segunda-feira, 28 de maio de 2012

A grande peleja - Roberval Paulo

As ondas passavam pela praia, e, batidas pelo vento, iam chocar-se no calçadão, num surdo rumor de riso e raiva. Voltavam desanimadas para o mar, restabelecendo as forças. Tornava a investir; dessa vez mais forte. Jamais vi tamanha insistência, persistência. 

O calçadão agüentava firme. Molhado até os ombros, triunfava orgulhoso. 

E lá vinha novamente a onda, uma, duas, três, muitas... unidas, uma atrás da outra, no mesmo objetivo. E o calçadão, firme, resistia a tudo. As ondas cadenciavam o jogo, trocavam passes, misturavam-se, confundindo e, pimba, atacavam. O calçadão rebatia todas, goleiro de seleção; melhor não podia haver.

E o dia se passou nesse embate. O sol já se punha, extasiado, passando o apito. A lua agora arbitrava a gigantesca peleja. E eu ali dando asas à imaginação, dando vida própria aos combatentes, que, aos meus olhos, já pareciam um tanto quanto cansados. Mas não desistiam; continuavam a se bater, medindo forças. 

Me cansaram. Cansei-me. Olhei novamente e contemplei a gigantesca peleja. Afastei-me sem ver o “grand finali” de tão fenomenal batalha. Precisava ir. Estava cansado mas, remoçado e novo, inteiro, quase uma criança. 

Olhei para o horizonte descortinado à minha frente. O compromisso esperava. Dei adeus aos combatentes e bati em retirada. A família queria me ver.

Roberval Paulo

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