, você também não mais existirá, desaparecendo como que em um encantamento, extinguindo-se na imensidão das águas, que, por sua vez, notícia alguma darão de ti, sendo o seu fim eterno, sem direito a uma nova chance.

Então, em se encantando e se enamorando dela, não perca o amor da sereia amada; não dê motivos para que ela venha a deixar de gostar de você. Sede fiel e único em sua vida e assim a terá por toda a eternidade, pois o amor verdadeiro jamais morrerá. O amor perdura por toda a vida, seja lá, seja cá, e, uma vez perdido, despedaça, e, despedaçado, seus cacos nunca mais se juntarão, tanto lá, como cá. Então, seja o seu amor sereia ou mulher; seja lá ou seja cá, ame-a com todas as suas forças, e lealdade, e amor, e dedicação para não vê-la partir, pois, assim acontecendo, na sua partida, tanto lá, como cá, se dará o desencanto, o desencanto do amor e aí, será tarde, porque, com ou sem a ação do tempo, o gatilho apertado não trás mais a bala de volta. É assim no amor. Uma vez perdido, a estrada se torna triste e você, sozinho, e, sozinho, é nada e o nada se extingue, seja nos segredos do espaço ou no mistério das águas, passando a ser só saudade. Saudade sabe, daquelas que não se vê e não se toca, só se sente. Sentimento inaudível, inexplicável, insolúvel, só sentimento. De sentir e de doer, enquanto o tempo, tanto lá, como cá, se esquece das horas; se esquece de si próprio e acelera sua marcha rumo ao incerto e sabido, o único mal... ou bem... irremediável, que amarga a face do nosso destino sobre este... ou outro mundo. Não vou mais querer ir à casa da sereia.

Roberval Paulo

Um Louco da Vida - Roberval Paulo

Sou assim, como sou. O mesmo ar em qualquer esquina. O mesmo sono em qualquer cama.
Poeta e compositor das horas vagas. Cantor dos momentos de bar.
Leve e solto como a folha desprendida da sua haste de sustentação, plainando no vazio atmosférico dos sonhos de outono.
Assim, Um louco da vida que de flores e canções tem a alma cheia.


Tem o pé na vida de uma sereia que mar a dentro se foi e se esqueceu da estrada de voltar
Tem sede de justiça neste mundo injustiçado e espera que o sonho que hoje ainda é só sonho mas que segue confiante pela força da esperança possa enfim não ser mais sonho e se faça realizar.


Acredita que o homem é mesmo o lobo do homem e que vive se matando e roubando e se acabando destruindo  e só ferindo, prostituindo a razão, o amor, a inteligência, se desfazendo da crença, crendo na crença moldada, forjada pra enganar e se vai a esquecer que um dia já foi tão puro e hoje já pensa no duro que é não ter mais amor mas se entrega ao desamor pelo fascínio do ter e se perde é só descida, buscando o fim da vida que é viver o prazer que passa, passa e se acaba na onda de sal gelada que enfim vai dar no mar que encerra todos os sonhos, em terra, desencantar.


Roberval Paulo

terça-feira, 17 de abril de 2012

O INDIZÍVEL - Roberval Paulo


                               “Viver é muito perigoso.”
                                    (João Guimarães Rosa).

O mundo já não canta o amor
A experiência se faz com sangue
O pai já não chora seus filhos
A impotência o faz insensível
À noite, o sonho amanhece
E no ciclo vicioso do poder
A ambição gera filhos
Verdadeiros pais do egoísmo.

Quem quiser que invente a vida
Mas cuidado!
Muito cuidado!
Os laboratórios estão falidos
Sequiosos de entender a vida
Caminham para a morte.

Não se enganem
Clone é só uma cópia sem a essência
Retrato do original com muitas cifras a mais
A matéria prima do espírito
Não sabe a metafísica
E viver não é só perigoso
É muito mais que isso.

A vida vem da vida e a vida do nada
O nada não se vê e não se materializa
A essência da vida é certa e invisível
Invisível e não sabida
O homem só sabe o que vê.

A ciência é visível
E o invisível é maior que tudo
Diante do qual
Toda ciência perecerá.

Roberval Paulo

Sem Céu, sem saída - Roberval Paulo

A flor
         Desabrocha pro rio
         E ele chora em seu leito
         A saudade da serra

                  O sol se derrama
                   Em lágrimas de fogo
                   Por não ver a lua
                   Se lança na terra
                                              
                          E a terra, corada
                          Começo e desfecho
                          Desfralda e descerra
                          A bandeira da vida
        
        O homem, matéria
        Abre a porta pro espírito
        O resto é detrito
        Sem céu, sem saída.

Roberval Paulo

O MAR - Roberval Paulo



O mar me faz bem, me faz muito bem.
Ele é tão grande, tão misterioso.
Da praia olho e ele me atrai.
Resisto e não vou, me sinto forte também.
Luta desigual, mas equilibrada.
Ele bate forte na praia e me assusta.
Solta um rugido.
Parece querer me intimidar.
Eu resisto.
Olho bem em seus olhos e o sinto triste.
Majestoso, ele vem em nova investida
e lambe meus pés.
Sinto o frescor das suas águas
e me embriago
de o ver assim tão próximo,
tão meu,
tão aos meus pés.

Roberval Paulo

quinta-feira, 12 de abril de 2012

PRA NÃO DIZER QUE EU DISSE ALGUMA COISA - Roberval Paulo


Tive um sonho  e  sonhei que  era  um anjo e aquele  anjo  sem asas  mas  que, pela força  d o invisível e do mistério do  incerto, voava e mais voava; voava que nem sabia como era a estrada de andar.. Um anjo sem asas  e  que  de  nada  entendia  nem  mesmo  porque  era  anjo  e  nem  mesmo o que é ser anjo  mas que, inexplicavelmente, voava, voava e mais voava..

Abri as asas que eu não tinha e ganhei os céus. Eu era esse anjo que asas ele não tinha. Subi, subi alto e contemplei, lá de cima, o altar. Um imenso boneco redondo, nas cores azul e verde e pés e cabeça alvos como neve. Refleti sobre aquela imensidão de espaço vazio e pude perceber a distância do meu pé ao meu pensar. Aquele espação infindo a perder de vista e nada para todos os lados, e direções, e sentidos, e só aquela bolinha em azul e verde, e branco nas extremidades, vagando ao léo, sem destino, suspensa no ar e sem amarras para lhe segurar.

Não entendi o mistério e mesmo se buscasse entender, não entenderia. Aquela bolona imensa, pequena diante do vazio do espaço mas, imensa e desorquestrada...se comparada a mim. De terra e água é seu ninho; de mato e bicho seu peito, e ainda de gente, em todo o seu sentimento e muito de tudo. Milhões e milhões e até bilhões de tudo, portanto, pesada; pesada não, pesadona, e suspensa no vazio do espaço, sem cordas e não cai. Suspensa pela massa do ar e andando ao vento pelo tempo, sem parar e sem ninguém no volante. Não consigo entender nada. Quanto mais me findo nesse propósito, menos entendo. Dizem que é uma tal de gravidade ou lei da gravidade, não sei.

Na verdade, eu nem sabia se existia essa gravidez, nua e filha, nem sei de quem, a viajar pelo espaço, sem amarras, nem cordas, totalmente suspensa, sem raiz, a andar sem destino e sem direção, na órbita de um pensar que não é atmosférico. Penso que vai à procura do Apocalipse final que, a bem de uma outra verdade, eu também não sei o que é e nem onde mora, se é que ele tem residência; ou será que seria ele mais um descamisado andarilho pelos trilhos da esperança e que ao fim só encontra um mar de terra para guardar seu corpo ínfimo e pouco que descansa, leve e morto, ao pé de um jacarandá?

Penso mesmo que essa mãe que às vezes se chama terra, viaja sonho afora é em busca do pai que perdeu. Do pai de sua gravidade gestada em um tempo inexistente e distante, feito minhas asas que um dia estiveram em mim e que ao anúncio da criação dos filhos do gênesis, povoaram o olimpo. Assim zeus se fez Deus para apadrinhar a insensatez da mitologia fora do seu tempo mas que caminhava para encontrar a porta que culminasse e se materializasse nos trilhos da obscura luz da última realidade, ou, pelo menos, que fosse uma janela e, mesmo sendo a passagem, mais estreita, poderia por ela saltar ao espaço do precipício sem fim que é a viagem sem destino e sem direção e também, sem comandante, da mãe que procura pelo pai da gravidade gestada em seu ventre, que subiu e não desceu e, que quando desceu, acabou descendo mais do que o necessário para voltar a subir e, não mais subindo, passou do destino e não mais encontrou o caminho de volta.

Assim se deu a viagem do anjo sem asas que nada de gravidez ou gravidade foi ao espaço buscar, mas, que viu e se solidarizou com o choro das estrelas, lágrimas estas que diziam da estupidez exasperada daqueles seres ingnóbios que mais pareciam micróbios que cavavam sem parar o corpo daquele corpo que ainda hoje viaja mas não encontrou parada nem a estação pra estacionar e nessa viagem sem fim leva toda a nossa vida e as nossas forças e sonhos para o espaço de um lugar que não se sabe onde é e nem se lá vai chegar mas que como todo ser que pisa os degraus do medo vai sem medo para a morte que fica na encruzilhada do canto daquela estrada que não se sabe parida ou se já foi a abortar.

Não desci do meu sonho, só acordei e, quando os olhos eu abri, estava ali, na minha frente, me olhando com aqueles olhos que eu não sei decifrar, o filho do pai que um dia partiu pra órbita da dor e deixou sozinha, a mãe, que viaja sem parar, e chora, como ela chora e suas lágrimas fizeram o mar e esse se vai a encher pois ela não para de chorar porque o pai não encontra e o filho é que aqui está e a mãe ainda nem pariu, só chora e chora e me olha junto com o pai que é seu filho e me chama, me chama e eu, que acordei agora, não sei se já é a hora de seguir não mais eu órfão ou se aqueles olhos de pai de mãe e de filho que é filho do pai da noite vai ainda permitir que o meu corpo comece essa viagem a seguir e que a cria do medo, do meu ser que desconheço me revele o segredo de não mais ter pesadelos e em paz poder dormir.

Roberval Paulo

NOSSA DURA REALIDADE - Roberval Paulo


É como se a máxima do cada um por si se consolidasse ainda mais com a evolução dos tempos e o Deus por todos permaneça só nos sonhos dos mais humildes e menos favorecidos nesta seleta maratona da sobrevivência digna protagonizada pelo capital – celebridade em alta – e pelos governos que vêem no capital o parceiro certo e insusbstituível para a desigual acumulação material e a consequente produção e manutenção do produto miséria no percentual maior da população, produzida exatamente, premeditadamente e deliberadamente para alimentar o podre e inescrupuloso sistema que tem como combustível para o seu ambiente de luxúrias e prazeres, a fome, a dor da fome e da humilhação de pais, e mães, e filhos e filhas ainda puros, espalhados por esta imensidão de terras sem fim, de Áfricas e Américas, em quantitativos que não se conta, que mais parecem estrelas que perderam o seu brilho para o brilho maléfico de umas poucas “estrelas” egoístas que querem para si o tudo do nada, até que o nada nem pelo nada seja mais sentido. Estrelas estas que já não habitam o céu; estrelas que habitam o inferno, se é que este existe, porém, sem demônios, um inferno só de vidas a se acabar pelo completo abandono de quem um dia pensava herdar um céu de verdade.

A nossa realidade não é de luz.
Como enxergar luz em inocentes filhos cadavéricos sugando o seio cadavérico de mãe cadavérica que jaz morta e ainda se sustenta de pé pela vida morta que trás ao seio para alimentar com a teimosa vida que tem dentro de si nas gotas mirradas do seu leite.

Como ver brilho nos olhos inocentes de milhões de crianças que em carne e osso choram a humilhação da fome e do descaso e só desejam um naco de pão e leite para fazerem a alegria dos seus desesperados e impotentes pais e para sustentarem a vida que não pediram pra ser.

Como ainda se iluminar com a deterioração da instituição família que, hoje, desprovida dos seus valores morais, espirituais, de respeito, de caráter e até mesmo de razão, caminha desordenada e desorquestrada para o ambiente “seguro” do ter, perdendo nesta terrível caminhada a razão consciente do ser.

Como enfim dizer que há luz neste mundo desigual onde impera a violência, onde se perdem as crenças, e assim recriam outras crenças mas que sempre as novas crenças são só dom de acumular riquezas e mais riquezas materiais, só materiais, e em pouquíssimas mãos em detrimento de uma enorme maioria a quem só sobram migalhas pra seus sonhos suportarem e suportam, e se suportam só com  sonhos que, com o tempo, se vão a definhar pois que sonhos não alimentam estômagos e sem estes tão necessários alimentos se vão gerações inteiras, sem sonhos, desencantar.

O mundo é desigual; o mundo é desumano. A vida é desumana mas não precisava tanto. Que todo ser existente e vivente tivesse, simplesmente, sua dignidade e sobrevivência asseguradas e que o justo fosse a diretriz primeira de governos e cidadãos e até mesmo desse capital egoísta que não tem vida própria mas que vive na pobre vida daqueles que se entendem e se pensam vivos e ricos, não sabendo estes que a riqueza de espírito e de alma é superior e esta não perecerá enquanto que a riqueza material passará e voltará ao nada de onde se originou, e aí, nada mais existirá a não ser o espírito, o espírito puro e livre das tentações materiais.

Estes herdarão a eternidade, a vida eterna e, aqueles, aqueles que nesta passagem cultivaram o ter já não mais serão, como nada mais saberão de si. Serão fadados e condenados ao fim eterno que não se sabe inferno ou se panela de ferro mas que será com certeza de tribulações sem fim. 

Roberval Paulo

A GRANDE PELEJA - Roberval Paulo


As ondas passavam pela praia e, batidas pelo vento, iam chocar-se no calçadão, num surdo rumor de riso e raiva. Voltavam desanimadas para o mar, restabelecendo as forças. Tornava a investir; dessa vez mais forte. Nunca vi tamanha insistência, persistência. O calçadão agüentava firme. Molhado até os ombros, triunfava orgulhoso.

E lá vinha novamente a onda, uma, duas, três, muitas... unidas, uma atrás da outra, no mesmo objetivo. E o calçadão firme, resistia a tudo. As ondas cadenciavam o jogo, trocavam passes, misturavam-se, confundindo, e pimba, atacavam. O calçadão rebatia todas, goleiro de seleção; melhor não podia haver.

E o dia se passou nesse embate. O sol já se punha, extasiado, passando o apito. A lua agora arbitrava a gigantesca peleja.

E eu ali dando asas à imaginação, dando vida própria aos combatentes que, aos meus olhos, já pareciam um tanto quanto cansados. Mas não desistiam; continuavam a se bater, medindo forças. Me cansaram. Me cansei.

Olhei novamente e contemplei a peleja. Me afastei, sem ver o “grand finali” de tão fenomenal batalha. Precisava ir. Estava cansado mas, remoçado e novo, inteiro, quase uma criança. Olhei para o horizonte descortinado à minha frente. O compromisso esperava. Dei adeus aos combatentes e bati em retirada. A família queria me ver.

Roberval Paulo

RETRATO DO DESCASO - Roberval Paulo



Estou por aí, na sombra nebulosa da noite, à espera do grito, do sinal, do chicote no açoite do braço. Do tiro perdido, sem alvo, a qualquer alvo, ferindo o peito já ferido e maltratado, amordaçado, desesperançado e desolado, esquecido no beco de uma lembrança apagada. Sem rosto, sem página, sem a história dos dias passados. Futuro incerto, apontado como imprevisível, um tiro no escuro; o momento seguinte totalmente desconhecido.  

Do presente, só o presente, sem embalagem e sem laço de fita. Só a dor da dor vivida e sentida, o sangue agitado nas veias a escorrer pelo horizonte dos olhos. Animal abatido num tiro certeiro, animal racional que pela irracionalidade social, irracionaliza-se, desnacionaliza-se, e se perde o sonho se rendendo à dura realidade, traindo a consciência, perdendo a razão, arquivando as conseqüências e o conceito de legalidade. Pra suportar, sem opção. Só com a cabeça feita e, se faz a cabeça. Consome, se consumindo. Ingere-se, injeta-se, compartilhando tudo. Amizade inconsciente, risco inerente; gotas e partículas de morte à prestação, só apressando, antecipando o que já está decidido, escrito nos anais das sociedades. Veredicto social, fatalidade da existência, a morte. 

Afinal, todos cairão. Coragem irresponsável, covarde, coragem em mim sem ser minha, alimentada pela hipocrisia, pelo descaso. E eu, sem forças, me rendo, dominado, corrompido. Bicho alienado, fera acuada. Indignado e sem dignidade. Sem direitos, contado para morrer. O que fazer? Aceito passivamente, porém, revido, agrido, matando o que em mim morreu, roubando o que de mim roubaram. É o estágio da decomposição, sem recompensa, assediado por uma falência múltipla de sentimentos. Incongruente, ferindo pela ferida enraízada n’alma, plantada pela Lei do Sistema. 

Sistema posto, imposto, regado livremente sobre espontânea pressão, opressão, repressão, depressão geral, embrutecido pela demagogia, mantido pela lei do mais forte. Insanidade da sandice dos sádicos que endeusados de poder, pelo poder, acreditam na vida só aqui. Ledo engano. O processo está sendo montado, a sentença será proferida. Réo, diante do juiz, sem advogado de defesa, só acusações. O direito à defesa prescrito, findo no último dia de vida aqui. 

Agora é tarde, muito tarde, demasiadamente tarde. O martelo será batido: “condenado, à revelia, sem recurso”. E a pena será cumprida eternamente, e, todos os anos irracionalizados, desnacionalizados sobre a terra será nada frente ao que virá, posto que tudo debaixo do sol passa. Aqui, é só o prenúncio, o prefácio do livro do tempo para a vida eterna, onde um só dia equivalerá aos cem anos aqui passados. Onde a dor ou o gozo serão eternos, resultados do balanço sobre os atos aqui praticados.

Roberval Paulo

terça-feira, 10 de abril de 2012

PAZ AO RIO E PAZ AO POVO TAMBÉM - Roberval Paulo


A pomba branca da paz alçou o seu vôo e sobrevoou toda a baía de guanabara, na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro e, nos morros da insônia e do desassossego, foi atingida e ferida de morte por balas perdidas e destinadas especificamente para inibir a paz, e esta, chorando a insensatez da humanidade desordenada e sem direção, deixou-se abater e caiu por terra em sono profundo para não mais levantar.

Foi-se embora a paz, tragada e morta pela ambição e egoísmo dos seres humanos. Pela maldade e insanidade dos modelos econômicos vomitados pelas estruturas do poder que, podres e corruptas, segregam e excluem a grande maioria dos seus iguais. 

E assim, o caos se instalou e a bandeira negra da dor e do terror espalhou sua legião de seres ante-socializados pela hipocrisia viva e cruel dos homens, pelos becos e labirintos e vãos dos morros e favelas à caça do sangue que de suas entranhas foi retirado à custa de ações massacrantes e perversas contra as massas, arquitetadas pela minoria privilegiada e inescrupulosa e, o conglomerado da miséria humana encheu, encheu que explodiu, fazendo jorrar dos morros para o asfalto a desesperança, o descaso, o medo da existência e a dor aguda da impotência, desencadeando o confronto geral dos que nada tem aos que tudo ganham.

A guerra foi inevitável e o sangue de culpados e inocentes se igualaram na dor das famílias destruidas e a batalha sangrenta teve início quando a descrença venceu o amor e, no rito do cada um por si, na junção da conveniência, venceu o desentendimento total pela selvagem e necessária sobrevivência.

O caminho inverso está sendo feito. Tudo que vai um dia volta, transformado e transfigurado. O que foi levado e semeado pelo desamor da sociedade para com ela mesma retorna agora em ódio e ação contrária à sua própria dor que sangra com o sabor do sangue imprevisível e inevitável.

Não há mais outro caminho. Não tem mais outro jeito que não o enfrentamento dos poderes.
O poder oficial, instituído, legítimo, legalizado menos que irracional e guiado pelos interesses dos seus mandatários e o poder paralelo, também instituído e legitimado pela lei da sobrevivência, alimentado pelas feridas enraízadas n'alma, causadas pelas ações ineficazes e cínicas do poder oficial; ilegal mas não menos poder enquanto poder de interesses.

Que vença a paz, se isso for possível e que cause o mínimo necessário de dor. 
A dor impossível e revolta que ataca nosso peito a cada novo menino garoto tragado pelo crime. 
A cada nova menina moça pintada pelas cores intrigantes e revoltantes da ascendente e desfigurada prostituição.
A cada pai de família com o peito trespassado pela faca da realidade da vida do filho morto.
A cada mãe com alma e coração sangrando pelos filhos fulminados, alimentados e decaídos pelo indestrutível e periculoso tráfico.
A cada novo ser esperançoso dessa tão desesperançada sociedade, descrente e desencaminhada bem como sedenta e perseguidora voraz da paz tão sonhada e almejada.

Que vença a paz se isso for possível.
Que vença a paz se isso for possível.
Que vença a paz! Que vença a paz!

Enfim, que vença e reine a paz, consumindo, amenizando, suavizando e cicatrizando todas as dores que somos enquanto sociedade em "desevolução", retrocedendo, à procura do seu início. 


Roberval Paulo

A LIVRE INTERNET X O PENSAMENTO LIVRE


Em um tempo bem recente a onda era os correios, as cartas, os velhos postais, meu Deus! Os telegramas até para comunicado de morte; a informação mais segura e codificada do telex e do rádio amador. O mundo evoluiu rápido e com ele, a tecnologia da informação. Evoluiu situando-se na vanguarda de todos os processos.

Por caminhar mais depressa que os outros sistemas, ficou sozinha em seu ambiente e perdeu o passo; perdeu o controle do seu próprio caminhar e se desvirtuou do seu objetivo e fundamento maior que era simplesmente e sempre passar adiante a realidade dos fatos e acontecimentos o mais depressa possível e o mais fielmente possível. A informação se desvirtuou por completo e atende hoje a outros tantos interesses que não só o de informar e se fazer conhecer. No quesito velocidade nada se questiona. Está muito rápido, até mais que Airton Senna e Michael Schumacher juntos.

A questão é a qualidade desta informação e os interesses que ela defende. A informação está ferida de morte e a internet é o ataúde, o caixão, o recipiente, o caldeirão "fervente" que acolhe e abriga tudo. É como a terra. Abriga o anjo tal qual abriga o demônio aos olhos crédulos e incrédulos, atenciosos e alienados, de boa fé e mal intencionados no teatro protagonizado e dirigido pela humanidade irracionalizada e desumanizada pela selvageria dos interesses materiais e do poder impostos por aqueles que por força da corrupção do ter, já estão, a muito tempo, desprovidos dos valores éticos e morais que ainda deveriam nortear as ações e decisões humanas.

O senso caiu no ridículo e é operado e levado a efeito no fundamento raivoso do instinto. A estratégia e planejamento das ações na disseminação da informação tem como objetivo único convencer; somente convencer sem se importar se há verdade; somente convencer mesmo sendo a informação um castigo e um pecado para a sociedade.

Estamos vivenciando este momento de cruéis noticiários levianos e insanos que ferem de morte a nossa soberania conquistada a sangue e lágrimas e,  a internet, é o palco maior dessa selvagem batalha. Tudo se fala e se escreve mas nem tudo se prova.
Tudo se produz e essa produção fétida e podre é repetidamente cambiada e recambiada para os olhares das pessoas no intuito de vencer pelo cansaço as mentes e corpos já surrados por esta louca e  surreal realidade. Ferem a honra de pessoas, a moral de outras e tudo vale pelo desejo macabro do poder. Estraçalham sentimentos, extravasam emoções e brincam com a fé e crença das pessoas, usando e abusando até de preceitos religiosos ainda não resolvidos nas instituições e muito menos na cabeça do povo.

A informação agride, pela internet, o ambiente livre dos sonhos, onde tudo pode e é possivel e permitido sem se importar com o rastro de destruição que segue na calda dessa informação, capaz de dizimar e reduzir a cinzas e ao pó sonhos inteiros da humanidade.
Vigiemos. Vamos nos atentar mais para o descontrole da informação pela internet, nos embasando mais e aprofundando e fundamentando nosso estudo antes de comprar a ideia. Vamos ser o nosso principal crítico. Não se aliene. Filtre tudo e absorva só o que é importante. Não importante só para você mas, principalmente, para a coletividade. Não ponha crença em tudo e não se deixe levar pela ideia dominante de que imagem é tudo e que propaganda é a alma do negócio.

À internet pode-se tudo dizer mas vamos nos dizer só o que realmente nos seja importante. À nós e à sociedade, à nossa população, sem exclusões e ao Brasil como um todo. Vamos controlar o descontrole, respeitar e preservar os nossos valores, dizer não ao desrespeito e àqueles que estão nos desrespeitando.Vamos enfim nos importar com o que realmente importa e fim de papo!

Roberval Paulo

PEDRO MARIANO - O filho de Elis Regina

Musicaria Brasil


Pedro Mariano completa 17 anos de carreira e participa de projeto reunindo sucessos de Elis Regina na voz de cantores. 

Por Ailton Magioli



Assumidamente adepto do palco, Pedro Mariano não nega as origens – é filho de Elis Regina e César Camargo Mariano. A cada novo disco, aprimora a relação com o estúdio para que a gravação, segundo diz, não perca o indispensável clima de “ao vivo”. Assim é 8, não por acaso o oitavo álbum solo de carreira, que o cantor lança este ano de 2012.

Nascido numa casa em que via tudo acontecer, estranho seria se quisesse ser médico ou jornalista”, diz Pedro Mariano, lembrando que sua filha Rafaela, de 6 anos, também respira música o dia inteiro. “João Marcelo é o cara de estúdio, da produção. Ele curte isso, eu já sou mais do palco. Para mim, o estúdio é o processo do caminho para o palco, onde tudo se concretiza”, afirma o cantor.

As primeiras incursões dele na música já ocorreram nesse espaço graças às bandas e aos festivais de colégio. O filho de Elis e César Camargo não nega o caráter intimidador do palco. “Sou tímido mas ao cruzar a coxia, some tudo e me realizo”, confessa Pedro, adepto do som mais orgânico que apenas o clima de “ao vivo” propicia.


Amigos

8 é o disco mais pop de Pedro Mariano. Além da presença recorrente de Jair Oliveira em sua obra – o filho de Jair Rodrigues comparece com as faixas "Pra cada coisa", "Simples" e "Lado a lado" –, a cantora e compositora Luiza Possi, filha de Zizi, assina "Sei de mim" com Dudu Falcão. “Ela é uma grande amiga, uma figura raríssima que caiu na minha vida”, derrete-se o cantor. Representada pelo mesmo escritório, em 2006 a dupla fez turnê pelo interior fluminense.

A amizade acabou levando os dois ao projeto Música de graça, para o qual ele sugeriu uma composição inédita de Luiza. “Apaixonei-me pela música dela e passei a cultivar a ideia de tê-la em meu disco”, recorda. O repertório de 8 traz Dani Black (Miragem), Pedro Altério e Pedro Viáfora (Sei lá eu), Edu Tedeschi (Perdoa, Por nada e por ninguém), Tó Brandileone (Pra você dar o nome) e Alexandre Grooves (Antes não do que talvez e Fora de perigo).

Não por acaso, a oitava faixa, Pra você dar o nome, é a canção de trabalho no rádio, com a possibilidade de ganhar videoclipe. Formato, aliás, que não conta com a simpatia de Pedro Mariano, mais interessado na internet como veículo de divulgação. O disco dele está sendo liberado em parte no sitewww.pedromariano.com.

Às vésperas de completar 17 anos de carreira solo e estreando o próprio selo (Nau), Pedro afirma que seu processo criativo não mudou em nada depois de ter passado pelas multinacionais Sony, EMI e Universal Music, além da nacional Trama, sociedade do irmão, João Marcelo Bôscoli. “Meu trabalho sempre foi respeitado por todas as gravadoras. A mudança para um selo independente está mais embasada na parte de marketing e distribuição”, explica, recorrendo ao ditado popular para justificar a iniciativa: “O que engorda o porco é o olho do dono”.

Com estruturas de imprensa e marketing trabalhando em conjunto, só faltava ao cantor providenciar uma distribuidora para seu novo disco. A tarefa coube à Microservice.


Elis e eles

Para quem imaginava Pedro Mariano distante dos eventos que marcam os 30 anos de morte da mãe, ele avisa: vai dirigir um projeto que privilegiará as canções de Elis Regina na voz masculina. Representantes da antiga e nova guarda serão convidados a gravar sucessos de Elis com arranjos renovados. “Ainda que 90% do que minha mãe gravou seja definitivo, vamos ter a oportunidade de constatar como Elis influenciou toda uma geração de intérpretes masculinos, contribuindo para tirar um pouco do nosso estigma de país das cantoras. Vários deles não aparecem porque estão atrás de uma banda”, garante o filho de Elis e César Camargo Mariano. Empolgado com o projeto, ainda embrionário e em busca de patrocínio, mas previsto para este ano, ele revela: “Estou ansioso para começar essa empreitada”.