As
ondas passavam pela praia e, batidas pelo vento, iam chocar-se no calçadão, num
surdo rumor de riso e raiva. Voltavam desanimadas para o mar, restabelecendo as
forças. Tornava a investir; dessa vez mais forte. Nunca vi tamanha insistência,
persistência. O calçadão agüentava firme. Molhado até os ombros, triunfava
orgulhoso.
E
lá vinha novamente a onda, uma, duas, três, muitas... unidas, uma atrás da
outra, no mesmo objetivo. E o calçadão firme, resistia a tudo. As ondas
cadenciavam o jogo, trocavam passes, misturavam-se, confundindo, e pimba,
atacavam. O calçadão rebatia todas, goleiro de seleção; melhor não podia haver.
E
o dia se passou nesse embate. O sol já se punha, extasiado, passando o apito. A
lua agora arbitrava a gigantesca peleja.
E
eu ali dando asas à imaginação, dando vida própria aos combatentes que, aos
meus olhos, já pareciam um tanto quanto cansados. Mas não desistiam;
continuavam a se bater, medindo forças. Me cansaram. Me cansei.
Olhei
novamente e contemplei a peleja. Me afastei, sem ver o “grand finali” de tão
fenomenal batalha. Precisava ir. Estava cansado mas, remoçado e novo, inteiro,
quase uma criança. Olhei para o horizonte descortinado à minha frente. O
compromisso esperava. Dei adeus aos combatentes e bati em retirada. A família
queria me ver.
Roberval Paulo
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