sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

OLHOS NOS OLHOS - Roberval Silva


Quando tua mão pesar sobre mim, lhe direi:
Porque tantos anos de infortúnio sobre a terra?
Porque tanta dor se o que buscamos é o amor?
Se me ouvirá, não sei
Se tenho razão, menos sei ainda
Só acho que o que ainda sei é amar.

Quando tua voz me pedir contas do que fiz, lhe perguntarei:
Posso eu também pedir contas de ti?
Podemos conversar, só conversar, sem cobranças?
Podemos nos sentar e nos falarmos como dois amigos?
Não sei se assim pode ser. Menos ainda sei se assim posso agir.
Só acho que o que ainda sei e posso dizer é que eu amo.

Amo a vida que tenho e não sei se me pertence
Amo o ventre que me gerou e me concebeu
                                               e o rebento do qual sou raiz
Amo o patriarca da minha humilde existência e aos irmãos e irmãs
                                               de lastro familiar que me destes
Amo as forças conhecidas da natureza, alimento indispensável para a vida
Amo ainda as forças desconhecidas da natureza, sinais latentes e incessantes do teu poder e glória e amor.

Quando teus olhos me olharem e eu neles perceber
                                               um olhar de interrogação, lhe responderei:
O que queres de mim?
O que queres que eu faça se tudo o que fiz não valeu?
Em que Pátria nos desentendemos? Em que corpo me perdi?
Não sei se me ouvirá. Nem sei se assim posso indagar a ti
Só sei que o que ainda acho que sei é da força do amor.

Da força do amor que tudo pode e é só por ele que se vive
Da força desse amor que se justifica por si só e se qualifica por só ser
Da força do amor transcendente, completo em si, sem complementos, sem acessórios, sem adereços. O amor só pelo amor.
Que este sim, é infinito e não se paga imposto pra amar
Que este, o amor, é o que sinto e está no recôndito mais fundo do meu ser
Alimenta minha alma e só por ele se vence grandes distâncias e  as agruras dos dias
E também sei que só o sinto pela tua suprema e magnânima existência, pois, só matéria e pó como sou, não seria capaz de amar sem o teu sopro de amor infinito.

Quando teus olhos novamente me olharem e apresentarem aos meus olhos o olhar da reprovação, eu... 
me penitenciarei
E lhe direi quanto mais do teu amor ainda resta em mim?
E lhe perguntarei o quanto ainda sou capaz de amar?
E lhe responderei que ainda procuro o que nem sei se é possível achar
E, olhos nos olhos, chorarei
E pedirei perdão pelas minhas faltas
E pedirei perdão por duvidar de ti
E da tua bondade infinita me impregnarei e me agarrarei, me agarrarei à tua mão para não mais soltar.
Me agarrarei à tua mão para reerguer-me e não mais voltar a andar sozinho.

Sei que me perdoarás
Sei que não me abandonarás nunca como jamais abandonou um filho teu.
Aí sim, a luz se acenderá e juntos, juntinhos, lado a lado, caminharemos pela vastidão dessa estrada para não mais nos separarmos.
Dessa estrada que só se caminha, que só se caminha, sem saber onde vai dar
Mas agora, confiante caminho e a eternidade nos espera
Pois já não ando mais sozinho e tenho o amor a me guiar.


Roberval Silva

O PASSAR DESSA VIDA - Roberval Silva



Nem que eu viesse a sofrer todo o fim da dor do mundo,
Não seria nada perto do que sofreu Jesus Cristo
Não seria nem a sombra do que sofreu nosso rei
Pois que todo sofrimento já lhe foi antes prescrito.

Nada lhe foi perguntado se ele assim aceitava
Já nasceu com esse propósito, Ele tinha que cumprir
Deus Pai assim ordenou. Ele, Filho, obedeceu
Carregou a sua cruz, tinha uma estrada a seguir

Estrada essa lavada na dor do seu próprio sangue
Para que fôssemos libertos do pecado original
E nós não nos atentamos “prêsse” tão nobre martírio
Continuamos em nós plantando a raíz do mal

E nesse inferno astral de céu para quem padece
Padecemos por querer, por não querermos amar
Tal qual amou Jesus Cristo, nosso Deus e nosso Pai
Amou tanto que morreu pra humanidade salvar

E a humanidade até hoje não entendeu esse gesto
Não quis amar, não quis paz, se arvorou a ferir
Fere o igual, a si próprio, fere o seu Salvador
E se entende soberana na ilusão do existir

Não sabe esta humanidade que aqui estamos passando
Passar é o que nos cabe... vamos a um outro ninho
E nessa passagem o ingresso pra eternidade alcançar
É o amor, a humildade que dispensar no caminho

Nem que eu viesse a sofrer toda dor... a dor do mundo
Não seria nada perto do amor de Deus por nós
Ele amou de tal maneira o mundo que enviou
O seu filho Jesus Cristo e até o matou por nós

E o matando, libertou a vida no mundo inteiro
E o fez ressuscitar, Deus vivo, subindo ao céu
E a humanidade sem rumo viu a luz do novo mundo
Mas não a quis, desprezou e vive vagando ao léu.


Roberval Silva

DESCAMINHO - Roberval Silva


Tem hora que a estrada fecha
Tem vez que o caminho acaba
É aí que o rio enche
E não tem jeito, deságua
Deságua água no mundo
A quem quer, a quem não quer
E a estrada fechada
Em dilúvio é desmanchada
Indo ao revés do moinho
E o caminho acabado
Se vai assim desaguado
Em outro novo caminho

O caminho que se abre
A estrada que continua
Mas seu humilde passante
Nunca mais será o mesmo
Será um outro do mesmo
Seguindo um outro caminho

E o passante, enluarado
Novo estradar aventura
Ainda mais caminhante
Ainda mais açoitado

Mas nunca mais será o mesmo
Novo caminho em começo
Endireitando-se o avesso
De um caminhar renovado.

Roberval Silva

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

PROVERBIANDO - Roberval Silva


De longe não dá pra se ver o perto
À distância tudo fica pequenino
No vão da noite os gatos são todos pardos
E o ancião reincorpora o seu menino

No passado o presente é o futuro
No presente passado ficou pra trás
No futuro presente e passado foram-se
Sobra o momento que é real e tão fugaz

Devagar dizem que se vai ao longe
O apressado come cru, ouço dizer,
Quem espera, no dizer, sempre alcança
Mais pra chegar onde se quer tem que correr

Diz-se do inconveniente, já vai tarde,
Do agradável, se escuta, fica mais!
Quem se gosta, quando vai, deixa saudade
Ao indesejável, quando vai, não volte mais

Deus ajuda quem parte pela madruga
Mais dormir nunca foi e nem é pecado
De quem viaja só se espera a chegada
Ao que não foi, melhor esperar sentado

Todo ser tem que carregar a cruz
A cruz que é sua ninguém leva pra você
A estrada torta tem a sua parte reta
Tudo o que sobe uma hora vai descer

Só se levanta quem se permite cair
Todas as águas vão se desaguar no mar
O caminhar de qualquer um é bem assim
Subir e descer é o seu aperfeiçoar.


Roberval Silva

O ESTOURO - Roberval Silva


O estouro de uma boiada
Coisa que ninguém entende
Do nada te surpreende
E sai tudo em disparada
Do nada fazem parada
E volta tudo ao normal
Caminhando tudo igual
Parecem até uns anjinhos
Tudo emparelhadinho
Mas deixa um estrago real

Deslocando passo a passo
Seguindo no passo lento
Se butar no enquadramento
Dá medida de compasso
Basta um pequeno mormaço
Já levantam a cabeça
Caso isso aconteça
Se prepare para o estalo
Principiou o disparo
É grande o quebra-cabeça

São tão passivos os bichinhos
Seguem pastando contentes
Se vão subservientes
Pelas trilhas do caminho
Uma juriti sai do ninho
O anum dá seu piado
Um graveto espedaçado
Anúncio do alvoroço
Vira um angu de caroço
De cascos em burburinho

Lá vai andando a boiada
Feito cobra rastejando
Lentamente vão pastando
Na paisagem estiada
Uma baladeira armada
A pedra parte certeira
Um menino lá da feira
Botou a feira em perigo
Parece até um castigo
Na feira tudo é carreira

Do jeito que começaram
Pararam sem ter por que
Nem cansaram de correr
Ao passo lento voltaram
O estrago que causaram
É prejuízo medonho
Na venda de seu Totonho
Não ficou um item em pé
Dona Mercês diz, pois é
Eita vaqueiro bisonho!


Roberval Silva

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

LUZ DO INDECIFRÁVEL - Roberval Silva


Paredes de vento e concreto
Dor e prazer, agonia
Vida e morte, todo dia
Amor, paixão e desejo
A natureza do beijo
Autofágica sinergia
Florescer da anatomia
Carnes, e partes e formas
Momento, tempo presente
Cimento, sólido tear
Chão, vulcão e passamento
Rebentos, ondas geladas
Sensações desenfreadas
Química, corações e velas
Degelo, solar-lunar
Átomos das cores mais belas
O metafísico eclipse
Na geografia dos corpos
Mistério, chaves, segredos
Passíveis de desenredo
Sangue, nervos e magia
Explosão, disritmia
Possível punhal do tempo
Abismo de nostalgia
Bocas úmidas, gritos roucos
Labirinto de vontades
Revelando o inconsciente
Na luz do indecifrável.


Roberval Silva

DA GERAL - Roberval Silva


DA GERAL, observo a vida passar por mim na direção do desconhecido e me posiciono como se fosse um imã para que a vida possa em mim grudar e não mais fugir.

E assim, encho-me e recheio-me de vida, seguindo com ela a estrada da luz à procura da morte que, viva, me pede perdão e se esgueirando feito cachorro vadio, grita por socorro ao se entender morta.

Eu, vivo, observo tudo em silêncio e não posso disfarçar uma lágrima clara e fria que escorre pela minha face ao compreender que o grande segredo da existência é o que inexiste e a porta de saída para a próxima vida é o encontro com ela: a mãe que a todos acolhe e a ninguém rejeita.

Meus pensamentos caminham desordenados e inquietos pelos labirintos do medo e transportam meu ser à legião de um sonhar desesperado, sabendo esse desespero ser a esperança em sua mais perfeita tradução, pois que a vida ainda está por aqui e, DA GERAL, ainda observo a passar por mim o cortejo fúnebre que ora vivia e que segue ao destino do fim que é, e será, nada mais, nada menos, o começo de tudo.


Roberval Silva

PERDEMOS A BATALHA - Roberval Silva


As famílias choram e as lágrimas e gritos se espalham e se perdem, sem ser ouvidos, na insensatez e insensibilidade desumanizada de uma sociedade sem norte.

A dor não cicatriza e se sente mais e mais a cada dia, sem alcançar o porque, a razão; o motivo do nascer sem cura.

O que era família já não mais se vê nem se sabe. Os valores se perderam no precipício do que um dia foi princípio...

A ética e a moral só um pouco ainda existem, bem pouco, e o egoísmo e a ambição, associados à individualização do ser, hoje falam por si só ou pelo seu grupo de iguais, agrupando-se pelas conveniências do lucrar mais em detrimento do que um dia foi a classe humilde, mas abastada, que, mesmo habitando o lado esquerdo da moeda, tinham o seu valor, pois a dignidade mantinha-se no exercício do seu auto e garantido sustentar.

Hoje não mais. O que foi família já não se vê. Os valores se foram na evolução imaterial, revertida na agregação e adição surtada da razão à emoção do material, que, se agiganta em importância nas relações que já foram de amor, transformadas hoje em mero comércio no objetivo seco e bruto do quem ganha mais.

O capital é a razão de ser da nossa inescrupulosa e irracional sociedade. Ele se faz “nobre” e único objetivo e meta nas mãos dos amantes da ambição e do egoísmo e, nesta matemática do ter que só opera a soma e a multiplicação, a parte mais frágil da sociedade, em tão maior número, vem a cada dia sendo subtraída e  subtraindo-se, exercendo e executando, à força de sangue e dor, a divisão do que há muito se fez indivisível.

A batalha está perdida. O Socialismo que um dia sonhou socializar o mundo, dis-socializou-se. Saiu de cena antes de se apresentar e por isso, não foi entendido. Em sua primeira versão, antes de se aperfeiçoar, foi tolhido em suas ideias e tragado pelo trator negro e valorado materialmente do extemporâneo capitalismo que não considera e nem respeita nem tempo e lugar, muito menos vida e gente.

A batalha se perdeu e as sociedades perecem vítimas do seu próprio desamor para com o seu igual e vencidas pelo maligno e insensível existir do ouro e do poder, e, por consequência, pela inteligência humana que se faz insana quando o assunto é ter e acumular e... sempre ter mais.

A razão está devidamente comprometida e perdida e a emoção responde pela sandice e imundície que somos.

Sandice e imundície que somos enquanto sociedade criada à imagem e semelhança de Deus.

E que Ele, DEUS, nos perdoe, se houver perdão.

Roberval Silva

domingo, 17 de fevereiro de 2019

EU METAFÍSICO SER - Roberval Silva


Acordara mais cedo naquele fatídico dia. Ainda meio sonolento, me peguei respondendo a mim antes mesmo de proferir-me qualquer pergunta. Era de costume, ao acordar, sentar-me à cama, procedendo à primeira oração do dia; aquela oração do desejo de bom dia ao mundo, aprendida ainda no tempo de criança pela insistência e persistência de minha mãe, para que levássemos para toda a vida esse encontro com Deus no abrir dos olhos.

Naquele dia, o sobressalto veio-me primeiro e a tão tradicional e necessária oração da manhã não foi proferida. Tudo estava diferente. Parecia-me até que era o tempo mergulhado em um novo tempo, uma nova era. Tudo era novo, apesar da velhice do mundo. Até eu carregava sintomas de ser outro habitando em mim.

Faltou-me a coragem de levantar, sentia-me indisposto. A cabeça frívola, mas o corpo dormente ansiava por mais repouso. Tornei a deitar-me e no fechar dos olhos viajei. Sonhei transpondo um ambiente até então de mim desconhecido, mas que me atraía feito o beijo da mulher amada e impulsionava-me para o certo e misterioso encontro que eu sabia que tinha que acontecer, porém sem a eu ser revelado o que seria.

Era quase um caminhar para o desconhecido, sabendo dos riscos, do perigo existente e iminente, da possibilidade do não poder voltar, mas, indo em frente, sem temor, tal era a atração exercida em mim por aquela realidade sonhada. Realidade sim, porque, mesmo em sonho, esta se mostrava a mim mais real do que o meu existir. Bem mais real do que a água dos olhos. Ainda mais real que o amor da mãe pelo filho.

Fui tão longe nesse sonho que temi não mais encontrar o caminho da volta. Cruzei montanhas e vales que de tão belos pareciam miragens.  Era tudo, na verdade, um sonho, mais a paisagem, essa sim era real e o orvalho da manhã molhava meus pés e olhos, eriçando os meus pelos e causando arrepios até na alma.

Meu espírito deu saltos de alegria e medo e a alma retornou ao corpo, vívida e ávida de amor, alegrando meu ser que despertava a sorrir, dando-me a impressão e sensação e o próprio sentimento do alto conhecimento. Era como se fosse a chegada de um novo eu apresentando-se a mim antes mesmo de conhecer-me.

Eu me sorri ao despertar e levantei-me outro, mesmo sendo somente eu ali diante do espelho.  Pensei e mais pensei e concluí que era o outro do eu de mim que acabava de completar o meu existir. Sorri para os dois de mim que era eu só; somente eu. Não queira entender, pois acho que nem eu mesmo entendo.

Mas é assim, está sendo assim e lá me vou eu pela estrada, sendo muito mais do que eu só. Sendo tantos, muito mais do que dois que agora vivem em mim, tornando-me um múltiplo ser que vem me revelar o novo, e, inexoravelmente, a manter e fortalecer a minha singularidade.

Roberval Silva



QUASE UM EPITÁFIO, UFA! - Roberval Silva


Passa por mim o vento com açoites
No meu ser;
É o único a me sorrir ao me despir por inteiro
Me despir dos sonhos que ora já não mais sonho
Da luz que não mais clareia
O meu andar peregrino.

Passa por mim o verde que um dia foi esperança
Uma esperança morta que se fez viva de dor
Da dor de não poder nem mesmo sentir dor
Da dor de não doer o sacrossanto mistério do amor
A lâmina fina que talha o íntimo da alma
A alma indolor.

Passa por mim o sonho
A insônia da surrealidade
Meu espírito ardendo em febre
Meus dias corroídos pela dor social
Pela sede insaciável
Pelo ser desvirtuado
Pelo ter exacerbado
Pelo azeite intragável
Pela luz que já pagou o seu doce brilho frágil.

Passa por mim a vida
Passa por mim o seguir
Passa por mim o partir
Que a morte não que nem saber de ti.


Roberval Silva

sábado, 16 de fevereiro de 2019

O CONTRADITÓRIO - Roberval Silva


Um dia e noite de luz que me faz sorrir e chorar mesmo que não possa fazer o sol brilhar e a lua expandir seus raios pelas pradarias e colinas que azulam a vida e o mar de seus olhos que me ferem a alma qual faca virtual em ser iluminado e não palpável 

venho sorrir-te e abrilhantar meus dias com os pensamentos envoltos em ti que pensar é sonhar e sonhar é ter conseguir realizar  querer   achar se deleitar em teus beijos mãos e corpo e horizonte 

viajar voar sem ter os pés ao chão mas seguro pela tua mão que me enlaça e me faz homem voltando à terra pós viagem mais alucinante de prazer e glória de ser e de estar realizado 

solto e preso em nós que somos um mais que dois três dez mil e uma forma de amar e cantar zelar cuidar que o nada floresça e seja tudo de nós em todos e ainda assim me seja fonte de lua e estrelas 

cachoeira de sonhos em regato de verde esperança e encantos prazeres mil folhagem espessa abrigo ninho de amor você e eu e o sol violeta de cor e beija-flor beija rosa morena açucena qual amanhecer serena paz fugaz 

pelo ar revirar envaidecer desaparecer e tornar transparente pungente brisa serena alvura brancura açoitando o peito rasgado punhal de gelo em noite quente indulgente suar transpirar o frio sol de junho 

pólo sul e norte norteando o trópico do meu sentimento em cristal de fino trato frágil caído quebrado esfacelado na incompreensão do ente amado desejado mais que pura água cristalina 

cristalino ser banhado de lua irmão irmã alma gêmea e um servir mais amor que senhor pedaço de mim esculpido em um dia que me faz sorrir e chorar e o sol brilhar 

e a lua expandir seus raios azulando nossas vidas atadas somadas divididas lançadas ao mar e mundo de um existir mais nuvem-luz que fosco-alvorecer.


Roberval Silva

VAGUEANDO POR MINHA ESTRADA - Roberval Silva


Nas letras e livros que passaram pela minha estrada, 
vi a força do tempo, e, através deste, 
letra após letra, feito tijolo, 
fui construindo meu caminho... 
e minha história.

E aqui estou, degrau por degrau, 
galgando a escada do saber e da vida
Que tão grande é para tão pequeno ser. Mas, 
possível de escalar
Quando se tem na mão, os livros
E as letras, na mente
E na mente, o sonho
E o sonho em DEUS.

Hoje, mais do que nunca, 
compreendo a existência de uma força maior... 
Superior.
Sei que essa força me ajudou 
a seguir por este caminho.

O caminho do saber
O caminho do ser e não do ter
O caminho que me abrirá portas e janelas
Trazendo-me à luz dias mais claros e mais justos.

Roberval Silva

CONEXÕES - Roberval Silva


O mistério da noite está na sua cor
A cor que na cor do dia se encarna
E o dia chega à noite e se desgarra
Derramado outra vez na sua própria cor
Devolvido outra vez à sua própria dor

O rio corre lento e deslumbrante
Pois a pressa já o levou a derramar
Agora o seu derrame é só no mar
Citadino ou campesino é o seu fim
E o mar é só o começo de mim

O vento vai sereno e desordeiro     
O tempo comedido segue atrás
O tempo passa e o vento se refaz
Cansou de se espalhar em desatino
Vai na trilha que cumpre o seu destino.


Roberval Silva

AS AVESSAS - Roberval Silva


Ando assim pela cidade
Construindo o meu caminho
Meus passos em desalinho
Que quase inaudíveis são
Vou sorrindo pra humildade
Do meu pobre coração

Como este é inocente
Leva a missão da semente
A graça na ingratidão
De quem dá e não recebe
E da semente faz fruto
E vai se vestindo em luto
Pra alimentar seu irmão
Da ida nem se apercebe

Veja bem como é o destino
Como é a vida da gente
Que no porvir da semente
Vai viver de solidão
Luta pela ilusão
De se agarrar ao seu ninho
De se prender no caminho
De colher o que plantou
Mais a maldade gritou
Remexendo o sal da terra
Não é quem planta quem colhe
Quem ama também faz guerra.

Ando assim pela cidade
Construindo o meu caminho
Meus passos em desalinho
Que quase inaudíveis são
Vivendo a realidade
Do meu nobre coração.


Roberval Silva

ANDANÇAS - Roberval Silva


Fiz de quase tudo um pouco
Quase tudo do que eu quis
Ao escolher ser feliz
Disseram-me: és um louco
Olhei e fiz olhos moucos           
Caminhei pro meu destino
Levei a poção menino
Fortalecendo a esperança
Nas curvas da minha andança
Fiz da alegria o meu hino

Me fiz na canção da estrada
Fui o burro do oleiro
Fui meu próprio candieiro
Capitão da minha armada
Na abóbada borrada
Vi disforme a pradaria
E o rio que me seguia
Alinhava o meu caminho
Nutria o meu pergaminho
Escrito dia após dia

Compartilhei pela vida
Muito do que recebi
Pois recebendo entendi
O que vem tem que ter ida
A minha bandeira erguida
Meu cavalo marchador
O meu cão farejador
Minha donzela a esperar
Posso eu até falhar
Mas não por falta de amor

Ando ávido por amar
Até o amor que não tive
Aquele amor que se vive
Só pra com ele encontrar
Sem saber onde vai estar
Sem saber mesmo se existe
Sem saber porque persiste
Mas persiste sem ter conta
É tanto amor que desmonta
O amor que ao amor resiste

Caminhei por entre flores
Pisei em pedras e espinhos
Desaninhei do meu ninho
Pra repor as minhas cores
No teatro dos horrores
Eu fui a representar
Ao ver o sol clarear
Eu desvestido de mim
Vencia as dores assim
Repensando meu pensar

A dor me veio, chorei
Quando alegria, sorri
Era pra ir, eu parti
Fim da estrada, cheguei
Noite e dia caminhei
Era o tempo de andar
Se foi vai ter que voltar
A vida é de ida e vinda
É que a jornada se finda
Pra de novo começar.

Roberval Silva

DIAS CINZENTOS - Roberval Silva


                                                                  O sol há de brilhar mais uma vez...

Meu olhar cinzento se engasga na lonjura do nada
A noite desce amarga qual notícia trágica de jornal
Mas amada, muito amada!
É ela que me cura da cura incurável
A incurável cura de misturar metafísica e sonho
De pendular entre realidade e abstração

Tô cansado do caminho que não fiz
Aquele caminho que só pensando se chega
O ser em viagem mística e cigana
Transpondo barreiras do cosmos
Os pés cravados no verde
O verde no mar
O mar dos teus olhos
Teus olhos de mar!

A noite me conta segredos
Segredos guardados em dias que estão por vir
Meu desafio tem meu nome
Esta guerra presa em mim
Sou eu batalhando em Stalingrado
Resistindo pra nessa guerra por fim

O copo que me assiste me sorri
Entrego-me ao seu convite
Trago narcisista, quase fascista
Altruísta, insaciável
Whisky abranda até torpor
Não sou alheio à dor

Da janela a noite vai se dissipando
Reluto ao primeiro raio da manhã
Me encontro na última estação de mim
Onde desapeio sem ter chegado ao fim
A aragem me saúda no seu passar
E me diz do sol que há de brilhar mais uma vez

Dia novo, sou novo
Sou outro, mas continuo em mim
É o despertar de um quase sonho
É o real que de mim quis desistir.

Roberval Paulo

ENSAIOS - Roberval Silva


  • ENSAIO 1


FELICIDADE

Ser feliz é cantar na solidão
Encontrar a razão de ser sozinho
O perfume da rosa tem espinho
Tudo aquilo que sobe volta ao chão
Ser feliz é andar na contramão
Desfrutar da beleza do universo
Ser feliz é cantar em prosa e verso
Recriar a ilusão no dia a dia
Refletir na tristeza e na alegria
Preterir a razão ao coração

  • ENSAIO 2

O BEIJO

Um instante mágico revela
Se o mundo acabar, nem te ligo
É que beijo, tem o proibido
Um que é pecado, outro que revela
Tem um que desperta alibido
Faz girar quem está firme no chão
Faz o homem andar na contramão
A mulher esquecer os seus pudores
Enche o peito e a alma de amores
E a razão abandona o coração.

  • ENSAIO 3

DOCE AMARGO

Era tanto amor
Difícil de entender
Qual sonho de luar
Na linha azul do mar
A se doar e perder

Fogueira de paixões
Explosão de desejos
Uma lágrima a rolar
Na pele alva a corar
Um doce e amargo beijo.


Roberval Silva