Um blog que se propõe a lhe atender meu querido leitor. Acesse sem receio, leia tudo, cure seus medos, reflita e siga em paz. Que os seus caminhos encontrem a saída e que esta porta lhe transporte à essência do insinuante e insondável sentimento do ser... Roberval Paulo
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
sexta-feira, 18 de outubro de 2019
VIDA! - Roberval Paulo
É assim, não se explica.
Nascer, viver e ser somente e
nada mais.
Os dias chegam como se só
vidas trouxessem e vão-se em noites de sonhos por terminar.
A manhã rejuvenesce; a cada
manhã sou mais velho.
O vento virgem da manhã torna
mais velho quem por ele passa.
É que a manhã traz vida nova ao
mesmo tempo em que envelhece vidas já dormidas.
Os destinos se confundem nas
tantas encruzilhadas e confluências do ser e do existir.
A vida, por si só, segue em
frente e não se individualiza.
Vive de si mesma e não
retrocede nunca.
Vive de si mesma, descompromissada
e livre e além das comprovações científicas, porque a vida vive para todo o sempre – viva – superior a tudo e a todos.
O resto é sobra, e nada, e
morte, e inexplicável.
Inexplicável também o é, a
vida, mas,
porque abraçá-la com
suspeitas e dúvidas,
se o que vale é viver?
É acaso o dia maior que a
noite?
Será a ciência a contraprova
da fé? Ou vice e versa?
Não é só pelo milagre da vida
que é permitido à ciência, existir?
Como por em dúvida a sua
própria existência?
A vida vem da vida e traz em
seu bojo, a morte.
Dualidade existencial e
essencial.
Nascer e morrer. É a lei.
Nascer, viver e morrer, eis a
lei e nos basta.
E tudo o mais é especulação.
Vida que segue sem
explicação.
Para todo o sempre. Amém!
E que a terra nos seja leve.
Roberval Paulo
NOSSA DURA REALIDADE - Roberval Paulo
É
como se a máxima do cada um por si consolidasse-se ainda mais com a evolução
dos tempos e o Deus por todos permaneça só no sonhar surreal dos mais humildes
e menos favorecidos nesta seleta maratona da sobrevivência digna protagonizada
pelo capital – celebridade em alta – e pelos governos que vêem no capital o
parceiro certo e insubstituível para a desigual acumulação material e a
consequente produção e manutenção do produto miséria no percentual maior da
população, produzida exatamente, premeditadamente e deliberadamente para
alimentar o podre e inescrupuloso sistema que tem como combustível para o seu
ambiente de luxúrias e prazeres, a fome, a dor da fome e da humilhação de pais,
e mães, e filhos e filhas ainda puros, espalhados por esta imensidão de terras
sem fim de Áfricas e Américas, em quantitativos que não se conta, que mais
parecem estrelas que perderam o seu brilho para o brilho maléfico de umas
poucas “estrelas” egoístas que querem para si o tudo do nada, até que o nada
nem pelo nada seja mais sentido. Até que o nada nem pelo nada seja mais
divisível.
“Estrelas”
estas que já não habitam o céu; estrelas que habitam o inferno, se é que este
existe, porém, sem demônios; um inferno só de vidas a se acabar pelo completo
abandono de quem um dia pensava herdar um céu de verdade.
A
nossa realidade não é de luz.
Como
enxergar luz em inocentes filhos cadavéricos sugando o seio cadavérico de mãe
cadavérica que jaz morta e ainda se sustenta de pé pela vida morta que trás ao
seio para alimentar com a teimosa vida que tem dentro de si nas gotas mirradas
do seu leite?
Como
ver brilho nos olhos inocentes de milhões de crianças que em carne e osso
choram a humilhação da fome e do descaso e só desejam um naco de pão e leite
para fazerem a alegria dos seus desesperados e impotentes pais e para
sustentarem a vida que não pediram pra ser?
Como
ainda se iluminar com a deterioração da instituição família que, hoje,
desprovida dos seus valores morais, espirituais, de respeito, de caráter e até
mesmo de razão, caminha desordenada e desorquestrada para o ambiente “seguro”
do ter, perdendo nesta terrível caminhada a razão consciente do ser?
Como
enfim dizer que há luz neste mundo desigual onde impera a violência, onde se
perdem as crenças e assim recriam outras crenças mais que sempre as novas
crenças são só dons de acumular riquezas e mais riquezas materiais, só
materiais, e em pouquíssimas mãos em detrimento de uma enorme maioria a quem só
sobram migalhas pra seus sonhos suportarem e suportam; e se suportam só com sonhos
que com o tempo se vão a definhar, pois que sonhos não alimentam estômagos e
sem estes tão necessários alimentos se vão gerações inteiras, sem sonhos,
desencantar?
O
mundo é desigual; o mundo é desumano. A vida é desumana, mas não precisava
tanto. Que todo ser existente e vivente tivesse, simplesmente, sua dignidade e
sobrevivência asseguradas e que o justo fosse a diretriz primeira de governos e
cidadãos e até mesmo desse capital egoísta que não tem vida própria, mas que
vive na pobre vida daqueles que se entendem e se pensam vivos e ricos, não
sabendo estes que a riqueza de espírito e de alma é superior e esta não
perecerá, enquanto que a riqueza material passará e voltará ao nada de onde se
originou, e aí, nada mais existirá a não ser o espírito, o espírito puro e
livre das tentações materiais.
Estes,
os humildes de alma e de coração, herdarão a eternidade, a vida eterna e,
aqueles, aqueles que nesta passagem cultivaram o ter já não mais serão, como
nada mais saberão de si. Serão fadados e condenados ao fim eterno que não se
sabe inferno ou se panela de ferro, mas que será com certeza de tribulações sem
fim.
Roberval
Paulo
CAOS - Roberval Paulo
Estou
por aí, na sombra nebulosa da noite, à espera do grito, do sinal, do chicote no
açoite do braço. Do tiro perdido, sem alvo, a qualquer alvo, ferindo o peito já
ferido e maltratado, amordaçado, desesperançado e desolado, esquecido no beco
de uma lembrança apagada. Sem rosto, sem página, sem a história dos dias
passados. Futuro incerto, apontado como imprevisível, um tiro no escuro; o
momento seguinte totalmente desconhecido.
Do presente, só o presente, sem embalagem e sem laço de fita. Só a dor
da dor vivida e sentida, o sangue agitado nas veias a escorrer pelo horizonte
dos olhos. Animal abatido num tiro certeiro, animal racional que, pela
irracionalidade social, irracionaliza-se, desnacionaliza-se, e, se perde o
sonho rendendo-se à dura realidade, traindo a consciência, perdendo a razão,
arquivando as conseqüências e o conceito de legalidade.
Pra
suportar, sem opção, só com a cabeça feita e, se faz a cabeça. Consome, se
consumindo. Ingere, injeta, compartilhando tudo. Amizade inconsciente, risco
inerente; gotas e partículas de morte à prestação, só apressando, antecipando o
que já está decidido, escrito nos anais das sociedades. Veredicto social, fatalidade
da existência, a morte. Afinal, todos cairão. Coragem irresponsável, covarde, coragem
em mim sem ser minha, alimentada pela hipocrisia, pelo descaso.
E
eu, sem forças, me rendo, dominado, corrompido. Bicho alienado, fera acuada. Indignado
e sem dignidade. Sem direitos, contado para morrer. O que fazer? Aceito
passivamente, porém, revido, agrido, matando o que em mim morreu, roubando o
que de mim roubaram. É o estágio da decomposição, sem recompensa, assediado por
uma falência múltipla de sentimentos. Incongruente, ferindo pela ferida enraizada
n’alma, plantada pela Lei do Sistema. Sistema posto, imposto, regado livremente
sobre espontânea pressão, opressão, repressão, depressão geral, embrutecido
pela demagogia, mantido pela lei do mais forte. Insanidade da sandice dos
sádicos que endeusados de poder, pelo poder, acreditam na vida só aqui.
Ledo
engano. O processo está sendo montado, a sentença será proclamada. Réu, diante
do juiz, sem advogado de defesa, só acusações. O direito à defesa prescrito, findo
no último dia de vida aqui. Agora é tarde, muito tarde, demasiadamente tarde. O
martelo será batido: “condenado, à revelia, sem recurso”. E a pena será
cumprida eternamente, e, todos os anos irracionalizados, desnacionalizados sobre
a terra será nada frente ao que virá, posto que tudo debaixo do sol passa. Aqui
é só o prenúncio, o prefácio do livro do tempo para a vida eterna, onde um só
dia equivalerá aos cem anos aqui passados. Onde a dor ou o gozo serão eternos,
resultados do balanço sobre os atos aqui praticados.
Roberval Paulo
terça-feira, 15 de outubro de 2019
EXALTAÇÃO - Roberval Paulo
Ah!
Se eu fosse solteiro
E
ela também
Se
ela me olhasse
E
eu a ela também
Se
ela me quisesse
E
eu a quisesse
Se
ela me amasse
E
me desejasse
Eu
voar voaria
E
no espaço infindo
Meu
grito seria
Em
tua devoção
E
por me quereres
Eu
querê-la-ia
E
um oásis seria
Em
pleno deserto
Amor
certo! Decerto
Serias
uma flor
Do
mais puro amor
Em
meio ao jardim
Serias
enfim
A
noite morrendo
O
dia nascendo
No
meu coração
Teus
olhos dizendo
Amo-te
amor meu
Era
você e eu
E
o mundo lá fora
O
amor de agora
Seria
pra sempre
Serias meu mundo
E
eu tua canção.
Roberval Paulo
A ÚLTIMA PARAGEM - Roberval Paulo
Eu
sou do oco do mundo
Onde
a curva não se encurva
Onde
a curva passa reto
E
chega a lugar algum
Aonde
o lugar comum
Não
é comum, é nenhum
Feito
de dois menos um
Que
é quase nada, é zero
Perto
do poder de Nero
Aquele que já foi rei
Juntinho
de João Ninguém
Que
se existe nem sei
Sou
eu a última paragem
Sendo
a primeira estiagem
De
um sertão esturricado
Mas
que logo fica verde
Eu
esticado na rede
Contemplando
o chão amado
Mas
passa o tempo da água
Na
estranheza da mágoa
Sou
eu o fogo do céu
Sou
labareda acesa
Sou
o brinco da princesa
Sou
giro de carrossel
E
passa o tempo da água
Na
amplitude da lágrima
Sou
eu o fogo do céu
Sou
o começo da vida
Sou
o final da corrida
Sou
a abelha e seu mel.
Roberval Paulo
segunda-feira, 14 de outubro de 2019
NOVO PROGRAMA DE VIDA - Roberval Paulo
É necessário! É urgente! Precisamos nos mexer!
É preciso incutir mesmo no meio da gente a solidariedade.
Não a solidariedade de mídia, da mídia, da televisão.
Aquela que mais mostra e se pré-paga do que beneficia.
Aquela que muito vende e quase nada se compra.
Que comercializa os produtos pobreza e miséria e não se solidariza com
estes.
É urgente uma nova postura; um novo conceito social.
É de urgência urgentíssima o estabelecimento e estruturação de um novo programa
de vida.
Um novo programa de vida que conceitue a sociedade como um todo, digna
de um tratamento igualitário pelos governos e por esta mesma sociedade.
Um novo programa de vida que nos faça dar a nós mesmos,
o respeito que merecemos e que tanto almejamos e necessitamos.
Um novo norte, novo horizonte, novo caminho.
Uma nova visão e uma nova postura.
Um novo ainda mais novo do que o novo que envelheceu em nós.
Um novo que amanheça a paz, a justiça, a solidariedade e a dignidade.
O novo que nos foi apresentado pela boa nova de Cristo, e que
nós,
envelhecidos de novo em velhos e novos conceitos
e seduzidos pela força do material,
fomos espiritualmente a envelhecer.
O novo que nos traga de novo
o amor ao próximo e a Deus sobre todas as coisas
O novo
que possa se renovar
a cada manhã
no amor de Cristo!
Roberval Paulo
SEMEAR SONHOS É CATAR ESPERANÇAS
Semeei
onde passei um sonho de amanhecer
E
fui plantando esperança para torna-lo real
Real de acontecer mais não de realizar
Mais sim tão esperançoso de quase ser irreal
Na
minha semeadura resignei-me fielmente
De
tudo que semeei a mim eu não fui atento
E
no vento caminhante lancei a faca dos dentes
Desarmei-me
e textualmente fui crescendo desatento
Enveredei-me
um dia pela razão do querer
E
pude me aperceber revolto com a existência
Exercitei
meu querer na busca daquele sonho
Contemplei-me
e vivenciei o nascer de um novo ser
E
desafiando o poder que matou minha inocência
O
teu encontro contigo não exijo, mas proponho.
Roberval Paulo
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
A NOITE, MINHA AMADA! - Roberval Paulo
Tô aqui, eu e a noite,
minha silenciosa companheira
minha silenciosa companheira
sorrindo comigo e dizendo-me:
pode ir que eu te guio
pode ir que eu te guio
pelos caminhos ocultos e escuros
para que os outros não vejam o teu
pensar.
E eu sigo, tranquilo e confiante,
noite afora, de bar em bar,
noite afora, de bar em bar,
de boca em boca,
de beijo em beijo,
vivendo o que me é propiciado
de beijo em beijo,
vivendo o que me é propiciado
pela minha terna e envolvente
companheira,
a noite.
a noite.
E, no amanhecer de uma nova ordem,
tudo se encerra
tudo se encerra
e nos recolhemos
extasiados e saciados,
mas, felizes,
extasiados e saciados,
mas, felizes,
eu e ela,
ao nosso leito manso
sereno e confortante
ao nosso leito manso
sereno e confortante
para, juntos,
recompormos as energias libertadas,
recompormos as energias libertadas,
fortalecendo-nos para a próxima
jornada
que se inicia
que se inicia
ao anoitecer do próximo dia,
onde os sonhos se fundem
onde os sonhos se fundem
com a dura e cruel, mas,
ao mesmo tempo,
doce e meiga realidade.
ao mesmo tempo,
doce e meiga realidade.
Roberval Paulo
terça-feira, 24 de setembro de 2019
RECONSTRUÇÃO - Roberval Paulo
O
que é a vida
Senão
um passar sem fim
E
o fim de cada um nascendo bem logo ali
O
que é essa vida
Senão
um caminhar sem folgar
E
o destino bem ali na esquina a lhe espreitar
Você
segue escolhendo o seu caminho
E
quando o tempo se perde
E
você se descaminha no vão da estrada errante
Quer
voltar mais já não pode
Quer
corrigir mais deu bode
O
jeito é seguir em frente mesmo errado e cortante
Então
siga e siga de passo largo
Provando
o doce e o amargo
Até
encontrar pelo caminho
Um
santo, um anjo, um passarinho
Que
não lhe faça embargo
E que
lhe agasalhe um ninho
Pra
sua alma repousar
O
seu corpo descansar
E
as forças recuperar
Para
depois renovado
De
corpo e alma lavados
Reconstruir
seu caminho.
Roberval Paulo
EU FUGITIVO DE MIM - Roberval Paulo
Vou me lembrar um dia
ainda que eu não recorde
a saga de quem eu fui
antes mesmo de existir
É porque, reeditando-me
nunca soube quem eu
ser
E ainda que seja eu
é como se
eu não fosse
E mesmo sem conhecer-me
vou querer
saber de mim
E ao som e suor dos meus passos
Encharcar-me-ei de vida
Vou querer saber porque
eu
penso que já sou outro
E quando assim me reporto
é
porque já tô perdido
E no mundo em que eu vivi
no
tempo não prometido
Eu me enganava comigo
pensando ser eu o novo
Mas não era, era um outro
que
existia em mim
Numa confusão de dúvidas
duvidando a identidade
Identificando o ser
de não
ser uma verdade
E em ser e parecer fugi de mim sem ser visto
Fugindo eu próprio me vi
Encaixando-me em mim
Não foi tão ruim assim
Era quase um dé-jà-vu
Porque fugindo de mim
Encontrei-me bem ali
Fiz o caminhar da vida
Tão doce feito pudim
Os meus passos, meu olhar
Minha casa, meu manjar
Meu corpo, meu paladar
Tinham cheiro de jasmim
Deitar-me-ei no jardim
Verei a vida passar
Eu comigo a contemplar
O eu do outro de mim
E o universo a exalar
Um aroma de alecrim.
Roberval Paulo
quarta-feira, 28 de agosto de 2019
PARTILHA! - Roberval Paulo
Partilhar tudo!
Partilhar ainda até o que eu
não tenho.
Partilho assim minha alma que
é minha,
Mas que, pelo mistério da
vida ou talvez pelo enigma
do Apocalipse, não me
pertence.
Partilho meus sonhos e meus
dias, indiscriminadamente.
Partilho eu todo e não sei em
qual parte me encontro por inteiro.
Sou pedaços, partículas de um
bem maior que ainda desconheço, mas que habita em mim
e me faz olhar todos com o
mesmo olhar, sem a discriminação e o desprezo dos olhos
"capitalistas".
Sou Nação antes de ser
país;
Sou a Justiça antes do
direito;
Sou a paz no meio da guerra,
querendo ser ouvida;
Sou o Ser antes do ter,
considerando e conciliando o diferente na equação da igualdade.
Sou Igreja "Povo"
antes da religião.
Sou Deus antes de todos nós.
Sou Coração e que a razão não
nos negue a paz.
Roberval
Paulo
quinta-feira, 22 de agosto de 2019
SEGUNDOS! - Roberval Paulo
A vida é somente um sopro
Repense o seu pensar
Renove sua atitude
Dê graça ao seu caminhar
Semeie por onde for
Carinho, amor, harmonia
Dê por graça o seu sorriso
Promoção de alegria
É tudo tão passageiro
Tudo chega sem aviso
Desfaça a cara amarrada
Libere ao mundo o seu riso
Não se perca na soberba
Não turve o seu pensamento
Seja em si um ser de amor
Só o amor vence o tempo.
Roberval Paulo
A POESIA - Roberval Paulo
A poesia é tudo belo
Não fosse bela a poesia
Seria belo o poema
Da noite no dia a dia
A treva se irradiando
Em luz na mais longa via
Via de destino torto
Que se endireita arredia
Que se endireita entortando
Alinhavando a poesia
A poesia é feito chama
Que aquece a bola do dia
Que embola o frio da noite
E acende a luz da magia
Respinga estrelas no céu
Faz luzir quem não luzia
Faz da cinza um fogaréu
Brilha a lua ao meio dia
Vai por aí feito vida
Findando onde principia
Roberval Paulo
quarta-feira, 21 de agosto de 2019
EXALTAÇÃO - Roberval Paulo
O
meu coração no teu
Minha
paz a tua paz
Teu
amor o meu amor
Feito
efeito contumaz
Minha
luz a tua luz
Meu
existir teu voar
Teu
voar em mim reluz
Essa
luz que me seduz
A
luz que aviva o mar
Meu
encontro, teu querer
Minha
busca o teu buscar
Teu
encontro, meu querer
O
meu rio no teu mar
Minha
sina, tua sina
Tua
sina, meu pensar
Teu
pensar que se destina
Minha
nuvem pequenina
Bússola
do meu caminhar
Meu
canto, teu acalanto
Teu
canto, meu habitar
Minha
habitação, a tua
Teu
mundo, meu abraçar
Meu
sorrir, tua alegria
Tua
alegria, meu ar
Teu
olhar mina poesia
Teu
verso água vertia
Meu
hino o teu cantar.
Roberval Paulo
quarta-feira, 7 de agosto de 2019
IRMÃOS DE SANGUE - Crônica publicada no Jornal do Tocantins de 06/08/2019
Jornal do
Tocantins
CRÔNICAS & CAUSOS
Irmãos de sangue são mais irmãos
Roberval
Paulo - Poeta
" Se algum mal cometia, era a si
mesmo e, consequentemente, à família, que vivia em preocupação constante com a
sua boemia"
06/08/2019 - 07:00
Gracindino, um homem comum e cidadão
do bem. De alta estatura, esguio e curvado, rosto sulcado, de feição
avermelhada e clara e cabelos levemente encaracolados e curtos. Vivia às voltas
com seus vícios; o famigerado álcool, a boemia e mulheres. Não era de ofender a
ninguém, seriamente, mas tinha bastante curto o estopim e não dispensava uma
boa troca de murros quando em seus momentos de embriaguez. Se algum mal
cometia, era a si mesmo e, consequentemente, à família, que vivia em preocupação
constante com a sua boemia.
Alceste, seu irmão mais velho, era o
oposto. Não tão esguio quanto Gracindino, mas em mesma estatura e feição. A
diferença entre estes irmãos, fisicamente tão parecidos, estava na compostura.
Alceste, como todo jovem, teve seus momentos de boemia e bebidas, mas por pouco
tempo. Casou-se cedo, convertendo-se ao protestantismo, consagrando-se Pastor
rapidamente. Família constituída, sendo a esposa e um casal de filhos e uma
vida centrada na oração e no cuidado ministerial com a sua igreja e seus
membros, saindo do sério somente quando tinha que se posicionar frente às
confusões criadas pelo irmão Gracindino, o que ocorria com certa frequência.
Essas ocorrências, porém, não
produzia efeitos negativos à reputação de Alceste, nem tão pouco, pasmem, à de
Gracindino, pois todos muito bem os conheciam. De família íntegra, defensora
dos bons costumes e de imutável conduta, logo que passada a situação vexatória
e reparados os erros, todos reconheciam a estampa meritória do Pastor e pai de
família Alceste e de mesmo modo, a do cidadão e homem de bem Gracindino,
somente um boêmio inveterado.
Certa noite, já por volta das
22h00min horas, depois de ter engolido todas em sua comunhão quase que
rotineira, Gracindino, despedindo-se dos amigos de confraria e de cruz, deixa
para trás o bar, trilhando rumo a casa. Ora assoviando, ora cantando,
envereda-se por um atalho tencionando encurtar o caminho, afadigado pelo peso
dos tantos goles degustados. De súbito, vê-se cercado por cinco elementos em diligência
por acerto de contas em homenagem a umas tapas desfraldadas por Gracindino há
uns dias atrás em um dos tais. Gracindino vê-se em desvantagem, mas não arrega,
adepto fervoroso da boa troca de murros.
Começam a troca de farpas e a arenga
é esboçada em empurrões. Um garoto, passando pelo local, corre a dar notícias
do ocorrido ao irmão Alceste que, a esta hora, de paletó e gravata, finalizava
a pregação aos fiéis. O garoto adentra a igreja correndo e anuncia que
Gracindino está em contenda e em desvantagem, pois são cinco contra um.
Alceste, digerindo a notícia
incontinenti, brada seu amém aos fiéis e deixa para trás a Bíblia, saindo
avexado ao socorro do irmão. Ao dobrar a esquina, vê Gracindino engalfinhado
com a curriola. Cena que passaria em branco ao coração do pastor, mas que fere
e atinge em cheio o coração do irmão. Não houve conversa nem ponderação e lá
estão Alceste e Gracindino botando pra correr os safardanas à custa de murros e
pescoções. O pastor mais uma vez é mais irmão. Gracindino é levado para casa e
lá, em quatro paredes, o pastor lhe diz as do fim; ele pode e deve, mas aceitar
outro agredi-lo, isso não.
Em outra feita, estava Gracindino em
um bordel. Já alto pelo fogo da bebida, saca de uma arma e desfere uns tiros
para cima. Foi terrível o rebuliço. Uns se apertam nas portas buscando saída ao
mesmo tempo enquanto outros saltam pelas janelas. Nesse salve-se quem puder,
ecoam gritos: socorro! Polícia! Gracindino serve mais uma bebida e senta-se,
ajeitando em cada perna uma garota, vangloriando-se do feito.
De repente risca no pórtico a viatura
e saltam dois policiais dispostos a dar fim ao episódio. Da porta gritam as
palavras de ordem: “teje” preso Gracindino. Era o soldado Camelo, acompanhado
do parceiro Adnero. Gracindino, lá nos fundos do salão, uma moça em cada perna
e de costas para a porta, permanece imóvel. A voz soa novamente, dita pelo
soldado Camelo: “teje” preso Gracindino!
Gracindino conhece a voz. Sentado
estava, sentado ficou. Sacando da arma presa à cintura, vira o braço imediatamente
e vocifera: Oh! Camelo, eu estava mesmo querendo lhe ver; tava doido pra lhe
dar um tiro na testa. Simultaneamente à voz, o tiro é disparado e acerta o
umbral da porta. Camelo e Adnero pegos de surpresa afastam-se correndo ao
uníssono grito de valha-me Deus, deixando para trás a viatura. Neste ínterim,
já avisado por terceiros, Alceste adentra o salão. Surpresa no rosto de todos;
não é o local mais adequado para um pastor, mas o irmão está lá e aspira por
socorro. Gracindino é conduzido para casa e ouvirá um monte com certeza.
Obediente ao irmão, nada replicará e terão descanso por algum período.
Os irmãos mais uma vez são notícia de
primeira mão no agudo boca a boca do interior e lá se vai o pastor Alceste se
explicar com a cidade, com os fiéis e com os policiais destratados e amigos.
Tudo resolvido. A rotina volta ao normal na pacata cidadezinha. A bocas
pequenas corre o assunto, todos aguardando a próxima de Gracindino. É quando a
cidade de fato se movimenta e todos tem muito que dizer.
Roberval Paulo
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