sexta-feira, 17 de julho de 2020

DIVAGAÇÕES! "FILOSOFAÇÕES!" - Roberval Paulo

Ando pelo mundo à procura de mim
Se não me encontro, conheço novas terras.
Passo pelos dias, tenho olhos no futuro,
Brincar de viver é tão bom que nem presta

Pelo sol vejo fogo no céu
Ignoro conceitos, regras e tudo o mais.
Não me atenho às convenções, sou prático,
Tenho medo da coragem que é minha

Pra buscar um sonho, viajo muitas léguas,
Nas asas do sonho é que se voa longe
Creio até nos contos de fadas
São fantasias a dizer verdades

Pra contrariar a noite acendo as luzes
Tudo escuro, eu claro estou.
No natural das coisas o dia amanhece,
Escuro mesmo é a justiça dos homens

No tempo de uma hora penso a vida inteira
Nos amigos, nas mulheres que amei;
Supostos amores, não passavam de paixão,
Ela sim, único amor e não morreu com o tempo.

Divagando é que se vai ao longe!
Divagando viajo no tempo!
A lua ainda nem visitei
Mas deixa pra lá. Devagar! Divagar!

Roberval Paulo

COISA BELA! - Roberval Paulo

Eu escrevo como quem sonha
Como quem sonha a coisa bela
E o sonho é de quem ama
Como a caça é do caçador

Eu sonho como quem ama
Como quem ama a coisa bela
E o amor é de quem cria
Como a criatura é do criador

Eu amo como quem cria
Como quem cria a coisa bela
E a criação é de quem escreve
De quem escreve certo por linhas tortas.

Roberval Paulo

CANÇÃO DE LUAR! - Roberval Paulo



E a lua cantando uma canção, 
oh! chão
Quem dera pudesse eu pisar-te, 
tocá-lo
Sentir o teu calor, 
beijar tuas entranhas
Derramar-me em prata 
sobre teus montes e rios
Embriagar-me no verde 
das tuas matas
Quanta beleza, oh! Deus, 
longe desse céu.

Roberval Paulo

terça-feira, 14 de julho de 2020

PÓ DE ESTRELAS - IMATERIALIDADE! - Roberval Paulo


Por favor, não me falem de moral
Nem de sol ou de sal, nem do bem ou do mal
Não me venham querer recriar a criação
Tudo o que é, é o que sempre foi
E o que será, será, mesmo que não venha a eternidade

Não me venham deslizando em seus falsos moralismos
Não me venham destilando heresias
A sociedade não é e nunca foi diferente
A hipocrisia sempre se pôs na vanguarda dos comportamentos
E a virtude do ser, em mesma forma, nunca foi do ser
e sim das situações
Alteram-se crenças e valores, divindades e potestades,
e o fundamento normatizador é a conveniência

Diga-me com quem andas e eu ti direi quem és!
Diga-me o que queres e eu ti direi qualquer coisa!
E tu já não mais serás o todo que ti envolvias
Serás, em parte, a influência das palavras proferidas e absorvidas

Tudo se altera e se alterna, mas, inexoravelmente,
Tudo permanece igual
O homem, todavia, claro e obscuro,
Percorre a esteira da história
Sendo o lobo do próprio homem

O átomo está em mim, em ti e está no oceano
Está em tudo que vive, que morre e que transcende
Está no físico ou no imaterial
No todo do qual sou parte e encarte
Sou pó de estrelas, se é que queres saber um pouco de mim

A realidade me custa tão caro que às vezes até sonho
Sonho com o mágico, o insondável, a alquimia
Em ouro quero o meu ser, minhas ações, meu existir
O ouro espiritual que fundamenta o universo
O inverso na tez do verso que o poeta sangrou

Portanto não me venham pregar especulações
Sou prótons e elétrons, nêutrons e a luz que brilha
Sou átomo e divindade, natureza e universo
Indizível e invisível, incomumente indivisível
A força do natural que decifra pensamento

Sou fundamento da alma
A materialidade do espírito
A natureza do físico
A razão maior do ser e existir
O ser e o ter em eterno conflito
Sem compreender o porquê de estar aqui.

Roberval Paulo

segunda-feira, 13 de julho de 2020

TRIUNFO! - Roberval Paulo


Queria eu
Ter como meu e possuir
A visão fantasiosa
E por demais corajosa
De aspiração venturosa
Do tão grande e problemático
E cavaleiro emblemático
Dom Quixote de La Mancha
A luz desarmoniosa
Que harmoniza o existir
Que imagina o porvir
Como um feixe de bondade
Transforma a realidade
É refém da idolatria
Faz o sonho e a fantasia
Complementos da verdade
E dentro da insanidade
Triunfa em sabedoria


Ir por aí só por ir
Sem saber por onde ir
Tendo sua a missão
De todo o bem semear
Defender descamisados,
Salvar donzelas e reinos
Enfrentar a realidade
Brincando de pelejar
Encarar a vida e o sol
Pregando peças e trotes
Carregando a honradez
De ilustres cavaleiros
De um tempo antes do seu
Em reinos que não viveu
Só conhecidos dos livros

Mas lhe são tão atrativos
Que no seu idealismo
Vê-se transformado em um
Senhor de cavalaria
De honras e fidalguia
Mais um cavaleiro andante
Desfazendo injustiças
E por áreas fronteiriças
Recria Cafarnaum
E feito homem comum
Crer que o bem vencerá
E guarda tanta verdade
Com tamanha hombridade
Que mesmo na insanidade
Fez um ser dentre os mais nobres
Em ouro, prata e cobre
Dar-se ao prazer de o armar

E queria eu ainda
Nessa minha caminhada
Não ser a cruz da espada
Nem palmatória do mundo
Mas ser um ser desse mundo
Sem ser igual e sem soma
Ser soma multiplicada
Por dez medidas de amor
Cem corações em fervor
E mais um mil em oração
Ter cheio o meu caminhão
De paz, justiça e de luz
Ter o olhar de Jesus
Complacente e compassivo
Partilhar dores e amores
Valores e sofrimentos
Fazendo mais leve o fardo
De quem tem fé e tem crença
De quem já perdeu a crença
E se encontra perdido
É a ovelha perdida
Quem mais precisa de guia
E o bom pastor se agonia
Se uma está desgarrada
E em seu abraço deflagra
Paz, acalanto e alegria.

Roberval Paulo

EFEITOS E CONTRA EFEITOS DO AMOR - Roberval Paulo


Recordo que os meus sonhos
Já não são como eram dantes
Parafraseio Cervantes
Um dos deuses da poesia
Que do amor disse um dia:
É a mais doce ilusão
Não se segura com a mão
É volúvel e sorrateiro
É misturar brigadeiro
No branco do algodão

Dou passos pra me encontrar
Mas vejo um caminho estreito
O amor tem tanto efeito
Que existe sem se notar
Mostra-se sem se entregar
Provoca, depois se esquiva
Revela a forma passiva
De intrigar todo amante
É instável e avoante
Segue seu curso à deriva

Me vou na estrada pensando
Em como o tempo me cai
Por quanta estrada se vai
Sem acertar o caminho
Decifrar o pergaminho
Da vida é luta constante
É feito o voar rasante
Um risco em cada asada
Ter a estrada cortada
É sina de todo andante

Aprendi que a experiência
É fruto da caminhada
No passo lento da estrada
O exercício é a persistência
Tenha fé e paciência
Desespero é incompatível
Vais te tornar insensível
Se desistires do amor
Viver o amor sem dor
É missão quase impossível

Pautando a vida no amor
Certeza que o amor virá
Dor é certo que terá
Não há frio sem calor
Tem espinho, mas tem flor,
Pós-tempestade, a bonança,
Não perca a esperança
É só deixa-lo fluir
Não é escolha, é sentir
Seguindo o passo na dança

Faça o melhor que puder
Com amor no coração
A vida é grande ilusão
Mas sem amor não dá pé
Sem amor é marcha à ré
É tal qual pra trás andar
Amor e paz vêm cantar
Um do outro é companheiro
Seja feito o marinheiro
No nevoeiro a remar.

Roberval Paulo

A VIDA É UM SOPRO - Roberval Paulo


A vida é somente um sopro
Repense o seu pensar
Renove sua atitude
Dê graça ao seu caminhar

Semeie por onde for
Carinho, amor, harmonia
Dê por graça o seu sorriso
Promoção de alegria

É tudo tão passageiro
Tudo chega sem aviso
Desfaça a cara amarrada
Libere ao mundo o seu riso

Não se perca na soberba
Não turve o seu pensamento
Seja em si um ser de amor
Só o amor vence o tempo.

Roberval Paulo



quinta-feira, 2 de julho de 2020

CONTANDO ESTRELAS! - Roberval Paulo


O existir está longe de ser isso que vês
O existir é tudo e não me iludo
Do ópio imaterial
à escuridão do matagal
Da imensidão do ser
à insignificância do ter

Penso, logo existo!
Descartes descarta a carta
Na casta de um mundo real
De um pensar que se desgasta
Se não pensar, inexiste?
Descartes engasga e disfarça

Existir é ser espaço
É ser vento e ser andança
É ser o risco no passo
É ser o passo na dança

Viver é tão perigoso!
Ainda mais quando o vivente
Vivendo a vida se lança
Ao exercício de um tudo
E vestido de esperança
Se vai por aí sem rumo
Rumo ao rumo da distância
Tão distante que aproxima
A velhice da infância

Existir é contar estrelas e delas nada saber
Mas saber, inclusive, que elas nos habitam
Saber que no frigir dos ovos e da própria existência  
Somos mais estrelas que pó
Mais espaço que esfera
Mais trigo que pão de ló

Enfim, mais nuvem do que artérias
Mais espírito que matéria
Mais multidão do que só.

Roberval Paulo

ANGÚSTIAS! - Roberval Paulo


Não sei mais por onde andar
Não sei nem porque cheguei
Meus caminhos caminhei
Por entre serras e mar
Viajei daqui pra lá
O inverso também fiz
Risquei o chão feito giz
No quadro negro do olhar
Sou o ator do meu passar
Não sou triste nem feliz

Feito cordão de enxurrada
Desgovernada e sorrindo
Se arrastando e destruindo
Sou eu abrindo a picada
Um rasgo no “mei” do nada
Sigo formando erosão
Carregando a nação
Viagem desesperada
Tô pra lá da caminhada
E ainda rasgando chão

Minha vida se varia
Quando falo de saudade
Ouço gritos da cidade
No cantar da cotovia
A noite dentro do dia
É complemento do nada
Cravo no peito a espada
Do teu olhar matador
Me acho no teu amor
Te perco na caminhada

São tempos tão conturbados
O que hoje vivenciamos
Não sei nem de quantos anos
Foi de uns tempos para cá
Que a vida foi-se a jorrar
Feito plástico incendiado
Em larvas despedaçado
Segue derretendo o amor
E o fogo do desamor
Brota do espírito queimado

Eu penso por um momento
Que nos desencaminhamos
E que já nos encontramos
É questão de arrumamento
Faço meu teu argumento
Faça o mesmo comigo
Não me aplique castigo
Por capricho ou por amor
Lancemos a Deus clamor
Livrando-nos do inimigo.

Roberval Paulo


terça-feira, 23 de junho de 2020

MUNDO HIDRÁULICO, HIDRÁULICO MUNDO, SE EU ME CHAMASSE RAIMUNDO - Roberval Paulo


'Aqui no sertão se fala é nóis vai, só que quando eu falo nóis vai, nóis vai mermo, num tem conversa nem enrola. Lá os doutor da tecnologia fala nós vamos e a gente fica esperando e eles num sai do lugar".
Analisando o ambiente tecnológico no qual estamos inseridos, rodeados e amparados por um exército de máquinas e aparelhos em detrimento das ações manuais de coração e de humanização tão necessárias à disseminação do amor, recorro a uma “oração” – com o perdão da palavra – que ouvi em um passado não muito distante, lá no interior do meu lugar, dita por um senhor simples, do povo, semianalfabeto, mas de sabedoria a botar no bolso os letrados do imediatismo operado e praticado nos dias atuais.
Em conversa com este senhor, falava-lhe da tecnologia da informação objetivando integra-lo a este ambiente, mas utilizando um vocabulário que fosse por ele alcançado, abrindo mão dos termos americanizados que tomaram de arroubo a nossa cultura e a nossa fala, tornando-se nossos, buscando assim, na minha ingenuidade altruísta, faze-lo melhor e mais facilmente entender o que lhe estava dizendo.
Eis que o sábio senhor me surpreende ao olhar-me dentro dos olhos e dizer-me: “Seu Roberval, estudei muito pouco, só fui na escola pur causa das peia de mãe e foi pouco tempo pois o trabaio num deixava, então aprendi pouco na escola, mas a vida que levei e levo até hoje me ensinou tudo que sei. E esse tudo que sei é tão pouco que as veiz eu penso que num sei é de nada, porque esse negócio de tecnologia eu num alcanço nem dô nutícia.
Aqui no sertão se fala é nóis vai, só que quando eu falo nóis vai, nóis vai mermo, num tem conversa nem enrola. Lá os doutor da tecnologia fala nós vamos e a gente fica esperando e eles num sai do lugar.
Aqui ó, eu vou na cidade, vendo uns 03 ou 05 gado, uns saco de arroz e de farinha e o homi me paga na hora sem vê nada. Mais depois ele vai lá em casa buscar no dia que ele quiser porque ele sabe que é dele, ele comprou e num dá negócio errado ninhum.
Lá na tecnologia os doutor assina documento, o banco assina, cartório assina tamém e vem umas tar de testemunha e fiador pra fiar o que num tem e mermo com esse tanto de trem dá tudo errado. Num paga, dá briga, entra adevogado e o trem fede mais num paga.
Aqui vou na venda de seu Dudim e pego uns trem e ele anota, até umas pinga e cerveja quando tô mei virado das venta. Lá tem é uma caderneta de anotar o que nóis compra, pra lembrar né, senão nem anotava. Meus menino vai lá e pega, minha muié pega e todo mundo lá de casa. Chegando o fim do mês, vendo uns trem lá do sítio, vou na venda e pago tudo e vou pegando tudo que quero de novo e num dá encrenca.
Lá os doutor vai na loja e compra num tar de crediário, cartão, cheque, sei lá o que mais, é tanto jeito de comprar que num sei e depois a loja cobra, o juro corre, quem vendeu briga, quem comprou briga e num paga e dá tudo pra trás.
O pulítico vai na televisão e fala que vai fazer e acontecer, que luta pelo povo e que vai fazer pra nóis o mió, o que for bom. Depois só vê no jornal é disvio, roubo, uma tar de corrupção, o fiio desse comprou fazenda, o fii do outro um carrão grande e caro, já vem outro com dinheiro até nas cueca, onde já se viu? Eles mamando direto e o povo só chupando sem sair nada. Tá tudo de mudado seu Roberval, esse mundo tá trapaiado demais, num sei nem mais o que dizer, tá tudo fora do êxo.
Tem um tar de zap zap nos celular de correr dedo fuxicando mais que língua de sogra. Mais num é da minha sogra não, que minha sogra é muié boa, é da sogra de outros aí. É tanto fuxico nesse zap que só vê muié brigando cum marido, gente largando, famia se acabando e por aí vai. O povo perdeu o tino, tá sem rumo.
A televisão só mostra coisa ruim, é assalto, morte, traição, fome e a miséria cresceno. Umas igreja aí que salvava o povo agora só vê pedindo dinheiro e o povo dano e eu num sei pra onde que vai esse tanto.
O que digo e que boto fé é que quase num sei de nada, mais no mei dos que sabe muito o errado tá correndo solto e num tem quem pegue nem chegue perto..
Aqui nesse fim de mundo onde Deus ainda mora as coisa é diferente. Aqui nóis se baseia é na palavra. É o que nóis tem que mais vale é a palavra. Se o cabra der pra trás no que ele garantiu, tá desmoralizado e o homi desmoralizado perde o valor e a confiança. É um sujeito sem vergonha e tem que viver de cabeça baixa, num dá não.
Esse mundo de hoje tá muito inteligente pra nóis aqui do sertão entender. Pra num incumpridar mais a conversa, esse trem de tecnologia eu num sei pra onde vai nem corretivo dô. Pra mim, aqui com meus botão, esse mundo tá é hidráulico mesmo seu Roberval. Esse mundo tá hidráulico demais, é isso que penso e tiro ciência.”
Boquiaberto fiquei e boquiaberto ainda estou. Recebi uma aula de civilidade e de cidadania. Confesso que me senti envergonhado com tudo que escutei de seu Raimundo. Mas botando fé e tirando ciência – termos do vocabulário de seu Raimundo – ele, que diz quase de nada saber, sabe muito mais do que muitos de nós. Sabe muito mais do que eu e, na sua sabedoria interiorana e sertaneja, fez-me compreender que a honra e a dignidade e ainda a moral são atributos Divinos herdados por nós e por nós devem ser cultivados e mantidos, assegurados, sejam quais forem as situações vivenciadas e enfrentadas.
Enfim, trazendo para o nosso viver a nobre vivência de seu Raimundo, replico: sejam quais forem as circunstâncias, não se corrompas e, em ti, não serás corrompido. Esta foi a lição que recebi de seu Raimundo e busco leva-la para a vida toda.
Roberval Paulo

quarta-feira, 10 de junho de 2020

ESSE INFERNO DE DANTE - Roberval Paulo


Se eu for por aí
Só no espírito de andante
Seguindo a trilha estafante,
Seja ao sul ou seja ao norte
Não importa o destino.
Para seguir seu caminho
Mesmo tentando o alinho
Acautele-se com a sorte

É que o caminho se faz conforme o viajante
E o viajante faz-se conforme o seu caminho
É como que fosse um sendo a extensão do outro
É como se esse outro fosse a redenção do um

E na estrada certa ou no caminhar errante
Terás sim os teus triunfos e também terás fracassos
Terás os seus dias tristes em noites de azul mormaço
É a natureza acolhendo e forjando o seu passante

Se eu me for por aí
Só no espírito de andante
E o sol me bater no peito
E o frio me ser cortante

Serei sempre o caminhante
Indo à cata do final
Seja exposto em campo aberto
Seja em meio ao matagal

Sendo habitante de mar
Ou de uma galáxia distante
Sou uma peça do xadrez
Neste inferno de Dante

Se purgatório... terá?
Se paraíso, não sei?
Só sei e talvez nem sei
Como Sócrates revelou

Ele também se embrenhou
Nessa estrada que é só ida
Que ia saltar da vida
Ele disso já sabia
Mas outra vida, teria?
Eu só sei que nada sei!
Tanto faz, plebeu ou rei
O mesmo começo e fim

Com o agravante, enfim
De nada saber de lá
Mas vai sem pestanejar
Num adianta resistir
Ao futuro tem que ir
Sem saber o que tem lá
É bom se resignar
Aqui é tanto flagelo
No andor ou no chinelo
Vai estar na procissão
O norte é a sua missão
Arvore-se a cumpri-la
Para enfim, no fim da trilha
Descansar seu coração.

Roberval Paulo


terça-feira, 9 de junho de 2020

MARCAS DE LUZ - Roberval Paulo


São marcas de luz que o tempo me deu. Como hoje penso é reflexo desse andar
Como pondero antes de agir e de me posicionar! Quanta paciência carrego em meu ser
O ferreiro segue moldando a peça. A forja é o instrumento e a força um complemento. O fogo é o próprio alimento que molda o molde pensado
O ferreiro, a forja e o fogo são elementos do seu caminhar. Elementos por demais importantes nos dias da sua estrada, mas, pouca atenção lhes damos, pois queremos ser bem mais 
Mas não, não somos. Definitivamente não somos. Somos somente a peça; a peça menor de toda uma engrenagem. Uma engrenagem maior e superior. Engrenagem essa que se intitula vida
Lutar pela vida é razão e a essa luta vamos com todas as nossas forças. Ora triunfando e ora despedaçando o nosso existir que é o nosso coração
Lutar pela vida é bom e, inexoravelmente, espelha o fundamento fundado no sacramento. Um sacramento diáfano, resiliente, transluzente e comprazente da nossa nobre missão
Mas lutar contra a vida é tolice, é estultice. É estupidez pra não dizer burrice; é quimera e solidão
A vida é superior e maior, muito maior. A vida é tudo e é senhora de si. A vida é o ferreiro, a forja, o fogo. E você, ah meu Deus, quem é você?  Quem você pensa que há de ser?
Você é simplesmente e também, singularmente, a peça viva e importante, mas também comum tal como inconstante; a peça menor desse jogo.
Roberval Paulo.
          

terça-feira, 19 de maio de 2020

ALMA-TERRA - Roberval Paulo


A carne da terra
É a terra
E a ela se vai
Toda carne
Carne-terra

O sangue da terra
É a terra
E a ela se vai
Todo sangue
Sangue-terra

A alma da terra
É a vida
E a ela se vai
Toda vida-matéria

E a alma sobe,
de terra
Para alimentá-la do espaço

Alma-terra
Vida que não morre
Luz que nunca se apaga.

Roberval Paulo

SER! EIS A QUESTÃO! - Roberval Paulo


Quero o poder
de não me dobrar
ao poder do dinheiro.
Quero ter dinheiro
mais quero o poder
de ser o seu dono
e não o contrário.
Quero o poder,
            de não ser egoísta,
            de não pensar só em mim.
Quero o poder de tirar do caminho
                        o que me faz mal,
                        o que faz mal à sociedade,
                                   como um todo.
Quero o poder da igualdade,
quero partilhar;
            partilhar idéias, sonhos,
                                   desejos,
                                   vontades;
partilhar o pão
alimento da vida;
partilhar meu sangue
                                   se preciso for.
Quero ser gente; apenas gente.
Quero ser povo
            e ser esperança.                              
Quero um sono tranqüilo
nas noites frias de inverno
e um cobertor de céu
para me aquecer.
Quero uma rede
pra me embalar
e fazer no balanço
                        o balanço da vida,
pra esfriar minha mente;
            e refrescar meu corpo;
            e aliviar meu peito;
            e acalmar meus sonhos
em dias de calor.
Quero ser ponte para unir,
                                   para ligar.
Me ligar com as cidades,
                                   com os povos.
Me ligar com a terra,
                                   com o velho
                                   com o novo.
Me ligar com o mundo,
            com as dores do mundo
            com as coisas boas do mundo.
Me ligar com a vida
que é ligada à morte;
à morte do índio, da branco, do negro;
à morte do cão, do lobo, da ovelha;
à morte do justo; à morte do ímpio;
à morte igual do fraco e do forte.
E continuar a ligar;
            me ligar com você,
            me ligar comigo mesmo
e me ligar com DEUS.
E quero ser fonte,
a fonte incansável,
a correr sem parar,
                        sem se abater;
insaciável, a deslizar
            pela encosta dos montes;
            pelos vales do sol,
                        vales das sombras,
em sua corrida interminável;
levando em seu seio,
                                   apenas água,
                                   límpida água,
que lava tudo
que lava a terra
que lava o pecado
que sacia a sede,
                        a sede do mundo;
Que lava minh’alma
e a sua alma
e as nossas almas, e todas as almas
e nos faz um carinho
e nos leva daqui
a um lugar distante
mais perto dos céus
bem junto de “DEUS”.

Roberval Paulo