Um blog que se propõe a lhe atender meu querido leitor. Acesse sem receio, leia tudo, cure seus medos, reflita e siga em paz. Que os seus caminhos encontrem a saída e que esta porta lhe transporte à essência do insinuante e insondável sentimento do ser... Roberval Paulo
quinta-feira, 16 de abril de 2020
sexta-feira, 3 de abril de 2020
EM MEIO A TINTAS E CORES - Roberval Paulo
Este texto está publicado no Jornal do Tocantins MAGAZINE
CRÔNICAS &
CAUSOS , Edição de 17/03/2020
"A cor dos meus olhos, dos meus cabelos, da minha pele. Das minhas unhas, dos meus dentes, dos meus pelos. A cor da minha vida, dos meus dias. A cor da minha poesia e da minha alma. Eram as minhas cores todas. O desenho ia tomando forma. O escuro, o branco e o sem cor cedendo espaço ao colorido; o humano ao divino; o sentimento dando lugar à arte."
Ele pintava. Somente e simplesmente pintava. Nada mais a ele fazia
sentido, exceto a pintura. Tudo perdera a forma, a razão de ser, de existir. O
porquê, o pra quê, o de onde vem, para onde vai, nada importava. Tudo perdera
tudo. Nesse momento, era o nada sendo tudo e o tudo, ao mesmo tempo, arvorando-se
em ser nada. Era ele e a tela. Só ela existia e ele pintava.
Eu observava deslumbrada com que enlevo ele encarava aquela tela e
também me encantava. Quanta magia naquelas mãos. Era contagiante; tanto que
passei a examiná-lo com mais atenção e vi aquilo em formas e cores se
transformando. Ainda não definia o que era, mas, tinha uma certeza. Ele pintava
as minhas cores. Só as minhas cores existiam no seu toque mágico de pincel e
desfilavam pelo universo sem fim da quadriculada e dimensional tela. Pareciam adquirir
vida própria as minhas cores.
A cor dos meus olhos, dos meus cabelos, da minha pele. Das minhas unhas,
dos meus dentes, dos meus pelos. A cor da minha vida, dos meus dias. A cor da
minha poesia e da minha alma. Eram as minhas cores todas. O desenho ia tomando
forma. O escuro, o branco e o sem cor cedendo espaço ao colorido; o humano ao
divino; o sentimento dando lugar à arte.
Ali, do meu canto de observação, deliciei-me com a surpresa. Lá estava
eu, emoldada e ornada naquela paisagem inanimada que, aos olhos da mente, vivia
e dava vida àquele recanto tão só meu. Doce regato de água e folhas, tão real e
verdadeiro como o horizonte dos olhos. Eu estava perfeita. Em carne e osso, em
corpo e espírito, em branco e a cores, em alma e sentimento.
Pareceu-me, no entanto, que ainda faltava algo. Olhei para ele e vi que
hesitava. Pintava, matizava, contornava, corroborava, parece que procurando
descobrir o que de fato estava dali ausente. E eis que de repente, não mais que
de repente, tudo se torna claro a ele ao mesmo tempo em que a mim. Era isso!
Era só o que faltava e lá estava ele completando a sua obra com maestria e
desvelo. A mão no pincel, os olhos na tela, o toque final, transcendendo o que
não se pode transcender. A mão ao coração para pintar um coração; o coração. O
meu, o nosso coração que eu já não sabia mais de quem era, se é que coração
pode se dizer pertencente a alguém.
O trabalho estava perfeito, concluso, terminado. Era mágico, Divino, uma
verdadeira obra de arte. E era eu ali, deslumbrante naquela tela, intocável,
majestosa. Tarefa concluída! Exprimi um desabafado suspiro e, me vi sozinho. Eu
estava sozinho! Eu era o pintor! Tinha me pintado na tela, mas não era eu; era
ela que ali estava envolvida e embebida em tantas tintas e cores. Ao primeiro
momento, cuidei em achar que estava doido, que tinha enlouquecido. Mas logo em
seguida, numa dessas descobertas instantâneas e inexplicáveis da mente, num
estalo, descobri que eu era ela e que ela era eu. Ou melhor, eu estava nela e
ela estava em mim. Enquanto eu pintava, eu também era ela que se
desprendia de mim e ali, do lado, certificava-se se tudo estava saindo perfeito;
se ela estava saindo perfeita. E assim, eu olhava para o pintor, que era eu,
pintando ela, que estava em mim.
Não me peçam que explique essa loucura; penso não ser capaz, nem
acredito que isso seja possível. Não queiram desvendar o que não se desvenda. Não
queiram real nem lógico ao que habita o universo dos mistérios. Não busquem
entender o que não se dá ao entendimento. Mas comigo acontece, aconteceu e,
tenho certeza, acontecerá. É que eu, sou eu só, entende; mas ela está em mim,
impregnada no meu ser e na minha imaginação. Impregnada em minhas mãos, nos
meus gestos, na minha mente e no meu coração.
E ela é tão real em meu pensamento e em meu ser, que eu me dispo dela e
a ponho do meu lado para passá-la à tela, enquanto ela me observa. E isso, de
tal maneira, figura-se como tão verdadeiro, que às vezes ouço a sua voz e até
conversamos.
Mas logo, tarefa concluída, vejo-me sozinho e caio na real realidade.
Ela dá-me um breve adeus e volta para dentro de mim, passando novamente a
alimentar meus sonhos, minha mente, meu sangue. O meu coração e o meu corpo
inteiro. Eu todo, inspirando-me para a criação do próximo trabalho, quando a
terei novamente ao meu lado. Ela, fulgurante, se deliciando e irradiando
felicidade e prazer por protagonizar esse meu devaneio tão real.
É a minha mais doce não menos que colorida história de amor. Somos dois
nessa narrativa de um só personagem; eu, o pintor, monodramático, havendo-me
com as lutas interiores do meu espírito. Terei cura?
Roberval Paulo
terça-feira, 24 de março de 2020
CORONAVÍRUS (COVID-19)
Nós, anônimos/celebridades=celebridades/anônimos, viventes honrosos espalhados por
essa imensidão de mundão sem fim que se chama TERRA / BRASIL, não sabemos de
fato o que está ocorrendo? O que está a ocorrer? Mas precisamos e devemos fazer
a nossa parte, enquanto cidadãos responsáveis que somos.
Sabemos que o momento é atípico e, portanto,
devemos voltar toda a nossa atenção para os mecanismos de proteção e prevenção
para a preservação do que temos de mais importante >A NOSSA VIDAAAAA!!!
Então meus queridos leitores, redobrem a
vossa atenção no sentido de buscarem se blindar dessa pandemia. Vamos vencer
juntos, pois juntos somos mais fortes, bem mais.
Informações e medidas para a tão necessária mudança de
hábitos:
COMO O CORONAVÍRUS (COVID-19) É TRANSMITIDO?
De
uma pessoa doente para outra ou por contato próximo (cerca de 2 metros), por
meio de:
Ø
Gotículas de saliva
Ø
Espirro ou tosse
Ø
Catarro
Ø
Toque ou aperto de mãos
Ø
Através de objetos ou superfícies
contaminadas
QUAIS OS PRINCIPAIS SINTOMAS?
ü Febre
ü Tosse
ü Dificuldade para respirar
VOLTOU DE UM LOCAL COM CASOS DE CORONAVÍRUS (COVID-19)?
·
Fique altamente ligado à sua condição de
saúde, principalmente nos primeiros 14 dias;
·
Reforce seus hábitos de higiene,
especialmente lavando as mãos com água e sabão;
·
Apresentando sintomas como febre, tosse ou
dificuldade de respirar, procure uma unidade de saúde e informe sobre o seu
histórico de viagem.
Fique atento às
notícias sérias e evite fake news. Filtre tudo e absorva só o que é importante.
Juntos venceremos essa luta.
Deus no comando sempre.
Roberval Paulo
Fonte: Ministério da
Saúde – Governo do Brasil – Governo do Tocantins
sexta-feira, 13 de março de 2020
MARCAS DE LUZ - Roberval Paulo
Tenho
corpo e alma chagados pelo tempo
São
marcas de luz que o tempo me deu
O
como hoje penso é reflexo desse andar
Quanto
pondero antes de agir e de me posicionar!
Quanta
paciência carrego em meu ser!
O
ferreiro segue moldando a peça
A
forja é o instrumento e a força um complemento
O
fogo é o próprio alimento que molda o molde pensado
Então
atenha-se! Tome tenência!
O
ferreiro, a forja e o fogo são elementos do seu caminhar
Elementos
por demais importantes nos dias da sua estrada
Mas
pouca atenção lhes damos pois queremos ser bem mais
Mas
não, não somos
Definitivamente
não somos
Somos
somente uma peça
A
peça menor de toda uma engrenagem
Uma
engrenagem maior e superior
Engrenagem
essa que se intitula vida
Lutar
pela vida é razão
E
a essa luta nos jogamos com todas as nossas forças
Ora
triunfando e ora despedaçando
O
nosso existir que é o nosso coração
Lutar
pela vida é bom e, inexoravelmente,
Espelha
o fundamento fundado no sacramento
Um
sacramento diáfano, resiliente
Transluzente
e comprazente da nossa nobre missão
Mas
lutar contra a vida é tolice, é estultice
É
estupidez pra não dizer burrice
É
quimera e solidão
A
vida é superior e maior, muito maior
A
vida é tudo e é senhora de si
A
vida é o ferreiro, a forja, o fogo
E
você, ah meu Deus, quem é você?
Quem
você pensa que há de ser?
Você
é simplesmente e também, singularmente,
A
peça viva e importante,
Mas
também comum tal como inconstante
A peça menor desse mágico jogo.Roberval Paulo
quinta-feira, 12 de março de 2020
TODA VAIDADE SERÁ CASTIGADA - Roberval Paulo
Fostes no meu sonho, a ponte
pra realidade
E pelos sete mares, te
idealizei em mim
E em dias brancos, dourava-me
de sol
Revestindo-me do branco,
pureza da tua alma
Cambraia fina, levada pelo
vento
Asas de gaivota a se perder pela
leve bruma
De semelhante plumagem
Confundindo-se à distância
Com as prateadas estrelas
Deslizando na imensidão
Do infinito azul
Matizado pelo verde água
Das águas de chuva
A encher de paixão
As nuvens brancas de algodão.
E em horas decadentes
No dourado e cinza do
crepúsculo
Encanecendo o horizonte
escarlate
Rolam para o chão
Nuvens de água
Purificada
Desgaseificada, a água
Uma fábula, só deságua.
Água virgem
Véu natural do tempo
A rolar para a terra
E pela terra
Sem cor, incolor, multicor.
Terra, só terra!
Marrom, preta, vermelha, roxa
Só terra!
Brotando vida depois de
saciada a sede
Agora, em cor de todas as
cores
Abrigando vaidades sem fim
Qual fogueira de desejos
Abrandada pelas cinzas da
frustração.
Vaidade, tudo vaidade
Sem limite, sem idade
Sem dimensão.
E em passar o tempo, o
contratempo
Parte de mim no além
Olha o trilho, o trem já vem
Passando, levou, destronou
Com ou sem guerra
Descanso em terra
No underground, água e sal
Jóia ou bijuteria
Tudo igual, irreal.
De real, só o momento
Este momento
Intenso, imenso, isento
Não mais que um segundo
Muito maior que o mundo
Que o nosso mundo
Que só existe aqui e agora.
Eras o meu sonho, e dele
Fostes a ponte pra realidade
E sobre esta ponte
Lancei todos os meus medos
E meus segredos
Li seus segredos
E os segredos da vida
A chegada, a estadia, a
partida
Do menino ao idoso
Do empregado ao patrão
Do princípio ao fim
Do sol ao escuro total.
E nesse inferno astral
De céu para quem padece
Vem o desfecho final, fatal
Inevitável
Levando-me os anéis
E os dedos também
Começo, meio e fim
É assim
E será sempre assim
Porque assim convém.
A passar o nada, o tudo
Todos enfim
A chorar e a sorrir
Triste e contente
Ninguém nasceu pra semente
O sonho é de quem o tem
É a roda do vai e vem
Amém!
E pra eternidade, tudo, nada,
não sei
Segredos que não desvendei
Faz-se o homem pelo sonho, e
morre
Faz-se o sonho pelo homem,
também morre.
Fostes no meu sonho a ponte
pra realidade
Mas a realidade, tudo vaidade
Era pó
E o pó levado pelo vento
Sumiu no espaço
Virou nada
Só nada
E só
Nada.
Roberval Paulo
domingo, 8 de março de 2020
UMA HOMENAGEM À MULHER - Roberval Paulo
Como disse Erasmo Carlos: "Dizem que a mulher é o sexo frágil / Mas que mentira absurda / Eu que faço parte da rotina de uma delas / Sei que a força está com elas...".
Eu acrescento: Ela é tão generosa, que finge me por no comando pra me ver feliz, sabendo ela ser o comando todo seu. Ela é senhora de si. Ela é ela. - Roberval Paulo.
À
mulher, de forma geral
És
tu um sonho real
Festiva
que nem sarau
Fórmula
inconvencional
Olhar
paradoxal
Assim
meio casual
Sempre
providencial
A
gênese em essencial.
Um
ser tão sensorial
Que
nunca é imparcial
Mais
do que especial
É
multidimensional
De
pensar atemporal
Que
chega a ser abissal
Seu
querer irracional
Sua
vontade banal
Mas
que no fundo é vital
Para
o seu emocional.
Uma
emoção surreal
Que
quase sendo anormal
É
na medida ideal
Um
acalanto espiritual
És
um ser tão passional
De
sonhar transcendental
Que
ama além do normal
Um
amor incondicional
De
valor universal
Uma
obra magistral.
Seu
ato devocional
Tem
a forma original
Sua
força descomunal
Em
defesa visceral
Da
cria em potencial
O
instinto maternal
De
pensamento infernal
Mau
humor habitual
É
um caso conceptual
Sem
receita natural.
Opõe-se à raiz do mal
É
sim o amor madrigal
Que
ama o jogo carnal
Mas
é bem sentimental
Adora
ter uma rival
Mas
jamais ser filial
Aí
já não é legal
Faz
charme proposital
Dá
efeito colateral
A
quem lhe deseja o mal.
É
daquelas que é a tal
É
sempre um manancial
De
amor, de luz, de ideal
Seu
jeitinho angelical
Alegria
impessoal
Traz
o brilho do cristal
Sonha
a noite nupcial
É
um ser matrimonial
Na
arte de amar é letal
Sendo
a exponencial
Na
relação do casal.
Se
perde no trivial
É
hoje um ser virtual
Nunca
fala “gargural”
Desaponta-la
é fatal
Faz
do vento um vendaval
Toda
temperamental
Mas
é excepcional
Vou
dizer sensacional
Está
acima do mal
Ares
de intelectual.
É
mesmo intelectual
Cada
vez mais laboral
Na
batalha pelo igual
Nesse
mundo desigual
É
conjugada ao plural
Tão
singular seu astral
É
mesmo primordial
É
pra nós fundamental.
Da
terra é o santo sal
Da
vida o eixo central
O
seu porte escultural
É
a mão do Celestial
É
uma estrela, um sinal
Tutora
do pré-natal
A
virgem, a maioral
Tem
dia internacional
Ah!
Mulher, ser divinal!
Você
é especial!
Roberval Paulo
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020
POEIRA DAS ESTRELAS - Roberval Paulo
Por
favor, não me falem de moral
Nem
de sol ou de sal, nem do bem ou do mal
Não
me venham querer recriar a criação
Tudo
o que é, é o que sempre foi
E
o que será, será, mesmo que não venha a eternidade
Não
me venham deslizando em seus falsos moralismos
Não
me venham destilando heresias
A
sociedade não é e nunca foi diferente
A
hipocrisia sempre se pôs na vanguarda dos comportamentos
E
a virtude do ser, em mesma forma, nunca foi do ser
e
sim das circunstâncias
Alteram-se
crenças e valores, Divindades e potestades,
e
o fundamento normatizador é a conveniência
Diga-me
com quem andas e eu lhe direi quem és!
Diga-me
o que queres e eu lhe direi qualquer coisa!
E
tu já não mais serás o todo que lhe envolvia
Serás,
em parte, a influência das palavras proferidas e absorvidas
Tudo
se altera e se alterna, mas, inexoravelmente,
Tudo
permanece igual
O
homem, todavia, claro e obscuro,
Percorre
a esteira da história
Sendo
o lobo do próprio homem
O
átomo está em mim, em ti e está no oceano
Está
em tudo o que vive ou morre
Está
no físico ou no imaterial
No
todo do qual sou parte e encarte
Sou
pó de estrelas, se é que queres saber um pouco de mim
A
realidade me custa tão caro que às vezes até sonho
Sonho
com o mágico, o insondável, a alquimia
Em
ouro quero o meu ser, minhas ações, meu existir
O
ouro espiritual que fundamenta o universo
O
inverso na tez do verso que o poeta sangrou
Portanto,
não me venham pregar especulações
Sou
elétrons e prótons protestando aos nêutrons
Sou
átomo, natureza e universo
Indizível
e invisível...indivisível
A
força do natural que decifra pensamento
Sou
fundamento da alma
A
materialidade do espírito
A
natureza do físico
A
razão maior do ser e existir
O
ser e o ter em eterno conflito
Sem
compreender o porquê de estar aqui.
Roberval Paulo
A RODA DA VIDA - Roberval Paulo
Hoje,
mais um dia como outro qualquer. Mais um dia de árdua luta à espera do fim de
semana que se aproxima para descanso, depois de uma semana como todas. De trabalho e cansaço, de realizações e sonhos, de buscas
e encontros, enfim, da batalha incansável que é a vida, que é o viver.
A rotina reclama sempre o seu lugar e lá vamos nós no comando
dessa nave que não para. Chega a sexta tão ansiosamente esperada, junto com os
preparativos para o tão aguardado e merecido descanso. O acordar um pouco mais
tarde, uma ligação dos amigos, o tão gratificante e contagiante e empolgante
futebol. Umas cervejas, churrasco, conversas que vão e que vem e sorrisos que
não se conta.
O parque. Ah! O parque! O filho correndo solto e sendo admirado. O
momento que não devia acabar; devia durar mais que o sentimento. A mulher de
tantas lutas e o seu tão nobre amor, sempre dispondo, doando, amando. A alegria
se faz tão doce que até parece que todo o mundo é seu.
A vida segue o seu curso e, as visitas, a família e todos os
agregados desse universo de amor traz deleite e repouso ao coração. A mãe, o
pai e a benção do amor maior que te faz suspirar e de fato saber quem és.
O domingo de missa, de culto, de Deus. De reunião em comunidade,
de louvação, de comoção, de comunhão. De entrega, agradecimentos e de pedidos
para os seus, para a vida, para o amigo com problemas, para a justiça imperar. Para
o governo em desgoverno, para a mãe ter mais saúde, para a promoção chegar e a
vida ser melhor.
A alma está lavada, o coração tá quase puro e o tão desejado fim
de semana já dá mostras de cansaço, suspira em breve adeus e caminha para o
fim. O sono está se aproximando e lentamente e em ritmo de dormência vai
assumindo o comando, preparando-te para a segunda feira que logo acenderá no
horizonte e tudo recomeça outra vez.
É a roda viva da vida que tão vivo e mágico faz o nosso existir.
Mais disposição, mais correria; é quase um mais de tudo no enfrentamento da
sobrevivência. O trabalho, a feira, a escola e os dias brancos que cansam, mas
que é bom. Compromissos e obrigações, aspirações e suor e o penoso e doce
ansiar pra que a sexta chegue logo.
É o mais do mesmo sempre, mas tudo é tão novo e diferente que traz até a impressão de que a rotina "desrotinou-se" e agora opera a seara da
novidade, fazendo novo e alentador o que já é demasiadamente velho. Demasiadamente velho, mas novo no giro
que a roda dá. A roda viva que gira girando o nosso existir, gira desejos e
sonhos e nos faz esperançar. Faz o moço ficar velho para depois remoçar.
Roberval
Paulo
terça-feira, 18 de fevereiro de 2020
CRÔNICA DO TEMPO - Roberval Paulo
Esta crônica está publicada no Jornal do Tocantins MAGAZINE
CRÔNICAS & CAUSOS, Edição 18/02/2020
“Tenho
a história inacabada, quanto espinho espalhado, os que já foram pisados e
outros mais que aguardam por meus pés que nem meus são.”
18/02/2020 – 07:40 - Roberval Paulo - Poeta
Controlar
o tempo; queria que este não passasse; devia este momento durar mais que um dia.
Mas, não estou preso a ele, pois o mesmo não me pertence. Só as coisas que nos
pertencem nos prendem. Pelo menos é assim que deveria ser.
Controlar
o tempo! Podia este parar para esperar minha vida que não consegue acompanhá-lo.
Se ele parasse, eu o alcançaria e descansaríamos um pouco, sentados numa pedra,
levando intuitiva conversa, para depois, descansados e realimentados de brisa e
de paz, prosseguirmos a viagem que muito dura. Mas, esse tempo não me houve.
Queria controlar o tempo e só seguir pela minha vontade que controlaria e
guiaria os meus passos e não pela vontade de outrem. O Céu que me espera não
sei se existe e, se fantasias são verdades, nem sei como acreditar em mim.
Controlar
o tempo! Controlar o tempo que me fechou a porta e nem adeus me disse, nem se
despediu. Se eu tivesse o dom e o poder de governar o tempo um dia sequer, fecharia
esta porta e guardaria a chave em lugar que só eu soubesse, abrindo-a só quando
o dia, por sua vontade, decidisse se encher da manhã que teria entrada franca
em minha vida, com a permissão deste
mesmo
dia.
Ah!
Controle do tempo! Porque não vens aqui ensinar-me como se faz com esse tempo
que só sabe andar? Que caminha, caminha, caminha sem saber para onde, sem saber
por onde, sem haver direção no seu caminhar. Escuta-me senhor do tempo! Só você
e unicamente você poderá me ajudar. Mostre-me o caminho que leva ao sol e ensine-me
o segredo de não me queimar. Leve-me pela estrada do norte, na rota do sul e do
bem caminhar. Que eu cruze rios sem me afogar. Que atravesse montanhas sem de
lá despencar. E que, ao cair, que eu me levante e encontre forças para
continuar e que todas as barreiras e os obstáculos e as curvas da estrada com
suas ladeiras eu consiga vencer pela persistência do muito esforçar.
E
escuta senhor do tempo, eu não posso parar. Eu não posso parar pois eu sei que
ainda tenho muitas flores para colher, muitos sonhos para perder, tanta conta
para contar. Tenho a história inacabada, quanto espinho espalhado, os que já
foram pisados e outros mais que aguardam por meus pés que nem meus são. E senhor
do tempo me diga se é eterno o caminhar? Se encharcando a camisa, suando-se de
baixo em cima, correndo mais que a notícia, quase qual bala que mata, mais que
um golpe de faca lambendo o vácuo do medo, pode-se uma dia dizer, vou parar pra
descansar?
Controlar
o tempo! Ah! Quem me dera eu soubesse desvendar este segredo; quisera eu não
ter medo de sorrir, de ser feliz, e na passagem da vida amar mesmo, sem medida,
compartilhar os meus sonhos com quem quisesse sonhar, semear por onde eu fosse,
muito amor, muito sorriso, muita paz que eu preciso tornar o mundo melhor.
Deveras, levar alegria a todas as gentes e a mim, a todos nós e a ti que me lê
e nem me conhece, mas, que como eu, padece do não entender a existência, a
razão do ser, das crenças, as dores e os sacrifícios que a mestra vida nos cobra
sem explicação alguma, mas no tempo e na estrada vamos nós a cavalgar.
A
caminhar, a sonhar, nos labirintos da sorte, construindo e conquistando, montando
um cavalo alado, eu e você, lado a lado, destino do fraco e do forte, procurando
a própria morte por onde o vento levar.
Roberval Paulo
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020
UMA DOCE HISTÓRIA DE AMOR - Roberval Paulo
Ele pintava. Só pintava. Nada a ele fazia sentido, exceto a pintura.
Tudo perdera a forma, a razão de ser, de existir. O porquê, o pra quê. O de
onde vem, para onde vai, nada importava. Tudo perdera tudo. Nesse momento, era
o nada sendo tudo e o tudo, ao mesmo tempo, sendo nada. Era ele e a tela. Só
ela existia e ele pintava.
Eu observava deslumbrada, com que enlevo ele encarava aquela tela e
também me encantava. Quanta magia naquelas mãos. Era contagiante, tanto que
passei a examiná-lo com mais atenção e vi aquilo em formas e cores se
transformando. Ainda não definia o que era, mas, tinha uma certeza. Ele pintava
as minhas cores. Só as minhas cores existiam no seu toque mágico de pincel e
desfilavam pelo universo sem fim da quadriculada e dimensional tela. Parece que
tinham vida própria as minhas cores.
A cor dos meus olhos, dos meus cabelos, da minha pele. Das minhas unhas,
dos meus dentes, dos meus pelos. A cor da minha vida, dos meus dias. A cor da
minha poesia e da minha alma. Eram as minhas cores todas. O desenho ia tomando
forma. O escuro, o branco, o sem cor cedendo espaço ao colorido; o humano ao
divino; o sentimento dando lugar à arte.
Deliciei-me com a surpresa. Lá estava eu, emoldada e ornada naquela
paisagem inanimada que, aos olhos da mente, vivia e dava vida àquele recanto
tão só meu. Doce regato de água e folhas, tão real e verdadeiro como o
horizonte dos olhos. Eu estava perfeita. Em carne e osso, em corpo e espírito,
em branco e a cores, em alma e sentimento.
Pareceu-me, no entanto, que ainda faltava algo. Olhei para ele e vi que
hesitava. Pintava, matizava, contornava, parece que procurando descobrir o que
de fato estava ali ausente. E, de repente, tudo se torna claro a ele ao mesmo
tempo em que a mim. Era isso! Era só o que faltava e lá estava ele completando
a sua obra com maestria. A mão no pincel, os olhos na tela, o toque final,
transcendendo o que não se pode transcender. A mão ao coração para pintar um
coração; o coração. O meu, o nosso coração que eu já não sabia mais de quem
era.
O trabalho estava perfeito, concluso, acabado. Era Divino, uma
verdadeira obra de arte. E era eu ali, deslumbrante naquela tela, intocável,
majestosa. Tarefa concluída. Soltei um desabafado suspiro e, me vi sozinho. Eu
estava sozinho. Eu era o pintor. Tinha me pintado na tela mais não era eu; era
ela que ali estava envolvida e embebida em tantas tintas e cores. No primeiro
momento, achei que estava doido, que tinha enlouquecido. Mas logo em seguida,
num estalo, descobri que eu era ela e que ela era eu. Ou melhor, eu estava nela
e ela estava em mim. Enquanto eu pintava, eu também era ela que se
desprendia de mim e ali, do lado, certificava-se se tudo estava saindo perfeito;
se ela estava saindo perfeita. E assim, eu olhava para o pintor, que era eu,
pintando ela, que estava em mim.
Não me peçam que explique essa loucura; penso não ser capaz, nem
acredito que isso seja possível. Mas comigo acontece, aconteceu e tenho
certeza, acontecerá. É que eu, sou eu só, entende, mas ela está em mim,
impregnada no meu ser e na minha imaginação. Em minhas mãos, nos meus gestos,
na minha mente e no meu coração.
E ela é tão real em meu pensamento que eu me dispo dela e a ponho do meu
lado para passá-la à tela, enquanto ela me observa. E isso, de tal maneira,
parece-me tão verdadeiro que às vezes ouço a sua voz e até conversamos.
Mas logo, tarefa concluída, vejo-me sozinho e caio na real realidade.
Ela me dá um breve adeus e volta para dentro de mim, passando novamente a
alimentar meus sonhos, minha mente, meu sangue, meu coração, meu corpo inteiro.
Eu todo, inspirando-me para a criação do próximo trabalho, quando a terei
novamente ao meu lado. Ela, fulgurante, se deliciando e irradiando felicidade e
prazer por protagonizar esse meu devaneio tão real.
É a minha mais doce história de amor. Somos dois nessa narrativa de um
só. Eu, o pintor.
Roberval Paulo
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020
PAZ INQUIETA - Roberval Paulo
Esse dia que ora se inicia
e que traz-me de volta,
ao alcance de um olhar,
os fios dourados da manhã
aureados pela luz do sol
e brilhando feito o brilho do existir,
faz-me pensar
quão grande és tu
e o quanto pequeno
me sou neste sonho
Não tenho a dimensão
nem o limite
do infinito onde habitas
ou estás
Mas sinto a tua presença
Na manhã e no sol
No orvalho e na relva verde
No rio que caudaloso corre
Na cantiga e frescor do vento
Na quietude do tempo
Que ornamenta
a paisagem da vida
Na folha da palmeira
Que profere um canto
Da mais inquieta paz
Inquieta porque meus ouvidos atentos
Alvoroçam ao escutar-te
E cheios do teu amor
Condensam em mim
A luz de todo o universo
A mim só resta agradecer
e sorrir compassivo
diante da tua magistral grandeza
E realimentado
De brisa e de paz
Lá vou eu, um novo viandante
Que embora estradando
A estrada errante
Entendi que o caminho
É o caminhante quem faz.
Roberval Paulo
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