terça-feira, 15 de janeiro de 2019

TEMPO - Roberval Silva



O tempo da vida é curto pra se fazer o que se quer fazer
Aquela música que eu queria aprender
Aquele livro que eu queria ler
Aquele filme que eu queria ver
Vão passando por mim no meu tempo que não me dá tempo
Nesse tempo que não me dá tempo de viver.

O tempo da vida é tão curto que não me dá tempo
Que não me dá tempo de fazer um sonho se realizar
Porque você começa, começa, começa...
E antes do fim, já é tempo de parar
Parar e recomeçar a viagem
Que é o começo do fim que de novo se vai a começar.

O tempo da vida é curto para ver o sol se pôr
Ele nasce e sobe, sobe e se descamba a descer
E você vai subindo
E quando alarga o caminho
Já é hora de entardecer, de adormecer
A hora de ficar verde antes de amadurecer.

O tempo da vida é curto para ver o dia passar
Você trabalha, trabalha,
E quando a vida embala
E a moça se põe na sala à espera do seu querer
O pai assim recomenda; a lua já deitou renda
De manhã cedo, a venda. Tú tens que amanhecer.

O tempo da vida é curto pra se fazer o que se quer fazer
O sonho que eu sonhei. A vida que eu planejei
A estrada que não se chega ao fim
Ficou tudo preso no tempo
No tempo que se foi com o vento
Um tempo que não ficou em mim.

Roberval Silva

CANÇÃO DO INEVITÁVEL - Roberval Silva


A morte é sempre chorada, mesmo sendo inevitável
É tão irremediável que se sente inesperada
Não é por ninguém esperada, é talvez inconveniente
Chega e se vai num repente, na insensatez de uma flecha

Não sei se falsa ou honesta, nem tão pouco inconsequente
É feito água vertente brotando da pedra bruta
Não é estúpida, é astuta
Só chega quando é chamada
Um chamado inconsciente que a mão humana não entende.

A morte não é demente... é lúcida, é despachada
É sutil tal qual o nada, é razão da existência
É um nó na inteligência que vê nela uma equação
Que se vai a resolver mais a fórmula não norteia (clareia)
É refém da dor alheia, ninguém sabe a solução.

A morte não é estação que vem no seu tempo e passa
A morte é viva e inata, é bela e nasceu com a vida
É imune à dor da partida, sabe ser esta um presente
Vem do passado ao futuro para ser somente história.

Não é fracasso nem glória, é simplesmente verdade
Não sabe credo ou idade, só que é preciso agir
Não tem de não querer ir, tem mesmo é que viajar
Percorrer a velha estrada que é nova em cada partida
Curar de vez a ferida que a vida sempre chagou
Com amor ou desamor, se morre para ser vida.

Roberval Silva

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A TITÂNICA PELEJA - Roberval Paulo


As    ondas   passavam   pela praia,   e,   batidas  pelo   vento,   iam chocar-se no calçadão, num surdo rumor de riso e raiva. Voltavam desanimadas para o mar, restabelecendo as forças. Tornava a investir; dessa vez mais forte. Não tinha em mim a lembrança de haver presenciado tamanha insistência, persistência. 

O calçadão aguentava firme. Molhado até os ombros, triunfava orgulhoso. E lá se vinha a onda em nova investida. Uma, duas, três, muitas, unidas, uma atrás da outra, no mesmo objetivo. E o calçadão, firme, resistia a tudo.

As ondas cadenciavam o jogo, trocavam passes, misturavam-se confundindo e, cheias de graça e talento, atacavam. O calçadão rebatia todas, goleiro de seleção; melhor não podia haver. E o dia se passou nesse embate. O sol já se punha, extasiado, passando o apito. A lua agora arbitrava a gigantesca peleja.

E eu ali, do meu campo de observação, dava asas à imaginação, dando vida própria aos combatentes, que, aos meus olhos, já pareciam um tanto quanto cansados, mas não desistiam. Continuavam a se bater, medindo forças.

Cansaram-me!
Me cansei!

Olhei novamente e contemplei a gigantesca peleja. Afastei-me sem ver o “grand finale” de tão fenomenal batalha. Precisava ir. Estava cansado, mas, remoçado e novo, inteiro, quase uma criança.

Olhei para o horizonte descortinado à minha frente. O compromisso esperava. Dei adeus aos combatentes e parti em retirada. A família queria me ver.

Roberval Paulo

ATITUDE - É PRECISO TER! - Roberval Paulo

Eu gosto das boas atitudes
A atitude, por exemplo, de procurar dar casa a quem não possui
A atitude de dar de beber a quem tem sede
De alimentar a quem tem fome.

A atitude de levar um sorriso a quem não sabe sorrir
De levar um abraço a quem já não mais abraça
A atitude de sonhar o sol, mesmo que este não se dê aos sonhos.

Quero luz e que a luz da vida esteja em todos
Que a vida seja farta e que na linha de chegada
Possamos partir rumo ao bom
Que o bom é viver.

Gosto de atitude, das boas atitudes
E de perder
Que ganhar é muito fácil.

E que de boas atitudes
Seja o mundo repleto
Seja a vida completa
De sonhos, de amor e de paz
De sol, de luar, de cantar
Na terra onde tudo é breve.

Roberval Paulo
            

AMOR PARA COM TUDO E COM TODOS - Roberval Paulo


A base da vida é o simples. É o que te acompanha pela vida toda. E você, na sua displicência com o simples, alterado e seduzido pelo valor superficial do material, se enraiga de egoísmo, de ambição e de outros tantos valores que terminam por te fazer menos gente que outro qualquer animal; não irracional, mas insensível.

É a insensibilidade degenerativa que nos ataca, nos transformando em seres dissociados de valores como caridade ou solidariedade, se estes valores nos despe de qualquer valor material que seja.

Vamos acordar desse superficialismo e sensacionalismo, desse materialismo e imediatismo...vamos acordar desse reumatismo que enfraquece nossa alma e nobreza e nos faz tão pobres que parece que só de insensibilidade e insensatez somos nós feitos.

Vamos acordar desse sonho material e entender que a solução de tudo está na mais simples e singela das palavras. Aquela palavrinha que, só por ela, fica tudo explicado: AMOR.

Roberval Paulo

FORÇA MÍSTICA - Roberval Paulo


Existe uma força que é de nós desconhecida
Uma força expressiva que a tudo dá movimento
Uma força que é sentida, não se vê e não se toca
Força essa que é revolta na profecia do tempo

Há um mundo paralelo deste mundo que é palpável
Há mais mundos paralelos do que podemos prever
Há forças desconhecidas na galáxia que habitamos
E quantas outras galáxias devemos desconhecer?

A natureza é a mãe de todo ser existente
De toda coisa que existe, da vida, gente, ciência
A natureza é prenúncio, o germinar da semente
É um mistério Divino, de Deus a onipotência

O homem busca explicar-se ao construir sua ciência
Mas foi criado por Deus, sua imagem e semelhança
E desconhece esse Deus nesta santa ignorância
Não sabe do Criador ser nossa única esperança

De Deus é todo o poder, e glória e honra e amor
O homem tão semelhante se apega a desatinos
Construiu o egoísmo e ambiciona o poder
Constrói assim o seu fim ignorando o Divino

A vida, só, segue em frente e não retrocede nunca
Não precisa questionar, é só em frente seguir
Pois a vida, por si só, lhe mostrará o caminho
E você, sem conhecer, saberá pra onde ir.


Roberval Paulo

NOVO PROGRAMA DE VIDA - Roberval Paulo


É necessário, é urgente. Precisamos nos mexer. 
É preciso incutir mesmo no meio da gente a solidariedade. 
Não a solidariedade de mídia, da mídia, da televisão. 
Aquela que mais mostra e se pré-paga do que beneficia. 
Aquela que muito vende e quase nada se compra. 
Que comercializa os produtos pobreza e miséria e não se solidariza com estes.

É urgente uma nova postura; um novo conceito social. 
É de urgência urgentíssima o estabelecimento e estruturação de 
                                                                                  um novo programa de vida. 
Um novo programa de vida que conceitue a sociedade como um todo, digna de um tratamento igualitário pelos governos e por esta mesma sociedade.

Um novo programa de vida que nos faça dar a nós mesmos, 
o respeito que merecemos e que tanto almejamos e necessitamos.

Um novo norte, novo horizonte, novo caminho.
Uma nova visão e uma nova postura.
Um novo ainda mais novo do que o novo que envelheceu em nós.
Um novo que amanheça a paz, a justiça, a solidariedade e a dignidade.

O novo que nos foi apresentado pela boa nova de Cristo, e, que nós, 
envelhecidos de novo em velhos e novos conceitos 
e seduzidos pela força do material, 
fomos espiritualmente a envelhecer.

O novo que nos traga de novo
o amor ao próximo e a Deus sobre todas as coisas

O novo
que se renova
a cada manhã
no amor de Cristo!

Roberval Paulo

A PROMESSA DE UM MUNDO MELHOR - Roberval Paulo

 A promessa de um mundo melhor não pode ser idealizada e arquitetada na força e nem por guerras ou por disputas que tenham como objetivo os interesses protagonizados pelo poder, pelo dinheiro ou por posição.

A necessária promessa de um mundo melhor tem que estar calcada na palavra, pela conscientização, pela valorização do ser e pelo entendimento de que somos iguais, temos a mesma origem e, portanto, somos dignos de um tratamento igualitário, dignos do direito às mesmas oportunidades e dignos de, no mínimo, uma vida com dignidade realmente, onde exista à nossa disposição, todos os elementos básicos e essenciais a um existir justo e sem essas todas privações que nos afligem mortalmente.

A promessa de um mundo melhor não é a necessidade da igualdade e sim, a conscientização do respeito à dignidade individual de todo e qualquer ser, indistintamente.

A promessa de um mundo melhor é a disseminação, propagação, exercício e prática do que é justo, do que é justiça dentro da mais primitiva e verdadeira acepção, considerando-a tanto para si como para o outro, obedecendo, conscientemente e naturalmente, sem obrigação, aquela máxima de que o que não serve para mim, não serve para o outro e o que não quero pra mim não desejarei nem farei ao outro.

A promessa de um mundo melhor é, infelizmente, lamentavelmente e tristemente, SÓ PROMESSA! SÓ PROMESSA, impotentemente!!!

Roberval Paulo
            

IMATERIAL - Roberval Paulo


Pouco me avizinho ou me entendo
com relação às evidências
externas e extemporâneas
que acometem os humanos
em suas místicas sintonias
com o universo além da matéria,
a égide de um maior plano.

Mas, por inúmeras e inúmeras vezes,
deparei-me comigo, desvestido de mim,
livre do peso material que o meu ser carregava,
embrenhando em campo imaterial
como se só de espírito fosse eu batizado,
aquele andar apressado, de pés sem tocar ao chão
e distâncias longas vencidas
por um simples e atemporal salto
no tempo a romper estradas que a terra não cobriu.

Estradas de luz e nuvem,
de anjos e celestial
que não sei eu onde estou,
mas de sensações distantes
dessas sensações terrenas,
sensações de amar e plena
de claridade divina,
novena em mim que se finda
sem chegar ao seu final,
pois foi só mesmo a viagem
que muito me alegrou
em saber que um outro lado
existe e lá tem paz.

Tem gentes bem diferentes
das gentes que vivem aqui,
lá não se sente nem dor,
só mesmo enlevo e prazer,
lá ninguém se desespera,
não se mata nem se morre,
lá é como o vento norte
na direção natural,
que sopra, sopra e soprando
areja e carrega a vida,
um universo além
da pobre matéria irreal.


Roberval Paulo

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Blog Roberval Paulo: PEDRO QUEROSENE - Roberval Paulo

Blog Roberval Paulo: PEDRO QUEROSENE - Roberval Paulo: Crônica em homenagem ao saudoso Pedro Querosene que conheci em Aliança do Tocantins. Escrevi por sugestão da jornalista amiga Luciene Mar...

PEDRO QUEROSENE - Roberval Paulo

Crônica em homenagem ao saudoso Pedro Querosene que conheci em Aliança do Tocantins. Escrevi por sugestão da jornalista amiga Luciene Marques, a quem agradeço imensamente. Leiam o texto completo abaixo.
Luciene Marques está com Roberval Paulo.
Crônica publicada na última terça-feira, 13, no Jornal do Tocantins - Por Roberval Paulo.
Gratidão ao amigo Roberval por ter cumprido uma promessa em meu lugar, a de produzir uma crônica sobre o nosso saudoso Pedro Querosene. Além de me salvar, presenteou a todos nós com uma leitura maravilhosa, sem igual, uma homenagem de encher os olhos de beleza. Queremos mais! Leia o texto completo abaixo:
PEDRO QUEROSENE
Aliança do Tocantins, cidade cravada no centro-sul do estado do Tocantins, porém bem mais povoada e influenciada pelo povo da banda do norte/nordeste, carrega em suas ruas e calçadas todos os jeitos e gostos das gentes de lá. Cortada bem ao meio pela BR 153, na altura do quilômetro 646, com pouco mais de cinco mil habitantes, é quase a “Cidadezinha qualquer” de Carlos Drummond de Andrade, com tudo indo bem devagar. Povoado formado quando do rasgo rodoviário aberto no coração e veia central do Brasil, nas obras da BR 153 do governo Juscelino Kubitschek, atraindo um grande número de migrantes vindos principalmente do Maranhão à busca de novos ares. Cidade comum de gente comum, em sua maioria de sertanejos, dito aqui na mais nobre acepção da palavra. Pessoas estas de hábitos e costumes simples como os seus lugares.
Cidade de tantos e quantos, como também cidade do senhor Pedro Querosene, alcunha que recebeu quando de um tombo com direito a banho de querosene em razão de excesso no gole. Cidadão forjado em homem no labutar simples da roça, à custa de foice e enxada, de ordem e suor, de disciplina e responsabilidade, valores estes encrustados no existir das gentes do sertão. Acometido da perda de visão em razão de glaucoma que não perdoa nem olhos mais abastados do capitalismo, não se dobrou a enfermidade, mantendo sua independência e locomoção por tudo quanto é canto sozinho e com alegria.
Pois sim, traçando um perfil do senhor Pedro Querosene: homem esguio, estatura mediana, moreno claro, cabelos encaracolados e curtos, rosto sulcado de feição sofrida, enfim, o típico “caboclo do sertão e excluído da república” como bem definiu Euclides da Cunha em Os Sertões. No mesmo tempo que expõe a rudeza e simplicidade no falar, carrega em si o dicionário e vocabulário do anedotário sertanejo, exprimindo uma sagacidade e alegria que contagia quem se dispõe um pouco a compartilhar de sua companhia. Melhor do que caracteriza-lo e enche-lo de adjetivos é contar um episódio deste emblemático cidadão.
Certa feita, lá pelas tantas da tarde, já com sintomas de noite, datando-se por meados do ano de 2015, estava eu a refrescar-me com uma gelada no bar do Raimundo de Gregório, no Jardim Aliança, quando ouço o pisar e falar de Pedro Querosene, cego e sozinho, atravessando a rua, indo como que teleguiado em direção ao bar onde eu estava absorto no aguerrido exercício de copo.
Resmungando alto e tocando seu bastão à frente para guiar os seus passos, deu de esbarrar no veículo estacionado defronte ao bar. Compadecendo-me da situação, a ele me dirigi com o intuito de ajuda-lo na tarefa empreendida rumo ao balcão. Dava mostras de que alguma já havia ingerido e me pegou de conversa como se de longo me conhecesse, numa amizade e liberdade existentes só nas almas de todo desarmadas.
Contou-me alguns infortúnios; dentre estes, o drama da perda da visão, porém sem se lamuriar, quase que agradecendo, pois, graças a este infortúnio, como ele mesmo disse, - “consegui o meu aposento”. Falou-me dos dias de roçado, estendendo-me as mãos calejadas e o quanto já trabalhou pela “dignidade do Brasil”, palavras dele.
Disse-me do casamento, dos filhos, da separação e da atual mulher, razão ainda dos seus rompantes e levantes de homem, porém sem conseguir disfarçar uma preocupação com o comportamento desta que muito gosta de sair por aí e é amante também de uma boa cangibrina. Ao referir-se a ela, veio-lhe de súbito uma raiva evidenciando o quanto dela tem ciúme, lançando a ela alguns adjetivos que me furto aqui revelar. Varamos a noite no assunto passional, regado a goles e gargalhadas e no resmungar característico de Pedro. Despedimo-nos refeitos e com glórias do labutar inglório e Pedro partiu.
Lamentavelmente Pedro Querosene não está mais entre nós e suas alegres e soltas palavras não mais ressoarão aos nossos ouvidos a não ser pela memória. Mas, no plano que estiver, estará reluzindo o seu doce existir.
Roberval Paulo

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A INCURÁVEL CURA - Roberval Paulo


Meu olhar cinzento se engasga na lonjura do nada
A noite desce amarga qual notícia trágica de jornal
Mas amada, muito amada!
É ela que me cura da cura incurável
A incurável cura de misturar metafísica e sonho
De pendular entre realidade e abstração

Tô cansado do caminho que não fiz
Aquele caminho que só pensando se chega
O ser em viagem mística e cigana
Transpondo barreiras do cosmos
Os pés cravados no verde
O verde no mar
O mar dos teus olhos
Teus olhos de mar!

A noite me conta segredos
Segredos guardados em dias que estão por vir
Meu desafio tem meu nome
Sou eu batalhando em Stalingrado
Resistindo pra nessa guerra por fim

O copo que me assiste me sorri
Entrego-me ao seu convite
Trago narcisista, quase fascista,
altruísta, insaciável
Whisky abranda até torpor
Não sou alheio à dor

Da janela a noite vai se dissipando
Reluto ao primeiro raio da manhã
Me encontro na última estação de mim
Onde desapeio sem ter chegado ao fim
A aragem me saúda no seu passar
E me diz do sol que há de brilhar mais uma vez

Dia novo, sou novo
Sou outro, mas continuo em mim
É o despertar de um quase sonho
É o real que de mim quis desistir.

Roberval Paulo

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Blog Roberval Paulo: CONCEITUAÇÃO! - Roberval Paulo

Blog Roberval Paulo: CONCEITUAÇÃO! - Roberval Paulo: Meus conceitos não são velhos Velho é me conceituar Velho é tecer conceitos A quem não segue conceitos Pois conceitos não são f...

CONCEITUAÇÃO! - Roberval Paulo


Meus conceitos não são velhos
Velho é me conceituar
Velho é tecer conceitos
A quem não segue conceitos
Pois conceitos não são feitos
Para as gentes bitolar
Quando muito, pra lembrar
Que o conceito conceitua
Mas nele não se acentua
O acento do caminhar
Pois que a luz do estradar
É o reflexo do passante
Chega a ser entediante
A quem negligenciar
Que a ordem conceitual
Não vá te desordenar


A rua rima com lua
Mais só uma é de andar
A outra é pra apreciar
Sem um qualquer preconceito
Pois que dentro do conceito
A lua é moça formosa
Pretendente venturosa
Do sol raivoso e sisudo
Que em um conceito mudo
É quase ouro a brilhar
E que no seu viajar
Manifesta sua grandeza
Mas não nos dá a certeza
Que essa airosa grandeza
Mesmo estando posta à mesa
Alguém vá conceituar?

Então não me conceitue
Conceitue, mas assim
Não conceituando a mim
Mas a ti dê seu conceito
Pois dando a ti o efeito
Do conceito dado a mim
Compreenderás enfim
Bebendo o próprio veneno
Adentrarás o terreno
Da consciência moral
Não desejando ao igual
O que não queres pra ti
É só em frente seguir
O caminhar está feito
Pois o efeito do conceito
Não mais irá te ferir.
 
Autor: Roberval Paulo

SACRAMENTO - Roberval Paulo


Se me nascesse jogado
Em colchão de folha seca
Ou mesmo ao som de clarineta
O batismo é o meu sustento
Nem que me fora de ouro
Ou do mineral mais nobre
Veria o sonho de um pobre
Ser mais que qualquer unguento

Mas não seria eu avesso
Sendo a unção dos enfermos
De óleo santo e sagrado
Ungidos ao firmamento
É mais que poder dizer
Ungir-se é se alimentar  
Pois no deserto, Maná
Era Deus ali atento

Sei que não posso parar
Dessa longa caminhada
Pois o porvir da jornada
É ir no passo do tempo
Mesmo que eu não queira amar
Não deixo de prosseguir
Pois a estrada a seguir
É o nosso ordenamento

O sol que me queima a pele
É o mesmo que me encoraja
O rastejar é da naja
Eu me adejo ao vento
A lua tem seus mistérios
A noite clara é um encanto
Ela vestindo o seu manto
Eu desvestido e cinzento

Cantando a canção da estrada
Sigo pisando em espinhos
Há flores em meu caminho
Miragens do meu tormento
No olhar crivo e cortante
Sinto a dureza da vida
Vejo a beleza da vida
Nas verves do sacramento.


Autor: Roberval Paulo

QUASE UM EPITÁFIO, UFA! - Roberval Paulo


Passa por mim o vento com açoites
No meu ser;
É o único a me sorrir ao me despir por inteiro
Me despir dos sonhos que ora já não mais sonho
Da luz que não mais clareia
O meu andar peregrino.

Passa por mim o verde que um dia foi esperança
Uma esperança morta que se fez viva de dor
Da dor de não poder nem mesmo sentir dor
Da dor de não doer o sacrossanto mistério do amor
A lâmina fina que talha o íntimo da alma
A alma indolor.

Passa por mim o sonho
A insônia da surrealidade
Meu espírito ardendo em febre
Meus dias corroídos pela dor social
Pela sede insaciável
Pelo ser desvirtuado
Pelo ter exacerbado
Pela luz que já pagou o seu doce brilho frágil.

Passa por mim a vida
Passa por mim o seguir
Passa por mim o partir
Que a morte não quer nem saber de ti.

Autor: Roberval Paulo